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January 22, 2016

Igreja em Células: Esse É Mesmo o Ideal Bíblico? - Rev. Marcos Granconato

De tempos em tempos, o meio evangélico é presenteado com “novas descobertas” acerca do ideal de Deus para a sua igreja. Geralmente, essas “novas descobertas” apresentam um método eficaz para o crescimento e o amadurecimento do povo de Deus, dizendo ousadamente que o tal método não é novo, mas era usado pelos apóstolos, podendo ser encontrado no Novo Testamento. Então, os “descobridores” apresentam seus “textos-prova” e aí começa o festival de piruetas hermenêuticas.
Em anos recentes, a moda tem sido a proposta de igrejas em células — um modelo em que a comunidade local se divide em pequenos núcleos que se reúnem geralmente nos lares, sob a liderança de alguém, tentando reproduzir ali a vida integral da igreja. Em algumas dessas células, a vida integral da igreja tenta ser reproduzida a tal ponto que seus componentes desfrutam de plena autonomia para determinar rumos, tomar decisões, receber novos membros, realizar batismos — tudo como numa igreja independente e formalmente constituída. Em células assim, os líderes geralmente chegam a desempenhar papéis de verdadeiros pastores, mesmo sem passar pelo processo de chamado (1Tm 3.1), análise de requisitos (1Tm 3.2-7), eleição (At 14.23) e investidura (1Tm 4.14) ensinado no NT.
Tudo isso é feito sob a repisada alegação de que a igreja dos tempos do NT era uma igreja que se reunia em pequenos grupos nos lares. Segundo parece, para os proponentes desse modelo, o fato de as igrejas do século 1 se reunir nas casas é evidência cabal de que eram igrejas divididas em células. Porém, será que essa conclusão está correta? Tenho cá comigo algumas dúvidas.
Antes, contudo, de mostrar que as igrejas do NT não eram igrejas em células, quero destacar aqui que não há nada de errado na iniciativa de fazer cultos nas casas. Eu mesmo já participei de vários e sempre gostei muito (especialmente da hora do chá com bolo). O que é errado é supor que um modelo eclesiástico é dominante doNT quando não é. Mais errado ainda é tentar fazer esse modelo se encaixar nos textos bíblicos, fazendo uso, para isso, de uma exegese artificial e forçada — o tipo de exegese que tenta a todo custo provar o que não existe ou criar ênfases que os escritores bíblicos nunca demonstraram.
Dito isso, vamos agora avaliar se as igrejas do NT eram mesmo igrejas em células. De antemão, quero repetir: eu duvido muito disso e não vejo sinal nenhum desse modelo na Bíblia. Observem comigo: o fato de os crentes do século 1 se reunir em casas não indica que as igrejas eram pequenas células separadas. Essa noção parte do pressuposto de que as casas em que os crentes se reuniam eram bem pequenas, cabendo somente meia-dúzia de pessoas dentro delas. No entanto, nada está mais longe da verdade.
De fato, o livro de Atos mostra várias vezes que as reuniões das igrejas da época ocorriam em salas enormes, capazes de abrigar muita gente. Esses salões eram geralmente espaços construídos em andares superiores e nós os conhecemos como cenáculos (Gr. hyperōon [ou anágaion], lit. cômodo no andar de cima). Vejam, por exemplo, o ajuntamento de discípulos de que fala o texto de Atos 1.13-15. Essa passagem diz que eles se reuniam num cenáculo em Jerusalém e que o grupo era composto por quase 120 pessoas. Outro exemplo se encontra em Atos 20.6-9 em que toda a igreja de Trôade é retratada reunida para ouvir Paulo num cenáculo situado no 3º andar de um edifício. Esses exemplos mostram que igrejas inteiras podiam se reunir numa só casa, não tendo necessariamente que se dividir em pequenos grupos.
Aliás, o livro de Atos mostra que, mesmo quando o número de crentes em Jerusalém cresceu, chegando a milhares, o padrão dominante de subsistência eclesiástica não foi a divisão em pequenos grupos ou células. Em vez disso, Lucas narra que, mesmo havendo milhares de cristãos na cidade, ainda assim eles se reuniam formando grandes multidões e participavam juntos, num mesmo lugar, das orações (At 4.31), da comunhão indivisa (At 4.32), do ensino e das decisões ligadas à vida da igreja (At 6.1-2,5). Em Atos 2.46 e 5.12 fica claro que, uma vez que estavam em Jerusalém, os crentes faziam essas grandes reuniões muitas vezes nos amplos pátios e átrios do templo judaico, onde cabia muita gente.
Que essas reuniões da igreja toda eram dominantes no século 1 (e não o modelo fragmentado de células) é também visto com especial clareza em Atos 15, o capítulo que narra os detalhes do primeiro concílio eclesiástico reunido em Jerusalém. Esse concílio contou com a presença dos apóstolos, de vários presbíteros e (notem) de toda a igreja (At 15.22). O episódio de Atos 15 mostra de forma cabal que a igreja primitiva se reunia sim em ajuntamentos maiores, abrangendo a totalidade de seus membros (At 15.12), funcionando em seu dia a dia de forma bem diferente do modelo que vê nas células o padrão eclesiástico dominante e necessário.
Resumindo:
1) A igreja primitiva se reunia em casas (At 2.46; Rm 16.5; Cl 4.15; Fm 1.2), mas isso não significa que estava dividida em células, pois seus locais de reunião eram geralmente amplos (os cenáculos);
2) Mesmo no caso de Jerusalém, que teve milhares de cristãos, a igreja inteira se reunia para os atos da vida eclesiástica, sendo os encontros nos lares apenas um aspecto de sua vida que, em momento algum, é apresentado como dominante ou de maior importância;
3) Logo, não há base alguma para a afirmação de que o modelo da igreja em células é o ideal proposto no NT, posto que nenhuma sugestão disso é feita pelos escritores bíblicos;
4) Na verdade, o que se percebe na leitura de Atos é que o padrão que reinava na igreja apostólica era o ajuntamento de todos os crentes para o desfrute do intenso convívio eclesiástico, com suas responsabilidades e privilégios (At 4.32-35).
Pr. Marcos Granconato
Força e Fé
Soli Deo gloria

August 11, 2015

Mudanças na Confissão?


Gordon Clark

Visto que ninguém alega que a Confissão de Westminster é inerrante, ela está teoricamente sujeita a melhoria. Mas assumindo que o objetivo da reformulação inclua a preservação de todo o pensamento inalterado, e que não se trata de uma dissimulação para rebaixar os padrões, alguém deve ainda fazer duas perguntas: a geração atual é capaz de melhorar o credo? E, se sim, valeria a pena a energia?
Uma resposta à segunda pergunta seria um subsídio do governo para que centenas de teólogos pudessem se encontrar por cinco anos numa catedral nacional. Ou agora somos tão hábeis que um comitê de três poderiam fazer o trabalho num verão?
Não seria uma tarefa fácil. Quem desempenharia o papel de George Gillespie? Ou do moderador Twisse? E de Samuel Rutherford? A capacidade teológica de tais homens era enorme; o dr. J. Gresham Machen afirmou que ela não poderia ser duplicada hoje.
Em adição ao conhecimento de teologia deles, o domínio do inglês é dificilmente igualado numa época em que Joãozinho não pode ler.  Exemplos de palavras e fraseologia, a precisão das quais os teólogos contemporâneos poderiam ser duramente impelidos a duplicar, são os verbos “imputar” e “transmitir” e a frase “qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação”.
O que parece mais necessário é um estreitamento dos votos de ordenação que hoje permitem uma subscrição muito vaga ao “sistema de doutrina”, e não severamente a cada uma das doutrinas.
Finalmente, a única coisa que eu mudaria seria adicionar a palavra “inerrante”.

Fonte: The Presbyterian Journal, 21 de junho de 1978, p. 9. Via site Monergismo
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto, 10/04/2015.

May 17, 2015

Sábado para Domingo: O Dia Mudado: A Obrigação não Mudada - Joseph A. Pipa


No segundo século, um herege chamado Marcião ensinou uma forma de gnosticismo cristão. Ele distinguia entre o Deus do Antigo Testamento e o Deus revelado em Jesus Cristo. Ele negava que Cristo fosse verdadeiro homem e também rejeitava o casamento. Visto que muitas de suas doutrinas eram contrárias ao Antigo Testamento e porções do Novo, ele desenvolveu seu próprio cânon (livros aceitos da Bíblia). A Bíblia de Marcião incluía só um Evangelho editado de Lucas e dez das Epístolas de Paulo. Nem é preciso dizer que, se o indivíduo edita a Bíblia, ele pode conseguir que ela diga o que ele quer.

Hoje, um grande número de cristãos está editando suas próprias Bíblias. Mesmo que teoricamente aceitem o Antigo Testamento como parte da Bíblia, basicamente ignoram seu ensino ético. Crêem na sua história, apontam para suas profecias que foram cumpridas em Cristo, mas insistem que suas doutrinas e regras devem estar repetidas no Novo Testamento para que sejam imperativas para a igreja de hoje. Para todos os efeitos, eliminam da Bíblia grande parte do Antigo Testamento.

Em resposta, os teólogos pactuais reformados afirmam a unidade da Bíblia: que tudo que o Novo Testamento não revoga permanece efetivo. Por exemplo, muito daquilo que os cristãos crêem e ensinam sobre o casamento e a família está revelado no Antigo Testamento. A doutrina nossa do pacto e do lugar de nossos filhos no pacto se baseia, em parte, nos procedimentos de Deus com seu povo nas Escrituras do Antigo Testamento. De modo semelhante, os alicerces da doutrina do sábado como instituição cristã foram construídos nas Escrituras do Antigos Testamento. Buscamos estabelecer, a partir de Gênesis 2.1-3 e Êxodo 20.8-11, que a observância do sábado é uma exigência moral permanente. Essa convicção é confirmada na gloriosa promessa de Isaías 58.13,14. Portanto, a não ser que o Novo Testamento revogue essa ordenança, ela permanece em vigor. Alguns sugerem que Jesus anulou a observância do sábado em Mateus 12.1-14; já vimos, entretanto, que Jesus restaurou o sábado e nos deu diretrizes de grande auxílio pelos quais devemos examinar nosso comportamento nesse dia.

O ensino de Paulo

Há outros que sugerem que o apóstolo Paulo repudiou a idéia da observância do sábado. Esses adversários do sábado neotestamentário baseiam seus argumentos em três textos. O primeiro é Romanos 14. 5,6:

“Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua propriamente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus, e quem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”.

O segundo é Gálatas 4.10, 11:

Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de v6s tenha eu trabalhado em vão para convosco”. [NT]

O terceiro é Colossenses 2.16, 17:

Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir, porém o corpo é de Cristo”.

Os adversários da guarda do sábado mantêm que a igreja neotestamentária não é mais obrigada a observar um dia especial, e existem alguns que vão mais longe para dizer que observar o sábado no primeiro dia da semana é uma forma de judaizar. De acordo com eles, guardar o sábado rouba da pessoa a liberdade cristã; um indivíduo pode observar o dia que preferir, mas não pode exigir que outros o observem.

Essa visão se deve a um mal-entendido do que Paulo está dizendo nessas passagens. O texto-chave para o entendimento da visão de Paulo é Colossenses 2.16, 17. Essa passagem não só nos ajuda a compreender a abordagem de Paulo aos “dias”, como também ensina que não podemos observar o sábado judeu ( ou judaico) do sétimo dia. Em outras palavras, Paulo anula a observância do sétimo dia, mas não o princípio envolvido na lei do sábado.

Uma rápida verificação do contexto nos ajudará a entender corretamente a proibição de Paulo. No livro de Colossenses, Paulo está contra-atacando uma heresia híbrida que combinava a doutrina judaizante da salvação pelas obras, que incluía a observância da lei cerimonial com a filosofia ascética do agnosticismo, que ensinava que Cristo era uma emanação de Deus por intermédio de uma série de seres divinos menores, com a adoração dos anjos e a abstinência de certas comidas e prazeres materiais e físicos.

Em Colossenses 2, Paulo estabelece a autoridade suprema do Senhor Jesus Cristo como Salvador e Legislador. Ele ensina que nós não servimos Cristo pela obediência a leis, tradições e cerimônias de fabricação humana. Além disso, não chegamos a conhecer Deus por meio da filosofia do mundo, mas sim por meio da revelação de Deus nas Escrituras. À luz dessas coisas ele diz: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. Na primeira metade do versículo, ele trata da afirmação de que, por serem certos alimentos imundos, os verdadeiramente santos irão se abster de comê-los. Mais tarde Paulo faz referência às doutrinas ascéticas a que ele se opõe:

...ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro -segundo os preceitos e doutrinas dos homens ? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético, todavia, não têm valor contra a sensualidade” ( CI 2.20-23 ).

Nessa passagem, ele repudia todo ensino ascético sobre alimentos. A Escritura ensina claramente que um cristão pode comer e beber com moderação qualquer coisa que Deus tenha dado (81 104.15, Mc 7.19; 1Tm 4.3-6).

No versículo 16 (em Cl 2), Paulo trata do assunto dos dias: “Ninguém vos julgue por causa de dia de festa, ou lua nova, ou sábados”. Está Paulo anulando a observância do sábado como tal, ou a observância do sábado do sétimo dia junto com os outros dias cerimoniais? Encontramos a resposta a essa pergunta ao examinarmos os três termos que Paulo usa: “dia de festa ou lua nova ou sábado (ou dias de sábado)”. Esses três termos são usados frequentemente no Antigo Testamento para descrever os vários dias cerimoniais que o povo de Deus era obrigado a observar.

Por exemplo, 2 Crônicas 31.2,3, descrevendo as reformas de Ezequias, diz:

Estabeleceu Ezequias... a contribuição que fazia o rei da sua própria fazenda... destinada para os holocaustos, para os da manhã e os da tarde e para os holocaustos dos sábados, das Festas da Lua Nova e das festas fixas, como está escrito na lei do Senhor”.

E com respeito às reformas de Neemias, ouvimos:

Também sobre nós pusemos preceitos, impondo-nos cada ano a terça parte dum siclo para o serviço da casa de nosso Deus: para os pães da proposição, e para a contínua oferta de manjares, e para o contínuo holocausto dos sábados e das Festas da Lua Nova, e para as festas fixas, e para as coisas sagradas...” (Ne 10.32,22).

A tradução grega desses trechos (na chamada Septuaginta) usa exatamente os três termos que Paulo usa em Colossenses 2.16.

Levítico 23 faz um comentário detalhado desses termos. Nesse capítulo, Moisés coloca o calendário litúrgico todo da igreja do Antigo Testamento. Os versos 1-3 tratam do sábado semanal:

Fala aos filhos de Israel e dize-Ihes: As festas fixas do Senhor; que proclamareis, serão santas convocações; são estas as minhas festas. Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do descanso solene, santa convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do Senhor em todas as vossas moradas”.

À luz disso, vemos que Paulo usa o termo “dias de sábado” para incluir o sábado do sétimo dia.

Nos versículos 4 a 44 do capítulo 23, Moisés explica as grandes festas da igreja do Antigo Testamento: a Páscoa, ao qual está ligada a Festa dos Pães Asmos, a Festa do Pentecostes e a Festa dos Tabemáculos. Paulo chama estas pelo termo “festas”.

Além disso, em Levítico 23.24, 25, Moisés legisla observâncias especiais a serem realizadas no dia primeiro do mês:

“Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso solene, memorial, com sonidos de trombetas, santa convocação. Nenhuma obra servil fareis, mas trareis oferta queimada ao Senhor”.

Paulo tem em mente essa observância quando usa a frase “luas novas”. Assim, com essas três frases, Paulo está descrevendo os dias cerimoniais e sábados do Antigo Testamento, e diz que o cristão não fica sob nenhuma obrigação de observar esses dias.

Essa instrução era necessária no tempo da transição da Antiga Aliança à Nova. Muitos cristãos judeus continuavam a observar as festas e dias especiais da Antiga Aliança. Embora não estivessem sob nenhuma obrigação de fazer assim, já que Cristo cumpriu o que essas festas comemoravam, adoravam-no por meio delas. Durante esse tempo de transição, estavam livres para agir assim. Não foi isso mesmo que Paulo estava fazendo quando foi preso em Jerusalém (At 21.26)? Antes, havia dito que queria estar de volta a Jerusalém a tempo para a Festa de Pentecostes (At 20.16). Embora Pentecostes não fosse uma celebração cristã, durante o período de transição da adoração da Antiga Aliança à adoração da Nova Aliança, os apóstolos e outros cristãos judeus observavam-no para celebrar a obra salvífica de Cristo. Da mesma forma, hoje alguns judeus convertidos com frequência celebram ainda a Páscoa em família para refletir sobre Cristo como o verdadeiro cordeiro Pascoal.

Uma sombra do que virá

Alguns, entretanto, sob o mesmo zelo mal-orientado que motivou os judaizantes a exigirem que os gentios fossem circuncidados, estavam procurando impor esses dias aos cristãos gentios. Em resposta, Paulo repudia qualquer observância obrigatória dos dias religiosos ou festas judaicas, afirmando que a Igreja não poderá exigir a observância de nenhum dia cerimonial do Antigo Testamento, porque foram “sombra das coisas que haverão de vir, porém o corpo é de Cristo” (C12.17). Paulo nos faz lembrar que os rituais do Antigo Testamento prenunciavam a pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo. [1] A pessoa e obra de Cristo estão atrás de todas as observâncias cerimoniais do Antigo Testamento: as festas, os sábados da lua nova e o sábado do sétimo dia como o original divino.

Desde a eternidade, Deus, tendo nos escolhido em Cristo, planejou a encarnação e sua grande obra da redenção. Desde o começo da História, quando Deus começou a revelar sua verdade, Deus o Filho, na perspectiva da encarnação, salientou-se acima de todas as coisas. A luz da revelação brilhou sobre ele e projetou uma sombra sobre todos os eventos da revelação do Antigo Testamento. Na providência de Deus, o adorador do Antigo Testamento não pôde ver Cristo claramente; essa visão estava reservada para nós que vivemos na plenitude do tempo (Hb 1.1,2; 11.39,40). Mas por meio dos rituais e cerimônias eles viram, sim, sua sombra poderosa e majestosa.

Assim, todas as partes da adoração cerimonial faziam referência àquele que era a substância. A luz da glória brilhava de tal maneira sobre o Cristo pré-encarnado que sua sombra caiu sobre os i séculos por intermédio dos sacrifícios, do tabernáculo, do templo, do sacerdócio, das escolas dos profetas, dos reis de Israel, das festas, das luas novas dos dias de sábado. Tomemos, por exemplo, o tabernáculo e o templo. João nos diz que a Palavra se tornou carne e tabernaculou entre nós (Jo 1.14). Cristo afirmou que ele era o templo verdadeiro (Jo 2.19), que cumpria tudo que o templo prometia. Ele é o verdadeiro Deus que habita em meio do seu povo.

Depois de seu advento, o templo foi se apagando até perder toda sua significância e não ser mais necessário (10 4.21-24), porque com todas as suas festas e sacrifícios era apenas uma sombra.

De forma semelhante, cada um dos dias cerimoniais apontava para o Senhor Jesus Cristo e seu relacionamento com seu povo. A Festa dos Tabernáculos lhes lembrava que Deus era o Deus da salvação que livrara seu povo, e que eles eram nada mais que peregrinos e viajores nesta terra que estavam indo adiante para uma cidade celestial, indo da sombra para a realidade. No último dia da festa (chamado o oitavo dia como tipo ou prenúncio da ressurreição), enquanto o sacerdote derramava água, Jesus apontou para si: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus, e exclamou:

Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva” (1o 7.37, 38).

A Páscoa o retratava como o Cordeiro de Deus que veio para tirar o pecado do mundo (Jo 1.29). Junto a essa figura temos a da Festa dos Pães Asmos, um retrato de sua ressurreição (lCo 15.23). Exatamente na manhã em que o sacerdote se punha de pé no templo e movia os primeiros pães de cevada (Lv 23.15-17), Cristo surgia dos mortos, como os primeiros frutos, primícias dos que dormiram.

Pentecostes, a grande festa da colheita, era a sombra do derramamento do Espírito Santo e o ajuntamento das nações para o Senhor Jesus Cristo. Em Pentecostes os judeus observavam a inauguração do pacto no Monte Sinai pelo qual foram feitos reino teocrático de Deus. Portanto, o Pentecostes é cumprido na inauguração da igreja do Novo Testamento com o derramamento do Espírito Santo e o começo da colheita mundial do evangelho.

Israel observava a lua nova com sacrifícios e ritual especial. O primeiro dia do mês era visto como o sábado semanal. O retorno da lua nova provavelmente lembrava ao povo a certeza eterna das promessas pactuais de Deus (Gn 8.21,22; Jr 31.35,36; 33.25,26). E porque Cristo cumpriu todas as promessas do pacto, ele substituirá a luz do sol e da lua (Ap 21.23).

O sinal de maior significância, contudo, foi o sábado do sétimo dia. Quando Adão caiu em pecado, Deus deu a promessa do Salvador. Até que ele viesse, os santos do Antigo Testamento permaneceriam sob a servidão, aguardando o dia de sua herança (Gl 3.23- 26). No sábado do fim da semana, aguardavam a vinda do Messias, o verdadeiro doador do descanso. Portanto, o dia que observavam, o sábado, era sombra da vinda do Salvador. Quando ele veio, ele realmente fez parte de sua obra expiatória no sábado do sétimo dia, ao ficar no túmulo, sofrendo morte e sepultamento em lugar de seu povo. Quando ressurgiu no primeiro dia, entrou no seu descanso.

Embora Paulo não mencione o sábado do sétimo ano e o jubileu, eles também foram cumpridos em Cristo. Como notamos no Capítulo 4, os sábados anuais não só ensinavam o povo a confiar em Deus para sua subsistência, como também os ensinavam a ansiar pelo dia quando a dívida do pecado será remida e os prisioneiros do pecado libertados. Em Lucas 4.18, 19, Jesus, citando Isaías 61.1, 2, aplica a linguagem do jubileu a si mesmo.

Um dia em sete - o modelo que continua

Portanto, o santo do Novo Testamento não é mais obrigado a observar os dias cerimoniais do Antigo Testamento, nem o sétimo dia do Antigo Testamento. Mas repare que nessa argumentação, Paulo nunca abre mão do dever moral de se observar um dia em sete. Como vimos, na criação Deus estabeleceu a obrigação moral de se guardar santo um dia em sete, e repetiu essa obrigação nos Dez Mandamentos, junto com todos os outros grandes princípios da religião revelada. O dia em si, no entanto, não foi parte da exigência moral da lei, e sim uma lei positiva para regulamentar o cumprimento da responsabilidade moral. Portanto, o dia da semana podia ser mudado. O Novo Testamento revoga a observância do sétimo dia, mas nunca a obrigação de guardar um dia em sete como sábado do Senhor. [2]

Está claro que a igreja primitiva continuou a observar um dia em sete. Por que não adotaram outro modelo como cada terceiro dia, ou cada décimo dia? John Owen responde a essa pergunta:

“E embora fique absolutamente certo que outro dia poderia ter sido fixado sob o Novo Testamento, e não um em cada revolução hebdomadária (de sete dias), por seus trabalhos próprios não terem sido bem terminados em seis dias, contudo esse tempo sendo antes fixado e determinado pela lei da criação. nenhuma inovação ou alteração seria permitida no assunto”. [3]

Nem existe qualquer prova de que algum intervalo tenha transcorrido entre a prática do adorar no sétimo dia e o adorar no primeiro dia da semana. A igreja neotestamentária, mantendo a norma de um dia em sete, imediatamente começou a adorar no primeiro dia da semana. E mais, a prática do próprio Paulo confirma que ele não está removendo a observância de um dia em sete, mas sim os dias cerimoniais judaicos. Em Atos 20.7, ele adora com a igreja de Trôade no primeiro dia da semana. Em 1 Coríntios 16.1,2 ele dá a entender que mandava todas as igrejas recolherem sua oferta para os pobres no primeiro dia da semana.

Um entendimento correto de Colossenses 2.16, 17 também nos possibilita interpretar Romanos 14.4-6. Nesse capítulo, Paulo está discutindo leis cerimoniais judaicas. Como em Colossos, algumas pessoas em Roma estavam propondo a observação de certas leis judaicas que diziam respeito a comida e dias santos. Paulo diz que, embora as pessoas sejam livres para seguir as leis judaicas de alimentos e dias santos, elas não poderão exigir que outros sigam tais leis. Paulo, portanto, remove toda e qualquer obrigação de se guardar os dias santos judeus.

Paulo discute a relação do cristão para com a lei cerimonial judaica também em Gálatas 4.10. A lista, “dias, e meses, e tempos, e anos” se refere às várias observâncias cerimoniais do povo da Antiga Aliança, parte daquele velho sistema ao qual os gálatas foram tentados a se tornar escravos.

Portanto, Paulo nunca anulou a obrigação moral de separar um dia em sete para adorar a Deus. O que ele fez foi revogar a prática dos sábados e dias cerimoniais do Antigo Testamento. Vamos resumir o que dissemos até aqui nas palavras de R.L. Dabney:

“Os fatos com os quais todos estamos de acordo, que explicam o sentido dessas passagens do Apóstolo, são os seguintes: Depois de estabelecida a nova dispensação, os cristãos convertidos dentre os judeus geralmente combinavam a prática do judaísmo com as formas do cristianismo. Observavam o dia do Senhor; o batismo e a ceia do Senhor; mas continuavam também a guardar o sétimo dia, a páscoa e a circuncisão. A princípio era proposto por eles impor esse sistema duplo sobre todos os cristãos gentios, mas o projeto foi repreendido pela reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém, registrado em Atos 15. No entanto, grande parte dos cristãos judeus... continuava a observar as formas de ambas as dispensações, e os espíritos inquietos dentre as igrejas mistas de convertidos judeus e gentios estabelecidas por Paulo continuavam a tentar impor I isso também sobre os gentios; alguns deles juntavam a essa I teoria ebionita a heresia mais grave de uma justificação por observâncias ritualistas. Assim, nessa época, era esse o quadro. Nas igrejas mistas da Ásia Menor e do Ocidente, alguns irmãos iam à sinagoga no sábado e à reunião da igreja no domingo, guardando os dois dias religiosamente,. enquanto alguns guardavam só o domingo. Alguns se sentiam obrigados a guardar todas as festas e jejuns judaicos, enquanto outros não Ihes davam atenção. E aqueles que não tinham luzes cristãs que Ihes ajudassem a compreender que as observâncias judaicas não eram nada essenciais, sentiam sua consciência oprimida ou ofendida pela diversidade. Foi para resolver esse problema que o Apóstolo escreveu essas passagens. Até aqui estamos de acordo”. [4]
No entanto, prosseguindo, afirmamos que com a mesquinha lista de “dias”, “meses”, “tempos“, “anos”, “dias santos”, “luas novas”, “sábados”, o apóstolo quer dizer as festas judaicas, e apenas essas. A festa dos cristãos, o domingo, não está em questão aqui, porque sobre a observância deste não havia disputa nem diversidade alguma nas igrejas cristãs. Judeus cristãos e gentios cristãos consentiam universalmente na santificação do domingo. Quando assevera que a consideração ao dia, ou a não-consideração a ele, não é essencial, assim como comer ou não comer, a interpretação natural e legítima é que ele quer dizer aqueles dias que estão em questão e não outros. Quando Paulo afirma que 'julga iguais todos os dias' (Rm 14.5), devemos entender que fazia referência a cada um daqueles dias que eram objeto de diversidade -não ao domingo dos cristãos, sobre o qual não havia qualquer discussão. 

Duas lições

Tendo estabelecido, pois, o princípio apresentado por Paulo, podemos extrair duas lições muito importantes. Primeiro, Paulo afirma claramente que a igreja do Novo Testamento não deverá observar o sábado do sétimo dia. Grupos como os Batistas do Sétimo Dia e Adventistas do Sétimo Dia reivindicam que, visto o Quarto Mandamento estar em vigor permanentemente, a igreja deve continuar a observar o sábado do sétimo dia.

Esses grupos mantêm que a igreja primitiva adorava no sétimo dia e só mais tarde, sob Constantino e o papado subsequente o dia de adoração foi mudado para o primeiro dia da semana.

“ ... as pessoas guardam o primeiro dia da semana porque a igreja apóstata dos tempos primitivos emprestou dos r pagãos o costume e passou-o para o protestantismo. Os ! pagãos adoravam o sol nesse dia...”

“O domingo sempre foi o dia do culto pagão. Sempre foi dedicado ao deus do sol Da prática pagã da adoração do sol temos a palavra “domingo“. [NT] Falando das abominações sendo praticadas no tempo de Ezequiel, o profeta disse: 'Levou-me para o átrio de dentro da Casa do Senhor; e eis que estavam à entrada do templo do Senhor; entre o pórtico e o altar; cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do Senhor e com o rosto para o oriente 1. adoravam o sol, virados para o oriente' (Ez 8.16)”. [5]

Muitos adventistas interpretam o selo sobre os 144 mil de Apocalipse 7 como sendo a adoração do sétimo dia, e vêem Daniel 7.25 como sendo uma profecia de que o apóstata mudaria o dia do sétimo ao primeiro dia da semana.

Mesmo se houvesse evidência de que a igreja primitiva (incluindo os gentios) adorava no sétimo dia (e não há evidência disso), não se pode escapar das referências à adoração do primeiro dia (Atos 20.7; 1Co 16.1,2; e Ap 1.10). Nem podemos escapar da proibição de se guardar o sábado do sétimo dia, de Colossenses 2.16, 17. Para os adventistas, infelizmente, a proibição e prática apostólica não pesam. Um escritor adventista diz: “Seja enfatizado que, mesmo se fosse encontrado apoio apostólico para o domingo, ainda o cristão bíblico não o poderia aceitar. Nem mesmo um apóstolo poderia mudar a lei de Deus”. [6] Uma abordagem tão soberba ao Novo Testamento se deve principalmente a seu compromisso com as profecias de Ellen G. White. Na visão deles, essas profecias têm autoridade divina e têm precedência sobre a prática apostólica. No entanto, o ensino claro da Bíblia é que o sétimo dia foi revogado.

A segunda lição é muito importante para toda essa discussão sobre o dia em que a Igreja deve adorar. Se Paulo revoga o sétimo dia mas não o princípio moral de um dia em sete, como determinamos qual o dia? Temos duas opções: ou a Bíblia nos revela qual o dia apropriado, ou a igreja pode escolher o dia. Muitos, em toda a história da igreja, incluindo Calvino, ensinaram que, como a igreja deve ter um dia para a adoração, ela pode escolher o dia. A Igreja apropriadamente escolheu o primeiro dia por causa da ressurreição. Contudo, fica aí entendido que a igreja está livre para mudar o dia se assim desejar. Lutero ensinou em seu Catecismo Maior:

“Mas visto que a grande maioria está sobrecarregada com negócios, precisa haver algum dia da semana para atenção a esses assuntos, Como o costume inócuo do dia do Senhor conseguiu um consentimento unânime, somente confusão poderia resultar de uma inovação desnecessária”. [7]

Calvino expressa estar de acordo:

“Embora o sábado tenha sido revogado, ainda nos assiste ocasião: (1)para nos reunirmos em dias determinados para o ouvir da Palavra, o quebrar do pão místico e as orações públicas...”; (2) para dar descanso do trabalho a servos e operários... Porém, estamos usando-o como um recurso, um medicamento necessário para se manter ordem na igreja... Também devemos observar juntos a ordem prescrita pela igreja para o ouvir da Palavra, a administração dos sacramentos e as orações públicas”. [8]

Quanto ao dia, Calvino acreditava que a Igreja apostólica escolheu sabiamente o primeiro dia, porque foi o dia da ressurreição de Cristo, Mas diz: “Nem me prendo ao número “sete” de modo a obrigar a igreja sujeitar-se a ele, E não condenarei igrejas que têm outros dias solenes para suas reuniões, contanto que não haja nenhuma superstição”. [9]

Mas de acordo com Paulo em Romanos 14 e Gálatas 4, nenhum homem ou igreja tem a prerrogativa de estabelecer um dia para outros, Portanto, se somos proibidos de adorar no sétimo dia e não podemos legislar um dia, a única alternativa é que Deus já legislou um novo dia. Citando Dabney novamente:

“Se fomos bem-sucedidos em provar que o sábado é uma instituição perpétua, a evidência parecerá perfeita, A lei perpétua do decálogo mandou que todos os homens, em todos os tempos, guardassem um dia de sábado, e “até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra” (Mt 5,18), O Apóstolo, em Colossenses 2,16, 17, diz-nos claramente que o sétimo dia não é mais nosso sábado, Que dia é, então? Deve ter sido substituído por algum dia, e qual deles é mais provável de ser o substituto verdadeiro senão o dia do Senhor ? A lei não é revogada; não pode ser. Mas Paulo mostrou que ela está mudada, Para qual dia mudou o sábado, senão para o primeiro: nenhum outro dia da semana tem sombra de direito. Precisa ser este, ou nenhum; mas não pode ser nenhum; portanto tem de ser este”. [10]

Como, então, Deus revelou à Igreja a mudança de dia? Buscaremos a resposta a esta pergunta no próximo capítulo.

NOTAS:

[NT] — Gl 4.10-11; "Vocês estão observando dias especiais, meses, tempos definidos e anos! Temo que os meus esforços por vocês tenham sido em vão" (NIV).
[1] — Joseph A. Pipa, Jr., Root and Branch (Filadélfia: Great Comission Publications, 1989), cap. 7-10,
[2] — Ver H.C.G. Moule, Colossians and Philemon Studies (Londres: Pickering & Inglis Ltd) p. 175.
[3] — Owen, p. 362 (com minha ênfase).
[4] — Dabney, Lectures, pp. 385, 386 (ênfase minha)
[NT] — Em inglês, Sun - day, dia do sol. Em contraste, no português: Domingo: (do latim, dies dominicu), dia do Senhor, Novo Dicionário Aurélio).
[5] — Richard Lewis, The Protestant Dilemma (Mountain View, Cal., 1961) pp. 85, 141, citado em Jewett, 113.
[6] — Lewis, p. 103, citado em Jewett, 113.
[7] — Martin Luther, The Larger Catechism (Filadélfia: Fortress Press, 1959), 20.
[8] — John Calvin, lnstitutes of Christian Religion (Filadélfia: The Westminster Press, 1967) II, viii, 32, 33, 34, [As lnstitutas: João Calvino]
[9] — Calvin, II, VIl, 34,
[10] — Dabney, Lectures, 390, 391.

Fonte: O presente artigo é o capítulo 7 do livro O Dia do Senhor, de Joseph Pipa, publicado no Brasil pela Editora Puritanos.

February 6, 2015

Por que, na minha opinião, o “culto infantil” é um equívoco


1. Porque não há base bíblica para retirada das crianças para um culto em separado. E, considerando o Princípio Regulador do Culto, a falta de determinação sobre esta prática já deveria ser motivo para não criarmos um princípio novo. Se não há base bíblica, não cabe no culto.
2. Porque nas Escrituras as crianças recebem a Palavra de Deus junto aos pais. Senão vejamos:
- “Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo jejum, proclamai uma assembleia solene. Congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos, e os que mamam, saia o noivo da sua recâmara, e a noiva, do seu aposento.” Joel 2.15-16
- “Então, Moisés e Arão foram conduzidos à presença de Faraó; e este lhes disse: Ide, servi ao Senhor vosso Deus; porém quais são os que hão de ir? Respondeu-lhe Moisés: Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, e com os filhos, e com as filhas, e com os nossos rebanhos, e com os nossos gados; havemos de ir, porque temos de celebrar festa ao Senhor.” Êxodo 10.8-9.
- "Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais te dar, terra que mana leite e mel, guardarás este rito neste mês. Sete dias comerás pães asmos; e, ao sétimo dia, haverá solenidade ao Senhor. Sete dias se comerão pães asmos, e o levedado não se encontrará contigo, nem ainda fermento será encontrado em todo o teu território. Naquele mesmo dia, contarás a teu filho, dizendo: É isto pelo que o Senhor me fez, quando saí do Egito." Êxodo 13.5-8
- “Todo o Judá estava em pé diante do Senhor, como também suas crianças, as suas mulheres, e os seus filhos.” 2 Crônicas 20.13
- “Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse para toda a congregação de Israel, e para as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles.” Josué 8.35
O próximo argumento, que diz respeito à linguagem compreensível às crianças, não vou enumerá-lo porque é mais fraco. Na minha visão, os dois argumentos acima são conclusivos. Todavia, para dar algumas sugestões a pregadores, eu diria o seguinte:
1. A criança com menos de dois ou três anos de idade compreenderá muito pouco, tanto no culto normal quanto no culto infantil.
2. Crianças maiores que isso já entendem muita coisa. Certa vez, em um culto solene, domingo à noite, minha filha, com 3 anos de idade, virou-se para minha esposa e perguntou: - Mãe, como é o nome desse homem que queria matar Jesus? - É Herodes, minha filha. - Mas o Faraó também não quis matar? - Não. O Faraó quis matar Moisés... Em outra ocasião, meu filho, com 4 anos, um dia depois do culto, me disse: "Pai, eu já sabia daquela história do sangue nas portas que você contou ontem". Ele prestou atenção nas palavras ditas na Ceia. Dois anos depois, meu filho, agora com 6 anos, depois do culto me disse: "Pai eu ouvi a história que o Marcos contou. Primeiro foi da ovelha perdida, depois foi da moeda e depois foi do filho pródigo." O curioso é que isso aconteceu em uma leitura responsiva no culto. Via de regra, subestimamos a atenção e a compreensão das crianças.
3. Pregadores devem se acostumar a usar linguagem simples no púlpito. Devem pregar em um nível que até as crianças entendam. E, se elas entenderem, saiba que a maioria da congregação entenderá.
4. Nossos pais puritanos eram especialistas em aplicação. Aplicavam a todos os grupos presentes no culto. Se há crianças no momento do sermão, aplique o sermão a elas também.
5. Pais cristãos devem se acostumar a conversar sobre o sermão que foi pregado no domingo. Essa prática é boa para avaliar se os filhos entenderam o sermão, reforçar o ensino e esclarecer eventuais dúvidas.
Termino citando Van Groningen: “Quando Deus fez um pacto com o Seu povo, eles todos tiveram que estar presentes, até mesmo as crianças de peito; e não havia um culto especial para as crianças lá (estou pisando em terreno perigoso?) Talvez possamos falar um pouco sobre isso. No Antigo Testamento, as crianças tinham que ser trazidas ao templo já no oitavo dia para circuncisão, e na idade de 12 anos já deviam ser consideradas adultas, no que diz respeito ao culto; as crianças eram os futuros servos do rei. Deixem-me lembrar também que as crianças deviam participar da páscoa, e elas tinham inclusive o privilégio de perguntar: ‘O que significa isso’? E os pais tinham que responder. Isso certamente foi na época em que o culto estava centralizado na família, mas o mesmo é verdadeiro quando o culto foi transferido e centralizado no templo. Eu sou pai de oito filhos, e eu e minha esposa temos experimentado o que é educar, em termos de culto, a essas crianças. Eu sei o que estou falando; nós somos avós de vinte e nove meninos e meninas, então podemos falar a partir de uma situação concreta. Estou pronto para falar sobre isso. Eu acredito em culto familiar, em casa e na Igreja.’ (Gerard Van Groningen, As Influências do Culto do Antigo Testamento na Liturgia.)

Pós-escrito 1: Muita gente argumenta em favor do culto infantil dizendo que ele se trata apenas de uma circunstância de culto. Veja o que escreveu um dos membros da Assembleia de Westminster, George Gillespie, puritano escocês:  "Circunstâncias devem, em primeiro lugar, não ser uma parte substancial do culto, o que significa que elas não devem ter nenhum significado religioso. Em segundo lugar, as circunstâncias dizem respeito a questões que facilitem a adoração, mas que não podem ser determinadas pela Escritura. Em terceiro lugar, deve haver "uma boa razão" para as circunstâncias, tornando-as necessárias para o cumprimento dos mandamentos de Deus". (George Gillespie, A Dispute English Popish Ceremonies Obtruded on the Church of Scotland (Dallas: Naphtali Press, 1993), 112-115.

Pós-escrito 2: Aos presbiterianos, a prova de que o "culto infantil" não cabe em nosso sistema é a total ausência de qualquer menção a ele nos Princípios de Liturgia da IPB, que tratam e regulam o culto em nossas igrejas e a seguinte alínea no Artigo 2º do Modelo de Regimento para a Junta Diaconal: " l) evitar de modo absoluto que haja reuniões em outras salas ou palestras entre membros da igreja ou simples assistentes, dentro do Templo ou nos pátios, durante as horas de culto."

January 13, 2014

A Igreja Presbiteriana do Brasil rebatiza católicos?



Não. A IPB não rebatiza católicos. Na verdade, ela os batiza. Nós entendemos que o primeiro derramar de águas não foi batismo. Veja abaixo a resolução de IPB sobre este assunto:


"... sobre Consulta de “Rebatismo de Católicos Apostólicos Romanos”, a Comissão Executiva do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, CONSIDERANDO QUE:

1) À Luz da história da Igreja Presbiteriana do Brasil, lembramo-nos que no dia 12 de janeiro de 1862, na organização da Primeira Igreja Presbiteriana do Brasil, duas Profissões de Fé ocorreram, conforme registra Ashbel Green Simonton em seu Diário nas datas de 1852- 1867, 14/01/1862 de Henry E. Milfor e Camilo Cardoso de Jesus. O Sr. Milford já fora batizado na infância na Igreja Episcopal, não foi rebatizado. (Atas da Igreja do Rio de Janeiro, 1862, p.5 – A.G.Simonton, Diário, 1852-1867, 14/01/62; Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1981, p.25.  O Sr. Camilo Cardoso de Jesus por ser proveniente do Romanismo foi batizado (rebatizado).

2) Rev. Simonton consultou sobre o assunto o Rev. Kalley e a Junta Missionária em New York (Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p.25-26; A.G.Simonton, Diário, 1852-1867, 14/01/62.

3) O batismo (rebatismo) estava em harmonia com a legislação da Igreja Presbiteriana da América, que em 1835, decidira o seguinte: (...) A Igreja Católica Romana apostatou essencialmente a religião de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, por isso não é reconhecida como igreja cristã” (Assembly Digest, Livro VI, Seção 83,p. 560 (1835), Apud Carl Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, São Paulo, ASTE, 1989, p.161).

4) Em 1845, mediante consulta ao Presbitério de Ohio, se o Batismo da Igreja de Roma era válido, decidiu: “A resposta a esta questão envolve princípios vitais para a paz, a pureza e a estabilidade da Igreja de Deus. Após ampla discussão, que se estendeu por diversos dias, a Assembléia decidiu, pela quase unanimidade de votos (173 a favor e 8 contra), que o batismo administrado pela Igreja de Roma não é válido. (Assembly Digest, Livro III Seção 13, p.103 (1845), Apud Carl J. Hahn, História do Culto Protestante no Brasil, p. 162).

5) A decisão do SC-90-150 reflete o mesmo entendimento de Simonton e também da Igreja Presbiteriana na América, nos seguintes termos: “SC-90-150 – Igreja Católica Romana – Quanto ao Doc. 32, do Presbitério de Florianópolis, sobre proposta versando “rebatismo” de pessoas provenientes da Igreja Católica Romana. O SC resolve 1) Considerando que a IPB não tem a prática de rebatismo, mas sim o de batizar àquele que aceita o Senhor Jesus como seu único Salvador. (evidentemente esta decisão não leva em consideração o batismo dos filhos de pais crentes, pois trata exclusivamente de responder ao Presbitério de Florianópolis sobre a proposta que ele faz). 2) Considerando que a Igreja Católica Romana tem a sua posição doutrinária tridentina e crê no batismo como “meio de salvação”, que é antibíblico: RESOLVE: 1) Estranhar a posição teológica do Presbitério proponente. 2) Recomendar a posição da IPB, de que a Igreja Católica Romana não é uma Igreja Evangélica. 3) Recomendar aos conselhos que ao receberem professados cumpram o que estabelece o Art. 12 do Princípio de Liturgia.”.

6) A posição de Calvino no Livro 4, Capítulo 15, parágrafo 16, afirma que a validade do batismo não depende daquele que administra, mas de Deus que instituiu o sacramento. Ele usa este argumento para combater o pensamento dos Donatistas e dos Catapatistas que eram anabatistas (ou rebatizadores). Contudo a principal tese de Calvino neste fato de que o sacramento não vem do ministro, mas de Deus.

7) Nós não “rebatizamos” católicos no sentido anabatista. Nós batizamos católicos.  Nós não rebatizamos crentes. Batizamos católicos porque cremos “que o batismo administrado pela Igreja Romana não é válido. Não é portanto, como fundamenta Calvino sua tese, uma questão simplesmente de quem administra o batismo, nem simplesmente as Palavras usadas no batismo, mas é uma questão da eclesiologia daquele que administra tal batismo. O ensino da Igreja Católica sobre o batismo contraria o ensino bíblico do batismo. Esta foi a falha na lógica de Calvino, segundo entendemos, suas palavras, neste caso, contradizem sua eclesiologia. Ele, efetivamente, não cria que a Igreja Católica Apostólica Romana era uma Igreja Cristã. Uma Igreja Cristã se destaca pela pregação e ensino de acordo com a Sola Scriptura, administra os dois sacramentos de acordo com o ensino das Escrituras, e disciplina seus membros de acordo com as Escrituras. A Igreja Católica Apostólica Romana não está sob a autoridade única das Escrituras, seus 7 sacramentos e administração do batismo e da ceia são contrários aos ensinos das Escrituras, e não disciplina seus membros de acordo com as Escrituras. O papa para os Reformadores e nossa Confissão de Fé, “é o anti-cristo”.

8) Foi nestas considerações que a Igreja Presbiteriana na América do Século XIX firmou-se corretamente, reconhecendo que a Igreja Católica Apostólica Romana apostatou essencialmente a religião de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, por isso não é reconhecida como igreja cristã.

9) POR FIM, E NÃO MENOS IMPORTANTE, o Rev. José Manuel da Conceição, primeiro pastor brasileiro da Igreja Presbiteriana do Brasil, ex-padre romano, foi batizado ao fazer a sua Pública Profissão de Fé, conforme relata Boanerges Ribeiro em seu livro “O Padre Protestante” p. 116, que afirma: (...) ”Realizou-se o culto de costume, com uma nota sensacional:” (destaca o Rev. Boanerges) “Nessa ocasião foi batizado por Blackford o ex-padre Conceição, diante de algumas dezenas de pessoas que se comprimiam na sala. Para o padre foi uma cerimônia impressionante: “Era um belo dia (...) foi para mim um momento solene...” Após o batismo, Simonton, presente a tudo e testemunha dos fatos “pronunciou palavras e Conceição, com linguagem veemente e muito apropriada, explicou ao povo o passo que dera”. (O Padre Protestante, Boanerges Ribeiro, p. 116).

A CE/SC RESOLVE: Responde ao requerente: 1) Que a Igreja Presbiteriana do Brasil batiza conversos e menores sob sua guarda. 2) Que cremos, juntamente com os Reformadores e firmados nas conclusões históricas da igreja da outra América no Século XIX e em decisão solene de 1990, jamais contestada, que a Igreja Católica Apostólica Romana, não é uma Igreja Cristã. É uma igreja apóstata e sua eclesiologia contraria o ensino da Palavra de Deus. 3) Solenemente reafirmamos a decisão do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (SC-90-150). (CE-SC/IPB-2004 - DOC. XXXVIII)

Por uma questão de legalidade, a decisão acima foi anulada. A Comissão Executiva não tinha poderes para legislar sobre doutrina. No Supremo Concílio posterior à decisão, a questão legal foi resolvida e foram reafirmadas as conclusões da decisão:


SC-2006- Doc. 98 - Doc. XCVIII – Quanto ao Doc. 047 - CE/SC-2004 - DOC. XXXVIII - Quanto ao Doc. 003 - Proposta de anulação da decisão CE-SC/IPB-2004 - DOC. XXXVIII – Quanto ao Documento 047 procedente do Sínodo do Rio de Janeiro ao pedido de declaração de nulidade da decisão CE/SC/IPB 2004- doc. XXXVIII. O SUPREMO CONCÍLIO considerando: 1. que, à luz do art. 104 da CI/IPB, a CE/SC não dispunha de poderes para firmar ou reafirmar doutrina, uma vez que o teor da consulta não poderia representar assunto de urgência; 2. que compete ao Supremo Concílio formular padrões de doutrina e prática quanto à fé, nos termos do art. 97 da CI/IPB; RESOLVE: 1. declarar nula de pleno direito a decisão CE/SC/IPB 2004- doc. XXXVIII; 2. afirmar que a Igreja Presbiteriana não tem a prática de rebatismo, mas sim a de batizar aquele que recebe o Senhor Jesus como o seu único e suficiente Salvador, bem como os seus filhos e os menores sob sua guarda; 3. declarar que o batismo praticado pela Igreja Católica Apostólica Romana inclui elementos diversos a água o que a torna não aceitável à luz da doutrina reformada; 4. afirmar que a Igreja Católica Apostólica Romana não se alinha com os ensinamentos do Evangelho, conforme entendimento da Confissão de Fé que subscrevemos; 5. determinar que as Igrejas que, em caso de recebimento de membros oriundos da ICAR, sejam recebidos por profissão de fé e batismo e seus filhos e menores sob sua guarda por batismo.

Objeções:

1ª - Mas o batismo não é um só?
R.: O que aconteceu na igreja católica, não foi batismo, pois aquela não é igreja verdadeira e, por consequência, seus chamados sacramentos não tem valor algum.

2ª - O posicionamento da igreja pode ser esse hoje, no entanto historicamente é estranho, pois nenhum dos pais da Reforma foi rebatizado, nem Calvino, nem Knox, nem Lutero, nem Zwinglio, todos morreram sem o "batismo verdadeiro" então.
R.: Os reformadores viveram em um período de transição na História. Hoje, aceitar o batismo católico é aceitar a Igreja Católica Apostólica Romana como igreja verdadeira.

3ª - Mas se o Batismo foi administrado em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, não seria esse válido?
R.: Um batismo em nome da Trindade só é válido se feito por um ministro verdadeiramente ordenado. Imaginemos que um indivíduo amanhã funde a igreja apostólica da copa do mundo 2014, arrogue para si o título de pastor e comece a batizar em nome da Trindade. Aceitaríamos batizados egressos desta "igreja"? Certamente que não. O mesmo vale para a ICAR. Não é igreja cristã. Apostatou da fé. É templo de idolatria e não passa em nenhuma das clássicas 3 marcas da verdadeira igreja.

4ª - Toda igreja que em boa consciência professa os Credos Apostólico, Niceno e Atanasiano, deveria ser considerada cristã, não importa quão errada sobre tudo o mais ela seja. A ICAR é uma igreja cristã, pois professa estes credos. Como Calvino disse, "é uma ruína de igreja". Não obstante, igreja.
R.: A ICAR não possui as marcas da verdadeira igreja. A figura que me ocorre é a de duas folhas de credos no chão e alguns caminhões de dogmas, bulas, e ensinos de homens por cima das folhas. Quanto a Calvino, vejamos a opinião dele:

"Nesta medida, como é a situação sob o papismo, é possível entender que gênero de Igreja aí subsiste. Em vez do ministério da Palavra, aí reina um regime degenerado e conflacionado de falsidades, que em parte extingue a pura luz da verdade, em parte a sufoca; no lugar da Ceia do Senhor introduziu-se o mais hediondo sacrilégio; o culto de Deus foi deformado por variada e não tolerável aglomerado de superstições; a doutrina, à parte da qual não subsiste Cristianismo, foi inteira sepultada e rejeitada; as reuniões públicas, reduzidas a escolas de idolatria e impiedade. Portanto, ao nos apartar da funesta participação de tantas abominações, nenhum perigo há de que sejamos arrancados da Igreja de Cristo. A comunhão da Igreja não foi estabelecida com esta lei: que seja um vínculo mercê do qual sejamos enredilhados na idolatria, na impiedade, na ignorância de Deus e em outros gêneros de males; mas, antes, para que sejamos mantidos  no temor de Deus e na obediência da verdade."

"De igual modo hoje os romanistas nos importunam e terrificam aos ignorantes com o nome da Igreja, quando são adversários capitais de Cristo. Portanto, ainda que exibam templo, sacerdócio e demais exterioridades deste gênero, de modo algum deve mover-nos este enganoso fulgor, pelo qual os olhos dos simplórios são deslumbrados, a admitirmos estar a Igreja onde a Palavra de Deus não se faz presente. Pois esta é a marca perpétua com a qual nosso Senhor assinalou os seus: “Quem é da verdade”, diz ele, “ouve minha voz” [Jo 18.37]. Igualmante: “Eu sou o bom pastor e conheço minhas ovelhas, e de minhas sou conhecido” [Jo 10.14]; “minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem” [Jo 10.27]. Pouco antes, porém, dissera: “As ovelhas seguem a seu pastor, porque conhecem sua voz, mas não seguem a um estranho, antes, fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” [Jo 10.4, 5]. Portanto, por que agimos  deliberadamente como insanos saindo em busca da Igreja, quando Cristo já a marcou de sinal longe de ser dúbio, o qual, onde é contemplado, não pode induzir a erro de que a Igreja certamente está aí onde na verdade está ausente, nada resta que possa dar o verdadeiro sentido da Igreja? Pois a Igreja se fundamenta não sobre juízos de homens, não sobre sacerdócios, mas sobre a doutrina dos apóstolos e dos profetas, nos lembra Paulo [Ef 2.20]. Senão que, antes, ela deve ser distinguida mediante esta linha divisória com a qual Cristo as distinguiu entre si – Jerusalém, de Babilônia; a Igreja de Cristo, da conjuração de Satanás: “Quem procede de Deus”, diz ele, “ouve as palavras de Deus. Por isso não as ouvis, porque não procedeis de Deus” [Jo 8.47].“Institutas, IV.2.2 e 4

"Ora, se se considera a Igreja ao ponto de termos que reverenciá-la, reconhecer sua autoridade, receber suas advertências, submeter-nos a seu juízo e nos conformar com ela em tudo e por tudo, não podemos conceder o título de Igreja aos papistas, segundo esta consideração, porque não nos é necessário tributar-lhes sujeição e obediência." Institutas, IV.2.10

"Pela mesma razão, se alguém reconhece por igrejas as presentes congregações contaminadas de idolatria, de superstição, de doutrina ímpia, em cuja plena comunhão o homem cristão deva permanecer, esse erra muito até em dar seu consentimento à doutrina." Institutas, IV.2.10

5ª - Os missionários brasileiros não rebatizaram católicos
R.: Posição de Simonton sobre o assunto: “A posição de Simonton face à Igreja Católica Romana, por outro lado, fora condicionada pela legislação da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana da América. Já em 1835 a Assembleia decidira que a Igreja Católica Romana não seria reconhecida como igreja cristã: ‘Deliberou e decidiu esta Assembleia que a Igreja Católica Romana apostatou essencialmente a religião de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e, por isso, não é reconhecida como igreja cristã.” HAHN, Carl Joseph. História no Culto Protestante no Brasil. São Paulo: ASTE, 1989. p. 161

Posição de Blackford sobre o assunto: “O romanismo não é cristianismo, é quase a negação de tudo o que é distintivo no cristianismo. É a grande apostasia, o Anti-Cristo, a obra-prima do grande inimigo de Deus e do homem para a destruição das almas e do bem-estar da sociedade humana. Não há verdade essencial da religião cristã que não seja distorcida, obscurecida, neutralizada, corrompida e completamente anulada pelas doutrinas e práticas do sistema romanista.” HAHN, Carl Joseph. História no Culto Protestante no Brasil. São Paulo: ASTE, 1989. p. 314






December 23, 2013

Unção com óleo - Rev. Ludgero Bonilha


A ORAÇÃO DA FÉ E A UNÇÃO DE ENFERMOS, ONTEM E HOJE
Uma análise de Tiago 5.14-16 em seu contexto histórico-gramatical-teológico e sua aplicação hoje na igreja 

Por Rev. Ludgero Bonilha Morais 


Dirijo-me aos “presbíteros da igreja” com profundo respeito, apelando humildemente para a autoridade das Escrituras com o fim de, no Senhor, orientá-los no que segue. 

O que desejo expor encontra-se sucintamente registrado em Provérbios 28.13 explicitamente em Tiago 5.14-16. 

As palavras de Provérbios 28.13 são simples e diretas. Não há nada de obtuso nelas; dizem exatamente o que querem dizer, e querem dizer precisamente o que dizem. O remédio que Deus tem para os problemas do homem é a confissão. Ocultar as transgressões traz desgraça, derrota e ruína, mas a confissão e o abandono do pecado trarão o perdão misericordioso e a paz. 

Nas palavras de Tiago 5.14 não se pode duvidar de que Tiago ensinou que há possibilidade de uma doença provir do pecado. Tiago orientou os cristãos que ao adoecerem chamassem “os presbíteros da igreja”. Este texto, portanto, convida-nos, a nós presbíteros, a uma detalhada reflexão, porquanto, refere-se especificamente a uma ação para a qual temos sido chamados em nosso ministério presbiterial. É necessário, sem dúvida, entendermos o mais perfeitamente possível o que Deus quer nos ensinar ali.

Esta provisão escriturística lança a Igreja de Jesus Cristo à tarefa de trabalhar com os que ficam doentes por causa do pecado. A obra dos oficiais da igreja não pode ser transferida aos psiquiatras ou aos místicos. A psiquiatria não tem meios para curar as enfermidades hamartiagênicas*, e os místicos, por outro lado, não levam a sério as Escrituras.

Tiago disse que os presbíteros deveriam orar pelo paciente, ungindo-o com óleo. Explicou que a oração da fé restabelece o membro doente e, se houver cometido algum pecado, ser-lhe-á perdoado. Tiago, além disso, exortou os enfermos a confessarem uns aos outros seus pecados para serem curados (v. 16). O que parece é que Tiago viu forte correlação entre doença e pecado. Ele presumia que muitas doenças resultam de pecado. A cláusula “se” do versículo 15 admite a possibilidade de que haja doenças provenientes de disfunções, ferimentos ou outras causas inocentes. É evidente que Tiago reconhecia duas fontes de doença: orgânica e inorgânica. Mas se, por um outro lado, a causa é desconhecida (e quiçá mesmo no caso de algumas causas conhecidas), Tiago dizia que quando o paciente debate a sua doença com os presbíteros e se faz oração, deve-se discutir a possibilidade de que a doença seja causada por algum pecado, e, se achar pecado por detrás do problema, deve ser confessado.

Ao mencionar a confissão de pecado causador de doença, Tiago referia-se primordialmente à confissão feita a Deus. Mas ele falou também de confessar os pecados “uns aos outros”. A pessoa enferma é orientada no sentido de que revele e confesse os seus pecados àqueles contra os quais pecou. Se deva confessar aos presbíteros também, é problemático. Provavelmente são considerados como conselheiros nessa questão, pois a passagem afirma que depois de orarem juntos, dá-se a cura. Parece que o melhor modo de entender essa porção bíblica é que o crente enfermo confessara os seus pecados aos presbíteros. Talvez seja esta a ênfase do oûn (“pois”) com o qual começa o versículo 16 no texto grego. A generalização contida no versículo 16 (“confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados”) parece evolver da experiência descrita nos versículos 14 e 15, que pressupõem que fora feita confissão aos presbíteros. A palavra exomologéo (“confessar”) empregada em Tiago 5.16 significa literalmente, “declarar a mesma coisa”. A ideia nela contida é a de dizer publicamente (ou ao menos abertamente) a outra pessoa que você concorda com seu julgamento adverso acerca de sua conduta. Significa admitir a alguém mais que você pecou contra ele. A confissão de Westminster coloca-o nestes termos: 

“como todo homem é obrigado a fazer a Deus confissão particular das suas faltas, pedindo-lhe o perdão delas, fazendo o que, achará misericórdia, se deixar os seus pecados, assim também aquele que escandaliza a seu irmão ou a igreja de Cristo, deve estar pronto, por uma confissão particular ou pública do seu pecado e do pesar que por ele sente, a declarar o seu arrependimento aos que estão ofendidos; isto feito, estes devem reconciliar-se com ele e recebê-lo em amor”. (XV, VI) 

Mas o que dizer do óleo? 

Sem dúvida, nós os presbíteros, a quem esta passagem de Tiago faz menção, temos de ser orientados a respeito da unção com óleo.

Primeiramente, é incerta e provavelmente sem importância a questão se Tiago pensava na unção como simultânea ou precedente à oração. O óleo de oliva era tido como remédio. De fato, nos tempos bíblicos o uso do óleo como medicamento era universal. Observem-se, por exemplo, Lucas 10.34 (onde se vê o bom samaritano tratando do homem que caíra em mãos de salteadores, aplicando óleo em seus ferimentos). Isaias lamentava a condição do povo de Deus que ele descreveu empregando a figura de uma pessoa machucada cujas feridas não foram “amolecidas com óleo” (1.6)

Portanto, Tiago não tinha em mente mágica nenhuma, quando mencionou o uso do óleo. Muito menos estava se referindo ao sacramento romanista da unção, e menos ainda, a poderes sobrenaturais conferidos a óleos, líquidos, etc. Como questão de fato, Tiago não escreveu sobre nenhum tipo de unção cerimonial. A palavra grega “ungir” (aleipho) empregada por Tiago, não indica unção cerimonial. A palavra para unções cerimônias, que ocorriam no Antigo Testamento, era chrio (cognata de christós, “ungido”- Cristo, o “ungido”).

Em contraste com a palavra chrio (“ungir”), o vocábulo utilizado por Tiago (aleipho) geralmente significa “friccionar” ou simplesmente “aplicar”. A palavra aleipho era usada para descrever a aplicação pessoal de unguentos, loções e perfumes que em geral tinha uma base de óleo – o termo relaciona-se com lipos, “gordura”. Era empregado significando até argamassa para paredes. O vocábulo cognato exaleipho intensifica o conceito de esfregar ou aplicar o óleo, e dá ideia de untar, apagar, enxugar, raspar, etc. Aleiptes era o “treinador” que massageava os atletas numa escola de ginástica. Em português: alipta. “a.lip.ta sm (gr aleíptes) O que, entre os gregos e romanos, esfregava óleo nos que saíam do banho, ou nos atletas que se preparavam para a luta.” (Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Michaelis). O termo aleipho ocorria muitas vezes nos tratados de medicina (vide: Synonyms of the New Testament – Trench).

Assim é que vem a tona que o que Tiago pretendia com o uso do óleo: era o emprego dos melhores recursos médicos daquele tempo. Tiago simplesmente disse que se aplicasse o óleo (frequentemente usado como base de misturas de várias ervas medicinais) no corpo e que se fizesse oração. O que Tiago defendia era o emprego da medicina aceita e consagrada. Nessa passagem ele apregoou que as doenças fossem tratadas com recursos médicos acompanhados de oração. Ambos os elementos devem ser usados juntos; nenhum deles deve excluir o outro. Portanto, ao invés de ensinar a cura pela fé, independente do uso de medicamentos, a passagem ensina justamente o contrário.

Mas, quando se usam medicamentos, estes devem ser usados conjuntamente com oração. Aí está a razão por que Tiago disse que a oração da fé cura o doente.

Mas Tiago não considera o emprego de remédios e da oração eficientes só nos casos em que o paciente haja cometido pecados. Nesses casos, a oração tem que incluir especificamente a confissão de pecados. O pecado está na raiz de algumas enfermidades e pode ao menos ser um fator corroborativo de certas complicações de algumas outras doenças. E Tiago explicou ainda que a confissão de pecados deve ser feita não só a Deus, mas também “uns aos outros”. Por certo a confissão não é um fim em si mesmo. O arrependimento e a confissão são apenas meios para a reconciliação, sendo esta o objetivo último. 

O Novo Testamento ensina que doenças podem provir de pecados, e daí advertiu sobre a necessidade de confrontação bíblica realizada pelos presbíteros da igreja. Devemos estar sempre cientes do nosso dever nesta questão, quando visitarmos os enfermos. Esta confrontação requer coragem e piedade para fazê-la. Fica-se perguntando quantas doenças (ou pelo menos complicações de doenças) poderiam ter sido curadas mediante cuidadosa atenção às palavras de Tiago e sua aplicação contextual e sábia. Nós presbíteros precisamos aprender a levar Tiago a sério. 

Portanto, é bom que consideremos o seguinte quanto ao uso do óleo: 

1 – A Igreja Presbiteriana do Brasil não é omissa nesta questão, mas, historicamente tem entendido que o uso do óleo, recomendado por Tiago, não é nenhum tipo de “unção cerimonial” (nossa denominação admite somente duas cerimônias de valor sacramental, a Santa Ceia e o Batismo). 

2 – O uso do óleo em Tiago 5:14, ao invés de ensinar a cura pela fé, independentemente do uso de medicamentos, ensina justamente o contrário. 

3- O uso do óleo no contexto do Novo Testamento e, neste caso específico, tem valor medicinal medicamentoso. 

4- O óleo, sem sua legítima aplicação medicamentosa, não produz qualquer efeito.

5- A oração não prescinde o uso do medicamento aplicável a cada caso específico. 

6- A frase: “os presbíteros da igreja” em Tiago 5.14 deixa entender a ação do corpo coletivo dos presbíteros e não ação individual. 

7- O crente pode, e está sujeito a se enfermar. Doença não é resultado direto de pecado específico. 

8- Fica estabelecido, no entanto, que este contexto de Tiago 5.14 ensina aos presbíteros a caminhar para uma confrontação bíblica com o enfermo, inquirindo dele, o enfermo, a possibilidade de o pecado estar na raiz da doença. 

Calvino, a grande referência interpretativa dos presbiterianos, afirma no comentário a esta passagem, quanto ao uso do óleo:

“Foi isto (a unção com óleo) nos dado de tal forma que deveria estar em uso entre nós nos nossos dias? A isto respondo, não...”
 
Cerrar os olhos para as lições da história, fatalmente nos levará a cometermos os mesmos erros que reiteradas vezes condenamos no passado. O texto de Tiago 5.14, interpretado equivocadamente pela “igreja” romana, trouxe à luz a doutrina da “extrema unção”, dos “santos óleos” e, mais tarde o popularmente conhecido surgimento das “benzedeiras”. Descobriram eles que esta manipulação da credulidade popular lhes confere domínio sobre os incautos. Hoje, cumpre-nos o dever de analisar criteriosamente os textos das Escrituras e aplicá-los à luz de seu contexto histórico-gramatical-teológico. Não podemos ficar aquém do propósito recomendado e nem ultrapassar os limites fixados pela Palavra de Deus. 

Na esperança de dirimir toda e qualquer dúvida sobre a passagem de Tiago 5.14-16 e no anseio de que vejamos cumprida a recomendação paulina: “completai a minha alegria de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento” (Fp 2.2), registro minha confiança nos propósitos eternos do Deus que dirige a vida de sua Igreja e, de forma carinhosa, a vida de seus oficiais.

Este texto foi produzido por ordem do Presbitério Belo Horizonte da Igreja Presbiteriana do Brasil, com adaptação autorizada. A pastoral vem acrescida da seguinte declaração: 

Declarar que o posicionamento doutrinário e prático inserido no documento em apreço recebe irrestrito apoio deste Concílio, requerendo de seus pastores e presbíteros comportamento em harmonia com suas conclusões. 



* Enfermidade hamartiagênica é, literalmente, enfermidade “gerada pelo pecado”. Conquanto toda a doença resulte, em última análise, do pecado de Adão, sendo, nesse sentido indireto, hamartiagênica, algumas doenças resultam diretamente de pecados específicos. Neste último sentido é que a palavra é aqui empregada. 

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