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August 16, 2013

A Marcha dos Alienados

Vi a matéria de uma emissora de televisão sobre a Marcha para Jesus em sua edição paulistana.

Os “evangélicos” agora dão ibope, atraem anunciantes, e os repórteres e âncoras demonstram ao relatar o evento um entusiasmo e uma alegria quase tão grandes e espontâneos como os exibidos durante as coberturas futebolísticas. O enorme número de participantes é destacado, bem como o caráter absolutamente pacífico da manifestação. Algumas “rezas” são colocadas ao alcance dos microfones. O povo ajoelhado no asfalto acompanhando a oração do animador recebe atenção especial. Para impressionar com o elevado número de participantes, as câmeras tomam cuidado para não incluir os buracos no meio da massa humana.

Alguns manifestantes procuram mais ou menos discretamente aproveitar a onda de civismo que varreu o país (ainda varre, quando escrevo este editorial), mas o viés é mesmo o do hedonismo neoevangélico: todos curtem “se dar bem” e é isso que estão celebrando. As bênçãos cantadas e relatadas não são as espirituais com que o bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos tem abençoado nas regiões celestiais em Cristo. São celebrados os benefícios de uma viagem segura e tranquila até à marcha, o elevado número de participantes e, é claro, além de outras dádivas bem temporais, um emprego que a irmãzinha estava esperando e para o qual foi chamada – pasmem os incrédulos – em pleno sábado!

Essa perspectiva temporal, porém, não vai além dos respectivos umbigos. Enquanto as manifestações em todo o país clamaram pelo fim da corrupção, a Marcha para Jesus revelou-se a Marcha dos Alienados. Entrevistado pela simpática emissora, um articulado e controvertido líder dos peregrinos afirmou que a Marcha era o meio de os evangélicos mostrarem que também são cidadãos brasileiros.

Esse oportunismo beira a velhacaria, mas isso não é tudo. Acaba revelando-se também uma confissão de que esses evangélicos praticam o isolacionismo e a alienação. Deveriam ser sal da terra e luz do mundo, mas recusam-se a misturar-se com a sociedade que deveriam salgar e acabam usando a luz de outros faróis para lhes iluminar o caminho.

Os evangélicos deixaram os sindicatos para os marxistas ateus e depois reclamam que lá só tem... esquerdistas. Deixaram as sociedades de amigos do bairro, as associações de pais e mestres, as reuniões de condomínio, os partidos políticos e outras formas de organização civil, para os incrédulos, para reclamar depois que “lá só tem incrédulos”. Agora evitam as manifestações sociais para organizar sua própria passeata, porque julgam-se muito melhores do que a sociedade e não podem se misturar. Como se a bancada dos “evangélicos” fosse melhor do que qualquer outra, em Brasília.

Honrando as lições da Escritura e a herança da Reforma, os evangélicos históricos e o presbiterianismo em particular são desafiados a fazer muito melhor do que isso.


Rev. Cláudio Marra - Editor da Editora Cultura Cristã

Editorial do Jornal Brasil Presbiteriano - Julho de 2013

1 comment:

Unknown said...

Rev Ageu Magalhães:

Parabéns pelo post. O sr está certo naquilo que critica, mas tenho umas ressalvas:

1- "deixaram os sindicatos para os marxistas ateus".
Olhando pra História, não parece que os crentes algum dia estiveram à frente dos (modernos) sindicatos para que se pudesse deixá-los a alguém. Eles foram comandados por Marxistas e "progressistas" desde o tempo de... Marx.

2- "Deixaram as sociedades de amigos do bairro, as associações de pais e mestres, as reuniões de condomínio, os partidos políticos e outras formas de organização civil, para os incrédulos"
Também parece ser o mesmo o caso desses grupos que o senhor menciona. Mesmo porque, o número de crentes no Brasil sempre foi maior que o de não-crentes (incluindo aqui os Católicos, talvez erroneamente)

3- Mesmo que, como Reformados que somos, o zelo calvinista pela sã doutrina seja algo que nos define, nesse momento tenebroso que vivemos, em que o Brasil está prestes a ser transformado numa Ditadura Marxista-Leninista por esses que hoje ocupam o poder, talvez seja melhor seguir o exemplo do movimento fundamentalista. Deixemos nossa discussões doutrinárias de lado por um momento e lutemos todos juntos pra um Brasil livre de Comunistas (e afins). A pregação do Silas Malafaia é toda errada? Sim. É verdade! Mas não vejo ninguém lutando mais do que ele pra livrar nosso País dessa praga diabólica. Nisso não dá pra condenar ele.

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