Os “evangélicos” agora dão ibope,
atraem anunciantes, e os repórteres e âncoras demonstram ao relatar o evento um
entusiasmo e uma alegria quase tão grandes e espontâneos como os exibidos durante
as coberturas futebolísticas. O enorme número de participantes é destacado, bem
como o caráter absolutamente pacífico da manifestação. Algumas “rezas” são
colocadas ao alcance dos microfones. O povo ajoelhado no asfalto acompanhando a
oração do animador recebe atenção especial. Para impressionar com o elevado
número de participantes, as câmeras tomam cuidado para não incluir os buracos
no meio da massa humana.
Alguns manifestantes procuram
mais ou menos discretamente aproveitar a onda de civismo que varreu o país (ainda
varre, quando escrevo este editorial), mas o viés é mesmo o do hedonismo
neoevangélico: todos curtem “se dar bem” e é isso que estão celebrando. As
bênçãos cantadas e relatadas não são as espirituais com que o bendito Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos tem abençoado nas regiões celestiais em
Cristo. São celebrados os benefícios de uma viagem segura e tranquila até à
marcha, o elevado número de participantes e, é claro, além de outras dádivas
bem temporais, um emprego que a irmãzinha estava esperando e para o qual foi
chamada – pasmem os incrédulos – em pleno sábado!
Essa perspectiva temporal, porém,
não vai além dos respectivos umbigos. Enquanto as manifestações em todo o país
clamaram pelo fim da corrupção, a Marcha para Jesus revelou-se a Marcha dos
Alienados. Entrevistado pela simpática emissora, um articulado e controvertido líder
dos peregrinos afirmou que a Marcha era o meio de os evangélicos mostrarem que
também são cidadãos brasileiros.
Esse oportunismo beira a
velhacaria, mas isso não é tudo. Acaba revelando-se também uma confissão de que
esses evangélicos praticam o isolacionismo e a alienação. Deveriam ser sal da
terra e luz do mundo, mas recusam-se a misturar-se com a sociedade que deveriam
salgar e acabam usando a luz de outros faróis para lhes iluminar o caminho.
Os evangélicos deixaram os
sindicatos para os marxistas ateus e depois reclamam que lá só tem... esquerdistas.
Deixaram as sociedades de amigos do bairro, as associações de pais e mestres,
as reuniões de condomínio, os partidos políticos e outras formas de organização
civil, para os incrédulos, para reclamar depois que “lá só tem incrédulos”.
Agora evitam as manifestações sociais para organizar sua própria passeata,
porque julgam-se muito melhores do que a sociedade e não podem se misturar.
Como se a bancada dos “evangélicos” fosse melhor do que qualquer outra, em
Brasília.
Honrando as lições da Escritura e a herança da Reforma,
os evangélicos históricos e o presbiterianismo em particular são desafiados a
fazer muito melhor do que isso.
Rev. Cláudio Marra - Editor da Editora Cultura Cristã
Editorial do Jornal Brasil Presbiteriano - Julho de 2013
1 comment:
Rev Ageu Magalhães:
Parabéns pelo post. O sr está certo naquilo que critica, mas tenho umas ressalvas:
1- "deixaram os sindicatos para os marxistas ateus".
Olhando pra História, não parece que os crentes algum dia estiveram à frente dos (modernos) sindicatos para que se pudesse deixá-los a alguém. Eles foram comandados por Marxistas e "progressistas" desde o tempo de... Marx.
2- "Deixaram as sociedades de amigos do bairro, as associações de pais e mestres, as reuniões de condomínio, os partidos políticos e outras formas de organização civil, para os incrédulos"
Também parece ser o mesmo o caso desses grupos que o senhor menciona. Mesmo porque, o número de crentes no Brasil sempre foi maior que o de não-crentes (incluindo aqui os Católicos, talvez erroneamente)
3- Mesmo que, como Reformados que somos, o zelo calvinista pela sã doutrina seja algo que nos define, nesse momento tenebroso que vivemos, em que o Brasil está prestes a ser transformado numa Ditadura Marxista-Leninista por esses que hoje ocupam o poder, talvez seja melhor seguir o exemplo do movimento fundamentalista. Deixemos nossa discussões doutrinárias de lado por um momento e lutemos todos juntos pra um Brasil livre de Comunistas (e afins). A pregação do Silas Malafaia é toda errada? Sim. É verdade! Mas não vejo ninguém lutando mais do que ele pra livrar nosso País dessa praga diabólica. Nisso não dá pra condenar ele.
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