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April 16, 2015

Determinações Bíblicas Para Dízimos e Ofertas Alçadas - Pb. Solano Portela


1. DÍZIMOS
O assunto principal que quero abordar é a base bíblica das ofertas, não pretenderia, portanto, me alongar no tratamento do dízimo. Sinto-me, entretanto, na obrigação de colocar algumas poucas e objetivas palavras sobre a questão do dízimo. Não é minha intenção dar uma exposição detalhada de que o dízimo é uma determinação procedente de Deus, que precedeu a lei cerimonial e judicial da nação de Israel (incorporando-se posteriormente a essas), sendo portanto válido para todas as épocas e situações. Não é, também, minha intenção partir para uma exposição da seriedade com a qual Deus apresentou e tratava essa questão do dízimo. Não vou, portanto, examinar as severas advertências àqueles que desprezavam suas determinações. Tudo isso já foi dito e exposto por outros de uma forma bem melhor e mais completa do que eu poderia aqui fazer.

Gostaria apenas de reforçar dois princípios bíblicos sobre o dízimo, extraídos do Novo Testamento. Por isso os classificaremos como princípios neotestamentários, que devem regular a nossa contribuição sistemática:

a) O primeiro princípio neotestamentário que desejo ressaltar, é que a Palavra de Deus nos ensina que devemos contribuir planejadamente. Temos este ensinamento em 2 Co 9.7, que diz: “Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento (Atualizada: ‘necessidade’); porque Deus ama ao que dá com alegria”.

Freqüentemente nos concentramos apenas no entendimento superficial do versículo, e interpretamos que ele fala simplesmente da voluntariedade da contribuição. Mas o fato de que ele nos ensina que a nossa contribuição deve ser alvo de prévia meditação e entendimento nos indica, com muito mais força, que ele deve ser uma contribuição planejada, não aleatória, não dependente da emoção do momento. O dar com emoção é válido. O dar seguindo o impulso momentâneo do coração, possivelmente, mas ambos não se constituem no cerne do “dar” neotestamentário.

Deus está nos ensinando que o seu “mover do nosso coração” não significa a abdicação de nossas responsabilidades. Ele nos ensina que não podemos simplesmente esquecer as portas abertas que ele coloca à nossa frente, relacionadas com as necessidades de sua igreja, e esperar o “mover do espírito”. Tudo isso soa muito piedoso e espiritual, mas se vamos propor no nosso coração, significa que vamos considerar com seriedade que a nossa contribuição deve ser planejada.

Bem, o irmão pode achar uma excelente forma de planejar, mas eu não encontro melhor forma do que a estabelecida na Bíblia: que é a dádiva do dízimo, reconhecimento simbólico de que tudo o que temos pertence a Deus. O dízimo representa a essência da contribuição planejada e sistemática e, conseqüentemente, deveríamos propor no nosso coração dar o dízimo. Vêem como isso muda a compreensão que tantos têm do verso? Alguns dizem: o dízimo constrange e retira a alegria da contribuição, quando o ensinamento é justamente o contrário: proponha no seu coração, sistematize sua contribuição e a contribuição fluirá de você sistematicamente, sem constrangimentos, com alegria. Não procure inventar: contribua na forma ensinada pelo próprio Deus ao seu povo.

b) Um segundo princípio neotestamentário, é que Deus espera que a nossa contribuição seja proporcional aos nossos ganhos, ou seja, devemos contribuir proporcionalmente. Encontramos esta lição em 1 Co 16.2-3, que diz: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado, guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar.”
O ensinamento é, mais uma vez muito claro. É óbvio que Paulo espera uma contribuição sistemática, pois ele diz que ela deveria ser realizada aos domingos (no primeiro dia da semana), que é quando os crentes se reuniam. O versículo é muito rico em instrução, demonstrando até a propriedade de nos reunirmos e cultuarmos ao Senhor aos domingos, contra os ensinamentos dos sabatistas, testemunhas de jeová e, agora, até da Valnice Milhomens, de que deveríamos voltar ao Velho Testamento e estarmos guardando o sábado, o sétimo dia da semana.

Quero chamar a sua atenção, entretanto, para o fato de que Paulo, pela inspiração do Espírito Santo, nos ensina que temos que contribuir conforme Deus permitir que prosperemos, ou seja, conforme os nossos ganhos. Essa é a grande forma de justiça apontada por Deus: as contribuições devem ser proporcionais, ou seja um percentual dos ganhos. Assim, todos contribuem igualmente, não em valor, mas em percentual.

Mais uma vez, o irmão pode querer inventar um percentual qualquer. Admito até que isso pudesse acontecer se nunca tivesse tido acesso ao restante da Bíblia, mas todos nós sabemos qual foi o percentual que o próprio Deus estabeleceu ao seu povo: dez por cento dos nossos ganhos! Isso, para mim me parece satisfatório e óbvio. Não preciso sair procurando por outro meio e forma, principalmente porque se assim eu o fizer posso até dizer, eu contribuo sistematicamente com o percentual que eu escolhi, mas nunca vou puder dizer que o faço em paridade e justiça com os outros irmãos, pois quem garante que o percentual dele é igual ao meu? Eu destruiria com isso, o próprio ensinamento da proporcionalidade que Deus nos ensina através de Paulo. Porque não seguir a forma, o planejamento e a proporção que já havia sido determinada por Deus?

Sabemos que temos muita argumentação falha, a favor do dízimo, que procura utilizar prescrições da lei cerimonial (cumprida em Cristo) ou da lei judicial de Israel (de caráter temporal, para aquela nação). Entretanto, temos, igualmente, muitos princípios válidos e exemplos sobre o dízimo, tanto no Velho como no Novo Testamento. No nosso caso, procurei me concentrar apenas nesses dois princípios.

Acredito, portanto, na primazia da contribuição sistemática, planejada, que não está sujeita ou escravizada às flutuações da nossa natureza pecaminosa, mas que segue o modelo e percentual utilizado pelo povo de Deus e que procedeu das próprias determinações divinas.

2. OFERTAS
Necessitamos, em adição, ir até à Palavra de Deus e verificarmos que a contribuição sistemática, periódica e proporcional não é a única encontrada nas Escrituras, nem como registro histórico, nem como determinação.

Além do dízimo, Deus fez registrar a propriedade das ofertas alçadas, ou seja, de contribuições esporádicas que fluíam dos corações de servos movidos pelo desejo de ir além, de sua contribuição dizimal, quer por mera gratidão, quer por uma causa específica, colocada por Deus perante eles, quer por uma necessidade extrema de auxílio, de caráter social.

Nesse sentido, vamos estudar algumas passagens. Elas não esgotam o assunto, mas são ilustrativas de nossas responsabilidades e privilégios perante Deus, no que diz respeito a essa questão.

a. Velho Testamento:

(1) Êxodo 25-36
Este trecho nos fala da construção do tabernáculo. Foi uma construção ordenada por Deus. Aquela construção atenderia a necessidade de providenciar um local de adoração ao povo que peregrinava pelo deserto. Dizia respeito, portanto, ao acondicionamento físico do povo e dos instrumentos litúrgicos. Muitas das coisas determinadas aqui possuem o simbolismo característico do Velho Testamento e eram destinadas a demonstrar a majestade da presença de Deus, a sua santidade e a apontar para o redentor prometido.

Deus, com todo o seu poder, poderia ter produzido do nada uma casa de adoração. Quis ele que tudo fosse feito com os recursos do povo, entrelaçando a construção com o dia-a-dia de Israel. Para a construção e para os ornamentos havia a necessidade de muitos objetos de valor, utensílios, ouro, prata, cobre. Nenhum estudioso sério da palavra de Deus questionaria que o dízimo estava em vigor, nesta ocasião (no máximo temos os que questionam a sua validade no novo testamento, mas quanto à isso, já nos posicionamos). Porque Deus não utilizou os dízimos de seu povo para esta necessidade? A razão é bem direta: porque os dízimos, sendo a contribuição sistemática, já tinham a sua aplicação normal: serviam ao sustento dos levitas, dos líderes religiosos, e serviriam à manutenção dos atos de adoração, mas não poderiam fazer face à necessidade específica, esporádica e extra-normal que agora era colocada por Deus perante seu povo. Deus os chama, conseqüentemente, a contribuir com ofertas alçadas, extras.

O princípio básico está colocado no versículo 2: “Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta alçada; de todo homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada”. A versão Atualizada, diz apenas “oferta”. O original (hebr.: T’Rumáh—oferta alçada, da raiz Rum­–oferta), entretanto, traz “oferta alçada”. Isso não quer dizer nada com relação ao valor – se seria pouco ou muito. Representa algo (um bem, metal precioso, ou dinheiro) extraído do meio do povo que é levantado (alçado) e apresentado ao Senhor como uma dádiva especial, de forma voluntária. Os rituais levíticos posteriores tinham as ofertas alçadas, que eram levantadas perante o altar apenas uma vez, pelo sacerdote, e a oferta “abanada”, que era levantada ou movida várias vezes perante o altar, representando a consagração da dádiva. Tal oferta não era, nem poderia ser, compulsória. Ela era voluntária. O texto diz com muita clareza: todo o homem cujo coração se mover voluntariamente. 
Esses eram os contribuintes. Eles deveriam trazer ofertas especiais, de gratidão e reconhecimento, coisas de valor a serem utilizadas nas necessidades físicas da adoração espiritual que é devida somente a Deus.

Os próximos seis capítulos de Êxodo (até o 31) registram em detalhes o que Deus queria que fosse feito em sua casa de adoração. No capítulo 35, Moisés chama o povo e começa a passar a ele as instruções recebidas de Deus. No versículo 5 ele diz: “Tomai de entre vós uma oferta para o Senhor; cada um cujo coração é voluntariamente disposto, a trará por oferta alçada ao Senhor: ouro, prata e bronze…” Mais uma vez, o caráter voluntário da oferta é ressaltado. Nos versículos 21 e 22, temos o registro da ocorrência das ofertas (recapitulando: primeiro Deus ordena a Moisés, depois Moisés ordena ao povo e agora, temos o fato real). Mais uma vez o registro da voluntariedade é ressaltado. 
Diz o trecho:

(21) E veio todo homem cujo coração o moveu, e todo aquele cujo espírito o estimulava, e trouxeram a oferta alçada do Senhor para a obra da tenda da revelação, e para todo o serviço dela, e para as vestes sagradas.

(22) Vieram, tanto homens como mulheres, todos quantos eram bem dispostos de coração, trazendo broches, pendentes, anéis e braceletes, sendo todos estes jóias de ouro; assim veio todo aquele que queria fazer oferta de ouro ao Senhor.
O versículo 29 reforça ainda mais o princípio:

(29) Trouxe uma oferta todo homem e mulher cujo coração voluntariamente se moveu a trazer alguma coisa para toda a obra que o senhor ordenara se fizesse por intermédio de Moisés; assim trouxeram os filhos de Israel uma oferta voluntária ao Senhor.

Perante essa evidência não podemos, meus irmãos, dizer que o dízimo é a única forma de contribuição encontrada na Palavra de Deus. Ofertas voluntárias têm o seu lugar e são apropriadas em casos específicos, como o que Deus colocou à nossa frente.

Uma segunda coisa que aprendemos nesse trecho, é que a voluntariedade da oferta não significava aleatoriedade. Ou seja, por ser voluntária não significava que não podia ser planejada. Na realidade lemos, no capítulo 36, v. 3, o seguinte: “…e receberam de Moisés toda a oferta alçada, que os filhos de Israel tinham do para a obra do serviço do santuário, para fazê-la; e ainda eles lhe traziam cada manhã ofertas voluntárias”. Ou seja, enquanto durou a construção, as ofertas eram trazidas sistematicamente, repetidamente, a cada manhã. Não vamos pensar, portanto, que o planejamento e sistematização tiram a espiritualidade da oferta planejada e dada de coração. Essa sistematização muito deve ter auxiliado aqueles que necessitavam dar andamento à construção.

Que glorioso resultado foi alcançado com o entendimento correto e com a predisposição do povo de Deus, nessa dádiva de ofertas. Vejam o que registram os versículos 4 a 7, deste mesmo capítulo 36:

(4) Então todos os sábios que faziam toda a obra do santuário vieram, cada um da obra que fazia,

(5) e disseram a Moisés: O povo traz muito mais do que é necessário para o serviço da obra que o Senhor ordenou se fizesse.

(6) Pelo que Moisés deu ordem, a qual fizeram proclamar por todo o arraial, dizendo: Nenhum homem, nem mulher, faça mais obra alguma para a oferta alçada do santuário. Assim o povo foi proibido de trazer mais.

(7) Porque o material que tinham era bastante para toda a obra, e ainda sobejava.
Que coisa gloriosa se Deus fosse servido mover o nosso povo ao ponto em que precisaríamos vir até à frente PROIBIR, para que nada mais se trouxesse!

(2) Levítico 22:18-19
Este outro trecho da Palavra de Deus está inserido nas regras e determinações sobre o dia-a-dia das práticas do povo de Deus. Temos esta colocação nos versículos 18 e 19:

“Fala a Arão, e a seus filhos, e a todos os filhos de Israel, e dize-lhes: Todo homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros em Israel, que oferecer a sua oferta, seja dos seus votos, seja das suas ofertas voluntárias que oferecerem ao Senhor em holocausto, para que sejais aceitos, oferecereis macho sem defeito, ou dos novilhos, ou dos cordeiros, ou das cabras.”

Desse registro aprendemos:

1. Mesmo sem nenhuma ocasião especial, a prática de ofertas voluntárias era permitida e disciplinada no meio do povo de Deus. Não existe, portanto incompatibilidade entre os dízimos e ofertas.

2. O que era ofertado deveria vir sem defeito, ou seja, não ofertamos daquilo que nós mesmos não queremos, mas sim do que é agradável e aceitável. Deus merece o melhor.

3. A determinação era para os israelitas e para os estrangeiros em Israel, ou seja, não podemos restringir a oferta voluntária apenas aos membros do povo de Deus. Lembremo-nos, entretanto, que são ofertas voluntárias e não demandadas, solicitadas, constrangidas. A responsabilidade primordial é do Povo de Deus.

b. Novo Testamento.

(1) Uma Oferta a Paulo
Paulo estava na prisão quando escreveu a carta aos Filipenses. É uma carta de amor e gratidão, na qual ele expressa a possibilidade do crente exercitar essa alegria em Cristo independentemente das circunstâncias pelas quais está passando. Pensemos na situação de Paulo. Ela era dura e amarga. Estava afastado do convívio dos seus amigos, em uma prisão e certamente tinha várias necessidades.
A igreja de Filipo, consciente das necessidades de Paulo, levantou e enviou uma oferta específica para ele. No capítulo 4 (10-19) temos o registro e alguns detalhes da ocorrência. Lemos ali:

(10) Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade.

(11) Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre.

(12) Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade.

(13) Posso todas as coisas naquele que me fortalece.

(14) Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição.

(15) Também vós sabeis, ó Filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente;

(16) porque estando eu ainda em Tessalônica, não uma só vez, mas duas, mandastes suprir-me as necessidades.

(17) Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta.

(18) Mas tenho tudo; tenho-o até em abundância; cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.

(19) Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus.

Vemos que é o agradecimento de ofertas, remetidas duas vezes e com toda probabilidade em dinheiro, pois no verso 16 lemos: “não somente uma vez, mas duas, mandastes o bastante para as minhas necessidades”. Essas ofertas foram levadas à Paulo por Epafrodito, como nos fala o verso 18, e é exatamente para este versículo que eu gostaria de dirigir a nossa atenção, pois dele extraímos quatro lições sobre ofertas.

Aprendemos que a oferta voluntária:

1. É um ato desejável por Deus (“aroma suave”). A oferta é comparada a um aroma suave, a um perfume não agressivo, mas suave. Aquele cheiro que permanece e que nos traz memórias e lembranças, que nos faz desejar estar de novo sentindo ele. Nesse sentido, é um privilégio poder contribuir, poder fazer algo que é desejável por Deus. Veja no versículo 10 que Paulo diz que “..vos faltava oportunidade”. Isso significa que devemos ver as situações de necessidade de contribuição que Deus coloca à nossa frente, como grandes oportunidades a serem aproveitadas.

2. É um ato aceitável por Deus (“Sacrifício aceitável”). Não podemos, portanto, dizer que ofertas não sejam aceitas por Deus, pois Paulo nos ensina o contrário.

3. É um ato agradável a Deus (“aprazível”). O texto diz que ela é aprazível, ou seja, traz prazer a Deus.

4. É um ato direcionado a Deus (“a Deus”, traz o final do verso). Se vamos contribuir com outro propósito em mente: prosperidade, barganha com Deus, para agradar o Conselho, para agradar o pastor, até para termos mais orgulho da Igreja, tudo isso foge ao propósito principal: a oferta correta é direcionada a Deus e somente a ele. Nesse sentido é que acompanha o dízimo como um ato de gratidão e de louvor.

(2) Uma oferta aos Crentes de Jerusalém
Uma outra situação de necessidade foi registrada no Novo Testamento: os crentes de Jerusalém passaram a ser intensamente perseguidos e começaram a passar dificuldades financeiras. Muitos foram expulsos de suas casas, outros perderam suas ocupações, não podiam exercer suas profissões. Paulo registra que coletas foram feitas em favor das necessidades destes crentes em Romanos 15:25-28 (“…coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em Jerusalém.”) pelas igrejas da Grécia (Acáia) e Macedônia. Em 2 Coríntios 8 e 9 ele menciona essas coletas e fornece vários princípios relativos a contribuições.

Peço que os irmãos notem, neste trecho e incidente, os seguintes ensinamentos:

1. Proporcionalidade e voluntariedade não são incompatíveis entre si – 2 Co 8.3: “…na medida de suas posses.” Mais uma vez a questão da proporcionalidade no dar. Teríamos, possivelmente, uma inferência aos dízimos. Mas o versículo continua e registra: “e mesmo acima delas se mostraram voluntários.” Não resta dúvida que fala de contribuições voluntárias, destinadas a fazer face à uma necessidade. Contribuindo, dessa forma eles foram além dos dízimos, além da contribuição sistemática. Os versos 12 e 13 reforçam a questão da proporcionalidade e da justiça nas contribuições: Deus não quer o que o homem não tem. O seu propósito não é o de dar sobrecarga, mas o de proporcionar a igualdade.

2. O privilégio de contribuir – 2 Co 8.4. Lemos que os crentes dessas regiões “pediram com muitos rogos” a graça de participarem da assistência que se apresentava! Que diferença aos dias de hoje. Verificamos que hoje os solicitantes e não os crentes é que emitem “muitos rogos” compelindo os contribuintes a darem tudo de qualquer forma, sob qualquer pretexto. Que bênção seria se tivéssemos os diáconos sendo abordados “com muitos rogos” por crentes ansiando a participação no privilégio de contribuir com suas ofertas às necessidades da igreja! Este privilégio é uma atitude desejável - 2 Co 8.7. Paulo suplica para que eles continuem “abundando nesta graça”, ou seja, a prática da contribuição voluntária é algo desejável, é uma graça da parte de Deus aos seus servos. O desprendimento das coisas materiais e a colocação delas ao serviço do Mestre são um alvo a ser alcançado pelo servo fiel.

3. A procedência da contribuição verdadeira. É o coração sincero. A oferta, na visão de Paulo, era uma prova da “sinceridade do vosso amor” (8.8). Paulo estava dizendo que aquelas ações provariam as palavras de apreço, que não ficaram só nas palavras, mas estavam sendo transformadas em ação.

4. A importância do planejamento. Em 9.3, Paulo escreve que o fato das igrejas da Acáia (Grécia) estarem preparadas desde o ano anterior, para tal contribuição era uma prova do “zelo” deles e representava “um estímulo” para muitos. Não existia, portanto, nada não espiritual no planejar. Na realidade, Paulo informa que mandou um mensageiro de ante-mão, para que a reputação dos irmãos não fosse abalada (9.3) e eles estivessem preparados com a oferta que estavam a coletar. Paulo recomenda, portanto que “preparem de antemão a vossa dádiva”, chamando-a de “expressão de generosidade e não de avareza.” Muitas vezes somos chamados a planejar nossas ofertas porque isso pode auxiliar os que dela precisam e pode servir também de estímulo aos demais que, vendo a fidelidade da Igreja, se animam a contribuir.

(3) Uma oferta de uma pessoa pobre
Em Marcos 12.41-44 e Lucas 21.1-4 temos o registro de uma oferta trazida por uma viúva pobre ao templo. Lemos nesses trechos:

MARCOS 12

(41) E sentando-se Jesus defronte do gazofilácio (cofre das ofertas), observava como a multidão lançava dinheiro no cofre; e muitos ricos depositavam grandes quantias.

(42) Vindo, porém, uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.

(43) E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no gazofilácio;

(44) porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha, mesmo todo o seu sustento.

LUCAS 21

(1) Jesus, levantando os olhos, viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre;

(2) viu também uma pobre viúva lançar ali duas pequenas moedas;

(3) e disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos;

(4) porque todos aqueles deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o seu sustento.

Podemos, desse resgistro, extrair as seguintes lições:

1. Deus se agrada das ofertas. Isso fazia parte da liturgia e não há qualquer palavra de condenação à prática.

2. Faz parte, portanto, de nossos deveres, pois Jesus aprovou a oferta da viúva.

3. A evidência do amor, não é a quantidade dada, mas a quantidade comparada com as nossas posses.

4. Deus requer de nós o mínimo, mas é apropriado até darmos tudo o que temos a Ele.

5. Deus não despreza a oferta humilde, na realidade Ele lhe dá maior valor do que a que procede do sobejo.

6. Não existe pessoa, portanto, que não possa, dessa forma, mostrar o seu amor a Deus.

7. Devemos estar constantemente pesquisando os nossos motivos, nas nossas ofertas.

8. Devemos pesquisar os nossos valores, também: estamos ofertando somente daquilo que sobra, aquilo que não tem serventia para ninguém?

3. CONCLUSÃO

Muitas outras passagens e ensinamentos poderiam ser examinados. Acreditamos, entretanto, que aqueles que tivemos a oportunidade de estudar, representam prova de que Deus se agrada e se tem prazer em nossas ofertas. Essas não tomam o lugar do dízimo, mas representam uma forma adicional de prestarmos a nossa adoração e amor para com Ele. Que possamos ter a visão bíblica da realidade, que não sejamos avarentos, mesquinhos e que estejamos sempre prontos a atender as necessidades que Deus colocou na nossa frente, sempre com ações de graças por termos parte em tão grande privilégio.

(Estudo adaptado de uma palestra originalmente proferida em uma Igreja Presbiteriana formada na “cultura do dízimo” mas com muitos questionamentos com relação a quaisquer outros tipos de ofertas.)

March 25, 2015

As Razões dos Não-Dizimistas - Rev. Hernandes Dias Lopes


A doutrina do dízimo é inaceitável para aqueles que ainda não tiveram uma experiência pessoal com Jesus Cristo. Isto porque não foram ainda marcados pela consciência da causa de Deus nem pela prioridade do Seu Reino. No Novo Testamento a palavra DÍZIMO aparece 9 vezes e ligadas a duas situações:

1) MATEUS 23.23 = Partindo dos lábios de Jesus em relação aos fariseus. Jesus aqui reafirma a necessidade do dízimo, ao mesmo tempo que denuncia sua prática como demonstração de piedade exterior (Lc 18.12) – “Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.” Também Jesus denuncia a prática do dízimo como substituição de valores do Reino tais quais: justiça, misericórdia e fé (Lc 11.42).

2) HEBREUS 7. 1-10 = Eis as lições desse texto: a) O Pai da fé deu dízimo de tudo – v. 2; b) O pai da fé deu o dízimo do melhor – v. 4; c) A entrega dos dízimos se deu não por pressão da lei, uma vez que o povo israelita ainda não existia e, portanto, muito menos a lei judaica – v. 6; d) Hebreus nos faz perceber e reconhecer a superioridade do valor do dízimo que é dado a Cristo (imortal) em relação ao dado aos sacerdotes (mortais) – v. 8; e) O autor destaca que os que administram os dízimos também devem ser dizimistas – v. 9.
Ser ou não ser dizimista é uma questão de acreditarmos na causa que abraçamos, na “pérola que encontramos”. Hoje, muitos crentes não são fiéis a Deus na entrega dos dízimos. Para justificar esta atitude, criam vários justificativas e desculpas. Se dependesse deles, a igreja fecharia as portas. Não existiriam templos, nem pastores, nem missionários, nem bíblias distribuídas, nem assistência social. Eis as justificativas clássicas dos não-dizimistas:

I. JUSTIFICATIVA TEOLÓGICA: Ah, eu não sou dizimista, porque DÍZIMO é da lei. E eu não estou debaixo da lei, mas sim da graça”. Sim! O dízimo é da lei, é antes da lei e é depois da lei. Ele foi sancionado por Cristo. Se é a graça que domina a nossa vida, porque ficamos sempre aquém da lei? Será que a graça não nos motiva a ir além da lei? Veja: a lei dizia “Não matarás = EU PORÉM VOS DIGO AQUELE QUE ODIAR É RÉU DE JUÍZO”. A lei dizia: “Não adulterarás = EU PORÉM VOS DIGO QUALQUER QUE OLHAR COM INTENÇÃO IMPURA…”. A lei dizia:” Olho por olho, dente por dente = EU PORÉM VOS DIGO: SE ALGUÉM TE FERIR A FACE DIREITA, DÁ-LHE TAMBÉM A ESQUERDA”. A graça vai além da lei: porque só nesta questão do dízimo, ela ficaria aquém da lei? Esta, portanto, é uma justificativa infundada. Mateus 23.23 mostra que justiça, misericórdia e fé também são da lei. Se você está desobrigado em relação ao dízimo por ser da lei, então você também está em relação a estas virtudes.

II. JUSTIFICATIVA SENTIMENTAL. Muitos dizem: “A bíblia diz em II Coríntios 9.7 ‘Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria’ (= contribuição espontânea e com alegria). Só que este texto não fala de dízimo e sim de oferta. Dízimo é dívida. Não pagar dízimo é roubar de Deus. Perguntamos também: O que estará acontecendo em nosso coração que não permite que não tenhamos alegria em dizimar? Em sustentar a Causa que abraçamos e defendemos?

III. JUSTIFICATIVA FINANCEIRA. “O que eu ganho não sobra ou mal dá para o meu sustento”. 1) O dízimo não é sobra = Dízimo é primícias. “Honra ao Senhor com as primícias da tua renda.” Deus não é Deus de sobras, de restos. Ele exige o primeiro e o melhor. 2) Contribua conforme a tua renda para que a tua renda não seja conforme a tua contribuição = Deus é fiel. Ele jamais fez uma exigência que não pudéssemos cumprir. Ele disse que abriria as janelas dos céus e nos daria bênçãos sem medidas se fôssemos fiéis. Ele nos ordenou a fazer prova Dele nesta área. Ele promete abrir as janelas do céu! Ele promete repreender o devorador por nossa causa. 3) Se não formos fiéis, Deus não deixa sobrar = Ageu diz que o infiel recebe salário e o coloca num saco furado. Vaza tudo. Foge entre os dedos. Quando somos infiéis, fechamos as janelas dos céus com as nossas próprias mãos e espalhamos o devorador sobre os nossos próprios bens.

IV. JUSTIFICATIVA ASSISTENCIAL. “Prefiro dar meu dízimo aos pobres. Prefiro eu mesmo administrar meu dízimo”. A Bíblia não nos autoriza a administrar por nossa conta os dízimos que são do Senhor. O dízimo não é nosso. Ele não nos pertence. Não temos o direito nem a permissão nem para retê-lo nem para administrá-lo. A ordem é: TRAZEI TODOS OS DÍZIMOS À CASA DO TESOURO PARA QUE HAJA MANTIMENTO NA MINHA CASA. A casa do Tesouro é a congregação onde assistimos e somos alimentados. Mas será que damos realmente os “nossos” dízimos aos pobres? Com que regularidade? Será uma boa atitude fazer caridade com a parte que não nos pertence?

V. JUSTIFICATIVA POLÍTICA. “Eu não entrego mais os meus dízimos, porque eles não estão sendo bem administrados.” Não cabe a nós determinar e administrar do nosso jeito o dízimo do Senhor que entregamos. Se os dízimos não estão sendo bem administrados, os administradores darão conta a Deus. Não cabe a nós julgá-los, mas Deus é quem julga. Cabe a nós sermos fiéis. Não será também que esta atitude seja aquela do menino briguento, dono da bola, que a coloca debaixo do braço sempre que as coisas não ocorrem do seu jeito? Deus mandou que eu trouxesse os dízimos, mas não me nomeou fiscal do dízimo.

VI. JUSTIFICATIVA MÍOPE.  “A igreja é rica e não precisa do meu dízimo.” Temos conhecimento das necessidades da igreja? Temos visão das possibilidades de investimento em prol do avanço da obra? Estamos com essa visão míope, estrábica, amarrando o avanço da obra de Deus, limitando a expansão do Evangelho? AINDA, não entregamos o dízimo para a igreja. O dízimo não é da igreja. É DO SENHOR. Entregamo-lo ao Deus que é dono de todo ouro e de toda prata. Ele é rico. Ele não precisa de nada, mas exige fidelidade. Essa desculpa é a máscara da infidelidade.

VII. JUSTIFICATIVA CONTÁBIL. “Não tenho salário fixo e não sei o quanto ganho.” Será que admitimos que somos maus administradores dos nossos recursos? Como sabemos se o nosso dinheiro dará para cobrir as despesas de casa no final do mês? Não sabendo o valor exato do salário, será que o nosso dízimo é maior ou menor do que a estimativa? Porque ficamos sempre aquém da estimativa? Será auto-proteção? Será desinteresse?

VIII. JUSTIFICATIVA ECLESIOLÓGICA. “Não sou membro da igreja”. Acreditamos mesmo que os nossos deveres de cristãos iniciam-se com o Batismo e a Profissão de Fé ou com a inclusão do nosso nome num rol de membros? Não será incoerência defendermos que os privilégios começam quando aceitamos a Cristo: (o perdão, a vida eterna) e os deveres só depois que nos tornamos membros da igreja? Somos menos responsáveis pelo crescimento do Reino de Deus só porque não somos membros da igreja?


CONCLUSÃO. É hora de abandonarmos nossas evasivas. É hora de darmos um basta às nossas desculpas infundadas. É hora de pararmos de tentar enganar a nós mesmos e convencer a Deus com as nossas justificativas. É hora de sermos fiéis ao Deus fiel. É hora de sabermos que tudo é de Deus: nossa casa, nosso carro, nossas roupas, nossas jóias, nossos bens, nossa vida, nossa saúde, nossa família. TUDO É DELE. Somos apenas mordomos, administradores. Mordomos e não donos. Deus quer de nós obediência e não desculpas. Fidelidade e não evasivas. Que atitude vamos tomar? Nosso coração está onde está o nosso tesouro. Se buscarmos em primeiro lugar o Reino de Deus, não vamos ter problemas com o dízimo. Amém.

Dízimos & Ofertas: Obediência de fé e testemunho de gratidão - Rev. Hermisten M.P. Costa


           A Igreja tem corrido o sério risco de deixar de usufruir muitas bênçãos de Deus, pelo simples fato de temer ser confundida com as seitas que fazem um uso equivocado de determinado ensino bíblico. Como se tornou comum em nosso país, entre outras explorações, a exploração religiosa, fazendo com que os fiéis entreguem às igrejas seus bens como forma de negociar com Deus, nós, às vezes incorremos no erro de não falar de dízimo e ofertas em nossas igrejas, deixando assim, de tratar deste maravilhoso ensinamento bíblico, tão abençoador para o povo de Deus. Vamos ao estudo.

1. O Dízimo no Antigo Testamento:
             O Dízimo no Antigo Testamento está sempre relacionado com a fé em Deus, e com a separação da décima parte de certas possessões para usos especiais, de acordo com a ordem de Deus.

            A) Entre os Patriarcas:

1)    Abraão dizimou os despojos da guerra entregando-o a Melquisedeque (Gn 14.20). É importante observar que não há nenhuma explicação do fato nem se menciona qualquer lei que obrigasse Abraão a dar o dízimo. No entanto, a evidência é que essa prática fazia parte da vida religiosa de Abraão. Outro ponto importante, é que Melquisedeque era um tipo de Cristo (Hb 7.4,8,17). Portanto, Abraão neste ato não estava simplesmente honrando a Melquisedeque mas, a Cristo, a Quem Melquisedeque tipificava, apontando assim, para o caráter eterno do Seu sacerdócio.[1]
2)    Jacó se dispõe a dar o dízimo. A sua atitude foi espontânea como resultado da sua experiência com Deus em Betel (Gn 28.18-22). É provável que nessa época o dízimo fosse um elemento esporádico na tradição religiosa dos patriarcas, ligado à necessidade de retribuir a Deus as suas dádivas, como na vitória de uma batalha, ou no sucesso de uma jornada importante.

            B) Na Lei de Moisés:

          Aqui o dízimo passa a exercer papel de grande relevância. Podemos observar cinco pontos importantes com respeito ao dízimo:

1)    O povo deveria dar os dízimos de todos os produtos da terra e dos rebanhos (Lv 27.30). Vemos também aqui um fim espiritual pedagógico: “Para que aprendas a temer ao Senhor  teu Deus todos os dias” (Dt 14.22-23).
2)    Os dízimos pertencem ao Senhor (Lv 27.30). Contudo, o seu propósito imediato era o sustento dos levitas – que não teriam outra herança entre os filhos de Israel –, em troca dos serviços prestados na Congregação. Por sua vez, os levitas davam o dízimo dos dízimos ao sacerdote (Nm 18.21-32; Dt 12.12,19; 14.27).
3)    Outro propósito dos dízimos era o auxílio aos necessitados – o estrangeiro, órfão, a viúva – que assim não ficariam desamparados na terra de Israel  (Dt 14.28-29; 26.12-13).
4)    Ainda outro propósito dos dízimos era a celebração de uma refeição cultual pelas famílias do povo de Deus, juntamente com os levitas de suas respectivas cidades (Dt 12.7,12). Certamente, nessa refeição seria consumida apenas uma parte dos dízimos. Para evitar que os deuses cananitas fossem honrados na época da ceifa, insiste-se que toda cerimônia religiosa associada com a colheita e com o dízimo seja celebrada no lugar determinado por Deus e não num santuário pagão (Dt  12.13,14; 14.23). Séculos depois, Deus recrimina o povo de Israel pela sua insensibilidade espiritual em entender que era Ele mesmo Quem lhe dava bens e fartura nas colheitas, não baal, à quem atribuíam estas bênçãos, retribuindo-as com culto idólatra: “Israel é vide luxuriante, que dá o fruto; segundo a abundância do seu fruto, assim multiplicou os altares; quanto melhor a terra, tanto mais belas colunas fizeram” (Os 10.1); “Eu ensinei a andar a Efraim; tomei-os nos meus braços, mas não atinaram que eu os curava” (Os 11.3). “Ela, pois, não soube que eu é que lhe dei o grão, e o vinho, e o óleo, e lhe multipliquei a prata e o ouro, que eles usaram para Baal” (Os 2.8/2.4). O povo preferia crer nos deuses cananitas, por serem em geral deuses da fertilidade.
5)    Havia duas maneiras diferentes de se entregar o dízimo:
a) Anualmente:   Anualmente o dízimo era levado ao lugar determinado por Deus para o culto  (Dt 12.5,11; 14.22-23). No caso dos grãos e dos frutos, podiam ser substituídos por um equivalente monetário; contudo, mais um quinto do valor deveria ser adicionado (Lv 27.31). Contudo, os dízimos dos gados e dos rebanhos não podiam ser remidos (Lv 27.32-33).

b)  Trienalmente:  A cada três anos, há um direcionamento diferente do dízimo, que então era utilizado para os necessitados de cada cidade ao invés de ser levado ao santuário central. O dízimo permanece nas diferentes cidades de Israel sendo entregue aos levitas e aos necessitados da cidade para seu sustento (Dt 14.28-29; 26.12-15). Contudo, quando o povo fosse ao santuário central a fim de adorar, deveria fazer a sua confissão perante Deus, indicando ter cumprido fielmente a ordem divina. (Cf. Dt 26.13-15).

            C) Período Posterior ao Pentateuco:
           
                         O povo constantemente quebrava a Lei; Deus então o disciplinava e levantava homens para promoverem reformas em Israel. A infidelidade na prática do dízimo sempre esteve ligada a derrocada espiritual de Israel. Podemos mencionar alguns fatos:

1)    A Reforma de Ezequias teve como um dos elementos característicos, o restabelecimento dos dízimos e ofertas, tendo o povo de Israel e de Judá superado às expectativas  (2Cr 31.4-12).
2)    O povo quando volta do exílio babilônico renova sua aliança com Deus, prometendo entregar seus dízimos e ofertas (Ne 10.37-38; 12.44-47; 13.10-12).
3)    A Repreensão de Deus (Ml 3.6-12). Após o Cativeiro o povo voltou e reconstituiu a sua vida, os muros,  o templo...  Promessas foram cumpridas, votos foram feitos e renovados... Contudo, o tempo passou, o conforto, ainda que mesclado com alguns dissabores, faz com que nos esqueçamos das angústias do passado. Malaquias reflete um tempo posterior (c. 440 a.C.) quando o povo já se esquecera da fidelidade à aliança de Deus. Os líderes do povo – Esdras, Neemias – tinham morrido e parecia que nada de novo acontecia. Deus se esquecera do Seu povo? Era uma pergunta comum. Neste contexto a religiosidade nem sequer era aparente;  o descaso era visível: ofereciam a Deus pão imundo (Ml 1.7); animal cego, coxo, enfermo, dilacerado (Ml 1.8,13). A fé se esfriara, o povo perdera a dimensão da realidade da presença e do poder de Deus. É neste contexto que nos deparamos com a profecia de Malaquias. Aqui Deus mostra como este abandono tem reflexos na vida familiar.  A aliança tem como ingrediente incondicional a fidelidade. Deus mostra que o povo de Judá o desonrava (Ml 1.6; 2.2): Nos seus pensamentos (1.7; 2.17); Nos sacrifícios e ofertas (1.7,8); Nas palavras (1.2,13; 2.17; 3.13-15); Abandono da Lei e da Instrução (2.6-9;3.7); Parcialidade (2.9); Profanaram a aliança (2.8,10,11); Visão precipitada de Deus (2.17; 3.14,15);  Infidelidade nos dízimos e ofertas (3.8-10)

2. O Significado do Dízimo:

            O dízimo baseia-se no fato de  Deus ser o proprietário da terra e o originador de todas as bênçãos  (Lv 25.23; Sl 24.1; 100.3).  Ao entregar o dízimo o israelita reconhecia que Deus era o dono da terra e de seus frutos (1Cr 29.11,14) e, o melhor deve ser dado a Deus (1Sm  2.29; Ml 1.6-14).
            O homem é sempre responsável diante de Deus pelo que possui. Para recordar ao homem esta responsabilidade, Deus estabeleceu certas leis com respeito:
1)    Tempo: Ex 20.10; Lv 25.11.
2)    Entrega do Primogênito:  Ex 13.11-13; 22.29.
3)    A Propriedade:  Lv 25.25-28.
            A não entrega do dízimo considerava-se como roubar a Deus (Ml 3.8,10), ou seja, roubar-lhe o devido reconhecimento de que tudo pertence a Ele (Cf. Sl 50.1-23). “Deus ordenou ao povo de Israel que Lhe oferecesse os primeiros frutos de milho, como uma mostra solene de que lhe era ilegítimo gozar de uma bênção que primeiramente não houvesse sido oferecida a Ele.”[2]
            Como já vimos, os dízimos serviam para o sustento dos levitas e o socorro aos necessitados de Israel; por isso, devem ser olhados prazerosamente como uma oportunidade que Deus nos concede de participar na obra de Deus e na Sua preocupação para com os pobres e necessitados.
            Entregar o dízimo, traria a bênção divina (Dt 14.28-29; 26.14-15); retê-lo, traria maldição (Ml 3.8-10).

3. O Dízimo no Novo Testamento:

             Na realidade, não encontramos nenhuma instrução no Novo Testamento dada à Igreja com respeito ao dízimo.  Todavia a prática é mencionada e incentivada nos moldes da Lei. Devemos também nos lembrar que esta instituição fazia parte da vida cotidiana do judeu, não sendo uma instituição nova ou caduca; o que precisava ser feito e foi, era insistir quanto ao espírito que deveria acompanhar essa prática.
            Paulo, ainda que não se referindo especificamente ao dízimo,  ensinou que o cristão deve contribuir conforme tiver proposto em seu coração (2Co 9.7) e, de acordo com a sua prosperidade (1Co 16.2).
            A contribuição parte da consciência de ser servo de Cristo (Rm 6.16; 1Co 7.22; Ef 6.6; 1Pe 2.16), sabendo que nem ele nem suas posses são realmente dele mesmo para empregar  como deseja (1Co 6.20), antes é um mordomo encarregado com o manejar responsável dos bens do Seu Mestre (1Co 4.2; 1Pe 4.10) a Quem deverá prestar contas daquilo que faz com esses bens (Rm 14.12).
            O cristão contribui porque tem a generosidade de Cristo como seu modelo (2Co 8.9) e, o poder impulsionador do Espírito de Deus dentro dele é sua motivação; por isso, a sua contribuição não é feita com relutância ou compulsão (2Co 9.7), nem se limita a um dízimo da renda de cada ano. O dízimo é o começo, não o fim.

4. O Dízimo na atualidade:

     A) Desculpas dos não dizimistas:

1)    “O dízimo é a Lei de Moisés, nós cristãos não somos legalistas”:

R. Abraão viveu quase 500 anos antes de Lei de Moisés, e a Bíblia nos diz que ele pagou o dízimo a Melquisedeque (Gn 14.20). Notemos que Jesus não veio quebrar a Lei (Mt 5.17).

2)    “Eu administro o meu dízimo...dou até mais!...”:

R. O dízimo deve ser entregue na Casa do Senhor (Ml 3.10/Dt 12.5,11,13,14; 14.23). “Todo o dízimo deve ser levado à Casa de Deus onde damos adoração. É parte dessa adoração. Não mandamos o hino para ser cantado num hospital, nem escrevemos a oração para que a leiam num orfanato: damos a Deus adoração integral em Sua casa.”[3] Outro ponto, é que não compete a nós administrá-lo. Eu posso administrar o que é meu; no caso, o dízimo pertence ao Senhor, nós apenas o devolvemos. As ofertas sim, essas são além do dízimo. Não há ofertas sem fidelidade no dízimo!

3)    “Jesus aboliu o dízimo ou, não há base Neotestamentária para a prática do dízimo”:

R. Jesus não o aboliu; simplesmente repreendeu os escribas e fariseus porque se descuidavam de fazer toda a vontade de Deus (Mt 23.23). A prática do dízimo não elimina as nossas outras responsabilidades para com Deus; o nosso Deus, Senhor de todas as coisas não pode ser subornado.                   Como vimos, o Novo Testamento não insiste na prática do dízimo, visto que o mesmo já era conhecido e praticado de um modo geral pelos judeus.

4)    “Ganho muito pouco... Meu dinheiro não dá... Quando termino de pagar minhas contas, não sobra nada”:

R. O dízimo não é do que sobra, antes, deve ser as primícias (Dt 18.4; 26.2/Ml 1.6-14). Quem não aprende a ser fiel no pouco não será no muito (Dt 16.17; Lc 16.10). A vida cristã é um compromisso de fé, no qual depositamos toda a nossa confiança na Palavra de Deus; o dízimo é uma instituição divina e, a Palavra de Deus nos diz que a vontade de Deus é boa (Rm 12.2). Deus nos desafia a prová-lo, sendo-Lhe fiel (Sl 34.8/Ml 3.10).

            B) O Que a Bíblia diz dos que são infiéis no Dízimo:

1)    Ajunta dinheiro em saco furado:  Ag 1.2-10.
2)    São amaldiçoados por estarem roubando a Deus: Ml 3.9-10.
3)    Não podem manter comunhão com Deus: Ml 3.9/1Jo 3.22. Como poderemos estar em comunhão com Deus se não fizermos o que Ele manda?
  
            C) Razões para a nossa fidelidade na entrega dos dízimos:
                                                                                                                                               
1)    Porque o dízimo está situado no contexto total da Lei Judaica; Lei esta que Jesus veio cumprir, não destruir; o dízimo tem suas raízes na fé hebraica, conforme dada por Deus  segundo o testemunho infalível das Escrituras.
2)    Mesmo  que queiramos nos apartar da Lei Judaica, não podemos nos esquecer da necessidade de estabelecer um princípio para a mordomia; e o crente fará bem se ao menos começar ali onde tem um precedente bíblico; e, devemos considerar que Paulo quando nos fala sobre o assunto, não nos aconselha a fazer menos do que a Lei requer.

3)    Tudo foi criado por Deus e a Ele pertence

a)    Ele criou tudo (Gn 1; Sl 19.1-6). A Ele pertence a terra (Sl 24.1-2); o gado (Sl 50.10); a prata e o ouro (Ag 2.8); os filhos que temos (Sl 127.3) e nós próprios (1Co 6.19-20).
b)    Deus permite que guardemos para nosso uso 9/10 do que ganhamos e só exige 1/10. Podemos observar a generosidade de Deus.
c)    O homem é apenas o administrador dos bens de Deus (Gn 1.28-30) e, teremos de prestar contas a Deus (Rm 14.10-12; 2Co 5.10). Quando Deus vê em nós administradores fiéis, Ele, conforme Sua determinação e graça, nos confia mais da Sua propriedade para administrar.
                                                                                                                                               
4)    Deus deve ser glorificado com os nossos bens: Pv 3.9.
5)    O Dízimo é o mínimo: A viúva pobre depositou no gazofilácio tudo o que tinha (Mc 12.41-44). Observemos nessa passagem que Jesus Cristo se deteve em observar como as pessoas entregavam as suas ofertas, não se impressionando com as grandes quantias mas, com o significado da oferta para cada um.
6)    O Dízimo é ordenado por Deus: Dt 14.22.
7)    O Dízimo é santo ao Senhor: Lv 27.30.
8)    Jesus Cristo deseja que o seu povo seja dizimista: Mt 22.21/Mt 23.23.
9)    O Dízimo é agradável a Deus:  2Co 9.7/Hb 13.16.
10) É uma honra ter com que contribuir:  Ex 35.22; 36.5; 1Cr 29.3-15; Ed 1.5-6; 2.68-69; 8.25; Lc 8.3; 2Co 8.3-4.
11)  O dízimo é um ato de culto: O dízimo não é um ato frio, mecânico, distante do culto. Antes, ele é uma forma de culto, não devendo estar dissociado do mesmo (Dt 26.10-11; 1Cr 16.29).
12)  Fortalece o espírito comunitário (At 4.32-37). Na sua prática, revelamos uma responsabilidade recíproca, nos estimulando mutuamente (2Co 9.2).
13)  Proporciona melhor ambiente na Igreja, acabando com as campanhas, festinhas, bazares, listas, etc.
14)  O dízimo é uma forma de contribuição. Todo membro da Igreja deve ser  voluntário, metódico e proporcional na sua contribuição. Se ele há de adotar algum outro plano, fará melhor adotando o plano que o Senhor ensinou ao povo de Deus. Por sua vez, a Igreja tem necessidades sistemáticas não meramente ocasionais.  
15)  A Igreja cresce:  At 2.41-44.
16)  Há amadurecimento espiritual do dizimista pela sua experiência com Deus: Sl 37.23-25; Ml 3.10; Mt 6.25,33.
17)  A entrega do dízimo torna a nossa consciência mais sensível à nossa dependência de Deus, porque sem Ele nada teríamos, nem a própria vida.
18)  É uma expressão de fé: Ml 3.10; Sl 23.1; 40.17; 2Co 9.8.
19)  É uma expressão de gratidão: O dízimo expressa a nossa gratidão a Deus pelas bênçãos dispensadas:  Dt 16.17; 1Cr 29.14.

 5. Como devemos entregar o Dízimo:

1)    Com amor: Mt 5.23-24; 1Co 13.3; 2Co 8.7-9.
2)    Com alegria: 2Co 8.2; 9.7.[4] O texto sagrado diz que Deus ama a pessoa que dá com alegria, não o dinheiro  que foi dado.
3)    Com espírito voluntário: Ex 25.2; 35.5; Ed 8.28; 2Co 8.3,4,12.
4)    Com liberalidade: 1Cr 29.9; 2Cr 15.18; 31.2-12; Rm 12.8; 2Co 8.7; 9.11-13.
5)    Regularmente:
a)    Cada semana:  1Co 16.2.
b)   Sem demora:  Ex 22.29-30; Ne 13.10-12.
     6)    Segundo as nossas posses: Dt 16.17; Ed 2.69/2Co 8.12
7)    Ser entregue no lugar determinado por Deus: Dt 12.5,6; Ml 3.10/Mc 12.31.
  
6. As promessas de Deus para os seus fiéis mordomos:

1)    Multiplica as Suas bênçãos: Ml 3.10b; Mt 25.21; 2Co 9.9-10.
2)    Haverá mantimento na Casa do Senhor; não faltarão meios para dar prosseguimento ao Seu Trabalho: Ml 3.10a/2Cr 31.2-5;Ne 13.10-14.
3)    Produtividade nos campos e nos negócios:  Ml 3.11; Pv 3.9-10.
4)    Reconhecimento das bênçãos por parte do mundo: Ml 3.12.
  
Anotações Finais:

            Devemos ter em mente que somos nós que precisamos devolver aquilo que pertence a Deus. Deus não precisa de nossos dízimos e ofertas, nós é que carecemos dizimar (Sl 50.1-23). Não pensemos que isto seja coisa secundária. Jesus Cristo, em Seu curto e urgente Ministério terreno, ocupou-se em observar o como as pessoas contribuíam e, diz o texto sagrado que Ele chamou os Seus discípulos e disse-lhes: “Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Mc 12.43-44). Notemos o quão importante Jesus considerou a atitude daquela viúva a ponto de reunir seus discípulos para comentar o assunto. Entregar nossos dízimos é um testemunho de fé no cuidado providente de Deus e gratidão pela sua manutenção diária. O desafio de Deus continua ressoando até nossos dias: “provai-me nisto” (Ml 3.10). “Oh! provai, e vede que o Senhor é bom; bem aventurado o homem que nele se refugia” (Sl 34.8).



[1] Vd. Boanerges Ribeiro, Terra da Promessa, São Paulo, O Semeador, 1988, p. 60; João Calvino,  Exposição de Hebreus,  São Paulo, Paracletos, 1997, in. loc.
[2]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã,  São Paulo, Novo Século, 2000, p. 37.
[3] Boanerges Ribeiro, Terra da Promessa, p. 63.
[4] Devemos nos lembrar que estas passagens (2Co 8-9) não se referem ao dízimo, no entanto, o espírito que orienta esta contribuição deve ser o mesmo.

Dízimo: Preceito Cristão - Rev. Alderi Matos


A prática do dízimo é um tema controvertido nas igrejas evangélicas, tendo, de um lado, defensores apaixonados e, do outro, críticos ardorosos. Para alguns, é uma espécie de legalismo judaico preservado na igreja cristã. Para outros, trata-se de uma norma divina que tem valor permanente para o povo de Deus, na antiga e na nova dispensação. Os críticos do dízimo afirmam que sua obrigatoriedade é contrária ao espírito do evangelho, pois Cristo liberta as pessoas das imposições da lei. Os defensores alegam que essa posição é interesseira, porque permite às pessoas se eximirem da responsabilidade de sustentar generosamente a igreja e suas atividades. O grande desafio nessa área é encontrar o equilíbrio entre tais posições divergentes. O que está em jogo é uma questão mais ampla - o conceito da mordomia cristã, do uso que os cristãos fazem de seus recursos e bens.

Os dados bíblicos: O dízimo (do latim “decimu”) pode ser definido como a prática de dar a décima parte de todos os frutos e rendimentos para o sustento das instituições religiosas e dos seus ministros. Trata-se de um costume antigo e generalizado, sendo encontrado tanto no judaísmo como nas culturas vizinhas do Oriente Médio. Essa prática é claramente estabelecida no Antigo Testamento, sendo até mesmo anterior à lei de Moisés (Gn 14.20; 28.22). O dízimo era devido primariamente a Deus, como expressão de gratidão por suas bênçãos e consagração a ele. Mais tarde, tornou-se um preceito formal na vida religiosa dos hebreus (Lv 27.30-32), sendo destinado especificamente para o sustento dos levitas (Nm 18.21-24). Em Deuteronômio, está associado a uma refeição comunitária festiva e ao auxílio aos necessitados (12.17-19; 14.22-29; 26.12-14). Às vezes era dado liberalmente (2 Cr 31.5-6; Ne 10.37-39; 12.44) e em outras ocasiões retido fraudulentamente (Ml 3.8-10) Nos escritos do Novo Testamento, o dízimo é mencionado explicitamente apenas nos Evangelhos e na epístola aos Hebreus, sempre em relação aos judeus. Jesus aprovou a prática, mas a censurou quando se tornava uma expressão de frio legalismo (Mt 23.23; Lc 11.42; 18.12; ver Am 4.4). Em Hebreus, é mencionado em conexão com Melquisedeque, uma figura do sacerdócio de Cristo (7.1-10). As epístolas paulinas falam muito sobre ofertas para a comunidade, mas sua ênfase maior é sobre as contribuições voluntárias (2 Co 9.6-7). O Novo Testamento não fornece muitas informações sobre o sustento do trabalho regular da igreja. Todavia, as informações disponíveis destacam atitudes como gratidão, fé, amor e generosidade como motivações centrais da mordomia cristã.

O dízimo na história: No início da igreja, a informalidade e a simplicidade das estruturas não exigiam muitos recursos para sua manutenção. Não havia templos nem ministério em tempo integral (muitos líderes eram “fazedores de tendas”, como Paulo). A maior carência estava na área social ou beneficente. Daí a grande ênfase nas ofertas, principalmente em situações de particular necessidade (ver 1 Co 16.1-4; 2 Co 8.19.15). No entanto, o princípio de que a contribuição devia ser marcada pelo desprendimento e liberalidade se manteve, como se pode ver na “Didaquê”, um manual eclesiástico do 2º século: “Tome uma parte do seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, segundo lhe parecer oportuno, e os dê conforme o preceito” (13.7). No final do mesmo século, Irineu de Lião se referiu aos cristãos como aqueles que “separam todas as suas posses para os propósitos do Senhor, entregando de modo alegre e espontâneo as porções não menos valiosas de sua propriedade” (“Contra as heresias” IV.18). Com o passar do tempo e a crescente institucionalização da igreja, houve a necessidade de uma forma padronizada de contribuição. Com isso, recorreu-se ao precedente bíblico já conhecido e testado por muito tempo - o dízimo. Ao longo dos séculos, ele se tornou obrigatório - uma espécie de imposto eclesiástico - e na época de Carlos Magno passou a integrar a lei civil. No final da Idade Média, surgiram abusos quando os dízimos, em certos casos, se tornaram um instrumento para a compra de cargos eclesiásticos (simonia).

Validade atual: A questão que se coloca é a seguinte - o dízimo é valido hoje em dia para os cristãos? É uma forma legítima de contribuição cristã? São muitos os fatores a serem considerados na busca de uma resposta. Em primeiro lugar, é preciso atentar para o ensino bíblico global sobre o lugar que os bens devem ter na vida do crente. Deus é o senhor e proprietário supremo de todas as coisas. Os seres humanos são mordomos, ou seja, administradores dos recursos e dádivas de Deus. Aqueles que realmente o amam, são gratos por suas bênçãos e querem servi-lo, se sentirão movidos intimamente a contribuir para causas que engrandecem o seu nome. A segunda consideração é pragmática. A igreja é uma associação voluntária. Ela não tem outra fonte estável de sustento a não ser as contribuições dos seus membros. As ofertas ocasionais comprovadamente são insuficientes para atender a todas as necessidades financeiras da comunidade cristã. Torna-se necessário um método de contribuição que seja regular, generoso e proporcional aos recursos dos fiéis. Outro argumento se baseia numa comparação entre Israel e a igreja. Os cristãos entendem que têm recebido bênçãos muito maiores que a antiga nação judaica. O que para esta estava na forma de promessas, para os cristãos são realidades concretas, presentes. A vinda do Messias, sua obra de redenção, seus ensinos e os de seus apóstolos (o Novo Testamento), a dádiva do Espírito Santo e a revelação mais plena da vida futura são exemplos desses grandes benefícios usufruídos plenamente na nova aliança. Daí decorre o seguinte raciocínio: se Deus prescreveu o dízimo para o antigo povo de Israel, seria de se esperar que ele requeresse menos dos cristãos, detentores de maiores dádivas? Portanto, muitos estudiosos concluem que o dízimo deve ser, não o teto da contribuição cristã, mas o piso, o mínimo, o ponto de partida.

Conclusão
A questão do dízimo é tão difícil para muitos cristãos porque toca numa parte sensível da sua vida – o bolso. Parece excessivo entregar um décimo dos rendimentos para Deus, para a causa de Cristo. Nem todos têm o desprendimento e a generosidade da pobre viúva elogiada por Jesus (Mc 12.41-44). Todavia, o dízimo pode ser uma bênção na experiência do cristão em dois sentidos. Primeiro, como um desafio para a sua vida espiritual. Dar o dízimo pressupõe uma relação de amor, gratidão e compromisso com Deus e com as pessoas que serão beneficiadas com essa contribuição. Em segundo lugar, é também um desafio para a melhor administração da vida financeira. Muitas pessoas têm dificuldade em contribuir para a igreja e suas causas porque são desorganizadas em suas finanças, gastam mais do que podem, não têm um senso de prioridades em seu orçamento. A prática do dízimo produz uma disciplina que beneficia outras áreas da vida. Para aqueles que querem trilhar esse caminho, a sugestão é que comecem a aumentar gradativamente a sua contribuição, até atingir o padrão do Antigo Testamento... e então ir além dele.

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