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July 17, 2018

Sobre Obras de Necessidade e de Misericórdia



A Confissão de Fé de Westminster, no capítulo 21, Do Culto Religioso e do Domingo, parágrafo 8º, ensina o seguinte:

"Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas obras, palavras e pensamentos a respeito de seus empregos seculares e de suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e de misericórdia. (grifo meu)

O que seriam os deveres ou obras de necessidade e de misericórdia? Algumas considerações:

1. Os teólogos de Westminster dividiram o “fazer o bem” em “obras de necessidade e de misericórdia”.

2. Por necessidade, os discípulos colheram espigas e as comeram em um sábado (Mt 12.1).

3. Por necessidade, os sacerdotes trabalharam no sábado, oficiando diante do Senhor (Mt 12.5).

4. Por misericórdia, Jesus disse que um animal deveria ser salvo se caísse em uma cova, mesmo no sábado (Mt 12.11)

5. Por misericórdia, Jesus curou a mão ressequida de um homem (Mt 12.13)

6. Por misericórdia, Jesus curou uma mulher doente há 18 anos em um sábado (Lc 13.12)

7. Por misericórdia, Jesus disse que um animal deveria ser solto da manjedoura para beber, mesmo no sábado (Lc 13.15)

8. Por misericórdia, Jesus curou um homem doente há 38 anos, em um sábado (Jo 5.9)

9. Por misericórdia, Jesus curou um cego de nascença em um sábado (Jo 9.14)

10. Thomas Ridgeley, puritano inglês, nascido 18 anos depois da Assembleia de Westminster, escreveu um comentário do Catecismo Maior com mais de 1.300 páginas. Sobre a expressão “obras de necessidade e misericórdia” ele esclarece o seguinte:

“Devemos considerar, ademais, quais as obras de misericórdia que deveriam ser feitas naquele dia, tais como, visitar e providenciar medicação para o doente, ajudar os pobres, providenciar comida e água para o gado e outras criaturas irracionais. Isso o nosso Salvador justificou por sua prática, e ilustrou afirmando a necessidade de resgatar uma ovelha que havia caído em um buraco (Mt 12.10-13). Quando, no entanto, defendemos a legitimidade da realização de obras de necessidade e de misericórdia no dia de descanso, alguns cuidados devem ser tomados: Primeiro, que a necessidade seja real, não fingida, do que Deus e a nossa consciência são os juízes; segundo, que se achamos que podemos ter um chamado necessário para omitir ou deixar de lado o nosso atendimento às ordenanças de Deus no dia do descanso, tomemos cuidado para que a necessidade não seja colocada em nós por algum pecado cometido que dê ocasião a sermos julgados pela mão de Deus; e que o motivo que tornou necessária a nossa ausência, seja por causa de submissão e não por questão de escolha pessoal ou prazer.” (Commentary on The Larger Catechism, vol. 2, p. 357)

Portanto, com base nos textos bíblicos e na explicação de Thomas Ridgeley, concluo que “fazer o bem” significa providenciar alimento, trabalhar na igreja, salvar vidas, cuidar de doentes, e atender, por conta da submissão às autoridades, convocações obrigatórias de superiores.

June 28, 2018

Eis a Identidade Presbiteriana - Rev. Ageu Magalhães



INTRODUÇÃO

A “identidade presbiteriana” é bastante citada no contexto presbiteriano, mas é quase um jargão não muito bem definido. Por conta desta indefinição foi que resolvi escrever algumas linhas sobre o assunto, algo sintético mesmo.

Alisto abaixo o que é distintivo em nosso sistema e, na sequência, a explicação de cada um dos pontos:

- Governo: Representativo
- Ofícios: Presbíteros (docentes e regentes) e Diáconos
- Regra de Fé e Prática: Bíblia
- Teologia: Reformada, Aliancista
- Subscrição: Confissão de Fé, Catecismos Maior e Breve de Westminster
- Culto: Princípio Regulador do Culto (só o que é prescrito na Bíblia é permitido)
- Dons espetaculares: Cessacionista 
- Ceia: Presença Espiritual de Cristo
- Batismo: Aspersionista e Pedobatista


1. GOVERNO REPRESENTATIVO

As 3 principais formas de governo de igreja são:

1. Episcopal - Um governa todos. A decisão final sobre os assuntos da igreja, tanto doutrinários como administrativos, vem do bispo, pastor, presidente ou missionário. É a forma que encontramos na Igreja Episcopal e na maioria das igrejas pentecostais e neopentecostais.

2. Congregacional – Todos governam todos. O processo de decisão passa pela assembleia, a reunião de todos os membros da igreja. É a forma encontrada na Igreja Congregacional e na maioria das igrejas batistas.

3. Representativa – Alguns governam todos. As decisões são tomadas por um conselho de Presbíteros eleitos pelos membros da igreja. É o sistema de governo das igrejas reformadas e presbiterianas.

A IPB segue o governo representativo. Presbíteros são eleitos com mandatos de 5 anos para tomar as decisões da Igreja. Há assuntos que eles não podem decidir como, por exemplo, as eleições de oficiais e decisões quanto ao patrimônio da igreja. Estes temas são decididos pela própria assembleia. A base bíblica deste sistema vem do governo dos anciãos no Antigo Testamento (Dt 22.15), passando pela sinagoga (Lc 7.3-5) e culminando no Novo Testamento (At 14.23). No Concílio de Jerusalém, o problema doutrinário não foi resolvido por um homem, nem pelo grupo de 5 mil crentes, mas por representantes das igrejas (At 15.2,4,6).

Assim, nas igrejas presbiterianas, não é "o pastor que manda". Pastores presbiterianos que agem assim estão indo contra a nossa forma de governo. O Conselho, formado por todos os Presbíteros, é que deve tomar as decisões da Igreja e, diante do Senhor, embaixo de oração, pastorear bem o rebanho de Deus.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- WITHEROW, Thomas. A Igreja Apostólica: Que Significa Isto? Recife: Editora Os
Puritanos.
  

- BANNERMAN, James. A Igreja de Cristo: Um Tratado sobre a Natureza, Poderes, Ordenanças, Disciplina e Governo da Igreja Cristã. Recife: Editora Os Puritanos.


2. OFÍCIOS: PRESBÍTEROS (DOCENTES E REGENTES) E DIÁCONOS

Jesus Cristo é o Rei da Igreja e a governa por meio de oficiais. Nas Igrejas Presbiterianas os oficiais são os Presbíteros e os Diáconos.

Há denominações no mundo que defendem a existência de 3 ofícios permanentes: Pastores (ou Bispos), Presbíteros e Diáconos. Porém, quando estudamos os textos no detalhe percebemos que o Novo Testamento usa os termos Bispo, Presbítero e Pastor com o mesmo significado. Veja, por exemplo, Atos 20 quando Paulo chama os mesmos homens de Presbíteros e Bispos, dando a eles encargos de Pastor.

Em Atos 15, quando uma séria questão doutrinária teve de ser resolvida, não foram Apóstolos, Bispos e Presbíteros que deliberaram, mas Apóstolos e Presbíteros.

Os Diáconos são os homens levantados por Deus para servir. A arrecadação de ofertas para fins piedosos, o cuidado dos pobres, doentes e inválidos e a manutenção e fiscalização dos trabalhos na Casa de Deus são atribuições deles.

O Presbítero, tanto o Docente cuja ênfase está no ensino, quanto o Regente cuja ênfase está no governo, são essenciais para a Igreja. Note que até os Apóstolos, possuidores de dons extraordinários e alvos da inspiração divina, não tomaram decisão alguma no Concílio de Jerusalém sem a participação dos Presbíteros.

Hoje, muito do presbiterianismo nacional ainda está em pé por causa dos Presbíteros Regentes, pois são menos vulneráveis aos ventos de doutrina que assolam a Igreja.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- O ofício de presbítero - Geerhardus Vos - https://goo.gl/HW8qHr
- Dois ofícios e duas ordens de presbíteros - George W Knight, III - https://goo.gl/CEhNQg
- Os membros da Assembleia de Westminster e seus escritos (inglês): https://goo.gl/uuAALN
- O Princípio Regulador do Culto – Brian Schwertley - http://www.monergismo.com/…/principio-regulador-culto_brian…
- Por que sou um cessacionista? - Thomas Schreiner -https://goo.gl/1kWqmY
- Você, provavelmente, também é um cessacionista! - Phillip Johnson -https://goo.gl/evHKQB
- O que o cessacionismo não é - Nathan Busenitz - https://goo.gl/gtDB7P
- WITHEROW, Thomas. A Igreja Apostólica: Que Significa Isto? Recife: Editora Os
Puritanos.
  

- BANNERMAN, James. A Igreja de Cristo: Um Tratado sobre a Natureza, Poderes, Ordenanças, Disciplina e Governo da Igreja Cristã. Recife: Editora Os Puritanos.


3. REGRA DE FÉ E PRÁTICA: BÍBLIA

Quando falamos em “regra de fé” queremos dizer que tudo o que devemos crer, em matéria de fé, tem que seguir a regra, isto é, o padrão das Escrituras. O mesmo vale para “regra de prática”. Significa que a nossa prática de vida deve estar de acordo com a Palavra de Deus.

Isso parece óbvio, mas não é. No Romanismo, a tradição está acima das Escrituras. Não importa o que a Bíblia diz, importa o que a Igreja Romana estabeleceu como verdade.

No Pentecostalismo, a experiência está acima das Escrituras. Não importa o que a Bíblia diz, aconteceu comigo, dirá um pentecostal, e isso é o que vale.

Foi pensando nestas distorções que a Assembleia de Westminster declarou: "À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens" (Cap. 1.6)

Assim, o crente orienta sua vida pela Palavra. Não por tradição oral e nem por sonhos ou supostas revelações.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- BEEKE, Joel; ARMSTRONG, John et allis. Sola Scriptura: numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- BOICE, James Montgomery. O Alicerce da Autoridade Bíblica. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova.
- COSTA, Hermisten M.P. A Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- HARRIS, Laird. Inspiração e Canonicidade da Bíblia. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- MACARTHUR, John Jr. Como Obter o Máximo da Palavra de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- MACGREGOR, Jerry. Conhecendo a Vontade de Deus para as Decisões da Vida. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- SCHWERTLEY, Brian. O Modernismo e a Inerrância Bíblica. Recife: Editora Os Puritanos

- STOTT, John. Crer É Também Pensar. São Paulo: Editora ABU.

4. TEOLOGIA REFORMADA, ALIANCISTA

A Igreja Presbiteriana teve sua origem na época da Reforma Protestante. John Knox, aluno de João Calvino, foi o homem que liderou a reforma na Escócia para que a igreja se tornasse protestante, recebendo o nome de Presbiteriana. Isso aconteceu em 1560.

A teologia escocesa foi profundamente influenciada pelos escritos de João Calvino e, mais tarde, tornou-se a grande influência teológica da Assembleia de Westminster. A Teologia da Aliança nasceu neste período e foi a constatação de que Deus relaciona-se com o seu povo por meio de Alianças. Reino, Pacto e Mediador (RPM) são, como escreveu Van Groningen, os 3 fios do cordão dourado que percorrem toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse.

A Teologia da Aliança explica a ligação entre as promessas do Messias no Antigo Testamento e o seu cumprimento no Novo. O mesmo se dá com os ritos, sacrifícios e sacramentos do Antigo Testamento. Todos eles apontam para o Novo Testamento, cumprindo-se em Cristo.

A Igreja Presbiteriana também é herdeira dos cânones de Dort (1618/19) onde ficaram definidos os 5 pontos do Calvinismo: 1. Depravação Total, 2. Eleição Incondicional, 3. Expiação Limitada, 4. Graça Irresistível e 5. Perseverança dos Santos.

Devemos nos lembrar, entretanto, que os 5 pontos de Dort se referem apenas à doutrina da salvação. A Teologia Reformada é bem mais que isso. É uma completa cosmovisão em que a Soberania de Deus é abrangente sobre todas as áreas da criação, desde política, economia, literatura, artes, etc.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- O que é Teologia Reformada – R.C. Sproul - https://goo.gl/4M7dT4
- Teologia Reformada é Teologia do Pacto – Richard Pratt - https://goo.gl/QEz9f1
- O Sínodo de Dort – Juliano Heyse - https://goo.gl/X9excW
- ROBERTSON, Palmer. Cristo dos Pactos. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- ROBERTSON, Palmer. Alianças. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- GRONINGEN, Gerard Van. Criação e Consumação. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 


5. SUBSCRIÇÃO DA CONFISSÃO DE FÉ, CATECISMOS MAIOR E BREVE DE WESTMINSTER

A Igreja Presbiteriana adota a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster como sistema expositivo de doutrina e prática. Isso equivale a dizer que a nossa forma de doutrina está claramente definida nestes documentos.

Algumas pessoas dizem: A Bíblia é a minha única confissão! Sim, mas, em que você crê? Em qual forma de governo? Em qual forma de batismo? Em que linha escatológica? Note que todos temos uma “confissão de fé” isto é, uma forma de crer nas doutrinas bíblicas. A diferença das igrejas históricas, como diria Carl Trueman, é que a nossa confissão é pública e disponível a quem quiser ler. Não está escondida no coração.

A Assembleia que formulou estes documentos iniciou seus trabalhos no dia 1° de julho de 1643 e continuou em atividade durante cinco anos e meio. Nesse período, houve 1163 reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões. Cerca de 150 teólogos, em sua maioria puritanos, trabalharam para nos legar documentos profundamente bíblicos que têm abençoado gerações de crentes.

Na atualidade, os oficiais da Igreja Presbiteriana do Brasil prometem, em sua ordenação, ser leais às doutrinas da Igreja conforme expressas na Confissão de Fé e nos Catecismos de Westminster.

Quando um pastor presbiteriano crê ou ensina doutrina contrária ao que está nestes documentos, comete perjúrio, falso juramento.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- Confessionalidade: Lato ou Estrito Sensu? – Augustus Nicodemus: https://goo.gl/FbfXf7
- Por que cristãos precisam de confissões - Carl Trueman: https://goo.gl/SkrWg2

- BEEKE, Joel R. e FERGUSON, Sinclair B. Harmonia das Confissões Reformadas. São Paulo: Cultura Cristã.
- BOICE, James et al. Reforma Hoje: Uma Convocação feita pelos Evangélicos Confessionais. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- DIXHOORN, Chad Van. Guia de Estudos da Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- HORN, Leonard T. Van. Estudos no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Editora Os Puritanos.
- ROBERTS, W. H. O Sistema Presbiteriano. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- TRUEMAN, Carl. O Imperativo Confessional. Brasília: Monergismo.
- SIMÕES, Ulisses Horta. A Subscrição Confessional. Rio de Janeiro: Efrata.
- WATSON, Thomas. A Fé Cristã: Estudos Baseados no Breve Catecismo de Westminster. São Paulo: Editora Cultura Cristã.

6. O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

Em matéria de culto há dois caminhos a serem seguidos: Ou o Princípio Normativo (Católicos e Luteranos) que ensina que o que não for proibido na Bíblia é permitido no culto ou o Princípio Regulador do Culto (Reformados e Presbiterianos) que ensina que apenas o que for ensinado na Bíblia é permitido no culto.

Os ensinos são opostos entre si. No primeiro, para algo não entrar no culto é preciso uma proibição explícita. Assim, posso cultuar dando cambalhotas, acendendo velas e fazendo coreografias? A resposta católica/luterana é: Há alguma proibição quanto a isso na Bíblia? Não? Então, pode.

Já no Princípio Regulador do Culto, para algo não entrar no culto basta não ser ordenado na Bíblia. Assim, posso cultuar dando cambalhotas, acendendo velas e fazendo coreografias? A resposta reformada é: Há alguma ordem de Deus para que isso seja feito no culto? Não? Então, não pode.

A Bíblia é a nossa única regra de fé e de prática também nas questões de adoração. Apenas tendo base bíblica é que algo pode ser permitido no culto.

Qual é o embasamento bíblico do Princípio Regulador do Culto? Por exemplo, Levítico 10, onde Nadabe e Abiú são reprovados por Deus porque trouxeram fogo estranho perante Ele, “o que lhes não ordenara”. Veja que Deus não disse: “o que lhes proibira”. Ou Deuteronômio 12.32: “Tudo o que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem diminuirás” e outros textos.

A Igreja Presbiteriana adota oficialmente o Princípio Regulador do Culto. Ele está descrito no texto da Confissão de Fé de Westminster: “... o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.” (CFW 21,1)

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:

- Nove Linhas de Argumentos em Favor do PRC – T. David Gordon - http://www.monergismo.com/text…/liturgia/nove_argumentos.htm
- HORTON, Michael. Um Caminho Melhor. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- ANGLADA, Paulo. O Princípio Regulador do Culto. São Paulo: PES.
- JOHNSON, Terry L. Adoração Reformada. Recife: Os Puritanos.

7. DONS ESPETACULARES: CESSACIONISTA

A Igreja Presbiteriana do Brasil é, por definição, Cessacionista. A Confissão de Fé de Westminster afirma: “... para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna a Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar a sua vontade ao seu povo.” (CFW 1.1)

Quais eram estes antigos modos de revelação que cessaram? Sonhos, visões, profecias, teofanias, línguas... Alguns destes foram dons espetaculares que funcionavam como credenciais, isto é, poderes que validavam a pregação da Palavra, para que o povo acreditasse que a mensagem vinha de Deus. Eis alguns exemplos:

Paulo e Barnabé demoraram-se em Icônio “falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios.” (At 14.3). Paulo relata que os gentios se converteram “por palavra e por obras, por força de sinais e prodígios, pelo poder do Espírito Santo” (Rm 15.18) e que “... as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos.” (2Co 12.12) Na mesma linha, o escritor de Hebreus registra: “... como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.” (Hb 2.3,4)

Com o fechamento do cânon, isto é, com a Bíblia toda escrita, não há mais necessidade de que Deus fale da forma como falava antes. Hoje a Bíblia é a palavra de Deus. O Espírito Santo fala na Palavra. Ela é a “espada do Espírito” (Ef 6.17).

Quanto ao dom de cura, que fazia com que até a sombra (At 5.15) e os lenços (At 19.12) dos apóstolos curassem, ele cessou no período apostólico. Possivelmente, até antes da morte de todos os apóstolos, visto que há relatos de doenças não curadas no Novo Testamento (Fp 2.26,27; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20). Deus cura hoje? Com certeza. O dom cessou, mas o poder de Deus continua.

Sobre o dom de línguas, ele nasceu da necessidade de pregação do Evangelho. A questão é: Como aqueles homens simples, alguns pescadores iletrados, pregariam o Evangelho em outros países sem saber o idioma daqueles lugares? Dom de línguas. Em Atos 2, quando o dom é inaugurado, Lucas diz que estavam ali pessoas de “todas as nações debaixo do céu” (v. 5) e que estas pessoas ouviram a mensagem em sua “própria língua materna” (v. 8). Foi uma mensagem compreensível, no idioma dos ouvintes. Em Corinto, nada mudou. Uma cidade banhada por mares dos dois lados, rota do comércio marítimo da época e hospedeira de milhares de estrangeiros. Natural que nesta cidade (a única para a qual Paulo escreveu sobre esse assunto) o dom de línguas fosse utilizado na pregação do Evangelho.

Em suma, o cessacionismo da Igreja Presbiteriana não é a descrença no Espírito Santo e nem no poder de Deus. Cremos que Deus ainda cura, ainda liberta, ainda faz milagres. Todavia, não na dependência de dons apostólicos, pois o ofício apostólico acabou, e nem com base na agenda ou determinação humanas. Deus é soberano e opera onde, quando e como quer.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:
- O que dizer sobre profecias e línguas hoje? - Richard B. Gaffin, Jr. -https://goo.gl/enBVAJ
- BRUNER. Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo. São Paulo: Editora Cultura Cristã.
- GAFFIN, Richard B. Perspectivas sobre o Pentecostes. Recife: Os Puritanos.
- KNIGHT III, George W. A Profecia no Novo Testamento. Recife: Os Puritanos.
- MACARTHUR, John Jr. O Caos Carismático. São José dos Campos: Editora Fiel.
- ROBERTSON, Palmer. A Palavra Final. São Paulo: Editora Cultura Cristã.


8. CEIA: PRESENÇA ESPIRITUAL DE CRISTO

A questão da presença de Cristo na ceia foi alvo de muita discussão na história da Igreja. Os romanistas criaram a visão de que o pão e o vinho têm a sua substância transformada em corpo e sangue de Cristo a partir das palavras de consagração do sacerdote. Isso se chamou Transubstanciação.

Os luteranos criaram a posição que afirmava a presença física do corpo e do sangue de Cristo juntos com o pão e o vinho. Isso se chamou Consubstanciação. O reformador Zwínglio criou a posição que afirmava a ausência de Cristo na ceia. Para ele a ceia era apenas um memorial ou lembrança da morte de Cristo.

A partir de João Calvino, formou-se a visão da presença real e espiritual de Cristo na ceia, que é a posição seguida pela Igreja Presbiteriana e pelas demais igrejas reformadas. De fato, Cristo está presente na ceia e é por isso que ela é um meio de graça, isto é, um canal através do qual Deus abençoa os participantes. O pão e o vinho continuam sendo pão e vinho, todavia, como Cristo disse “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” (Mt 26.26-29) há a presença espiritual, mística e sobrenatural do Redentor no sacramento.

A ceia deve ser ministrada por um ministro da Palavra. Isso deve ser assim por dois motivos: Primeiro, porque na Bíblia não temos sacramentos sendo administrados por não oficiais e, segundo, porque os sacramentos não são divorciados da Palavra, assim, cabe ao ministro da Palavra a sua administração.

Participam da ceia os membros da igreja que já foram batizados e que tem condições de fazer uma autoavaliação de sua fé (1Co 11.28). Crianças não devem participar.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:
- A Santa Ceia do Senhor – João Calvino: https://goo.gl/4U4hso
- Da Santa Ceia – Gordon Clark: https://goo.gl/LJrWvn
- A Ceia do Senhor – Bíblia de Genebra: https://goo.gl/FPDVUh
- A Presença de Cristo na Ceia – Ronald Hanko: https://goo.gl/yS6iYX
- Um Resumo... da Ceia do Senhor – John Knox: https://goo.gl/5xXPT3
CALVINO, João. As Institutas, Livro 4. São Paulo. Editora Cultura Cristã.
- WATSON, Thomas. A Ceia do Senhor. Recife: Os Puritanos.

9. BATISMO: ASPERSIONISTA E PEDOBATISTA

O elemento exterior utilizado no batismo é a água e não importa a quantidade usada, pois trata-se de um símbolo apenas. Por isso, a Igreja Presbiteriana aceita o batismo praticado em outras igrejas, mas insiste que o batismo por aspersão é bíblico. Textos como o do batismo de Paulo (At 9), do carcereiro de Filipos (At 16) e dos 3.000 convertidos (At 2.37-41) mostram a evidência maior para batismo por aspersão, pois não havia rios ou tanques de água nestes locais para imergir estas pessoas.

Na Igreja Presbiteriana nós batizamos os filhos dos crentes. No Antigo Testamento as crianças eram incluídas no Pacto da Graça por meio da circuncisão (Gn 17.9-14). No oitavo dia de vida, sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo, o bebê era circuncidado, sendo introduzido assim, por seus pais, no povo de Deus. Mais tarde, aos 13 anos, ele ia ao templo para confirmar o ato de seus pais, tornando-se um “filho do mandamento” (Bar Mitzvá).

Pedro confirma que a promessa é para nós e nossos filhos: ‘‘Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe’’ (At 2.39) e Paulo ensina que os filhos dos crentes, mesmo quando apenas um dos pais é crente, são santos perante o Senhor: ‘‘o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, vossos filhos seriam impuros; porém, agora são santos’’ (1Co 7.14)

No Novo Testamento temos o batismo de casas inteiras e não há registro de exceção, isto é, não é dito que todos da casa foram batizados, exceto as crianças. Mesmo porque, como já vimos, as crianças sempre fizeram parte do povo de Deus mediante a circuncisão. Assim, Lídia e todos da sua casa foram batizados (At 16.15), o carcereiro de Filipos e todos os seus familiares (At 16.33) e todos da casa de Estéfanas (1Co 1.16).

Além da evidência bíblica, a história da Igreja testemunha o batismo infantil. Justino Mártir (130), Irineu (180), Orígenes (230) e Agostinho (354) escreveram sobre o assunto. Cipriano de Cartago (200) escreveu uma carta testemunhando que o batismo das crianças poderia ser feito a qualquer momento, mesmo antes do oitavo dia de vida.

Batizar nossos filhos é uma bênção dada pelo Senhor. O povo da aliança sempre inseriu seus filhos no pacto com o Senhor. Nas igrejas reformadas as crianças não são apenas apresentadas na frente da Igreja. São batizadas. São inseridas formalmente no povo da Aliança. Os pais são instados a fazerem isso cedo. Oficiais que não concordam com a aplicação deste sacramento, não deveriam estar no oficialato. A teologia do pacto é central na teologia reformada.

Quer aprofundar-se um pouco no assunto. Leia:
- Porque Batizamos por Aspersão - J. B. Green - https://goo.gl/ecJjT3
- Defendendo o batismo infantil em 60 segundos - Bryan Holstrom -https://goo.gl/j488G1
- A pergunta batista mais comum – Brian Crossett – https://goo.gl/ejcSxJ
- Batismo de Crianças – Augustus Nicodemus - https://goo.gl/UqRFiQ
- Batismo: a circuncisão cristã – Paulo Anglada - https://goo.gl/91hUR1
- Por que batizamos crianças – John Murray - https://goo.gl/jvcqrx

CALVINO, João. As Institutas, Livro 4. São Paulo. Editora Cultura Cristã.
- SARTELLE, John, EVANS, John, ANGLADA, Paulo, PIPA, Joseph Pipa. Batismo Infantil. Recife: Os Puritano.


CONCLUSÃO

Em 1970, ao ser reeleito presidente do Supremo Concílio, o Rev. Boanerges Ribeiro fez um importante discurso em que, dentre outras afirmações, disse: "Ninguém nos obriga a ser presbiterianos. Mas, se queremos sê-lo, sejamo-lo honradamente."

Estava certo, aquele querido pastor. Nós respeitamos todas as igrejas genuinamente cristãs, mas defendemos aquilo que cremos porque temos convicção de nossa fé. Todos são bem-vindos a se tornarem membros de nossas igrejas, mas, para isso, têm que aceitar as nossas doutrinas bíblicas. De outra forma, não cooperarão com a unidade de pensamento da Igreja.

A Igreja Presbiteriana do Brasil, por ter se afastado, aos poucos, do estudo da Confissão de Fé e dos seus catecismos vive hoje uma crise de identidade. Temos igrejas bem diferentes, espalhadas pelo país. Quem sabe você, leitor, ao aprender o que foi escrito neste texto, seja um instrumento de transformação, juntamente com muitos outros irmãos, a trazer de volta a nossa amada Igreja Presbiteriana do Brasil às suas antigas doutrinas. Que Deus te abençoe.

May 25, 2018

50 Artigos e 2 Vídeos sobre o Dispensacionalismo


O Dispensacionalismo, corrente escatológica surgida no século 19 com John Nelson Darby, popularizou-se bastante no Brasil graças à Bíblia de Referência de Scofield, aos livros da Editora Chamada da Meia Noite e, por fim, ao best seller "Deixados para Trás" de Tim LaHaye e Jerry Jenkins.

Com o aumento da produção de livros de teologia reformada, a corrente se enfraqueceu, todavia, com o advento da internet e das redes sociais ganhou novo fôlego. Com o objetivo de mostrar o erro desta corrente, amplamente refutada nas últimas décadas, foi que selecionei 50 artigos em português e inglês sobre o tema e 2 vídeos muito instrutivos sobre o assunto. Seguem abaixo:


April 8, 2018

O Sinal da Cruz - Kevin Reed





É apropriado oferecermos alguns comentários sobre a colocação de cruzes em edifícios de culto. Quando falamos da cruz, ou cruzes, estamos nos referindo ao símbolo visível chamado cruz, não aos sofrimentos do Salvador. Quando o apóstolo Paulo exclamou: "Deus não permita que eu me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gálatas 6:14), ele proferiu uma verdade preciosa. Mas a expressão do apóstolo é obviamente uma sinédoque, pela qual ele exalta a obra salvadora de Cristo. A declaração de Paulo não tem referência a símbolos visíveis, conhecidos entre nós como cruzes.

A adoração direta ou adoração de cruzes é claramente proibida pelas escrituras, no primeiro e segundo mandamentos, que proíbem adorar alguém ou alguma coisa além do Senhor. Historicamente, os protestantes condenaram a adoração de cruzes; por exemplo, a Confissão Escocesa de 1580 lista especificamente a "adoração de imagens, relíquias e cruzes", entre as práticas deploráveis do "Anticristo Romano". (Esta condenação foi estendida ao gesto supersticioso de "cruzar", que também é empregado dentro de ritos e cerimônias romanas).

A maioria dos protestantes ainda reconhece que o culto direto das cruzes é pecaminoso. Mas uma disputa resulta quando muitos protestantes professos defendem o uso da cruz como um símbolo.

Agora, o que é um símbolo? É uma representação visível de algo. Se eles dizem que a cruz é um símbolo da divindade, então eles novamente violam o segundo mandamento, que proíbe fazer ou usar representações do Senhor (Cf. Deuteronômio 4: 15-16; Atos 17:29). Naturalmente, a maioria dos protestantes não afirmaria que a cruz é uma representação de Deus. Portanto, os defensores de cruzes devem explicá-lo como um símbolo de outra coisa; então eles mudam o argumento para dizer que uma cruz é um símbolo da redenção ou da obra de Cristo.

Nesta situação, a cruz torna-se agora um rival feito pelo homem para os sacramentos. Como já observamos, o batismo e a Ceia do Senhor servem como sinais visíveis e selos da obra redentora de Cristo; os sacramentos são uma palavra visível para testemunhar a redenção. "Porque, da mesma maneira que comeste este pão e bebe deste cálice, mostra a morte do Senhor até que ele venha" (1 Coríntios 11:26).

Os defensores de cruzes implicitamente impugnam a sabedoria de Cristo ao suplementar os sacramentos com a cruz como um sinal acessório. É uma implicação inevitável que a cruz, empregada como um símbolo ou como uma ajuda para a devoção, participe de uma característica sacramental como um sinal.

Alguns dirão que a postagem de uma cruz em uma casa ou em um prédio da igreja é uma coisa incidental, assim como o arranjo de cadeiras, carpetes e papel de parede. Mas tais elementos incidentais da decoração não possuem o caráter simbólico da cruz. Os observadores de cruzes devem se opor ao fato inegável de que a colocação de uma cruz dentro de um edifício de culto não é um aspecto meramente indiferente do projeto arquitetônico. Os únicos incidentes em um local de culto são aquelas "circunstâncias concernentes à adoração de Deus, e o governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, que devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, de acordo com a lei geral. regras da palavra, que devem ser sempre observadas. "[10]

É preciso também considerar as associações más da cruz. A cruz, como símbolo ou gesto, não é encontrada nas escrituras. Durante séculos, a cruz tem sido e continua sendo um implemento proeminente do culto e da superstição papista. Nenhum homem sensato pode negar esses fatos. Visto que a cruz não tem garantia bíblica para seu uso, por que ela deveria ter algum lugar entre aqueles que adoram "em espírito e em verdade"? (João 4: 23-24). O povo de Deus foi ordenado a purgar do meio deles os instrumentos da adoração corrupta usada pelas falsas religiões (Deut. 12: 2-3, 30-31).

Além disso, mesmo que a cruz possuísse uma origem nobre, a superstição agora ligada a ela argumentaria pela sua abolição. Considere o exemplo de Ezequias em referência à serpente de bronze. A serpente de bronze foi originalmente construída por ordem de Deus, mas foi destruída quando se tornou uma armadilha para o povo de Deus (2 Reis 18: 4). Quão mais rapidamente, então, devemos descartar um símbolo feito pelo homem que continua a ser um estandarte do Anticristo Romano?

Em resumo, não há autorização bíblica para designar a cruz como um símbolo (ou gesto) para adornar as assembleias do povo de Deus. Até que os detentores de cruzes possam produzir tal mandado, o uso de cruzes é condenado somente com base nisso, uma vez que o princípio regulador do culto proíbe todas as adições humanas aos rituais e símbolos designados por Deus no culto. Além disso, a superstição fomentada pelas cruzes exige que sejam expurgadas do meio do povo de Deus.

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