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August 12, 2009

Como Zaqueu?

Estava disposto a escrever algo sobre o cântico "Como Zaqueu", que tem sido muito cantado nas igrejas evangélicas ultimamente, e que tem erros teológicos em sua letra, quando me deparei com o artigo abaixo, escrito por um pastor da Assembléia de Deus. Vale a pena ler.

"Alguns internautas têm me instigado a analisar a composição “Faz um milagre em mim”. Eu vinha evitando fazer isso, a fim de não provocar a ira dos fãs do cantor que interpreta esse hit “evangélico”. Afinal, vivemos em uma época em que dar uma opinião à luz da Bíblia desperta a fúria daqueles que dizem ser servos de Deus, mas são, na verdade, fãs, fanáticos e cristãos nominais.

Resolvi, pois, atender os irmãos que desejam obter um esclarecimento quanto ao conteúdo da canção mais cantada pelo povo evangélico na atualidade, a qual começa assim: “Como Zaqueu, eu quero subir o mais alto que eu puder”.

Primeira pergunta para reflexão: Zaqueu, quando subiu na figueira, era um seguidor de Jesus, um verdadeiro adorador? Não. Ele era um chefe dos publicanos, desobediente a Deus e corrupto (Lc 19.1-10). Nesse caso, como um crente em Jesus Cristo, liberto do poder do pecado, pode ainda desejar ser como Zaqueu, antes de seu maravilhoso encontro com Jesus?

Segunda pergunta para reflexão: Por que Zaqueu subiu naquela árvore? Ele estava sedento por salvação? Queria, naquele momento, ter comunhão com Jesus? Não. A Palavra de Deus afirma: “E, tendo Jesus entrado em Jericó, ia passando. E eis que havia ali um varão chamado Zaqueu; e era este chefe dos publicanos, e era rico. E procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura” (Lc 19.1-3). Ele não subiu na figueira porque estava desejoso de ter comunhão com Jesus, mas porque estava curioso para vê-lo.

Terceira pergunta para reflexão: O verdadeiro adorador deve agir como Zaqueu, ou como o salmista, que, ao demonstrar o seu desejo de estar na presença de Deus, afirmou: “Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Sl 42.1,2)? Será que o pecador e enganador Zaqueu tinha a mesma sede do salmista? Por que um verdadeiro adorador desejaria ser como Zaqueu?

Mas o hit “evangélico” continua: “Só pra te ver, olhar para ti e chamar sua atenção para mim”. Outra pergunta para reflexão: Será que precisamos subir o mais alto que pudermos para chamar a atenção do Senhor? Zaqueu, segundo a Bíblia, subiu na figueira por curiosidade. Mas Jesus, olhando para cima, lhe disse: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa” (Lc 19.5). Observe que não foi Zaqueu quem chamou a atenção de Jesus. Foi o Senhor quem olhou para cima e viu aquele pecador perdido e atentou para ele (cf. Mt 9.36).

A atitude de Zaqueu que nos serve de exemplo não foi o subir, e sim o descer, para atender o chamamento de Jesus: “E, apressando-se, desceu, e recebeu-o gostoso” (Lc 19.6). Por conseguinte, pergunto: O adorador, salvo, transformado, precisa subir para chamar a atenção de Jesus? Não. Na verdade, o Senhor está com o contrito e abatido de espírito (Is 57.15). Espiritualmente falando, Ele atenta para quem desce, e não para quem sobe (Sl 138.6; Lc 3.30).

Mais uma pergunta para reflexão: Se a atitude que realmente recebe destaque, na história de Zaqueu, foi a sua descida, por que a canção enfatiza a sua subida? O mais lógico não seria cantar “Como Zaqueu, eu quero descer”? Reflitamos. Afinal, como diz uma frase que circula na grande rede, o Senhor Jesus morreu para tirar os nossos pecados, e não a nossa inteligência.

A composição não é de todo condenável, pois o adorador que se preza deve mesmo cantar: “Eu preciso de ti, Senhor. Eu preciso de ti, ó Pai. Sou pequeno demais, me dá a tua paz”. Mas, a frase seguinte provoca outra pergunta para reflexão: “Largo tudo pra te seguir”. Estamos mesmo dispostos a largar tudo para seguirmos ao Senhor? E mais: É preciso mesmo largar tudo para segui-lo?

O que o Senhor Jesus nos ensina, em sua Palavra? Em Mateus 16.24, Ele disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”. Renunciar não é, necessariamente, abandonar, largar, mas pôr em segundo plano. A própria família pode ser um obstáculo para um adorador. Deve ele, nesse caso, largá-la, abandoná-la? Claro que não! Renúncia equivale a priorizar uma coisa em detrimento de outra.

Não precisamos largar a família, o emprego, etc. para seguir o Senhor! Mas precisamos considerar essas coisas secundárias ante a relevância de priorizar a comunhão com Jesus (Mt 10.27). Nesta última passagem vemos que o adorador deve amar prioritariamente o Senhor Jesus, mas sem abandonar tudo para segui-lo! Não confundamos renúncia com abandono. O que devemos largar para seguir a Jesus é a vida de pecado, e não tudo.

A canção continua: “Entra na minha casa. Entra na minha vida”. O compositor se refere a Zaqueu, mas não foi este quem convidou o Senhor para entrar em sua casa. Na verdade, foi Jesus quem lhe disse: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje me convém pousar em tua casa” (Lc 19.5). Nota-se, pois, que esta parte da canção não é essencialmente cristocêntrica, e sim antropocêntrica. Mais uma pergunta para reflexão: O hit em apreço prioriza a obra que Jesus faz na vida do pecador, ou dá mais atenção ao que o homem, o ser humano, faz para conseguir o que deseja? A canção enfatiza a Ajuda do Alto, ou a autoajuda?

Outra pergunta: Um verdadeiro adorador, um servo de Deus, alguém que louva a Jesus de verdade, que canta louvores ao seu nome, não é ainda uma habitação do Senhor? Por que pedir a Ele que entre em nossa casa e em nossa vida, se já somos moradas de Deus (Jo 14.23; 1 Co 6.19,20)?

A parte mais contestada da composição em apreço sinceramente não me incomoda muito: “Mexe com minha estrutura. Sara todas as feridas”. Que estrutura seria essa? No Salmo 103.14 está escrito: “... ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó”. Deus, é claro, conhece-nos profundamente. Ele conhece a totalidade do ser humano: espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23; Hb 4.12). Creio que o compositor tomou como base o que aconteceu com Zaqueu. O seu encontro com o Senhor mudou a sua vida por completo, “mexeu com a sua estrutura” (Lc 19.7-10). Deus faz isso na vida do pecador, no momento da conversão, e continua a transformar os salvos, a cada dia (2 Co 3.18).

Quanto a sarar feridas, o Senhor Jesus de fato nos cura interiormente. Mas não pense que estou aqui defendendo a falsa cura interior, associada a regressão psicológica, maldição hereditária, etc. Não! O Senhor Jesus, mediante a Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo, cura os quebrantados do coração, dando-lhes uma nova vida (Lc 4.18; 2 Co 5.17).

Diz ainda a canção: “Me ensina a ter santidade. Quero amar somente a ti. Porque o Senhor é o meu bem maior”. Sendo honesto e retendo o que é bom na composição (1 Ts 5.21), Deus, a cada dia, nos ensina a ser santos, em sua Palavra (Hb 12.14; 1 Pe 1.15-25). Além disso, Ele é, sem dúvidas, o que temos de mais precioso mesmo e, por isso, devemos amá-lo acima de todas as coisas (2 Co 4.7; Lc 10.27).

Quanto à última frase “Faz um milagre em mim”, o compositor comete o mesmo erro de português constante da campanha de publicidade da Embratel: “Faz um 21”. Na verdade, no caso da canção o correto seria: “Faze um milagre em mim”. E, no caso da Embratel: “Faça um 21”. (...)

Diante do exposto, que os pecadores, à semelhança de Zaqueu, desçam, humilhem-se, a fim de receberem a gloriosa salvação em Cristo (Lc 18.9-14). E quanto a nós, os salvos, os verdadeiros adoradores, em vez de subirmos o mais alto que pudermos, que também desçamos a cada dia, humilhando-nos debaixo da potente mão de Deus (1 Pe 5.6), a fim de que Ele nos ouça e nos abençoe (2 Cr 7.14,15)."

Ciro Sanches Zibordi
Pastor da Assembléia de Deus - Niterói
http://cirozibordi.blogspot.com

12 comments:

Bernardo Rafael said...

Reverendo Ageu, muito bom o artigo. Feliz foi o autor, assembleiano e bem centrado na verdade. Pena que muitos de nós presbiterianos não temos o mesmo zelo. A grande maioria das musicas ditas evangélicas são superficiais, antropocêntricas, misticas, cheias de erros teológicos e sensacionalistas.Oh época dificil a nossa! Não sei se o senhor conhece essa musica (a seguir). Está sendo cantada em igreja presbiterianas. É paganismo puro! É puro panteismo. Se puder comente um pouco sobre a letra. Abraços. Presb. Bernardo Rafael de Carvalho Pereira (IPB).
Na folha que cai, na flor que brota
Na onda que vai, no vento que sopra

Deus está, eu sei
Deus está
Deus está, eu sei
Deus está

No homem que sente,as alegrias da vida
No pequeno que aprende,o que o mestre ensina

Deus está, eu sei
Deus está
Deus está, eu sei
Deus está

Em tudo vejo o Teu amor
Em tudo vejo Tuas mãos
E Te agradeço Ó Criador
Por que tudo que existe,só existe,
Por que Tu és Senhor.

Na mãe que consola a criança nos braços
Em cada estrela que brilha no espaço

Deus está, eu sei
Deus está
Deus está, eu sei
Deus está

No pai que abraça o filho que volta
No escravizado que das algemas se solta

Deus está, eu sei
Deus está
Deus está, eu sei
Deus está

Em tudo vejo o Teu amor
Em tudo vejo Tuas mãos
E Te agradeço Ó Criador
Por que tudo que existe só existe,
Por que Tu és Senhor
Por que Tu és amor.
(repete duas vezes: Por que Tu és Senhor.Por que Tu és amor)

Deus está, eu sei
Deus está
Deus está, eu sei
Deus está

Rev. Ageu Magalhães said...

Caro Bernardo, de fato, há grande imprecisão teológica na letra desta canção que você citou. Creio que o escritor fez confusão entre Graça Comum (a bondade de Deus sendo derramada sobre sua criação) e Onipresença de Deus (sua presença em toda a parte). Possivelmente o autor não tenha preparo teológico e, por isso, não deixou claro que o Deus da criação não está na criação, mas é distinto dela. Infelizmente, alguns pastores não percebem estes erros e deixam suas ovelhas cantar impropriedades teológicas. Forte abraço, Ageu.

Igreja Presbiteriana de Roçadinho! said...

Quantas pessoas serão transformadas por esse artigo? Quantas pessoas foram transformadas por essa música?

Rev. Ageu Magalhães said...

Quantas pessoas serão transformadas por esse artigo? Certamente nenhuma. Quantas pessoas foram transformadas por essa música? Certamente, nenhuma também.

Só quem transforma é Jesus Cristo. E se tem gente confiando em música para transformar vidas, está bem equivocado em sua fé. Principalmente músicas que utilizam a Palavra de Deus de forma errada, como esta analisada.

Eduardo Medeiros said...

Prezado pastor

Não vou discordar que há letras e letras. Mas nesse caso, creio que o autor do artigo foi por demais rigoroso em sua análise. Afinal de contas, letra de músia é poesia, que se alimenta de metáfaras, e não sisudos tratados teológicos. Evidente que nós queremos que as letras cantadas em nossas igrejas reflitam o pensamento teológico que professamos, pois somos demasiadamente intolerantes com quem tem uma teologia diferente da nossa. Como se a nossa teologia fosse a base única e verdadeira pela qual todas as outras devam ser julgadas. E condenadas.

no mais, o blog é excelente.

Rev. Ageu Magalhães said...

Caro Eduardo, não creio que se trate de intolerância. Ao meu ver, é uma questão de lógica mesmo. Como pode uma igreja repleta de pessoas salvas, convertidas por Deus, lavadas no sangue do Cordeiro cantar as seguintes sentenças: "entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura".? Percebe?

Obrigado pela visita, e um forte abraço, Pr. Ageu.

Eduardo Medeiros said...

Prezado Rev.

Com um pouco de boa vontade, podemos dizer que quem diz em primeiro plano "entra na minha casa..." é Zaqueu...e esse pedido está, poeticamente, de acordo com o contexto que a letra retrata. E não vejo erro em nós termos a mesma atitude, pois, mesmo sendo lavado no sangue do cordeiro, sem nenhuma condenação (Rm 8.1), nunca é demais dizer, tal qual o salmista, "sonda-me Senhor...vê se tem em mim algo mau..." por que mesmo lavado e livres de qualquer condenação,nossa inclinação para tudo aquilo que desumaniza o ser e nos desfigura como "imagem e semelhança" de Deus(não gosto muito da palavra "pecado" pois ela perdeu totalmente o sentido) estará sempre latente em nossas pulsões e desejos.

Felipe Cangussu said...

Eu sempre sentia um certo arrepio ao ouvir e até cantar essa música (por osmose), mas não conseguia encontrar os argumentos para mostrar aos outros quão equivocada ela é.

Obrigado por abrir meus olhos e mente, certamente irei propagar esse texto aos que conheço.

Abraços,
Felipe

Rev. Ageu Magalhães said...

Caro Felipe, obrigado pela visita. Deus o abençoe. Ageu.

Jeff said...

Haggai, excelente post parabéns ao nosso irmão assembleiano!!!
Nos dias de hoje me sinto um órfão de músicas de qualidade tanto musical como letristicamente falando, lembro e continuo a cantar e tocar músicas do grupo Vencedores por Cristo e Logos, que apesar de serem músicas com licença poética e etc, não abandonaram a base bíblica. Façamos o seguinte, cite uma música de hoje que seja tão rica em verdades bíblicas como é a música "Consagrai-vos" do grupo Logos:

Consagrai-vos ao Senhor,
Servindo a Cristo com amor.
Levai, contai a salvação,
Que traz a paz ao coração.

Sede fortes e fiéis.
Com o Evangelho, calçai vossos pés,
Embraçando o escudo da fé.

Quando vier o dia mau,
Cristo é amigo leal.
Pela mão nos susterá.
Cristo nunca nos deixará.
Ele é real para mim!

Um verdadeiro passeio pela Bíblia.
Portanto irmãos creio que temos de prestar a atenção devida a tudo o que apresentamos diante de Deus, não apresentemos fogo estranho no altar dEle ou partimos do pressuposto de boa vontade, afinal Uzá(1 Crônicas 13:1-14) teve a boa vontade de segurar a arca para esta não cair, mas desobedeceu a Deus.
abraço

Rev. Ageu Magalhães said...

Caro Jeff Healey, esta música que você postou é preciosa mesmo. De fato, não dá para comparar as composições de 20 anos atrás com as de hoje. O povo está "emburrecendo" teologicamente e isto está se refletindo nas composições. Precisamos de novos compositores com urgência! Abraço, Ageu.

pedacin do ceu' said...

Sou cristão tradicional e não sou fanatico por nenhum tipo de musica gospel ate porque verdadeiramente muitas nao tem nenhum sentido teologico, mas creio que ninguem sera julgado por ouvi-las e canta-las,oq me preocupa realmente E ver homens salvos e preparados pra servir ficarem se debatendo enquanto seriam mais uteis se estivessem ajoelhados em seus gabinetes orando para um despertamento nesta naçao,oque doi Ever irmaos e irmas com decadas de conversao perdendo seu tempo lendo post como este que vem deteriorar ainda mais a imagem dos evangelicos no brasil,irmaos um reino dividido nao subsistira ,o inimigo gosta muito disso que estamos fazendo,na verdade nos eatamos fazendo oq ele faz o tempo todo,falta nos sabedoria,falta-nos crescer as vidas estao se perdendo e nos buscando teologia em cançoes que todos sabem q sao versos e rimas, se as cantam deixem q cantem, eu particularmente ouço com prazer hcc,louvem a DEUS de todo seu entendimento porque quem nao E contra nos E por nos.amem

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