Pesquise no Blog

Showing posts with label Ceia e Batismo online. Show all posts
Showing posts with label Ceia e Batismo online. Show all posts

April 8, 2020

Em Tempos de Pandemia, Como Fica a Comunhão? Rev. Heber Junior


A pandemia gerada pela COVID-19 tem mexido com os nossos relacionamentos porque, em um mundo quebrado como o nosso, relacionamentos sempre sofreram com os efeitos da Queda. O Coronavírus é apenas um lembrete de que o pecado trouxe barreiras sociais resultando em desajustes em nossas sociabilizações (inveja, ira, irresponsabilidades), idolatrias de relacionamentos (namoro, trabalho, família) e falta de satisfação nessas relações (descontentamento). Pecado é muito maior do que Coronavírus e ele tem nos afetado socialmente desde a Queda.
Por isso, a nossa redenção tem um elemento social. Cristo quebrou as barreiras sociais objetivamente (Ef 2.14-16), tornou possível que fôssemos feitos um só povo, uma só nação, um só corpo sob o mesmo Cabeça. Ainda que a presença física de Cristo esteja temporariamente suspensa, estamos unidos a Ele pelo Espírito, e é tal Espírito que promove a nossa comunhão com Deus (2 Co 13.13) e com o próximo (Fp 2.1). Por isso a igreja, desde a patrística, tem sido chamada de “comunhão dos santos” (Credo Apostólico) e durante a Reforma celebrou esse termo para a igreja (João Calvino). Mas como fica a nossa comunhão em tempos de quarentena, de isolamento social?
Essa pergunta não é só teórica ou retórica, mas eminentemente prática e requer ponderação. Teólogos do passado articularam a necessidade de contato físico e presencial para o exercício da comunhão. A Confissão de Fé de Westminster diz que os crentes unidos a Cristo “estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no exterior.” (CFW 26.1). O parágrafo seguinte diz que os cristãos estão “obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios” (CFW 26.2). A Confissão de Fé está nos ensinando acerca de edificação mútua no ajuntamento público (Hb 10.24-25), mas também nos lembrando que comunhão estende além da localidade de culto, abrangendo a comunhão de bens com os necessitados (At 2.42, 44-45). Estamos parcialmente impedidos de prestar serviços espirituais e de socorrer as pessoas materialmente. Portanto, estamos experimentando obstáculos à experiência de comunhão.
Não podemos dizer que os meios virtuais suprem totalmente essa falta. Por sermos seres físicos, há coisas que não podemos fazer à distância. Não podemos experimentar todas as coisas do culto quando estamos sozinhos: não expressamos nossa alegria em louvores a uma só voz, não batizamos virtualmente e não partilhamos do pão da ceia. Sobre esse último assunto, Scott Swain disse muito acertadamente que não podemos partilhar da ceia virtualmente porque o sinal do sacramento não reside somente nos “elementos” (pão e vinho) mas inclusive na refeição compartilhada (1 Co 10.17; 11.33), exatamente o que não acontece quando estamos separados; por isso, ele argumenta que estamos em tempo de lamento, no qual não participamos da ceia, embora ansiamos o dia de tê-la de volta. [1]
Pelas mesmas razões semelhantes às da ceia, também não podemos ser reunidos em culto público. Isto é, podemos prestar vários cultos separadamente (individual ou doméstico), mas não cultuamos virtualmente, exatamente porque culto público é sinônimo de ajuntamento. Isto é, testemunhamos como corpo reunido que somos adoradores do Cristo ressurreto. Pregamos essa realidade contra os desigrejados, defensores da irrelevância de participar de uma igreja local. Além de culto, também somos impedidos de prestar certos serviços materiais aos irmãos. Portanto, é inegável que estejamos experimentando uma privação na experiência dessa comunhão. Não podemos fugir dessa realidade de que não saboreamos a doçura da comunhão dos santos da mesma forma como fazíamos antes da pandemia.
Meu lamento, contudo, não visa expressar uma visão pueril e pessimista de comunhão. Quando chamamos aquele momento após o culto de “café da comunhão”, aí sim estamos dizendo que comunhão é tão banal quanto tomarmos café juntos. Costumamos igualar comunhão a encontros, a reuniões, e assim perdemos o peso do que significa termos comunhão com Deus e com os irmãos, algo que extrapola o encontro físico. No íntimo, sabemos que a comunhão com Deus e com o próximo não acabou porque o Coronavírus nos deixou em casa longe uns dos outros; existe algo muito rico que, mesmo não sendo experimentado plenamente, é real em nossas vidas. Portanto, precisamos encontrar uma forma mais profunda de expressar essa verdade bíblica.
É aqui que podemos aprender com o início da Primeira Epístola de João. O apóstolo João tivera um contato físico com Jesus e estava testificando da realidade de seu ministério àqueles que não haviam visto ou apalpado a Jesus (cf. Jo 20.30-31). Na sua primeira epístola João queria ensiná-los que, mesmo sem o contato físico com Jesus, os leitores também tinham comunhão com o Pai e com o Filho (1 Jo 1.1-3), além de comunhão com os irmãos (1 Jo 1.7). João está preocupado em certificar crentes de sua fé (1 Jo 5.13); ele quer mostrar aos seus leitores como podemos saber que temos comunhão com Deus e com os santos. Já que o contexto de falso ensino estava assolando a fé cristã, João promove os chamados “testes” para que os fiéis fossem confirmados na fé: o teste doutrinário (1 Jo 2.22-23; 4.2-3), o teste social (1 Jo 2.7-11; 3.11-18) e o teste moral (1.5-10; 2.3-6). É significativo que esses testes expressem que nossa comunhão com Deus está calcada na verdade (aspecto doutrinário), no usufruto de atributos divinos (aspecto moral) e na realidade de estarmos unidos a Cristo (aspecto social). Sendo assim, 1 João é uma carta para nos ajudar a compreender a riqueza da nossa comunhão com Deus e com os santos.
Há muito que o Novo Testamento nos ensina sobre “comunhão” ( koinonia em grego) que não podemos compartilhar nesta postagem. Em geral, o conceito de comunhão está ligado a ter algo em comum com alguém. Como o koinonos é o ‘companheiro’ (Lc 5.10; 2 Co 8.23; Fl 17), exercer ‘comunhão’ está relacionado a partilhar bens (At 2.42, 44; Rm 15.26; 2 Co 8.4; 9.13), cooperar em serviço (Fp 1.5; Hb 13.16), e participar no mesmo ofício (Gl 2.9). No entanto, Peter Toon afirma que 1 João traz o uso teológico mais claro de toda a Escritura, no qual o sentido básico de ‘comunhão’ é de um partilhar real e prático da vida eterna com o Pai e com o Filho.[2] Somos inseridos na vida de Deus e isso nos permite compartilhar de suas bençãos. É Deus quem produz essa comunhão com Cristo pelo Espírito, assim como a unidade da igreja é produzida pelo Espírito (Ef 4.3). Isto é, esforçamo-nos por preservar essa unidade intacta, livre de empecilhos pecaminosos, assim como esforçamo-nos por manter a comunhão sem barreiras. Isso nós devemos fazer! Mas não conseguimos criar ou aniquilar a comunhão com Deus e com a igreja.
Perceba que essa comunhão com Deus não pode ser rompida nem mesmo pelo nosso pecado (1 Jo 1.7-2.2). O pecado pode tirar nossa alegria da salvação (Sl 51.12), mas não nos tira a salvação. Pecados maculam a doce experiência de deleite na presença de Deus, mas graças a Deus eles não podem nos desconectar do Senhor. Nos Salmos, o salmista tinha a experiência de que o Senhor lhe havia abandonado; mas era apenas a sua experiência que estava prejudicada, seu saborear das graças divinas, não seu status com Deus. O sangue de Jesus é a base enquanto a confissão de pecados é o meio para restaurar essa experiência de deleite com Deus e com o próximo (1 Jo 1.7, 9).
A lógica de João procede dizendo que se nossa conduta está pautada pela luz, então não só temos comunhão com Deus (1 Jo 1.6), mas temos comunhão com os irmãos também (1 Jo 1.7). Essa comunhão é muito mais significativa do que mera sociabilização. Assim como comunhão com Deus expressa uma intimidade singular, a ponto de sermos chamados corpo de Cristo, essa ligação íntima se estende à relação horizontal com os irmãos. Os sacramentos do batismo e da ceia apontam para essa comunhão uns com os outros. Essa união sinalizada por ambos os sacramentos é mais forte do que relacionamentos terrenos. O casamento, por exemplo, é belo e sublime, mas a morte nos desliga dessa união. A comunhão com o corpo de Cristo, todavia, não é rompida nem na morte. Até com os cristãos que já estão mortos nós temos uma ligação imperdível!
No entanto, precisamos aprender a diferenciar a comunhão com Deus da experiência deleitosa de comungar de suas bençãos. Se a morte nos impede de experimentar comunhão com os nossos irmãos em Cristo que já partiram, também é verdadeiro que há outras barreiras que prejudicam nossa experiência de comunhão (pecados pessoais, males sociais, guerras, pandemias, etc.). Isto é, a comunhão tanto vertical quanto horizontal não deixa de existir, mas a experiência da mesma é afetada. Por isso, precisamos encontrar nas Escrituras paralelos que nos permitam enxergar o que significa ter essa experiência da comunhão prejudicada.
Vejo ao menos três realidades bíblicas que nos ajudam a entender a experiência ofuscada de comunhão. Primeiramente, o exílio no Antigo Testamento suscitou a experiência do culto individual acontecendo (Dn 6.10), enquanto a realidade do culto público era anelada (Sl 137.1-6); afinal, ainda que as sinagogas tivessem surgido para instrução, não havia condições de realizar práticas próprias do templo (sacrifícios). Em segundo lugar, as cartas de Paulo exemplificam a possibilidade de realizar instrução à distância sem, contudo, experimentar todas as realidades próprias da vida eclesiástica. Há certos dons e serviços que são compartilhados presencialmente (Rm 1.9-15; 1 Ts 2.1-2) e, por isso, Paulo orientou um ato de disciplina que só a comunidade local poderia realizar (1 Co 5.3-5), além de recomendar liderança local aos coríntios (1 Co 16.15-18), um papel que ele não conseguia exercer plenamente à distância. Em terceiro lugar, até a história da redenção nos ensina que durante o tempo do pecado nós estamos usufruindo de parte da benção do Emanuel (Deus conosco), mas ainda aguardamos a plenitude que é estar na presença dEle! Isto significa que experimentamos o deleite de ter Cristo conosco de forma real, mas ainda haveremos de experimentar essa presença plenamente. Caminhamos como forasteiros e peregrinos aguardando a chegada na terra prometida.
Tendo em vista a realidade inquebrável da comunhão e a experiência ofuscada da mesma, julgo necessário que pensemos em algumas lições práticas à luz do que estamos vivendo em meio a essa pandemia:
1. Um fundamento encorajadorEstamos inseparavelmente unidos a Deus e aos seus filhos. Alegremo-nos nisso! Não há nada que pode nos tirar dessa participação. Estamos inseparavelmente unidos a Cristo e ao seu corpo e não há efeitos do pecado que consigam quebrar essa comunhão. Temos comunhão garantida com Deus e com os objetos do seu amor, para sempre e sempre!
2. Um lamento realista: Estamos momentaneamente impedidos de experimentar todos os deleites dessa comunhão. Essa é a experiência do cristão, em maior ou menor medida, durante toda a sua vida aquém da volta de Cristo. Não só é normal ficarmos entristecidos com a situação de não podermos reunir a igreja; é esperado que lamentemos esse empecilho. Se nossa alegria é estar com os nossos irmãos, podemos e devemos expressar lamento nessa hora.
3. Uma sabedoria necessária: Deus nos deu meios de experimentarmos essa comunhão. Não vamos aceitar substitutos. Não podemos achar que “culto virtual” é igual a culto presencial, assim como ver a Cristo com os olhos da fé agora não é semelhante a vê-lo em glória no porvir. Antes da pandemia, quem assistia o culto pela internet não estava cultuando juntamente com os irmãos da igreja; cultuava sozinho, mas não experimentava culto público. Por isso, não há substituto de culto público. Também não devemos celebrar ceia virtualmente – como se fôssemos neopentecostais ungindo os elementos pela televisão –, porque inclusive Cristo entendeu que ele ficaria privado de celebrar o seu sacrifício até a reunião com o seu povo naquele dia (Mc 14.25). Usemos todos os meios virtuais que nos são cabíveis agora para ensinar as Escrituras e encorajar uns aos outros à perseverança. Todavia, tais meios não devem servir como substitutos do culto público, mas apenas para despertar a ardente expectativa de que em breve nós seremos reunidos novamente.

Ainda sobre a Suspensão dos Cultos... o que fazer? Rev. Filipe Fontes



Na semana passada, escrevi um primeiro texto sobre este assunto. Meu objetivo era chamar a atenção para o quão complexo é o desafio dos líderes eclesiásticos que precisam decidir quanto à manutenção ou suspensão das atividades da igreja nestes tempos de pandemia. Meu apelo foi para que evitássemos análises e comentários simplistas, e fossemos mais misericordiosos ao tratar dessa questão.

Se você está acompanhando as discussões, deve ter percebido que elas giram, majoritariamente, em torno de uma reunião específica: o culto! Eu não vi ninguém “brigando” pela suspensão do artesanato das mulheres, do churrasco dos homens ou da pizza dos jovens no sábado à noite. Não me lembro sequer de ter visto alguém esbravejar pela suspensão da Escola Dominical. A questão tem a ver com o culto!

Há uma forte razão para isso: o culto é uma reunião singular! É quando o povo de Deus é reunido para celebrar a redenção, confessar e receber perdão, expressar unidade, ter o coração reorientado pela Palavra e responder com dedicação e disposição para o serviço. Para muito além do que minhas palavras podem expressar, se você é um cristão, você sabe o que é o culto. E sabe que a impossibilidade de cultuar costuma deixar uma sensação de vazio e de incompletude em todo cristão verdadeiro. Quando deixamos de ir ao culto, num domingo qualquer, experimentamos aquela sensação que costuma ser expressa pela seguinte exclamação: "parece que está faltando alguma coisa!"

No último domingo, os efeitos da pandemia ainda estavam começando a ser sentidos por aqui. E muitos líderes conseguiram manter o culto na igreja que dirigem. Alguns, na mesma frequência regular em que eles acontecem, e outros com uma frequência menor [foi o que aconteceu na igreja em que sirvo, por exemplo].

Mas as coisas estão piorando. À medida que o final de semana se aproxima, novas decisões precisarão ser tomadas. E eu suspeito que o número de decisões pela suspensão irá aumentar consideravelmente. Foi por isso que resolvi escrever este texto: para expressar uma preocupação e estabelecer um diálogo com meus colegas que caminharão nesta direção. Se não é o seu caso, obrigado pela leitura até aqui. Se quiser continuar, fique à vontade. Mas pode ser que não seja tão útil para você.

O grande desafio que a suspensão do culto presencial coloca sobre nossos ombros é: como conduzir o povo de Deus no culto ao Senhor, se as pessoas não podem estar presentes no mesmo ambiente? A resposta mais imediata tem sido: tecnologia, mais especificamente, internet. Foi o que boa parte das igrejas fez no domingo passado: elas reuniram um pequeno grupo e transmitiram a reunião para que aqueles que permaneceram em casa pudessem assistir [palavra usada de propósito; assistir, não participar]. Mas, se as coisas se desenvolverem como se anuncia, possivelmente isso já não será possível em alguns lugares nos próximos domingos, e o que eu creio que veremos é uma multidão de pastores falando nas redes sociais, a partir de sua própria casa, através do seu telefone celular.

A pergunta que não quer calar é: deveríamos tratar isso, naturalmente, como uma versão contemporânea do culto público? Eu acredito que não! E também acredito que se fizermos isso correremos o risco de desconsiderar a especialidade do momento que estamos vivendo, que não deve ser interpretado, por nós cristãos, apenas em termos políticos, sociais ou econômicos, mas, principalmente, em termos espirituais. Talvez, Deus esteja disciplinando a humanidade por meio desta pandemia; a Bíblia diz que Ele já fez coisas semelhantes no passado. E, talvez, a impossibilidade de nos reunirmos seja parte da disciplina do Senhor sobre nós, a sua igreja; quem sabe, pelo nosso estilo de vida individualista e nosso pouco caso para com a vida em comunidade.

Se for isso, tentar emular a experiência litúrgica comunitária através da internet, não me parece a melhor resposta. Entenda! Eu não estou dizendo que não devemos usar a internet para encurtar os espaços neste momento. Eu acredito que a internet é benção de Deus, e que ela pode ser de grande utilidade agora. O que estou dizendo é que não devemos naturalizar o extraordinário, nem alimentar a expectativa de experimentarmos, tão naturalmente, no isolamento de nossas residências, o que Deus projetou para ser experimentado no contexto da vida comunitária. A linha é tênue. Mas, por mais difícil que seja, nós precisamos considerá-la.

O que fazer então? Os princípios de liturgia de minha denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, distinguem três tipos de culto: a) o individual; b) o doméstico; e c) o culto público. Baseado nessa distinção, eu suspeito que a melhor coisa a fazer na impossibilidade da realização do terceiro é estimular e prover meios para que os dois primeiros sejam intensificados. Ou seja: antes de pensar no kit youtuber para a transmissão de domingo, talvez devamos nos dedicar ao preparo e seleção de bons roteiros devocionais para que a igreja intensifique o culto individual. E também, ao preparo de um roteiro detalhado de culto doméstico que pudesse ser colocado nas mãos dos chefes de família para que eles, como sacerdotes do lar, conduzissem sua esposa e filhos na adoração. No final, pode ser que a redescoberta dessas coisas tão importantes, e ao mesmo tempo tão esquecidas, seja um efeito colateral positivo destes tempos sombrios.

Isso impede um encontro virtual para a celebração da redenção, instrução na Palavra e intercessão? De modo nenhum! Eu apenas não me sinto confortável para equivaler, naturalmente, esse encontro virtual ao encontro presencial. E, por essa razão, eu evitaria chama-lo de "culto público" ou de "culto online". Mas eu estaria lá, e além de interceder pela nação, eu intercederia por nós. Pediria que Deus fosse gracioso para conosco e estendesse ao nosso isolamento as bênçãos que Ele costuma nos dispensar no contexto da vida comunitária. Porque ao mesmo tempo em que devemos evitar naturalizar o extraordinário, precisamos nos lembrar que essas categorias são para nós, não para Ele!

O Culto Público com Transmissão na Internet? Rev. Mauro Aiello


Reluto em fazer isso na Igreja que pastoreio. Já fiz orçamentos, e me mobilizei conversando com irmãos que trabalham com esse tipo de tecnologia.

Na essência eu não considero um erro que cristãos assistam o Culto de sua Igreja na Internet. Mas é óbvio - estou me referindo a pessoas que estão impedidas de frequentar a Igreja da qual são membros. Refiro-me a irmãos acamados, pessoas idosas sem condições de locomoção, nos asilos, nos presídios, em viagens de negócios. Pode ser que haja outras razões para que alguém se veja impedido de participar dos cultos de sua Igreja e da comunhão com seus irmãos de sua comunidade. Entendo que para esses o Culto transmitido via Internet, ou qualquer outro meio similar, tem valor relativo.

Entretanto, é indesculpável, e reputo ser pecado, quem tem todas as condições para ir à Igreja e prefere ficar em casa, quem sabe, com um balde de pipoca no colo, debaixo das cobertas, vendo e ouvindo o culto da Igreja. Ou, ainda mais terrível, sintonizar o Youtube, escolher o pregador e o sermão. Eu não tenho nenhuma sombra de dúvida que isso é pecado e que agindo assim você não está adorando, essencialmente, a Deus. Se isso é preguiça, lembre-se do que disse o Proverbista: "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Pv. 6-6-9

Não sou adepto do Culto via Internet pelas seguintes razões.

1) Porque Igreja é Comunidade. Nem toda comunidade é Igreja, mas toda Igreja é Com + Unidade, todos juntos (no mesmo lugar) tendo tudo em comum. Foi assim com Israel a Igreja do Antigo Testamento, e deve ser assim com a Igreja Cristã, o Israel da Dispensação do Evangelho de Cristo, hoje. 

Assembléia de uma pessoa não existe. E não adianta se reunir na sala com a família para ouvir o Sermão ou "Participar" do Culto pela Internet se você tem todas as condições de exercitar a comunhão, o corpo a corpo, olho no olho, lágrimas e alegrias compartilhadas. Isso é clubinho, não Igreja! Como é possível participar da Ceia do Senhor agindo assim? Como é possível ser benção ao irmão se você não convive com ele? Essa conversa de que para ser crente não é preciso ir à Igreja é maligna. Não acredite nela, porque um crente de verdade gosta de estar ao lado de seus irmãos, mormente na adoração.

2) Hoje cresce o número de "crentes" que amam a impessoalidade. Gente que tem dificuldades para se relacionar com outras pessoas. Então, ou ela se torna membro de uma mega igreja, onde ela entra sem ser vista e sai sem ser notada, ou liga o computador, ou o celular, e, usando a tecnologia, ASSISTE o Culto, sim, porque PARTICIPAR do Culto é estar com seus irmãos (de corpo presente) e juntos orarem, cantarem, ofertarem, meditarem, participar das Ordenanças (Batismo e Ceia). Leia Atos 2.42-47 e também Hebreus 12.24,25. Arrependa-se, genuinamente (mude de atitude), desse seu jeito egoísta de ser. Isso jamais poderá redundar em benção.

3) Muitos dos que optam por esse tipo de recurso são aqueles que não querem se envolver mais diretamente com a obra de Deus. Eles querem ser meros ouvintes de lindos e bem engendrados sermões pregados por PASTORES QUE NÃO OS CONHECEM. Nada contra tais pregadores. Eles são bençãos em outros contextos. Então é fácil. É só digitar, ver e ouvir o que se quer. Um sermão a la carte apresentado por um bom "garçom". O Pastor da tua Igreja, que te conhece e que de repente vai te visitar no Hospital, ou aquele que te batizou, que te ouviu pacientemente quando você atravessou por problemas no casamento, ou no trabalho, ou gasta horas a fio preparando bons sermões pertinentes à comunidade local; a esse? Bem...deixa para lá!!!! Isso não pode ser a atitude de alguém que se preocupa com a Noiva do Cordeiro.

4) Paulo não teria deixado escrito sobre os dons na Igreja, (I Cor. 12 e 13), nem sobre o zelo pela Unidade (Efésios 4.1-6), só para citar essas porções bíblicas, se ele não estivesse pensando no contato pessoal e constante entre irmãos que professam a mesma fé.

Então é bom que exista a internet, mas a Igreja In Loco é insubstituível. Peca quem abandona a comunhão ainda que assista na Internet podendo estar em contato com a fraternidade.

Pode até aparecer na telinha que esse Culto é ao Vivo, mas não acredite. Ele só é vivo para quem está lá presente, para quem o vive.

É minha convicção. É assim que eu penso e vivo.

10 Razões Contrárias à "ceia online" - Ageu Magalhães



Eu soube de uma igreja que fez a “ceia online”. Alisto abaixo 10 razões contrárias a realizar a Ceia do Senhor deste modo.

1. Falta de respaldo bíblico. Em Mateus 26, instituição da Ceia, Jesus reuniu os apóstolos e distribuiu o pão e o vinho a eles, ao redor da mesa (Mt 26.26,27). Paulo, instruindo a igreja de Corinto, condenou aqueles que tomavam a ceia antecipadamente (1Co 11.2). A ceia, refeição única em torno da mesa, é o símbolo máximo de união entre os crentes. Em Corinto os crentes não estavam fazendo isso juntos e Paulo os repreendeu: “Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros” (1Co 11.13);

2. O próprio Jesus não viu a possibilidade de uma ceia à distância. No final da instituição da ceia, sabendo que não estaria mais reunido com eles, ele disse que não beberia mais daquele vinho até o dia em que eles se reencontrassem na glória (Mt 26.29);

3. A administração da Ceia do Senhor é algo sério, tão sério que Paulo não ousou adicionar ou subtrair nada ao que Cristo havia instituído. Ele apenas repassou, com fidelidade, o que recebeu: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” (1Co 11.23);

4. O Catecismo Maior, um dos símbolos de Fé da IPB, não autoriza. Na resposta à pergunta 174 do Catecismo Maior temos a prescrição de que os comungantes estejam juntos observando todos os atos sacramentais: “Exige-se dos que recebem o sacramento da Ceia que durante a sua celebração, esperem em Deus, nessa ordenança, com toda a santa reverência e atenção; que diligentemente observem os elementos e os atos sacramentais...”

5. A Confissão de Fé de Westminster também não autoriza: “Nesta ordenança, o Senhor Jesus constituiu os seus ministros para declarar ao povo a sua palavra de instituição, orar, abençoar os elementos, pão e vinho, e assim separá-los do uso comum para um uso sagrado; para tomar e partir o pão, tomar o cálice, dele participando também, e dar ambos os elementos aos comungantes, e tão-somente aos que se acharem presentes na congregação.” (Cap. 29, III) Destaco: "tão somente aos que se acharem presentes na congregação".

6. Porque a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil prescreve que a administração dos sacramentos é função privativa dos ministros do Evangelho (Art. 31);

7. Porque, de acordo com os Princípios de Liturgia da IPB, o Conselho da Igreja “deve cuidar de que os membros professos da Igreja não se ausentem da Mesa do Senhor e velar para que não participem dela os que se encontrarem sob disciplina.” (Art. 14) Em uma ceia online este cuidado é impossível.

8. Porque, assim como não é possível um batismo à distância, igualmente impossível é uma ceia à distância;

9. Porque a oração de consagração dos elementos é feita sobre aqueles elementos que estão na mesa, diante da congregação, e que serão consumidos ali. Orar, via internet, consagrando os elementos que estão nas casas das pessoas se assemelha à oração de alguns pastores neopentecostais sobre o copo de água que está em cima da televisão...

10. Porque não há obrigatoriedade de a ceia ser mensal. No passado, muitas igrejas aguardavam 3, 4 meses até que o pastor pudesse chegar e ministrar a ceia. Ao invés de correr o risco de pecar gravemente contra o Senhor da Igreja, usurpando um dos seus sagrados sacramentos, o prudente é esperar o final da quarentena, que não deve durar mais 2 meses.

Aguardemos o dia feliz em que nós voltaremos a ter cultos públicos e, então, realizemos uma grande Ceia do Senhor, com alegria e pleno significado em nossos corações do que é ser igreja e do valor de estarmos juntos ao redor da Mesa do Senhor, participando do mesmo pão e do mesmo cálice!

Devemos celebrar a "ceia online"? Ageu Magalhães




Acabo de ler um artigo (aqui) de Kathy Smith , professora adjunta de política da igreja no Calvin Theological Seminary, com o título “Política da Igreja e Sacramentos Online na Igreja Reformada Cristã”. A autora defende a prática da ceia online, basicamente, com 3 argumentos: 1º Os cultos online são uma realidade entre nós agora, 2º Ceias são servidas nas casas de irmãos impossibilitados de ir à igreja e, 3º Na Segunda Guerra Mundial batismos era realizados pelos pastores nas casas das pessoas.

O texto de Kathy Smith carece de base bíblica e teológica. Nenhum texto bíblico foi citado. Sobre os 3 argumentos, vamos analisá-los:

1º Ceia online em um culto online. Culto é a reunião do povo de Deus para adorá-lo ativamente (Lv 23.3, At 20.7). As palavras bíblicas para adoração implicam serviço, atividade. Diferente da missa católica, em que o fiel assiste o padre fazer um rito, no culto bíblico o fiel participa do culto com atos de adoração. Cultuar é participar, não apenas assistir. Parar na frente de uma tela e assistir um pastor pregando não é culto. As igrejas devem criar meios de os crentes participarem do culto, seja por meio de vídeo conferências, roteiros de cultos familiares ou outra forma em que o crente não apenas assista, mas participe.

2º Ceias para impossibilitados de ir à igreja. De fato, isso tem sido feito há séculos. O entendimento bíblico é que, quando o povo de Deus está reunido, ali está a igreja. Assim, pastores costumam levar alguns crentes à casa de irmãos que não podem ir à igreja e, dentro de um culto, ministrar a Ceia. Todavia, perceba que a igreja está reunida em culto para ministração do sacramento.

3º Batismos nas casas. Totalmente possível. Desde que um pastor vá até a casa da pessoa, o batismo pode ser realizado. Na Igreja Primitiva os cultos aconteciam nas casas (Rm 16.23; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2). Se a autora tivesse defendido que as ceias ocorram nas casas, em culto, não haveria falha na sua lógica. Para o argumento dela ter validade, ela deveria ter apresentado um exemplo bíblico de batismo à distância, o que não existe.

Decisões nesta época de pandemia são complicadas. Há forte pressão sobre os pastores e presbíteros e as decisões são muito difíceis. No tocante à Ceia do Senhor, o melhor a fazer é aguardarmos o retorno ao Culto Público. Naquele dia, em alegre celebração por estarmos todos juntos, perceberemos com mais força o privilégio de reunidos, em comunhão presencial, em torno da mesa do Senhor novamente. Ansiemos por este dia.

- Kathy Smith é pastora da Christian Reformed Church in North America.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails