“Lembra-te do dia de Sábado (Shabbath), para santificá-lo. Trabalharás seis
dias e neles farás todos os seus trabalhos, mas o sétimo dia é o Sábado (Shabbath)
dedicado ao SENHOR, teu Deus, nesse dia não farás trabalho algum” (Ex 20:8-
10). Esse mandamento denota que Deus é o SENHOR soberano do nosso tempo, o
qual deve ser usado e aproveitado por nós exatamente como Ele aqui especificou.
Deve ser cuidadosamente notado que ele consiste de duas partes, que estão
interligadas. “Seis dias trabalharás (e não ‘poderás trabalhar’)” é tão divinamente
exigido de nós quanto “lembra-te do dia do Shabbath para o santificares”. É um
preceito que requer de nós diligência para cumprir aquela vocação e estado de vida
na qual a divina providência nos colocou, para desempenhar seus ofícios com
cuidado e consciência. A vontade revelada de Deus é que o homem trabalhe, não
passe o seu tempo a toa; que ele trabalhe não cinco dias na semana (por isso
organizou o trabalho antes agitado), mas seis.
Aquele que nunca trabalha está incapacitado para a adoração. O trabalho
serve para abrir caminho para a adoração, assim como a adoração nos prepara para
o trabalho. O fato que qualquer homem possa escapar à observância desta primeira
metade do mandamento é uma triste reflexão sobre a nossa ordem social moderna,
e mostra quão longe nos distanciamos do plano e ideal divino. Quanto mais
diligentes e fiéis formos ao desempenhar os deveres dos seis dias, mais
valorizaremos o descanso do sétimo. Assim será visto que a indicação do Shabbath
não foi qualquer restrição arbitrária sobre a liberdade do homem, mas uma
provisão misericordiosa para o seu bem: que ele foi planejado como um dia de
alegria e não de melancolia. É a dispensa graciosa do Criador nos livrando da nossa
vida de labuta mundana por um dia em sete, concedendo-nos um antegozo daquela
vida futura e melhor diante da qual a presente não é mais que uma provação,
quando podemos nos voltar inteiramente daquilo que é material para aquilo que é
espiritual e, portanto, sermos equipados para pegar com nova consagração e
renovadas energias o trabalho dos dias seguintes.
Deveria ser assim bastante evidente que essa lei para regulamentação do
tempo do homem não era uma lei temporária, criada para alguma dispensação, mas
é contínua e perpétua no propósito de Deus: o Shabbath foi feito “para o homem” (Marcos 2:27) e não simplesmente para o judeu; ele foi feito para o bem do
homem. O que foi mostrado acima sobre as duas partes desse estatuto divino
recebe clara e irrefutável confirmação na razão dada para o seu reforço: “pois em
seis dias o SENHOR fez os céus e a terra, o mar e tudo que neles existe, mas no
sétimo dia descansou” (v. 11). Observe bem o duplo desdobramento disso: o augusto
Criador dignou-se em apresentar um exemplo diante de Suas criaturas em cada
aspecto: ELE trabalhou por “seis dias”, e Ele “descansou no sétimo dia”! Deverse-ia
também ser apontado que a indicação do trabalho para o homem não é a
conseqüência do pecado: antes da Queda, Deus o colocou “no jardim do Éden para
cuidar dele e cultivá-lo” (Gn. 2:15).
A permanente natureza ou perpetuidade desse duplo mandamento é também
evidenciada pelo fato que nas razões acima mencionadas para seu reforço nada
havia que fosse particularmente pertinente à nação de Israel, pelo contrário, fala
com voz de trombeta a toda a raça humana. Além disso, a esse estatuto não foi
dado um lugar na lei cerimonial de Israel, que era para ser deixada quando Cristo
tivesse dado cumprimento aos seus tipos, mas na Lei Moral, que foi escrita pelos
dedos do próprio Deus sobre tábuas de pedra, para nos dar o significado de sua
natureza permanente. Finalmente, deve-se mostrar que os próprios termos desse
mandamento deixam inequivocadamente claro que ele não foi designado somente
para os judeus, pois era igualmente obrigatório para qualquer gentio que habitasse
entre eles. Mesmo não estando eles em aliança com Deus, nem debaixo da lei
cerimonial, deles era exigido que guardassem o santo Shabbath – não farás trabalho
algum… nem os estrangeiros que morarem em suas cidades” (v. 10)!
“O sétimo dia é o Shabbath do SENHOR teu Deus”. Note bem que não é
dito (aqui, ou em qualquer outro lugar das Escrituras) “o sétimo dia da semana”, mas
simplesmente “o sétimo dia”, ou seja, o dia seguinte aos seis de trabalho. Para os
judeus era o sétimo dia da semana, a saber, o sábado, mas para nós ele é – como o
“outro dia” que Hebreus 4:8 claramente declara – o primeiro dia da semana,
porque o Shabbath não apenas comemora a obra da criação, mas agora também
celebra a ainda maior obra da redenção. Assim, o SENHOR dispôs as palavras
nesse quarto mandamento de modo a se ajustarem a ambas as dispensações, e desse
modo afirmar a sua perpetuidade. O Shabbath cristão vai da meia noite de sábado à
meia noite de domingo: está claro a partir de João 20:1 que ele começa antes do
nascer do sol e, portanto, podemos concluir que começa na meia noite de sábado;
enquanto de João 20:19 aprendemos (a partir do fato que ele não é ali chamado “a
noite do segundo dia”) que durante a noite, e que a nossa adoração também deve
continuar.
Mas embora o Shabbath cristão não comece até a meia noite de sábado, a
nossa preparação para ele deve começar mais cedo, ou de que outra maneira
poderemos obedecer sua exigência expressa: “nele nem uma obra farás”? No
Shabbath deve haver um completo descanso durante todo o dia, não apenas de
recreações naturais e de fazer o nosso próprio prazer (Is 58:13), mas de toda a
atividade mundana. A esposa necessita de um dia de descanso tanto quanto o
marido, sim, sendo a “parte mais fraca”, ainda mais. Coisas tais como mingau e
sopa podem ser preparadas no sábado e aquecidas no Shabbath, de modo que possamos estar inteiramente livres para nos deleitarmos no SENHOR e nos
entregar completamente à Sua adoração e serviço. Vejamos que não trabalhemos
nem fiquemos acordados até tarde na noite de sábado, para não transgredirmos o
dia do SENHOR ficando até tarde na cama ou nos fazendo de sonolentos para os
santos deveres.
Esse mandamento deixa claro que Deus deve ser adorado no lar, o que, sem
dúvida, inculca a prática do culto doméstico. Ele é dirigido mais especificamente
que qualquer dos outros nove mandamentos aos chefes de famílias e
empregadores, porque Deus requer que eles vejam que todos que estão sob seu
encargo observem o Shabbath. Para eles, mais imediatamente Deus diz: “lembra-te
do Shabbath para o santificares”. Ele é para ser estritamente posto de lado para a
honra do Deus três vezes santo, gasto no exercício de santa contemplação,
meditação e adoração. Porque é o dia que Ele fez (Sl. 118:24), não podemos fazer
nada para desfazê-lo. Esse mandamento proíbe a omissão de qualquer dever
exigido, um desempenho descuidado do mesmo, ou enfado neles. Quanto mais
fielmente guardarmos esse mandamento, mais preparados estaremos para obedecer
aos outros nove.
Três classes de trabalho, e somente três, podem se encaixar no “Shabbath
Santo”. Trabalhos de necessidade, que são aqueles que não poderiam ter sido feitos
no dia anterior e que não podem ser relegados para o dia seguinte – tais como
cuidar do gado. Trabalhos de misericórdia, que são aqueles que a compaixão requer
que desempenhemos para com outras criaturas – tais como ministrar aos doentes.
Trabalhos de piedade, que são o culto a Deus em público e em privado. Precisamos
vigiar e lutar contra as primeiríssimas sugestões de Satã para corromper os nossos
corações, desviar as nossas mentes ou nos perturbar nos deveres sagrados, pedindo
sinceramente em oração por ajuda para meditar sobre a palavra de Deus para reter
o que Ele nos dá. O SENHOR faz a sagrada observância do Seu Dia de benção
especial; e contrariamente, Ele visita a profanação do Shabbath com especial
maldição (veja Ne. 13:17-18), como a nossa terra culpada está provando agora do
seu amargo custo.
“Um Shabbath bem gasto, traz uma semana contente e fortalece para os labores do amanhã; mas um Shabbath profanado, o que quer que possa ser ganho
É um certo precursor de desgraça”.
Fonte: Extraído e traduzido do excelente livro The Tem
Commandments, de Arthur Walkington Pink.
Tradução: Claudino Batista Marra
Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto
Fonte: Monergismo
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