João Calvino de Genebra (1509-1564)… desferiu o golpe de morte para
os dias de festa dos romanistas e deu grande ímpeto ao Decálogo e à
observância do domingo. Muito uso tem sido feito pelos antinomistas
anabatistas a respeito das cuidadosas afirmações de Calvino em suas Institutas
de 1536 de que “foi bom deixar de lado o dia guardado pelos judeus” — mas
pouco uso tem sido feito das afirmações igualmente cuidadosas que aparecem
duas linhas depois na mesma sentença, de que “foi necessário estabelecer em
seu lugar outro dia”.(1) Antinomistas têm enfatizado a afirmação verdadeira de
Calvino contra os romanistas de que guardadores ferrenhos do domingo
“insultam os judeus pela mudança do dia, e ainda atribuem a ele a mesma
santidade” — mas ignoram sua afirmação, igualmente verdadeira
(aparentemente contra os antinomistas!) que aparece seis linhas depois:
“Tenhamos o cuidado, entretanto, de observar a doutrina geral…
diligentemente comparecendo às nossas assembleias religiosas”.(2)
Anti-calvinistas desprezadores da lei não falharam em apreender a
opinião correta do genebrino quando disse que “o sábado tenha sido
revogado” — mas falharam em apreender com igual correção a opinião
apresentada na seção seguinte, de que “algumas mentes levianas se agitam
demais hoje em dia por causa do domingo. Queixam-se de que o povo cristão
continua preso a um tipo de judaísmo, visto que ainda retém alguma
observância de dias. A isso respondo que sem judaísmo observamos o
domingo”.(3) Essas “mentes levianas” não se furtam de citar fortes afirmações de
Calvino de que “Cristo é o verdadeiro cumprimento do sábado” e que ele “não
está contente com um dia, mas exige o curso inteiro de nossa vida” etc. — mas
se furtam de afirmações igualmente fortes de que Deuteronômio 5 é
“igualmente aplicável a nós como aos judeus” e que nos tempos apostólicos
“os primeiros cristãos substituíram o sábado por aquilo que nós chamamos de
Dia do Senhor”!(4)
Contudo, talvez ainda mais importante do que suas visões nas Institutas
de 1536 — escritas em seus tenros 26 anos de idade — são as afirmações
posteriores de Calvino sobre a questão do sábado, sobre as quais os
antinomistas mantêm o mais profundo silêncio. Em seu sermão em
Deuteronômio 5, ele escreveu sobre “quando as janelas das nossas lojas estão
fechadas no dia do Senhor, quando não andamos segundo a ordem comum e o
costume dos homens.” Ele pergunta: “Se empregamos o Dia do Senhor para
nos distrair, para nos exercitar, para ir a jogos e passatempos, Deus está sendo
nisto honrado? Não é isto uma zombaria? Não é uma profanação de seu
nome?”.(5)
Em 1550, de acordo com Beza, seu biógrafo, Calvino determinou “que
não deveria haver qualquer outro dia de festa, exceto um em sete, que nós
chamamos do Dia do Senhor”;(6) e no ano de 1554, ele escreveu em seu
Comentário ao Gênesis (2.1-3) que Deus “primeiro descansou, então abençoou
este descanso que em todas as eras deveria ser sagrado entre os homens”.
“Deus”, continua Calvino, “consagrou cada um dos sétimos dias de descanso” e
que, “sendo ele [o shabbath] ordenado aos homens desde o princípio, para que
o empreguem na adoração a Deus, é certo que deve continuar até ao fim do
mundo”. “Além disso”, conclui, “deve-se notar que essa instituição tem sido
dada não a um único século ou povo, mas a toda a raça humana”.(7)
Um ano antes de sua morte em 1564, Calvino claramente afirmou com
respeito a Êxodo 20, em sua obra Harmonia do Pentateuco, que “temos a
mesma necessidade de um dia de descanso que os antigos”; e acrescentou:
“não é crível que a observância do dia de descanso tenha sido omitida quando
Deus revelou o rito de sacrifício aos santos Pais, mas aquilo que na depravação
da natureza humana estava completamente extinta entre as nações pagãs, e
quase obsoleta entre a geração de Abraão, Deus renovou em sua lei”.(8)
Essas visões do grande genebrino foram propagadas e desenvolvidas por
todos os seus seguidores que orgulhosamente chamavam-se por seu nome —
os calvinistas.
Notas:
1 Calvino: “Institutas”, II: VIII:33.
2
Ibid., II: VIII:34
3
Ibid., II: VIII:32, 33.
4
Ibid., II: VIII:32, 34.
5
A. A. Hodge: op. cit., pp. 18-19.
6 Beza: op. cit., I, p. xciii.
7 A. A. Hodge: op. cit., pp. 17:8; Kuyper: “Tractaat” etc., pp. 165-166.
8 Calvino: “Harmony of the Pentateuch”, p. 437.
Fonte: The Covenantal Sabbath
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Monergismo
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