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December 17, 2018

Ilustrações de Jesus não quebram o 2º mandamento? - Uma resposta



No dia 11 de Dezembro (2018) o Pastor Pedro Pamplona, do site Dois Dedos de Teologia, publicou um artigo com o título "Ilustrações de Jesus não Quebram o Segundo Mandamento". No texto o Pr. Pedro citou um artigo do meu blog e o fez com muita deferência e respeito. Devo dizer que aprecio muito os pastores que conseguem debater com respeito e amor cristão. Pelo que percebi no fluxo do texto, o Pastor Pedro é um destes. Que Deus abençoe muito o ministério desse meu irmão.

Para fins de instrução, eu escrevi uma resposta aos pontos abordados naquele artigo, com o fim de levar os leitores a compreenderem o que é requerido no 2º mandamento. Posto abaixo a resposta que enviei ao Pr. Pedro e que ele, prontamente, publicou:

Caro irmão, Pr. Pedro Pamplona,

Em primeiro lugar, agradeço a deferência ao meu blog e o tratamento respeitoso ao pensamento contrário. Já que fui citado, sinto-me obrigado a fazer um contraponto na esperança de convencê-lo que a interpretação de Westminster quanto ao 2º mandamento, proibindo qualquer imagem de qualquer das 3 pessoas da Trindade, está fiel ao ensino bíblico.

Em um ponto do seu escrito você disse:

“Quando falamos em ministério infantil, por exemplo, não considero adequado o uso de ilustrações de Deus, o Pai. Muitas vezes ele é retratado como um velhinho de barba branca, quase como um papai noel. Esse tipo de ilustração constrói uma ideia errada sobre Deus na mente das crianças e pode dificultar o aprendizado bíblico posterior sobre Deus e sobre a Trindade. Se Deus se revelou como Espírito invisível, que o mantenhamos assim para sermos fiéis à sua revelação pedagógica de si mesmo.”

Eu concordo plenamente com você e o mesmo argumento se aplica a Cristo. Muitas vezes ele é retratado como um jovem de pele macia, olhos claros e cabelos sedosos, quase como uma mulher. Esse tipo de ilustração constrói uma ideia errada sobre Jesus na mente das crianças e pode dificultar o aprendizado bíblico posterior sobre Deus e sobre a Trindade. Se Deus se revelou como pessoa Teantrópica, que o mantenhamos assim para sermos fiéis à sua revelação pedagógica de si mesmo.

Na sequência, você afirmou:

Se o texto de Deuteronômio nos dizia para não fazermos qualquer imagem de Deus porque ele não se revelara de forma visível, agora esta revelação chegou até nós e não temos mais esse problema com a invisibilidade. Concluo que se a imagem era errada por falta de revelação visível, a presença dessa revelação possibilita algum tipo de ilustração.”

É equivocado dizer que Deus não se revelou de forma visível antes de Cristo. Moisés viu a manifestação de Deus pelas costas (Ex 33.23) e ele apareceu em forma visível, de modo teofânico, a Abraão (Gn 12, 18), a Jacó (Gn 32), a Josué (Js 5.14), a Isaías (Is 6) e a outros. João Calvino defende, inclusive, que todas as teofanias do AT são Cristofanias, pois, na economia da Trindade, a segunda pessoa é responsável pela manifestação visível de Deus. Assim, quando Cristo se encarna, a diferença é quanto à perenidade da manifestação. O que era passageiro, eventual e provisório, agora se torna encarnado e perene. Mesmo com todas as manifestações visíveis, teofânicas, de Deus no AT, nenhum desenho foi gerado. Pelo contrário, quando Moisés viu a Deus, de forma tão intensa que teve que usar véu porque seu rosto resplandecia (Ex 34.29), a primeira coisa que fez não foi um desenho, mas lavrar duas novas tábuas de pedra para que Deus escrevesse Palavras (Ex 34.1).

Você usa bastante os argumentos de John Frame, que é, de fato, uma mente brilhante, mas, infelizmente, um conhecido dissidente da subscrição confessional. Um das citações é esta:

“O docetismo diz que Jesus não veio realmente em carne. Esse é um erro muito sério, que devemos desencorajar em nossos filhos. Em vez disso, devemos incluir imagens de Jesus em nossos materiais de ensino, de modo a dar aos nossos alunos algum sentido da visibilidade profunda da vinda de Deus para o nosso meio.”

Eu digo que Frame está certo no diagnóstico, mas não no remédio. Tratar Jesus como um espírito, ou um ser invisível é docetismo mesmo. Mas a solução não é desenhá-lo como se fosse um mero humano (ebionismo), mas não dar aparência a ele. Hollywood (até os anos 80) e algumas editoras cristãs sérias conseguiram contar histórias de Jesus sem mostrá-lo. Ele está lá, de carne e osso, mas não aparece a sua imagem, ninguém sabe qual é o seu rosto, ou a sua altura, ou a sua cor de pele. Assista o filme o Manto Sagrado (1953) e Ben Hur (1959), como exemplos.

Em outro ponto do texto, você disse:

“Novamente discordo de Westminster (acho que você já percebeu que não tenho nenhum problema com isso). E não só discordo, mas creio que eles foram longe demais nessa posição. Não há qualquer base bíblica para afirmar isso em relação a Jesus. O que dizer dos discípulos que viram Jesus? Eles não poderiam ter lembranças imperfeitas sobre ele? E o que dizer das imagens misteriosas que a própria Bíblia nos oferece sobre o Cristo que voltará? Você lembra da imagem cristológica-escatológica de Apocalipse 19?”

Eu digo que não há problema em você discordar de Westminster, visto que você é pastor batista. Para um pastor presbiteriano, isso é um problema grave, pois houve subscrição confessional. Sobre o mérito, os discípulos não quebraram o segundo mandamento porque, diferentemente de nós, eles tiveram acesso físico à pessoa de Cristo. Suas memórias eram reais quanto a Jesus. No nosso caso, como Deus deixou a nós palavras e não imagens, todas as nossas imagens quanto a Jesus são falsas. Tanto é assim que o texto que você usou de Apocalipse 19 confirma isso. Não é uma descrição da aparência de Jesus, mas uma descrição simbólica, com olhos de chama de fogo. No começo do livro, João o descreve não de modo real, mas por símbolos:

“A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes.” (Ap 1.14-16). 

Ora, se como você disse “Esse texto é um convite claro das Escrituras para criamos uma imagem de Jesus em nosso imaginário”, o Jesus que teremos em nossa mente é o de um homem com chamas de fogo nos olhos, voz de muitas águas e com uma espada afiada saindo da boca. Nada comparado aos rostos efeminados que os artistas atuais têm produzido sobre Jesus.

Concluo agradecendo o respeito, mas esperançoso de que o pastor reveja seu pensamento. Não há qualquer base na bíblia para representações de Jesus por imagens. Aqueles que conviveram 3 anos com ele nos deixaram palavras, não imagens. E a igreja cristã seguiu este rumo. Que Deus abençoe o irmão.

Leia também:
Podemos Usar Imagens de Jesus? - Vários autores
Imagens de Cristo - John Murray

January 14, 2016

Podemos usar imagens de Jesus?



Muito embora esta questão tenha sido amplamente discutida na história da Igreja Cristã e registrada em Confissões de Fé reformadas, ela ainda gera polêmica em nossos dias. Pensando nisso, posto abaixo uma série de citações de autores reformados que, creio, ajudarão o leitor a entender a questão e firmar posição sobre o assunto (devo algumas destas citações ao Rev. Alan Rennê Alexandrino Lima)

Catecismo Maior de Westminster, pergunta 109
“Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento? Resposta: Os pecados proibidos no segundo mandamento são: o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por Deus; fazer qualquer imagem de Deus, de todas ou de qualquer das três Pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de alguma criatura...”

Catecismo de Heidelberg, perguntas 96, 97 e 98.

96. O que Deus exige no segundo mandamento?

R. Não podemos, de maneira alguma, representar Deus por imagem ou figura. Devemos adorá-Lo somente da maneira que Ele ordenou em sua palavra.

97. Não se pode fazer imagem alguma?

R. Não se pode nem deve fazer nenhuma imagem de Deus. As criaturas podem ser representadas, mas Deus nos proíbe fazer ou ter imagens delas para adorá-las ou para servir a Deus por meio delas.

98. Mas não podem ser toleradas as imagens nas igrejas como ‘livros para ignorantes’?

R. Não, porque não devemos ser mais sábios do que Deus. Ele não quer ensinar a seu povo por meio de ídolos mudos, mas pela pregação viva de sua Palavra.

Thomas Watson
"Uma vez que não é legal fazer uma imagem de Deus, o Pai, podemos, então, fazer uma imagem de Cristo, visto que ele tomou sobre si a natureza do homem? Não! Epiphanius, vendo uma imagem de Cristo na igreja, quebrou-a em pedaços! É a divindade de Cristo unida à sua humanidade, que faz com que ele seja o Cristo. Portanto, retratar a sua humanidade quando não conseguimos retratar sua divindade é pecado, pois o reduzimos a meio-Cristo – separamos o que Deus uniu, deixamos de fora a principal coisa que o faz ser Cristo". (The Ten Commandments. Carlisle, PA: The Banner of Truth Trust, 2009. p. 62.)

Albert Mohler
"Assim, Cristo está no segundo mandamento; então, o Cristo cumpre o segundo mandamento, pois ele, a imagem do invisível Deus, é o ícone sobre quem ponderamos. No entanto, mesmo como ícone, Jesus Cristo não é uma imagem visual para nós - ele é muito mais que isso. Desse modo, o mandamento é também para nós, para que não transformemos nossa adoração a Cristo em outra forma de idolatria. Pregamos o Cristo crucificado. Apontamos para o Cristo em sua glória. Pregamos a cruz. Ensinamos e pregamos todas as coisas referentes a Cristo. E usamos PALAVRAS". (R. Albert Mohler, Jr. Palavras do Fogo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 49)

Edmund Clowney
"O culto cristão é celestial, e, embora Jesus tenha um corpo real, com um rosto real e características físicas distintas, as representações de seu corpo físico não devem ser o foco da nossa adoração. Nós oramos ao Jesus real, onde ele está agora. Nós alcançamos o coração das crianças não por oferecer-lhes lápis de cor para que desenhem Jesus, mas por mostrar-lhes como falar com ele. Ele é real, e não é uma imagem". (How Jesus Transforms the Ten Commandments. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2007. p. 32.)

Wilhelmus à Brakel
"Ao contrário, declaramos que fazer imagens da Trindade é expressamente proibido. Não conhecemos a natureza espiritual dos anjos nem a verdadeira aparência física de Cristo e dos apóstolos. Assim, as imagens feitas deles são sem semelhança, e é vaidade fazer uma imagem e dizer: Isso é Cristo, isso é Maria, isso é Pedro, e etc. E mesmo que tivéssemos suas imagens verdadeiras, não poderíamos adorar, honrar, nem nos envolvermos em qualquer atividade religiosa em relação a elas". (The Christian's Reasonable Service. Vol. 3. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 2007. p. 109.)

Johannes Geerhardus Vos

"2. É errado fazer pinturas ou quadros de nosso Salvador Jesus Cristo?

De acordo com o Catecismo Maior isso, com certeza, é errado, pois ele interpreta que o segundo mandamento proíbe a feitura de qualquer representação de qualquer uma das três pessoas da Trindade, o que certamente inclui Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Trindade, Deus Filho. Como as figuras de Jesus são extremamente comuns nos dias de hoje, devemos entender que nos círculos calvinistas esse é um desenvolvimento relativamente moderno. Nossos ancestrais dos dias da Reforma, e nos 300 anos após ela, abstiveram-se com extremo cuidado e precisão, de sancionar ou de utilizar quadros de Jesus Cristo. Tais figuras são tão comuns hoje, e tão poucos fazem conscienciosa objeção a elas que é praticamente impossível se obter quaisquer recursos de ajuda para a Escola Dominical ou material de histórias bíblicas para crianças que estejam livres dessas figuras. A Sociedade Bíblica Americana (The American Bible Society) merece ser elogiada pela decisão de não deixar mostrar a figura do Salvador nos filmes produzidos por ela" (Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Os Puritanos, 2007. p. 344.)

"4. Desde que não sejam adoradas nem utilizadas como 'auxílio à adoração', não seriam legítimas as representações de Jesus? Conforme a interpretação da Assembleia de Westminster, o segundo mandamento certamente proíbe toda a representação de qualquer uma das Pessoas da Trindade, em consonância coerente com a verdade ensinada nos Padrões de Westminster de que Cristo é uma Pessoa Divina com uma natureza humana trazida à união com Ele mesmo, e não uma pessoa humana; isso implica que seria errado fazer representações de Jesus Cristo sob qualquer pretexto. É claro que há uma diferença entre utilizar figuras de Jesus para ilustrar lições ou livros de histórias bíblicas para crianças e usar figuras de Jesus na adoração, como fazem os Católicos Romanos. É óbvio que a primeira situação não é um mal da mesma classe dessa última, entretanto, apesar dessa diferença, há bons motivos para se afirmar que os nossos ancestrais da Reforma estavam certos ao se oporem a toda representação pictórica do Salvador. Deveríamos compreender que a popularidade de uma certa prática - até mesmo daquelas quase impossíveis de serem contestadas - não prova que ela seja correta. Para se provar que uma prática é certa temos de demonstrar que ela se harmoniza com os mandamentos e os princípios revelados na Palavra de Deus; a mera demonstração de que uma prática é comum, é útil ou parece dar bons resultados não prova que seja certa" (Catecismo Maior de Westminster Comentado. pp. 345-346.)

Marcellus Kik
"Sem dúvida, se eu afirmar que o uso de imagens de Cristo não é bíblico, que não conta com a aprovação de Deus, que é pecaminoso, e que é uma quebra do segundo mandamento - serei considerado como um fanático, um reacionário, e talvez não muito normal. Mas, por favor, antes que você tenha tais pensamentos desagradáveis, ouça-me. Se nós somos cristãos o nosso serviço e culto são regulados pela Palavra de Deus. A Bíblia é o nosso infalível guia na fé e no culto". (Pictures of Christ. p. 1)

João Calvino
“Patrístico era quem afirmou ser horrenda abominação ver-se pintada em templos de cristãos a imagem, seja de Cristo, seja de qualquer santo. Tampouco foi isto pronunciado pela voz de um único homem, mas até decretado por um concílio eclesiástico: que não se pinte em paredes o que se adora. Muito longe está de que se contenham dentro destes limites, quando não deixam  sequer um canto vazio de imagens.” (Institutas, Livro I, carta ao rei).

“E assim na lei, após haver arrogado unicamente para si a glória da Deidade, quando visa a ensinar que gênero de adoração aprova, ou repudia, Deus acrescenta de imediato: ‘Não farás para ti imagem esculpida, nem qualquer semelhança” [Ex 20.4], palavras com as quais nos coíbe o desenfreamento, para que não tentemos representá-lo por meio de qualquer figura visível. E enumera, de maneira sucinta, todas as formas mediante as quais, já desde outrora, a superstição começara a converter sua verdade em mentira.” (Institutas, I.11.1)

“Isso pode ser facilmente inferido das razões que ele anexa à sua proibição. Primeiramente, através de Moisés [Dt 4.15]: “Lembra-te do que o Senhor te falou no vale do Horebe: ouviste uma voz, porém corpo não viste; guarda-te, portanto, a ti mesmo, para que não aconteça que, se fores enganado, para ti faças qualquer representação” etc. Vemos como Deus opõe abertamente sua voz a todas as representações, para que saibamos que, todos quantos buscam para ele formas visíveis, dele se apartam.” (Institutas I.11.2)

“Deve-se notar, porém, que não se proíbe menos uma gravura do que uma imagem escupida, com o quê se refuta a improcedente ressalva dos gregos. Pois pensam que se portam esplendidamente, se não fazem representações esculturais de Deus, enquanto se esbaldam em gravuras mais desabridamente que quaisquer outros povos. O Senhor, entretanto, proíbe não apenas que lhe seja talhada imagem por estatuário, mas ainda que lhe seja modelada representação por qualquer sorte de artífice, porquanto é, com isso, afeiçoado em moldes inteiramente falsos e com grave insulto de sua majestade.” (Institutas I.11.4)

“Certamente conheço muito bem este popular e vulgar refrão: As imagens são os livros dos iletrados. Isso foi dito por Gregório. Entretanto, de maneira muito diferente fala o Espírito de Deus, em cuja escola, se Gregório houvesse sido instruído nesta matéria, jamais haveria de ter assim falado.” (Institutas I.11.5)

“Se alguém objeta, dizendo que aqueles que abusavam das imagens para ímpia superstição eram repreendidos pelos profetas, sem dúvida o admito. Acrescento, porém, o que é notório a todos, que eles condenam plenamente o que os papistas assumem como infalível axioma: que as imagens fazem as vezes de livros. Pois os profetas opõem as imagens ao Deus verdadeiro, como coisas contrárias e que jamais podem ser conciliadas.” (Institutas I.11.5)

“Nestas porções que há pouco citei, afirmo-o, infere-se esta conclusão: uma vez que o Deus verdadeiro a quem os judeus adoravam é um e único, pervertida e enganosamente se inventam figuras visíveis para que representem a Deus e miseravelmente iludidos se quedam todos os que daí buscam conhecimento.” (Institutas I.11.5)

“Leia-se, ademais, o que acerca desta matéria escreveram Lactâncio e Eusébio, que não hesitaram em tomar axiomaticamente que todos esses de quem se vêem imagens foram seres mortais. O que Agostinho expressou não foi outra coisa, o qual declara taxativamente que é abominável não só adorar imagens, mas também o erigi-las a Deus. Contudo, tampouco ele está dizendo outra coisa senão o que havia sido decretado, muitos anos antes, no Concílio de Elvira, do qual este é o cânon trinta e seis: “Resolveu-se que não se tenham nos templos representações pictoriais, como também não se pinte em suas paredes o que se cultua ou adora.”” (Institutas I.11.6)

“Se Varrão dissesse apenas isso, talvez pouco tivesse de autoridade; contudo, com razão nos deveria causar vergonha que um pagão, como que a tatear nas trevas, tenha chegado a esta luz, isto é, que as imagens corpóreas são indignas da majestade de Deus porque diminuem nos homens o temor e aumentam o erro.” (Institutas I.11.6)

“Portanto, quem quer que deseje ser corretamente ensinado, aprenda de outra fonte, a saber, o que de Deus se pode conhecer não deve ser através de imagens.” (Institutas I.11.6)

“Portanto, se os papistas possuem algo de pejo, que doravante não façam uso deste subterfúgio: que as imagens são os livros dos iletrados, o que está refutado tão escancaradamente por numerosos testemunhos da Escritura.” (Institutas I.11.7)

J.I. Packer
“Essa afirmação categórica proíbe não apenas o uso de figuras e estátuas representando Deus como animal, mas também o uso de figuras e imagens que o representam como a mais elevada criatura que conhecemos — o homem. Proíbe também o uso de figuras e imagens de Jesus Cristo como homem, embora o próprio Jesus tenha sido e permaneça homem. Toda figura ou imagem é necessariamente produzida à "semelhança" do homem ideal, como o imaginamos, e portanto está sob a proibição imposta pelo mandamento.” (O Conhecimento de Deus, p. 38)

“Ao longo da história, os cristãos têm divergido a respeito da proibição do segundo mandamento, de vetar o uso de figuras de Jesus com propósitos didáticos e instrutivos (por exemplo, na escola dominical). Embora a questão não seja fácil de resolver, não há dúvida de que o segundo mandamento nos obriga a dissociar a adoração tanto pública como particular de qualquer figura ou estátua de Jesus, como de qualquer representação de seu Pai. Neste caso, que razão há afinal para essa proibição tão ampla? Pela ênfase dada ao próprio mandamento com as assustadoras sanções ligadas a ele (proclamando o zelo de Deus, punindo com severidade os transgressores), supõe-se que deve ser de importância crucial. Mas será realmente? A resposta é sim. A Bíblia mostra que a glória de Deus e o bem espiritual do homem estão diretamente ligados ao mandamento.” (O Conhecimento de Deus, p. 38)

“O ponto aqui não é apenas que a imagem representa Deus com corpo e membros, o que na realidade ele não tem. Se fosse apenas esta a base da objeção às imagens, as representações de Cristo não seriam erradas, mas a realidade é muito mais profunda. O cerne da objeção às figuras e imagens está no fato de ocultar inevitável e quase totalmente a verdade sobre a natureza pessoal e o caráter do Ser divino representado. Para ilustrar: Aarão fez um bezerro de ouro (isto é, a imagem de um boi). Com a intenção de manter um símbolo visível de Jeová, o Deus poderoso que havia tirado Israel do Egito. Não há dúvida de que a intenção era honrar a Deus, criando um símbolo de sua grande força. Entretanto não é difícil ver que esse símbolo é um insulto a Deus, pois que idéia de seu caráter moral, justiça, bondade e paciência poderia ser depreendida da observação de sua imagem retratada por um boi? A imagem de Aarão escondeu a glória de Jeová. De modo semelhante, as impressões exteriores geradas pelo crucifixo obscurecem a glória de Cristo, pois ofuscam sua divindade, a vitória na cruz e a realidade do Reino. Ele aponta apenas a fraqueza humana, porém esconde sua força divina; representa a exatidão da dor, mas não mostra a realidade de sua alegria e força. Em ambos os casos o símbolo perde valor pelo que deixa de transmitir. O mesmo acontece com as outras representações visuais da divindade.” (O Conhecimento de Deus, p. 39)

“A ideia é clara. Deus não lhes apresentou nenhum símbolo visível de si mesmo, mas falou com eles; portanto, agora eles não deveriam procurar símbolos visíveis de Deus, mas simplesmente obedecer a sua Palavra. Caso se diga que Moisés estava com medo de que os israelitas tomassem emprestados modelos de imagens das nações idólatras a sua volta, nossa resposta é sem dúvida positiva. Este é exatamente o ponto: todas as imagens de Deus feitas pelos homens, sejam esculpidas ou mentais, são realmente emprestadas do mundo ímpio e pecador, e com certeza não estão de acordo com a santa Palavra do próprio Deus. Fazer uma imagem dele é buscar inspiração em recursos humanos e não em Deus; este é realmente o erro da produção de imagens.”  (O Conhecimento de Deus, p. 42)

“A arte simbólica pode servir à adoração sob várias formas, mas o segundo mandamento proíbe todas as representações da imagem de Deus. Se pinturas, desenhos e estátuas de Jesus — o Filho encarnado — sempre foram considerados símbolos da perfeição humana pelas culturas que os produziram (pele branca para os anglo-saxões, pele negra para os africanos e pele amarela para os asiáticos ou o que quer que seja), em vez da aparência real de Jesus, não haveria problema. Entretanto, crianças e adultos mais simples podem considerá-los reais. Portanto, em minha opinião, seria prudente evitá-los.” (O Conhecimento de Deus, p. 43)

Zacharias Ursinus
"Nenhuma imagem de Cristo deve ser pintada ou esculpida, nem mesmo o que se refere à sua natureza humana, pois somente sua natureza humana teria como ser expressa pela arte, mas aqueles que fazem essas imagens restabelecem os erros de Nestório ou de Eutiques".

Thomas Vincent
"Não é lícito ter imagens de Jesus Cristo porque sua natureza divina não pode ser retratada de forma alguma, e porque seu corpo, como está glorificado, não pode ser retratado como é; e porque, se não desperta devoção, é vã; e se desperta devoção, é adoração a uma imagem ou figura, sendo assim uma violação concreta do segundo mandamento." (Trecho da Exposição do Breve Catecismo da Assembleia de Westminster)

R.C. Sproul
“Não posso afirmar com toda certeza que representar a natureza humana de Jesus seja uma violação do segundo mandamento. Mas não estou certo de que seja sábio, pois a representação poderia comunicar às pessoas uma imagem errônea. A cabeça de Cristo feita por Salomão, apesar de toda a sua beleza, tem comunicado a várias gerações de pessoas um Jesus efeminado que parece menos do que vigoroso. Eu preferiria não comunicar nada artisticamente sobre a aparência de Jesus do que colocar imagens erradas nas mentes das pessoas.” (Sproul, Boa Pergunta, p.. 234)

John Murray
“O que, então, podemos dizer das imagens de Cristo? Primeiro de tudo, é preciso dizer que não temos quaisquer dados como base para fazer uma representação pictórica de Jesus; não temos descrições das suas características físicas que permitiriam ao artista mais habilitado fazer um retrato aproximado. Em vista da profunda influência exercida por uma imagem, especialmente nas mentes das pessoas jovens, devemos perceber o perigo envolvido em uma representação para a qual não existe nenhuma garantia, uma representação que é a criação da pura imaginação. Ela pode ajudar a destacar a tolice de perguntar: qual seria a reação de um discípulo, que realmente viu o Senhor nos dias da sua carne, diante de um retrato que seria obra da imaginação de alguém que nunca viu o Salvador? Podemos detectar facilmente qual seria a sua repulsa. Nenhuma impressão que temos de Jesus deve ser criada sem os dados próprios da revelação, e cada impressão, cada pensamento, deve evocar o culto. Assim, visto que não possuímos dados revelacionais para uma imagem ou retrato no sentido próprio do termo, estamos impedidos de fazer uma ou de usar qualquer uma que tenha sido feita.” (Reformed Herald, Vol. XVI, nº 9. Fevereiro de 1961)

Loraine Boettner
“Muito semelhante ao uso das imagens é o uso das figuras de Cristo. E estas, sentimos ter de dizê-lo, encontraram-se frequentemente também nas igrejas protestantes além das católicas romanas. Mas em nenhum lugar da Bíblia, nem no Novo nem no Velho Testamento, há alguma descrição do aspecto físico de Cristo. Nenhum quadro dEle foi pintado durante o Seu ministério terreno. A igreja não tinha quadros dEle durante os quatro primeiros séculos. Os pretensos quadros de Cristo, como os de Maria e dos santos, são mero produto da imaginação do artista. Por isso é que são tantos, e tão diferentes. É simplesmente uma mentira dizer que qualquer um deles é um quadro genuíno de Cristo. Tudo o que sabemos sobre o seu aspecto físico é que Ele era de nacionalidade judaica. Mas com muita frequência Ele tem sido representado com traços arianos e até mesmo com cabelo dourado. Certamente Cristo deve repudiar todos esses quadros forjados de Sua pessoa. Ele foi a verdade e nós podemos ter certeza de que Ele não aprovaria qualquer forma de falsos ensinamentos. É impossível que algum quadro faça justiça à Sua personalidade, pois Ele não foi só humano mas também divino. A divindade não pode ser descrita “pela arte e imaginação do homem” (Atos 17.29). Portanto, todos os quadros são igualmente enganadores e ruins. Conservada em segredo, como foi a sepultura de Moisés e sem dúvida por motivos semelhante, o aspecto físico do Deus-Homem precisou ser mantido além do alcance da idolatria. Os assim chamados quadros de Cristo não são subsídios para o culto, mas , antes um impedimento, e para muitos representam uma tentação para essa mesma idolatria contra a qual as Escrituras advertem com tanta clareza.” (Catolicismo Romano, Imprensa Batista Regular, 1985, p. 228).

James Durham
“E se for dito que a alma do homem não pode ser pintada, mas seu corpo pode, e todavia essa figura representa um homem; eu respondo: isso acontece porque eles tem apenas uma natureza, e aquilo que o representa, representa a pessoa; mas não é assim com Cristo: sua divindade não é uma parte distinta da natureza humana, como a alma do homem é (o que é necessariamente suposto em todo homem vivo), mas uma natureza distinta, apenas unidade com a humanidade nessa única pessoa, Cristo, que não tem nenhum semelhante; por isso o que o representa não deve representar um homem somente, mas deve representar Cristo, Emanuel, Deus-homem, de outra forma não é sua imagem. Além do mais, não há nenhuma autorização para representá-lo em sua humanidade; nem nenhuma vívida possibilidade disso, mas como imaginação do homem; e deve isto ser chamado de retrato de Cristo? Seria chamado retrato de qualquer outro homem se fosse desenhado ao bel-prazer dos homens, sem considerar o modelo? De novo, não serve para nada; pois essa imagem ou deveria ter opiniões comuns com outras imagens, e isso ofenderia Cristo, ou ter um respeito peculiar de reverência, e isso é pecar contra o mandamento que proíbe toda reverência religiosa a imagens, mas sendo Ele Deus e, portanto, o objeto da adoração, nós temos que ou dividir suas naturezas, ou dizer que essa imagem ou figura não representa a Cristo". (The Law Unsealed: or, A Practical Exposition of the Ten Commandments).

Leonard T. Van Horn
"É lícito termos figuras de Jesus Cristo? Não, não é legítimo fazermos isso. É verdade que ele foi tanto homem como Deus, mas a Bíblia ensina que ele é mais belo do que os filhos dos homens (Sl 45.2). É impossível sabermos como ele era, e portanto, qualquer representação dele seria adivinhação. Se ele tivesse desejado que soubéssemos, ele o teria deixado claro na Bíblia." (Estudos no Breve Catecismo de Westminster, p. 101).

Chad Van Dixhoorn
"Uma das maneiras pela qual não devemos adorar a Deus é por meio do uso de figuras visuais criativas (Ex 20.4-6). Aos israelitas foi dito que fossem muito cuidadosos a esse respeito. Uma das razões por que se disse a eles que não fizessem imagens de Deus para ajudá-los na adoração foi que quanto Deus se revelou no Sinai, ele não o fez em uma forma visível. Deus não se ofereceu aos artistas. Os israelitas não deveriam fazer uma suposição instruída a respeito da aparência dele. Eles foram especialmente advertidos a não tomar algo na criação - fossem os peixes do mar ou as estrelas do céu - e usar isso como um modelo para o Criador (Dt 4.15-20). Havia muitos problemas com ídolos. Basicamente, as pessoas elaboravam ídolos a fim de ajudá-las a ter acesso ao deus que elas queriam adorar e controle sobre ele. Isso é ofensivo para Deus. Além disso, a adoração a ídolos era também ofensiva porque envolvia uma adoração a Deus que não fora ordenada pela Palavra dele. A única religião que é sadia para nós e aceitável a Deus é a religião de acordo com a prescrição dele." (Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster, p. 287).

Kenneth L. Gentry, Jr.  
"O Segundo Mandamento diz: 'Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem'(Êx 20: 4-5). Aqui Deus proíbe expressamente a criação de imagens. Mas o que exatamente é sendo proibido?

Os Amish estão fundamentalmente enganados quando proíbem todas as representações visíveis baseando-se em sua compreensão do Segundo Mandamento. Por exemplo, eles proíbem o uso de espelhos porque refletem suas próprias imagens. Eles também proíbem a arte porque ela cria 'imagens'. No entanto, a Bíblia não proíbe todas as imagens. Em Números 21:8, Moisés é ordenado a fazer uma serpente ardente e colocá-la em um poste. Em Êxodo 25:18, o Senhor instrui Israel a fazer dois querubins de ouro e colocá-los no propiciatório do tabernáculo. Então, a própria Escritura justifica a criação de imagens, embora não para fins de adoração e louvor (que é o foco do segundo mandamento).

O que, então, o Segundo Mandamento proíbe? João Calvino explica corretamente nas Institutas (2:8:17) que proíbe 'ousar sujeitar a Deus, que é incompreensível ao nosso senso, percepções ou para representá-lo de qualquer forma', e que 'nos proíbe adorar quaisquer imagens em nome da religião'. Mas por que Deus proíbe fazer imagens dele? Calvino continua: 'Formas visíveis são diametralmente opostas à sua natureza. Toda representação figurativa de Deus contradiz seu ser.' Deus é invisível (Cl 1:15; 1Tm. 1:17), não localizado (isto é, onipresente, Jr 23:24), e sumamente glorioso. Consequentemente, lemos em Deuteronômio 4:12 que 'o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma.' Mesmo no céu, os serafins cobrem o rosto da majestade de Deus (Isaías 6:2). Assim, lemos em Deuteronômio 4:15-19: 'Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra. Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o Senhor, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus.'

Calvino certamente está correto quando observa que 'cada estátua que o homem ergue ou cada imagem que ele pinta para representar a Deus, simplesmente desagrada a Deus como algo desonroso à sua majestade.' Claramente, então, não devemos produzir figuras de Deus ou usar imagens como ferramentas para adoração." (Christ, Art, and the Second Commandment, p. 1)

William Ames
"O ensino religioso por IMAGENS é condenado, primeiro: porque não são santificadas por Deus para esse fim. Segundo: porque não podem representar Deus, nem as as suas perfeições para nós. Terceiro: porque degradam a alma e desviam a atenção da contemplação espiritual da vontade divina. Quarto: porque uma vez admitidas nos exercícios de adoração, o próprio culto, pela perversidade da mente do homem (pelo menos em parte) será transferido para elas – é declarado nas palavras do Segundo Mandamento: “Não as adorarás, nem lhes darás culto"" (A Essência da Teologia Sagrada, Livro II, cap. XIII, tese 33).


Leia também: Imagens de Jesus - John Murray

Imagens de Cristo - John Murray



A questão da propriedade das representações pictóricas do Salvador merece ser examinada. Deve ser concedido que o culto de Cristo é central em nossa santa fé, e o pensamento do Salvador deve, em toda instância, ser acompanhado com aquela reverência que pertence ao seu culto. Não podemos pensar nele sem a apreensão da majestade que é sua. Se nós não acolhemos o senso da sua majestade, então, somos culpados de impiedade e de desonrar o seu nome.
Deve também ser lembrado que o único propósito que pode ser servido por uma representação pictórica de maneira apropriada é que ela deve trazer a nós algum pensamento ou lição representada, consoante com a verdade e visando promover o culto. Desde já a questão é inescapável: a representação pictórica é um meio legítimo de conduzir a verdade e de contribuir para o culto que essa verdade deve evocar?
Estamos todos alertas quanto à influência exercida sobre a mente e o coração pelas imagens. Imagens são poderosos meios de comunicação. Quão sugestivas elas são ou para o bem ou para o mal e tudo o mais quando acompanhadas pelo comentário da palavra escrita ou falada! É fútil, entretanto, negar a influência exercida sobre a mente e o coração por uma imagem de Cristo. E se tal é legítimo, a influência exercida deve ser constrangedora para o culto e adoração. Afirmar qualquer desígnio mais baixo como que servido por uma imagem do Salvador seria uma contradição do lugar que ele deve ocupar no pensamento, afeição e honra.
O argumento para a propriedade das imagens de Cristo é baseado sobre o fato de que ele era verdadeiramente homem, que tinha um corpo humano, que era visível em sua natureza humana para os sentidos físicos, e que uma imagem nos ajuda a tomar uma estupenda realidade da sua encarnação, em uma palavra, que ele foi feito semelhança de homens e foi encontrado em forma humana.
Nosso Senhor teve um verdadeiro corpo. Ele poderia ter sido fotografado. Um retrato poderia ter sido feito dele e, um bom retrato, reproduziria a sua semelhança.
Sem dúvida os discípulos nos dias da sua carne tinham uma vívida imagem mental da aparência de Jesus e eles não poderiam deixar de ter retido esta recordação até o fim de seus dias. Eles nunca poderiam reter o pensamento nEle, pensar em como Ele peregrinou ao seu lado sem algo daquela imagem mental e não poderiam tê-la sem adoração e culto. As verdadeiras características que eles lembravam seriam parcela integrante da sua concepção acerca dEle, as reminiscências do que Ele foi para eles em sua humilhação e na glória da aparência da sua ressurreição. Muito mais pode ser dito a respeito do significado das características físicas de Jesus para os discípulos.
Jesus também está glorificado no corpo e esse corpo é visível. E também se tornará visível a nós em seu glorioso aparecimento: “aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hebreus 9.28– ARA). O que, então, podemos dizer das imagens de Cristo? Primeiro de tudo, é preciso dizer que não temos quaisquer dados como base para fazer uma representação pictórica de Jesus; não temos descrições das suas características físicas que permitiriam ao artista mais habilitado fazer um retrato aproximado. Em vista da profunda influência exercida por uma imagem, especialmente nas mentes das pessoas jovens, devemos perceber o perigo envolvido em uma representação para a qual não existe nenhuma garantia, uma representação que é a criação da pura imaginação. Ela pode ajudar a destacar a tolice de perguntar: qual seria a reação de um discípulo, que realmente viu o Senhor nos dias da sua carne, diante de um retrato que seria obra da imaginação de alguém que nunca viu o Salvador? Podemos detectar facilmente qual seria a sua repulsa.
Nenhuma impressão que temos de Jesus deve ser criada sem os dados próprios da revelação, e cada impressão, cada pensamento, deve evocar o culto. Assim, visto que não possuímos dados revelacionais para uma imagem ou retrato no sentido próprio do termo, estamos impedidos de fazer uma ou de usar qualquer uma que tenha sido feita.
Em segundo lugar, as imagens de Cristo são, em princípio, uma violação do segundo mandamento. Uma imagem de Cristo, se serve a algum propósito útil, deve evocar algum pensamento ou sentimento a respeito dEle, e em vista do que Ele é, esse pensamento ou sentimento será de adoração. Não podemos evitar fazer da imagem um meio de culto. Porém, desde que os materiais para esse meio de culto não são derivados da única revelação que possuímos a respeito de Jesus, ou seja, as Escrituras, o culto é coagido por uma criação da mente humana que não tem garantia revelacional. Esse é o culto de si mesmo [i]. Pois o princípio do segundo mandamento é que adoramos a Deus apenas pelos meios prescritos e autorizados por Ele. É um grave pecado cultuar coagido por uma invenção humana, e isso é o que uma imagem do Salvador envolve.
Em terceiro lugar, o segundo mandamento proíbe curvar-se a uma imagem ou semelhança de qualquer coisa em cima no céu, ou embaixo na terra, ou na água debaixo da terra. Uma imagem do Salvador pretende ser uma representação ou semelhança dEle que agora está no céu, ou, pelo menos, dEle quando peregrinou na terra. É claramente proibido, portanto, prostrar-se diante de tal representação ou semelhança. Isso expõe a iniquidade envolvida na prática de exibir representações pictóricas do Salvador em locais de culto. Quando cultuamos diante de uma imagem do nosso Senhor, quer seja na forma de um mural, ou em tela, ou em vitrais, estamos fazendo o que o segundo mandamento expressamente proíbe. Isso se torna ainda mais evidente se tivermos em mente que a única razão pela qual uma imagem dEle deveria ser exibida em um lugar é a suposição de que ela contribuiria para o culto daquele que é o nosso Senhor. A prática apenas demonstra como quão insensíveis prontamente nos tornamos aos mandamentos de Deus e às incursões da idolatria. Possam as igrejas de Cristo estarem despertas quanto aos expedientes enganosos pelos quais o arqui-inimigo sempre procura corromper o culto do Salvador.
Resumindo, o que está em jogo nessa questão é o único lugar que Jesus Cristo como o Deus-homem ocupa em nossa fé e culto e o único lugar que a Escritura ocupa como a única revelação, o único meio de comunicação, a respeito daquele a quem cultuamos como Senhor e Salvador. A Palavra encarnada e a Palavra escrita são correlativas. Não ousemos usar outros meios de impressão ou de sentimento, mas aqueles da sua instituição e prescrição. Cada pensamento e impressão dEle devem evocar culto. Nós O adoramos com o Pai e o Espírito Santo, único Deus. Usar uma semelhança de Cristo como um auxílio ao culto é proibido pelo segundo mandamento tanto quando é proibido em relação ao Pai e ao Espírito.
(Reimpresso do Reformed Herald, Vol. XVI, nº 9. Fevereiro de 1961).
TRADUÇÃO LIVRE: Alan Rennê Alexandrino Lima


[i] NOTA DO TRADUTOR: Em Colossenses 2.23, o apóstolo Paulo usa essa expressão para falar do culto baseado apenas na vontade humana. Trata-se de uma adoração originada do coração, não das Escrituras.

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