Na semana passada, escrevi um primeiro texto sobre este assunto. Meu objetivo era chamar a atenção para o quão complexo é o desafio dos líderes eclesiásticos que precisam decidir quanto à manutenção ou suspensão das atividades da igreja nestes tempos de pandemia. Meu apelo foi para que evitássemos análises e comentários simplistas, e fossemos mais misericordiosos ao tratar dessa questão.
Se você está acompanhando as discussões, deve ter percebido que elas giram, majoritariamente, em torno de uma reunião específica: o culto! Eu não vi ninguém “brigando” pela suspensão do artesanato das mulheres, do churrasco dos homens ou da pizza dos jovens no sábado à noite. Não me lembro sequer de ter visto alguém esbravejar pela suspensão da Escola Dominical. A questão tem a ver com o culto!
Há uma forte razão para isso: o culto é uma reunião singular! É quando o povo de Deus é reunido para celebrar a redenção, confessar e receber perdão, expressar unidade, ter o coração reorientado pela Palavra e responder com dedicação e disposição para o serviço. Para muito além do que minhas palavras podem expressar, se você é um cristão, você sabe o que é o culto. E sabe que a impossibilidade de cultuar costuma deixar uma sensação de vazio e de incompletude em todo cristão verdadeiro. Quando deixamos de ir ao culto, num domingo qualquer, experimentamos aquela sensação que costuma ser expressa pela seguinte exclamação: "parece que está faltando alguma coisa!"
No último domingo, os efeitos da pandemia ainda estavam começando a ser sentidos por aqui. E muitos líderes conseguiram manter o culto na igreja que dirigem. Alguns, na mesma frequência regular em que eles acontecem, e outros com uma frequência menor [foi o que aconteceu na igreja em que sirvo, por exemplo].
Mas as coisas estão piorando. À medida que o final de semana se aproxima, novas decisões precisarão ser tomadas. E eu suspeito que o número de decisões pela suspensão irá aumentar consideravelmente. Foi por isso que resolvi escrever este texto: para expressar uma preocupação e estabelecer um diálogo com meus colegas que caminharão nesta direção. Se não é o seu caso, obrigado pela leitura até aqui. Se quiser continuar, fique à vontade. Mas pode ser que não seja tão útil para você.
O grande desafio que a suspensão do culto presencial coloca sobre nossos ombros é: como conduzir o povo de Deus no culto ao Senhor, se as pessoas não podem estar presentes no mesmo ambiente? A resposta mais imediata tem sido: tecnologia, mais especificamente, internet. Foi o que boa parte das igrejas fez no domingo passado: elas reuniram um pequeno grupo e transmitiram a reunião para que aqueles que permaneceram em casa pudessem assistir [palavra usada de propósito; assistir, não participar]. Mas, se as coisas se desenvolverem como se anuncia, possivelmente isso já não será possível em alguns lugares nos próximos domingos, e o que eu creio que veremos é uma multidão de pastores falando nas redes sociais, a partir de sua própria casa, através do seu telefone celular.
A pergunta que não quer calar é: deveríamos tratar isso, naturalmente, como uma versão contemporânea do culto público? Eu acredito que não! E também acredito que se fizermos isso correremos o risco de desconsiderar a especialidade do momento que estamos vivendo, que não deve ser interpretado, por nós cristãos, apenas em termos políticos, sociais ou econômicos, mas, principalmente, em termos espirituais. Talvez, Deus esteja disciplinando a humanidade por meio desta pandemia; a Bíblia diz que Ele já fez coisas semelhantes no passado. E, talvez, a impossibilidade de nos reunirmos seja parte da disciplina do Senhor sobre nós, a sua igreja; quem sabe, pelo nosso estilo de vida individualista e nosso pouco caso para com a vida em comunidade.
Se for isso, tentar emular a experiência litúrgica comunitária através da internet, não me parece a melhor resposta. Entenda! Eu não estou dizendo que não devemos usar a internet para encurtar os espaços neste momento. Eu acredito que a internet é benção de Deus, e que ela pode ser de grande utilidade agora. O que estou dizendo é que não devemos naturalizar o extraordinário, nem alimentar a expectativa de experimentarmos, tão naturalmente, no isolamento de nossas residências, o que Deus projetou para ser experimentado no contexto da vida comunitária. A linha é tênue. Mas, por mais difícil que seja, nós precisamos considerá-la.
O que fazer então? Os princípios de liturgia de minha denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, distinguem três tipos de culto: a) o individual; b) o doméstico; e c) o culto público. Baseado nessa distinção, eu suspeito que a melhor coisa a fazer na impossibilidade da realização do terceiro é estimular e prover meios para que os dois primeiros sejam intensificados. Ou seja: antes de pensar no kit youtuber para a transmissão de domingo, talvez devamos nos dedicar ao preparo e seleção de bons roteiros devocionais para que a igreja intensifique o culto individual. E também, ao preparo de um roteiro detalhado de culto doméstico que pudesse ser colocado nas mãos dos chefes de família para que eles, como sacerdotes do lar, conduzissem sua esposa e filhos na adoração. No final, pode ser que a redescoberta dessas coisas tão importantes, e ao mesmo tempo tão esquecidas, seja um efeito colateral positivo destes tempos sombrios.
Isso impede um encontro virtual para a celebração da redenção, instrução na Palavra e intercessão? De modo nenhum! Eu apenas não me sinto confortável para equivaler, naturalmente, esse encontro virtual ao encontro presencial. E, por essa razão, eu evitaria chama-lo de "culto público" ou de "culto online". Mas eu estaria lá, e além de interceder pela nação, eu intercederia por nós. Pediria que Deus fosse gracioso para conosco e estendesse ao nosso isolamento as bênçãos que Ele costuma nos dispensar no contexto da vida comunitária. Porque ao mesmo tempo em que devemos evitar naturalizar o extraordinário, precisamos nos lembrar que essas categorias são para nós, não para Ele!
Se você está acompanhando as discussões, deve ter percebido que elas giram, majoritariamente, em torno de uma reunião específica: o culto! Eu não vi ninguém “brigando” pela suspensão do artesanato das mulheres, do churrasco dos homens ou da pizza dos jovens no sábado à noite. Não me lembro sequer de ter visto alguém esbravejar pela suspensão da Escola Dominical. A questão tem a ver com o culto!
Há uma forte razão para isso: o culto é uma reunião singular! É quando o povo de Deus é reunido para celebrar a redenção, confessar e receber perdão, expressar unidade, ter o coração reorientado pela Palavra e responder com dedicação e disposição para o serviço. Para muito além do que minhas palavras podem expressar, se você é um cristão, você sabe o que é o culto. E sabe que a impossibilidade de cultuar costuma deixar uma sensação de vazio e de incompletude em todo cristão verdadeiro. Quando deixamos de ir ao culto, num domingo qualquer, experimentamos aquela sensação que costuma ser expressa pela seguinte exclamação: "parece que está faltando alguma coisa!"
No último domingo, os efeitos da pandemia ainda estavam começando a ser sentidos por aqui. E muitos líderes conseguiram manter o culto na igreja que dirigem. Alguns, na mesma frequência regular em que eles acontecem, e outros com uma frequência menor [foi o que aconteceu na igreja em que sirvo, por exemplo].
Mas as coisas estão piorando. À medida que o final de semana se aproxima, novas decisões precisarão ser tomadas. E eu suspeito que o número de decisões pela suspensão irá aumentar consideravelmente. Foi por isso que resolvi escrever este texto: para expressar uma preocupação e estabelecer um diálogo com meus colegas que caminharão nesta direção. Se não é o seu caso, obrigado pela leitura até aqui. Se quiser continuar, fique à vontade. Mas pode ser que não seja tão útil para você.
O grande desafio que a suspensão do culto presencial coloca sobre nossos ombros é: como conduzir o povo de Deus no culto ao Senhor, se as pessoas não podem estar presentes no mesmo ambiente? A resposta mais imediata tem sido: tecnologia, mais especificamente, internet. Foi o que boa parte das igrejas fez no domingo passado: elas reuniram um pequeno grupo e transmitiram a reunião para que aqueles que permaneceram em casa pudessem assistir [palavra usada de propósito; assistir, não participar]. Mas, se as coisas se desenvolverem como se anuncia, possivelmente isso já não será possível em alguns lugares nos próximos domingos, e o que eu creio que veremos é uma multidão de pastores falando nas redes sociais, a partir de sua própria casa, através do seu telefone celular.
A pergunta que não quer calar é: deveríamos tratar isso, naturalmente, como uma versão contemporânea do culto público? Eu acredito que não! E também acredito que se fizermos isso correremos o risco de desconsiderar a especialidade do momento que estamos vivendo, que não deve ser interpretado, por nós cristãos, apenas em termos políticos, sociais ou econômicos, mas, principalmente, em termos espirituais. Talvez, Deus esteja disciplinando a humanidade por meio desta pandemia; a Bíblia diz que Ele já fez coisas semelhantes no passado. E, talvez, a impossibilidade de nos reunirmos seja parte da disciplina do Senhor sobre nós, a sua igreja; quem sabe, pelo nosso estilo de vida individualista e nosso pouco caso para com a vida em comunidade.
Se for isso, tentar emular a experiência litúrgica comunitária através da internet, não me parece a melhor resposta. Entenda! Eu não estou dizendo que não devemos usar a internet para encurtar os espaços neste momento. Eu acredito que a internet é benção de Deus, e que ela pode ser de grande utilidade agora. O que estou dizendo é que não devemos naturalizar o extraordinário, nem alimentar a expectativa de experimentarmos, tão naturalmente, no isolamento de nossas residências, o que Deus projetou para ser experimentado no contexto da vida comunitária. A linha é tênue. Mas, por mais difícil que seja, nós precisamos considerá-la.
O que fazer então? Os princípios de liturgia de minha denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, distinguem três tipos de culto: a) o individual; b) o doméstico; e c) o culto público. Baseado nessa distinção, eu suspeito que a melhor coisa a fazer na impossibilidade da realização do terceiro é estimular e prover meios para que os dois primeiros sejam intensificados. Ou seja: antes de pensar no kit youtuber para a transmissão de domingo, talvez devamos nos dedicar ao preparo e seleção de bons roteiros devocionais para que a igreja intensifique o culto individual. E também, ao preparo de um roteiro detalhado de culto doméstico que pudesse ser colocado nas mãos dos chefes de família para que eles, como sacerdotes do lar, conduzissem sua esposa e filhos na adoração. No final, pode ser que a redescoberta dessas coisas tão importantes, e ao mesmo tempo tão esquecidas, seja um efeito colateral positivo destes tempos sombrios.
Isso impede um encontro virtual para a celebração da redenção, instrução na Palavra e intercessão? De modo nenhum! Eu apenas não me sinto confortável para equivaler, naturalmente, esse encontro virtual ao encontro presencial. E, por essa razão, eu evitaria chama-lo de "culto público" ou de "culto online". Mas eu estaria lá, e além de interceder pela nação, eu intercederia por nós. Pediria que Deus fosse gracioso para conosco e estendesse ao nosso isolamento as bênçãos que Ele costuma nos dispensar no contexto da vida comunitária. Porque ao mesmo tempo em que devemos evitar naturalizar o extraordinário, precisamos nos lembrar que essas categorias são para nós, não para Ele!
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