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November 29, 2007

É proibido pensar



João Alexandre é excelente compositor. Algumas de suas músicas são verdadeiros hinos de adoração a Deus. Nesta música, ele denuncia alguns dos desvios do neo-pentecostalismo atual fazendo referência à "adoração extravagante", "apaixonados por Jesus", "show da fé", Renascer em Cristo, Igreja Universal do Reino de Deus, etc.

Nota-se que João Alexandre não se vendeu aos movimentos atuais que servem, não a Jesus Cristo, mas a Mamon, o deus-dinheiro.

"Deus já me deu sua Palavra e é por ela que ainda guio meu viver." Perfeito!

October 16, 2007

Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, aprova o Aborto.



O texto abaixo é do Pb. Solano Portela e foi postado em http://tempora-mores.blogspot.com/

Agora está claro! Aquilo que era apenas uma inferência e suspeita ficou confirmado com o lançamento da biografia do Edir Macedo (um recorde no mercado editorial brasileiro: 700 mil cópias, na primeira edição) e com a entrevista que ele deu à Folha de São Paulo, em 13 de outubro de 2007. Na entrevista Macedo confirma sua defesa do aborto e apresenta sua visão sobre a questão da homossexualidade. Este exemplar da Folha dedica três páginas do primeiro caderno (A11 a A13) às notícias sobre a igreja de Edir Macedo, e de como ela está envolvida em uma campanha para mudar a sua imagem. Podemos deduzir, também pela entrevista, alguns pontos chaves que compõem a cosmovisão e teologia da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), contidas nessas palavras de seu pontífice máximo. Cito três perguntas e respostas extraídas da entrevista:

FOLHA: Em sua biografia, o Sr. defende o aborto. Atualmente, a Record e a Record News exibem campanha pelo aborto, por que?

Macedo: Sou favorável à descriminalização do aborto por muitas razões. Porém aí vão algumas das mais importantes:

1. Muitas mulheres têm perdido a vida em fundo de quintal. Se o aborto fosse legalizado, elas não correriam risco de morte.

2. O que é menos doloroso? Aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor? E o que dizer das comissionadas pelos traficantes de drogas?

3. A quem interessa uma multidão de crianças sem pais, sem amor e sem ninguém?

4. O que, os que são contra o aborto, têm feito pelas crianças abandonadas?

5. Por que a resistência ao planejamento familiar?Acredito, sim, que o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, haja vista não haver uma política séria voltada para a criançada.

FOLHA: “Deus deu a vida e só Ele pode tirá-la”, segundo a Bíblia (sic). Não é contraditório um líder cristão defender o aborto?

Macedo: A criança não vem pela vontade de Deus. A criança gerada de um estupro seria de Deus? Não do meu Deus! Ela simplesmente é gerada pela relação sexual e nada mais além disso. Deus deu a vida ao primeiro homem e à primeira mulher. Os demais foram gerados por estes. O que a Bíblia ensina é que se alguém gerar cem filhos e viver muitos anos, até avançada idade, e se sua alma não se fartar do bem, e além disso não tiver sepultura, digo que um aborto é mais feliz (Eclesiastes 6.3). Não acredito que algo informe, seja uma vida.

FOLHA: Qual seria sua reação se descobrisse que tem um filho homossexual?

Macedo: Decepcionado. Mas não o rejeitaria de forma alguma. Tentaria ajudá-lo da melhor forma possível. Porque, se Deus respeita a livre opção devida da criatura humana, por que não o faria eu?

Este post não tem o objetivo de ser uma exposição completa da posição cristã sobre (e contra) o aborto, mas comento, com base nas declarações de Macedo, esses três temas – aborto, homossexualismo e a cosmovisão da IURD:

1. Aborto: Não há base bíblica para as convicções éticas. Elas são formadas a partir de slogans e bandeiras sociológicas do liberalismo. Macedo cita aBíblia apenas uma vez, fora de contexto, para provar um ponto que o texto não procura substanciar. A lógica de Macedo é falsa e traça conexões e ilações que não se sustentam:

a. Macedo afirma que mulheres morrem ao tentar o aborto (essa premissa, é constantemente repetida, mesmo sem comprovação), portanto é legítimo assassinar crianças com tecnologia (conclusão moralmente errada), para que as mães não morram.

b. Ele apresenta as crianças abandonadas como sendo fruto da ausência de aborto, em vez de uma conseqüência da irresponsabilidade dos pais (a sociedade que quer se preservar agirá nesse último ponto, educando todos os cidadãos a serem bons pais; criando oportunidades de sustento e emprego;etc.).

c. Macedo infere que o repúdio ao abandono das crianças, leva necessariamente à aceitação do aborto (conclusão falsa, de que o aborto é a única opção a este mal social, e de que ele é moralmente neutro, e não condenável).

d. Ele acusa que quem é contra o aborto não faz nada pelas crianças abandonadas (afirmação totalmente falsa: historicamente, os grandes orfanatos; os projetos de adoção; a assistência às mães jovens e solteiras foram implantados por segmentos da sociedade que são contra o aborto e não pelos que são a favor). Para Macedo, eliminar as crianças abandonadas, matando-as antes que nasçam seria a solução. Entretanto, essa é a forma mais cruel e imoral de resolver essa situação de abandono.

e. Macedo diz que aborto é igual a planejamento familiar (essa é uma forma asséptica e indolor, de se referir ao aborto, favorita dos seus proponentes, porque anestesia a consciência e torna a questão acadêmica e palatável, em vez de ética. Os dois termos não são equivalentes).

2. Homossexualismo: Edir Macedo, procurando dar a resposta que agrada à mídia, demonstra, na realidade, a própria rejeição que é enraizada em preconceito, porque não tem nem oferece base metafísica maior (bíblica) para sua posição. Quer ser politicamente correto e diz que aceita o homossexualismo, no entanto, ficaria “decepcionado”, se fosse um filho seu; e procuraria “ajudá-lo” (ajudar em que sentido? A ser aceito pelos demais? A se recuperar? Por que, se ele seria “aceitável”?). O cristão que firma suas convicções a partir das Escrituras, da Palavra de Deus, rejeita a prática porque a identifica como pecado, como disfunção de comportamento – e é claro nisso. Não a chama de “livre opção de vida” aceita por Deus, como faz Macedo; mas reconhece como uma “opção de vida” condenada por Deus – como várias outras o são.

3. Cosmovisão da IURD:

a. Visão deista/semi-intervencionista – Ao dizer que as crianças “não vêm pela vontade de Deus” e que “a criança gerada de um estupro” estaria fora do controle de Deus (“Não do meu Deus”, diz ele); e ao segregar a ação de Deus na doação da vida apenas “ao primeiro homem e à primeira mulher” sendo as demais crianças meramente “geradas por estes”; Macedo está na realidade adotando uma cosmovisão deista, ou seja: Deus iniciou a criação e deixou as situações e fenômenos naturais se desenrolando. Isso coloca Deus distante e não envolvido (supostamente resolvendo o dilema da responsabilidade) com as questões humanas. Mas como explicar a ênfase nos milagres e nas intervenções divinas, da IURD? É que esse “deismo seletivo”, não construído a partir dos dados da Bíblia, é limitado às situações convenientes. Ocasionalmente, Deus intervém, aqui e ali, consertando as coisas que o homem faz de errado, curando, restaurando relacionamentos. Para motivar Deus a fazer isso, é necessário, entretanto, intenso clamor e bastante fé, senão as coisas continuam como estão.

b. Dualismo espiritual: Macedo diz, na mesma entrevista: “não tenho ódio de ninguém, senão do Diabo e de seus espíritos”. Entretanto, o reconhecimentode um Reino das Trevas, pela IURD, não se prende ao que as Escrituras revelam sobre o assunto. Há a absorção da visão popular de duas esferas que se degladiam, uma vez vencendo uma, outra vez a outra. Para se contrapor à hostes do mal, a IURD utiliza-se do procedimento de exorcismo e de outras atividades que emulam as encontradas exatamente pelos que são classificados como dominados pelos demônios.

c. Práticas religiosas místicas: Na IURD, outros meios de conhecimento religioso são tão importantes quanto as Escrituras, daí as práticas estranhas à Palavra de Deus se misturarem com tanta intensidade na forma cúltica dos seus templos (peças de roupa, lugares santos, essencialidade da cura física, prosperidade como sinal inequívoco de aceitação divina, etc.).O resultado não é a religião verdadeira, mas um misticismo pagão com roupagem cristã.

d. Pragmatismo: Como demonstrado nas palavras do Macedo, na entrevista, as convicções éticas, na IURD, são essencialmente pragmáticas. Avança-se aquilo que é considerado a tarefa messiânica do segmento com quaisquer parâmetros, afirmações, conexões ou práticas, desde que funcionem. Princípios não regem a prática, mas os objetivos, sim. Não há âncora metafísica maior (revelação) para estabelecimento da verdade. Daí a conformação com o que é politicamente correto, com o que agrada às massas.

Estamos testemunhando, portanto, não uma convergência da IURD com o evangelicalismo, mas um afastamento gradativo ainda maior, exatamente porque o que está ditando a agenda daquela Igreja, não é o estudo e exposição daBíblia (que seria o possível ponto de convergência), mas a sede e busca do poder; o envolvimento fisiológico (e não transformador) com a política e políticos; e uma ação de relações públicas, que a leva a abraçar, sem qualquer pejo, posições claramente contraditadas pela Palavra de Deus.

August 10, 2007

Nova heresia provoca divisão na Igreja Betesda




A Igreja Assembléia de Deus Betesda ficou bem conhecida no meio evangélico graças ao seu líder, Pr. Ricardo Gondim. Eloquente e perspicaz Gondim sempre atraiu a atenção dos evangélicos com sermões e artigos atuais e com boas aplicações à igreja contemporânea. Em um artigo de setembro de 1998, publicado na Revista Últimato, ele escreveu o que segue:

"Necessitamos de uma idéia menos divina e mais humana de nós mesmos. A pregação evangélica desses últimos dias vem tão repleta de arroubos triunfalistas, que um novo cristão pensa nunca ter um revés em sua vida. Doenças, desempregos, tristezas, mortes prematuras e inúmeros desapontamentos são varridos para debaixo do tapete religioso, levando as pessoas a viverem uma farsa: os crentes estão imunes ao sofrimento. Com adesivos nos vidros dos automóveis, caixinhas de promessas com versículos fora de contexto e sermões superficiais, vai se disseminando uma mensagem cristã distorcida."

O artigo continuou nesta linha e, no último parágrafo: "A Igreja evangélica necessita de uma nova Reforma. Desçamos de qualquer pedestal da arrogância e da auto-suficiência, e deixemos que a luz perscrutadora do Espírito penetre em todas as câmaras de nosso viver. Só assim poderemos nos imaginar noiva do Cordeiro, sem ruga e sem mácula."

Muito bom, assim como outros artigos que ele escreveu nestes anos. Todavia, algo ocorreu com este pastor. Em 2003 li um artigo sobre arminianismo em que o autor já sinalizava algo estranho nos ensinos de Gondim, muito parecidos com os escritos de Clarck Pinnock, um dos pais do Open Theism (Teísmo Aberto). Porém, seus novos posicionamentos vieram à tona mesmo com o artigo "Quem Deus ouviu primeiro" espalhado pela internet após o fatídico Tsunami que atingiu algumas cidades da Ásia em 26 de dezembro de 2004. Eis abaixo dois trechos do que ele escreveu:

"Só uma réstia da revelação brilha em minha alma: o Deus da Bíblia soberanamente criou o universo, mas ao formar mulheres e homens, abriu mão de sua Soberania para estabelecer relacionamentos verdadeiros (...) Não, Ele não pôde evitar a catástrofe asiática. Assim, sinto que a morte de milhares de pessoas, machucou infinitamente mais o coração de Deus do que o meu - o sofrimento é proporcional ao amor."

Com as expressões "abriu mão de sua Soberania" e "Não, Ele não pôde evitar a catástrofe", Gondim expressa o cerne da heresia importada dos EUA, chamada aqui de Teísmo Aberto ou Teologia Relacional. Os defensores desta nova idéia dizem que Deus não é soberano. Em um livro de vários autores (Randall Basinger, John Sanders, William Craig, Richard Rice, etc...) Clark Pinnock, o editor, escreve o seguinte:

"... tive que me perguntar se era biblicamente possível sustentar que Deus conhece tudo o que pode ser conhecido, exceto a escolha livre que não seria algo que pudesse ser conhecido até mesmo por Deus porque ainda não está resolvida na realidade.... Deus pode predizer bastante do que iremos escolher fazer, mas não tudo porque alguma coisa permanece escondida no mistério da liberdade humana...." (p. 25,26 Apud R. C. Sproul, Sola Gratia: A controvérsia sobre o livre-arbítrio na História, Editora Cultura Cristã, págs. 157-159.)

Em uma entrevista a Edward Green, editor da revista "humorística" "Ship of Fools", em 2001, Clark Pinnock resumiu o pensamento sobre o Open Theism da seguinte forma:

"Os teístas evangélicos tradicionais ficam irados, frequentemente, quanto à visão de que o futuro, sendo não estabelecido ainda, não é completamente conhecido, mesmo para Deus. Isso não significa que Deus é ignorante de algo que deveria saber, mas que muitas coisas no futuro são somente 'possíveis' e não 'reais'. Consequentemente, Ele as conhece como possíveis e não como reais." (http://ship-of-fools.com/Shop/Theology/2001_11/PinnockInterview.html).

São estas as idéias que Ricardo Gondim acolheu. Após o seu artigo sobre o Tsunami, as idéias sustentadas por Gondim foram alvo de fortes críticas por parte de diversos pastores brasileiros. Até onde sabemos, ele não reviu seus posicionamentos, aliás, este cisma na Igreja Betesda indica que não. Nossa oração é que o Pr. Gondim submeta-se em oração à Palavra e ao Deus da Palavra, que é onipotente, onipresente e onisciente, e volte ao primeiro amor.
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Para entender melhor a Teologia Aberta, leia os seguintes textos:

Artigos:
Tsunami: Carta Aberta a Ricardo Gondim, de Eros Pasquini
Teologia Relacional: um novo deus no mercado, de Augustus Nicodemus
A Teologia Relacional: Suas conexões com o Teísmo Aberto e implicações para a igreja contemporânea, de Valdeci Santos
Livros:
Eu não sei mais em quem tenho crido, de John MacArthur
Não terás outros deuses, de John Frame

Silas Malafaia adere à Teologia da Prosperidade




Há não muito tempo ouvi um sermão do Pr. Malafaia em que ele falava sobre o dízimo. Assisti até o final, pois ele estava sendo coerente com a Bíblia e trazendo uma boa mensagem. Nos últimos cinco minutos, a decepção. Enveredou pelo rumo da Teologia da Prosperidade. Disse que nós tinhamos que dar muito a Deus, para receber mais ainda, que o crente tem que ter muito dinheiro, etc, etc, etc... Lamentável. Um homem que aparenta conhecer tanto a Bíblia conformando-se a este século materialista e induzindo muitos ao erro. Veja o que diz uma das notas desta Bíblia:



Decomponho abaixo o texto e comento:

1. "A pobreza é escravidão" - Pobreza não é escravidão. Pecado é escravidão. A pobreza sempre existiu e sempre existirá. Jesus disse: "... os pobres, sempre os tendes convosco..." (Mt 26.11) A pobreza, para muitos de nós, é bênção, pois, se tivéssemos abundância, desprezaríamos a Deus. As palavras de Agur são muito próprias: "Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus." (Pv 30.7-9). A pobreza também é bênção pois nos dá o privilégio de ajudar o próximo mais necessitado, seguindo o exemplo do nosso Mestre.

2. "Ela amarra as pessoas impedindo-as de terem as coisas que necessitam." O que dizer do Salmo 23.1? "O Senhor é o meu pastor e nada me faltará" (de nada tenho falta). O que dizer de Fp 4.11-13? "Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece." Uma vida de libertação não é uma vida em que temos tudo o que necessitamos, aliás, a cobiça por estas coisas é que é escravidão e idolatria: "Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores." (1Tm 6.10). A verdadeira liberdade é o contentamento, a dependência de Deus. É sabermos que, "tendo sustento e com que nos vestir" estamos contentes (1Tm 6.8). É saber que o importante não é o dinheiro deste mundo, mas o do mundo porvir: "Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam." (Mt 6.19,20).

3. "A pobreza leva à depressão e ao medo." Seguindo a lógica, então, ricos não têm nem depressão, nem medo. Não acontecem suicídios entre ricos. Seguindo a lógica, todo pobre é depressivo e tem medo. Não é preciso ir mais longe para ver a incongruência da afirmação. Felicidade não tem a ver com quantidade de bens, mas com vida com Deus. O mundo é repleto de pessoas plenas de alegria, que não tem posse alguma, aliás, tem a principal posse, o principal bem, o principal e mais rico tesouro - a salvação em Cristo Jesus. Infelizes são aqueles que não se contentam com o que tem e alimentam dioturnamente um desejo cobiçoso por bens materiais - esses são os infelizes, dentre os quais, lamentavelmente, estão incluídos muitos crentes.

4. "Não é vontade de Deus que você viva na escravidão da pobreza." Frase totalmente desprovida de base bíblica, mentirosa. Deus não se importa se vivemos com muitos ou poucos bens. Ele quer saber onde está o nosso coração. Não há um versículo sequer na Bíblia que diga que essa é a vontade de Deus para nós, senão vejamos:

- Mateus 18:14 Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos.

- João 6:39 E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia.

- João 6:40 De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

- João 7:17 Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo.

- João 17:24 Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo.

- Romanos 8:27 E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos.

- 1 Coríntios 1:1 Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes,

- Gálatas 1:4 o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,

- 1 Ts 4:3 Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição;

- 1 Ts 5:18 Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.

- 1 Pedro 2:15 Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos;

- 1 Pedro 4:2 para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus.

Note a ausência de qualquer menção à condição financeira. A vontade de Deus é que lhe sejamos fiéis, obedecendo a sua Palavra, andando nos seus caminhos, em santificação. Isso independe do quanto temos em nossa carteira.

5. "É hora de Deus acabar com a escravidão das dívidas e da pobreza no meio do seu povo. É chegado o momento da liberação de uma unção financeira especial que quebrará as cadeias da escassez e o capacitará a colher com abundância." Deveríamos perguntar ao Dr. Morris Cerullo, autor dos comentários desta Bíblia, de onde ele tirou esta "unção financeira especial". Enquanto ele procura (junto com o Pr. Malafaia), fiquemos com Habacuque "Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente." (Hc 3.17-19)

Louvado seja Deus!

O Pastor previu o acidente da TAM?



Sempre que há uma tragédia de grandes proporções levanta-se alguém para apresentar supostas previsões do fato. Dessa vez foram evangélicos que ouviram uma mensagem pregada por um dos passageiros do fatídico vôo.

Numa mensagem de Ele diz "eu vi dezenas e centenas de pessoas mortas, enroladas em alguma coisa que eu não consegui discernir, que eram levadas para um lugar estranho e escuro. Enquanto eu caminhava lá, eu me sentia tão bem". Alguns pontos:

1. "centenas de pessoas mortas, enroladas em alguma coisa..." - é bastante vago, podendo ser aplicado a qualquer situação de mortos.

2. "Centenas de pessoas mortas" - creio que a visão dos bombeiros não foi de pessoas mortas, mas de restos mortais, membros separados, muitos totalmente destruídos pelo fogo.

3. "Eram levadas para um lugar estranho e escuro" - muito vago e em nada semelhante ao IML. Creio que ele tinha o inferno em mente.

4. "Enquanto eu caminhava lá, eu me sentia tão bem" - Como isso seria possível? Principalmente a um homem que se declara servo de Deus?

Não conheci o pastor do vídeo, e quero crer que era um homem de Deus. Todavia, usar este vídeo para sugerir que foi uma premonição é algo irresponsável, pois as palavras foram muito vagas. Se ele tivesse dito "Irmãos, na minha revelação eu vi um acidente terrível de avião acontecendo em SP. E morreram quase 200 pessoas. E eu chorei ao ver o estado em que os corpos ficaram..." Aí sim poderíamos acreditar.

Além do mais, deveríamos respeitar as famílias das vítimas que estão enlutadas, sofrendo muito, e deixar de lado este desejo pecaminoso por notícias sensacionalistas. Oremos pelas famílias.

Sabonete com extrato de arruda


Repare que em nenhum momento o nome de Jesus é citado. E nem deveria ser mesmo, porque isso não é Evangelho - é superstição, é paganismo, é comércio da fé. A verdadeira limpeza espiritual é operada por Deus em nossa conversão e, dia a dia, em nossa santificação. Dizer que um sabonete pode proteger uma pessoa de inveja, olho grande e mau olhado é autorizar a crença em ferraduras, trevos, pés-de-coelho. Voltamos às superstições, voltamos à Idade Média. "O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos." Oséias 4:6

Ana Paula Valadão e o "leão"



Ana Paula Valadão Bessa é pastora da Igreja Batista da Lagoinha e líder do Ministério "Diante do Trono", de onde a maioria das igrejas evangélicas "importam" seus cânticos. Nesse vídeo ela imita um leão, possivelmente uma alusão a Jesus Cristo, descrito na Bíblia, poeticamente, como o Leão de Judá.

Como é comum nos chamados shows de música gospel, o clima é de êxtase. Em um dos blogs do ministério Diante do Trono, Ana Paula relata o que aconteceu:

"Saímos para a ministração às 16h. Me vesti de acordo com o que o Espírito colocou em meu coração. Um vestido de veludo azul que comprei há mais de 10 anos no Seminário em Dallas. Um cinto preto largo com “cara” de autoridade. Botas pretas, assim como na última viagem em Florianópolis, com essa mesma mensagem de força, poder, autoridade, e conforto necessário para pular e pisar com força, profeticamente, na cabeça do diabo. Meu cabelo, cacheado, restaurado como no princípio. Meus brincos comprados em Israel, e o anel com a pedra ametista que ganhei quando eu nasci. Olhei para mim mesma no espelho e vi uma guerreira. Tivemos um tempo de oração precioso no camarim atrás do palco. Foi interessante o peso espiritual que queria vir sobre nós. Todos se levantaram e resistiram. E foi contagiante a alegria que nos encheu. Senti como se em meu corpo minhas forças estivessem sendo sugadas, sem forças para respirar fundo, muito menos cantar. Mas no meu coração havia confiança de que tudo iria se romper (...) Quando a Helena ministrou “Lugares altos” trouxe uma palavra sobre Joás e Eliseu, e o episódio da “Flecha da vitória do Senhor”. Mal podia imaginar que o Senhor estava ministrando a intensidade e a fé no ato profético, que eu iria precisar mais à frente. Houve um momento em que fez um “clique”. Uma mudança na atmosfera. Depois da música “Manancial” comecei a receber palavras proféticas em meu coração para liberar sobre as cidades de Goiás ali representadas. Foi muito forte. A música acompanhou. (...) Recebi a direção de palmas. A multidão ia junto comigo, quando de repente a Zê chegou perto de mim e disse que estava vendo o Leão, com os pés em fogo, ali no palco. O poder de Deus era palpável, e as palavras proféticas continuaram. Um cântico espontâneo sobre o Cordeiro e o Leão marcou para sempre a minha vida. E a unção de autoridade foi ministrada sobre nós, sobre a Igreja de Anápolis. De um estado de fraqueza, passamos à força. De intimidação à ousadia. Ao mesmo tempo em que nos levou a um refrigério e descanso que como ovelhas do Sumo Pastor podemos experimentar. De repente, começamos a celebrar, mas foi diferente. Eu saltava e parecia que estava em um trampolim, uma cama elástica. Se antes pulava para romper, agora eu me sentia voando, pulando muito alto, minhas pernas esticadas iam alto, ao menos essa era a sensação, mas depois outras pessoas confirmaram. O vento nos meus cabelos e a sensação era de pulos muito altos. Eu sabia que algo diferente estava acontecendo. Quando pulei uma última vez, senti que era para me assentar. Não sabia se teria forças para me levantar outra vez. Foi quando senti o impulso, me agachei e comecei a andar como o Leão. Pensamentos vieram à minha mente. Eu disse ao Senhor: “É… agora a minha reputação acabou. Agora vou ver quem vai ficar comigo”. Mas prossegui, consciente do que estava acontecendo, e senti a direção até mesmo de onde eu deveria ir. Quando parei, não sabia como ou que fazer ao me levantar. Ainda no chão, me ergui de meio corpo e gritei: “Um brado de vitória ao Senhor”, (sem saber se alguém responderia), e o som foi poderoso. A música terminou grandiosamente. Era o Leão da Tribo de Judá."
http://riodiantedotrono.wordpress.com/2007/06/20/

Abaixo, segue a bela avaliação feita por Caio Fábio.

"O Leão, a pastora e o guarda-roupa

Tenho apenas algumas observações a fazer sobre o que essa moçada chama de espiritualidade.

Vi o vídeo e outros do gênero, inclusive o outro que se diz ser o originador do show de Anápolis: uma espécie de plágio de transe.

Assim, pergunto:

1.. Você pode imaginar Jesus dizendo - "Naquele Dia vesti minha túnica sem costura, pus as sandálias que o centurião romano me deu, tomei de uma pequena vara que me foi doada pela Siro-Fenícia, olhei meu rosto contra o reflexo do Poço de Siloé, e disse: 'Você é o Filho de Deus! '"? Ou pode você ver qualquer pessoa séria do Evangelho, ou nas narrativas bíblias, sentirem as coisas assim? Ou o que diria Pedro à cantora? Sim! Ele que disse que o que deve ornar as mulheres é um coração manso e moderado? Mas para essa moçada do "Bom Dia Espírito Santo" (discípulos de tudo o que fez mal à fé e àquilo que um dia foi igreja), o Espírito Santo se tornou o Costureiro, o Design de Moda, o camareiro da cantora.

2.. Você pode imaginar qualquer dos apóstolos dizendo que começou a pular e a levantar as pernas, numa sensação alucinantemente gostosa, no meio de uma Praça de Roma ou Éfeso, apenas porque teve um click? Esse entusiasmo não vem do Espírito, mas de outras fontes. Vem até da fuga.

3.. Você pode imaginar alguém de confiança no Evangelho dizer que, de repente, no areópago, após ter um click que o fizera dançar como uma das sacerdotisas de Afrodite fazia, em transe ante o público; e, após um tempo, ter ouvido de um discípulo que disse estar vendo o Leão, com fogo ao redor; e que, em razão disso, a pessoa pulante viesse a se jogar no chão, totalmente consciente de si (fazendo do transe anterior uma farsa); e, após isso, começar a andar como uma leoa, de quatro, com um Sure bem fálico na mão, indo de um lado para o outro; enquanto pensava: "É. agora a minha reputação acabou. Agora vou ver quem vai ficar comigo"? Sim! Porque houve transe para tudo: para andar de quatro; para virar Leão porque alguém disse; e porque outros igualmente do ramo já fizeram a mesma coisa. E mais: houve tempo no transe para se preocupar com a própria "reputação". E ainda: houve transe para (no transe no qual ela se preocupa com sua
própria reputação) receber direção de palco do próprio Leão, etc. Só não houve transe em dois momentos: quando ela teme pela reputação; e quando ao terminar o show do Leão, a moça disse que não sabia como levantar e nem o que dizer. Então, na dúvida, assim procedeu: "Quando parei, não sabia como ou que fazer ao me levantar. Ainda no chão, me ergui de meio corpo e gritei: "Um brado de vitória ao Senhor", (sem saber se alguém responderia) , e o som foi poderoso." Portanto, a imagem pública tem tudo a ver com tais transes, para o bem e para o mal. Assim, que transe é esse? Ou não está o espírito dos profetas sujeito aos próprios profetas? Acontece que esses profetas são pró-festas; e pronto.

4.. Você pode imaginar que nos ensaios deste grupo eles recebam o Leão, sem Sure na mão, sem luzes e palco, sem show e público? Sim! Porque se eles assim fizerem sozinhos; ou, melhor ainda: sem ninguém, no quarto ou em casa - mesmos achando tudo uma grande maluquice, e mesmo sabendo que tais coisas são manifestações da alma sem raiz no espírito do Evangelho, porém possessa de vaidades que decorrem das síndromes de lúcifer que acometem "estrelas" (soberba psicológica, sutil e progressiva) , ainda assim eu respeitaria como engano e infantilidade sinceros. Mas no palco, com os aparatos dos shows, em suposto transe que não suspende a preocupação com a imagem nem na hora de receber o Leão - fica difícil sequer apenas olhar o lado da loucura psicológica e apenas para o surto de messianismo narcisista, pois, as implicações sobre milhares de alminhas tolas, são fortes e danosas.

Lamento muito!

Por que começam no Espírito e terminam sempre no espírito Costureiro, ou Banqueiro, ou Interesseiro?

Por que não podem amar a sobriedade e apenas buscarem ser o que Jesus ensinou?

Por que será que sem loucura eles não conseguem crer no poder de Deus?

A palavra que conhecem é a de seus corações e não a que é Sobre seus corações; pois, caso tivessem a palavra na Palavra e não em seus impulsos sem a Palavra, jamais fariam loucuras desse tipo em nome do Leão da Tribo de Judá.

Ninguém deixe de vigiar a fim de não brincar com fogo estranho!

Sim! É preciso ter cuidado com o fogo estranho. É preciso lembrar sempre dos filhos do sacerdote Arão.

Isso é o que tenho a dizer como coisa que julgo séria e importante.

Nele, que é o Leão de Judá, mas nunca andou de quatro e nunca rugiu para mostrar que era,

Caio

27/06/07

Lago Norte

Brasília "

Dólares na Bíblia...

Estevão e Sônia Hernandes são presos e acusados de evasão de divisas, nos EUA.



Num mundo materialista, a comercialização da fé. Estão cultuando a Mamon, o deus dinheiro, e não a Jesus Cristo.

Deveria eu chorar no cinema? - Sobre o filme de Mel Gibson, a Paixão de Cristo.


Dizem que homem que é homem não chora. Com sangue de nordestino, então, menos ainda. Confesso que choro muito pouco. Tão pouco que às vezes temo que as pessoas me achem insensível. Ontem, ao assistir o filme “A Paixão de Cristo” aconteceu de novo. No meio do filme percebi que havia gente chorando – e eu lá, com minha noiva, ambos sem derramar uma lágrima. Acho que estou muito insensível, pensei a princípio. Depois, raciocinando um pouco, comecei a descobrir as razões daquela “insensibilidade”.

Creio que não me emocionei porque não vi Jesus. Ele não estava lá. No seu lugar havia um homem que não conheço, tentando interpretar um papel impossível – o de homem-Deus.

O homem que vi na tela era bem diferente do Senhor a quem servimos há tanto tempo. Não tinha a glória de que João falou (Jo 1.14), não tinha a autoridade e a coragem conhecidas por nós (Mt 26.53, Lc 23.28-31, Jo 18.6), pelo contrário, parece que precisava constantemente da ajuda de sua mãe. Não era o Cristo vencedor dos Evangelhos, mas um coitado, do qual as pessoas saem do cinema com pena.

Também não me emocionei porque a história não era a que eu conhecia. Nunca li na Bíblia sobre Satanás tentando a Jesus no Getsêmani, nem sobre Jesus esmagando a cabeça da serpente, de modo literal. Também não vejo nas Escrituras detalhes sobre a sua época na carpintaria, nem o registro de que ele tenha sido o inventor da mesa como a temos hoje.

Na Bíblia, não vejo Cristo na cruz sussurando, mas gritando (Mt 27.46,50, Mc 15.34,37, Lc 23.46); não leio que Pedro estava numa multidão quando negou a Jesus, mas assentado aquentando-se (Mt 26.69, Mc 14.54,66,67; Lc 22.55, Jo 18.18,25). Não vejo os soldados quebrando as pernas dos dois malfeitores, por causa do terremoto, mas, a pedido dos judeus, por causa do sábado (Jo 19.31). Também não vejo registros de demônios, em forma de crianças, perseguindo Judas, levando-o ao suicídio (Mt 26.5).

Não me emocionei também porque, como em toda produção romanista, Maria é supervalorizada. Nas Sagradas Escrituras, nossa irmã Maria nunca é chamada de Mãe pelos discípulos. No filme ela não só é chamada assim, como, numa cena, tem Pedro ajoelhado aos seus pés, recusando-se ser tocado por ela, por ter negado a Jesus.

No relato bíblico, não vemos Maria acompanhando Jesus no caminho da cruz, ajudando-o quando ele cai, nem limpando cuidadosamente o sangue do Filho, deixado no chão após os açoites. Na história verdadeira, não é Maria quem retira Cristo da cruz. É José de Arimatéia (Mt 27.57-60; Mc 15.45,46; Lc 50-53, Jo 19.38). Na Bíblia, Maria não é a senhora protetora, é apenas serva (Lc 1.46-49).

Por tudo isso, não chorei e, sinceramente, não me arrependo. Me arrependo sim de, por vezes, ler a história verdadeira a respeito da morte e ressurreição do meu Salvador Jesus e não me comover. Me arrependo de, por vezes, pregar sobre a sua tão grande salvação sem a emoção própria da mensagem (Lc 10.20). Me arrependo de, não poucas vezes, encontrar-me querendo ver quando já sei que felizes não são os que vêem, mas os que não vêem e crêem (Jo 20.29, 1Pe 1.8).

Culto?

Os vídeos abaixo são de uma vigília na Assembléia de Deus Casa de Oração, em Brás de Pina - RJ.











Culto?

Vigília da Igreja Obra de Restauração em Cabuçu-Nova Iguaçu - RJ



Os Equívocos da Marcha para Jesus




A cada ano milhares de evangélicos, de várias denominações, tomam as ruas de algumas capitais do país para participar de um evento denominado “Marcha para Jesus”. O movimento começou no Brasil em 1993 e tem crescido a cada ano. Muito embora para muitos irmãos a marcha pareça ser algo bom, pois aglutina o povo de Deus em busca de um bem comum, não podemos deixar de comentar alguns equívocos que se encontram bem evidentes na realização destas marchas. Alisto-os abaixo:

1. A igreja e a marcha são lideradas por um homem que se autodenomina apóstolo. Este é um erro cada vez mais freqüente em algumas denominações neo-pentecostais de nosso país. É sabido que o título “apóstolo” foi reservado àquele primeiro grupo de homens escolhidos por Cristo. Após a traição e suicídio de Judas, os apóstolos escolheram outro para ocupar o seu lugar (At 1.15-20), mas, como foi feita esta escolha? Que critérios foram usados? Ei-los: 1º) Ter sido discípulo de Jesus durante o seu ministério terreno; 2º) Ter sido testemunha ocular do Cristo ressurreto. Como pode alguém, hoje, ousar sustentar o título de apóstolo?

2. A igreja que organiza a marcha ensina Teologia da Prosperidade (crença de que o cristão deve ser próspero financeiramente), Confissão Positiva (crença no poder profético das palavras – assim como Deus falou e tudo foi criado, eu também falo e tudo acontece), Quebra de maldições (convicção de que podem existir maldições, mesmo na vida dos já salvos por Cristo) e Espíritos Territoriais (crença em espíritos malignos que governam sob determinadas áreas de uma cidade).

3. A filosofia da marcha está fundamentada em uma Teologia Triunfalista (tudo sempre vai dar certo, não existem problemas na vida do crente), tendo como base textos como Êxodo 14 (passagem de Israel no mar Vermelho) e Josué 6 (destruição de Jericó); (1)

4. Uma das finalidades da marcha é promover curas e libertações; (2)

5. A marcha não celebra culto, e sim show gospel; (3)

6. Os líderes do movimento propagam que a marcha tem o poder de "mudar o destino de uma nação"; (4)

7. Na visão do grupo, com base em Josué 1.3 "Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado", a marcha é uma reivindicação do lugar por onde passam na cidade; (5)

8. Na visão do grupo, a marcha serve para tapar as "brechas deixadas pelos atos ímpios de nossa nação"; (6)

9. Na visão do grupo, a marcha destrói "fortalezas erguidas pelos inimigo em certas áreas em nossas cidades e regiões"; (7)

10. A marcha tem caráter isolacionista, próprio de gueto, e não o que Cristo nos ensinou, a saber, envolvimento amplo na sociedade (Mt 5.13-16), com irrepreensível testemunho cristão (1Pe 2.12).

Ademais, é importante observar que toda a organização da marcha está centrada nas mãos de uma igreja apenas, excluindo-se o alegado caráter de união entre os evangélicos.

Tanta força e entusiasmo deveriam ser canalizados para a pregação do Evangelho a esta nação cada vez mais sedenta. As pesquisas indicam que os evangélicos já somam 15% da população brasileira, no entanto, a imoralidade, a corrupção e a violência são cada vez maiores em nosso país. Os canais de TV, os programas de rádio, bem como as marchas, não têm gerado transformação de vida em nosso povo.

A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrando no alimento (Mt 5.13); pessoal e de relacionamento, como na igreja primitiva (At 8.4); cotidiana e sem cessar, como entre os primeiros convertidos (At 2.42-47). Que Deus nos restaure esta visão.

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Notas:
(1) http://www.marchaparajesus.com.br/ – “Proposta Espiritual”
(2) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "Proposta Espiritual"
(3) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "Marcha para Jesus 1993 Brasil"
(4) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "Marcha para Jesus 1995 Brasil"
(5) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "7. Reivindicando a Terra".
(6) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "8. Arrependimento Público".
(7) http://www.marchaparajesus.com.br/ - "9. Destruindo Fortalezas".

Rubem Alves e a Reforma Protestante


Rubem Alves foi pastor presbiteriano, mas saiu do ministério e se afastou do Evangelho. O texto abaixo revela um pouco de suas crenças atuais. Trata-se da transcrição da gravação de um sermão pregado no dia 31 de Outubro de 2003, no Culto da Reforma, na Igreja Presbiteriana de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Símbolos usados na transcrição:
[...] = gravação truncada ou incompreensível
[R.A.] = risos do auditório

[...] [R.A.] para se falar alguma coisa sobre a Reforma, mas eu fico perguntando: “depois de ouvir Bach o que é que há pra ser dito sobre a Reforma? Eu sou um jardineiro, não acho que Deus é jardineiro ...

Há muitos anos, muitos anos mesmo que eu preguei nessa igreja. A igreja era diferente – era menor. E eu me lembro perfeitamente que [...], quando eu era estudante no seminário e eu preguei, me lembro, sobre o texto: Coríntios, [...] a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, [...] e quando eu entrei nesse lugar eu me lembrei de um poema de Mário (sic) Antônio Gonzaga que é um dos poetas da Inconfidência. E nesse poema ele descreve uma visível visita que ele fez a lugares amados, cachoeiras, riachos, campos, montanhas. E ele visitava aqueles lugares e ele tinha a sensação que os lugares haviam se transformado, eram diferentes. Aí, a cada lugar que visita, ele acrescenta um refrão: “são este os sítios, são estes, mas eu mesmo não sou/ Marília me chamas, espera que eu vou.” E aí ele vai de lugar a lugar. Até que no final ele diz: “Mas como [...], as coisas são as mesmas, estão no mesmo lugar, como é que eu olho todas as coisas diferentes.” Aí ele diz: “mudaram-se os olhos e triste sou”. Ele estava indo para o degredo. Eu não estou indo para o degredo, mas os meus olhos de hoje são muito diferentes dos olhos de há 50 anos atrás que, eu imagino, foi quando eu preguei aqui nessa igreja. Os olhos, os olhos...
Ahn... os olhos são o início da experiência religiosa. Todos os poetas e todos os místicos sabem que a coisa começa é com uma modificação do olhar. E os orientais, os zen-budistas eles falam da experiência de “sacolho”. Que que é “sacolho”? Eles dizem que é repentinamente abrir seu terceiro olho e a gente vê coisas que a gente não via antes. Foi assim que aconteceu com os discípulos de Emaús. Eles estavam andando com Jesus e Jesus falava e eles não viam nada, mas foi no momento quando Jesus partiu o pão que os seus olhos se abriram e eles perceberam. Foi isso provavelmente que aconteceu também com Sidarta [Buda]. Ele repentinamente ele teve a visão de que a vida é como um rio. Todas as coisas são passageiras, e ele se assentava na beirada do rio para conversar com o rio e o seu melhor companheiro de conversa era o barqueiro que sabia todas as coisas acerca do rio.
[...] que repentinamente no meio do mocho da igreja medieval descobriu a beleza das campinas, das flores, do Sol, da Lua, dos regatos, e percebeu que todas as coisas eram vãs. Ou então de Albert Schweitzer que no meio da selva da Africa, uma vez, andando de canoa de noite, ouvindo o pulsar da floresta, os animais da floresta, ele percebeu então que o grande princípio da sua filosofia era a reverência pela vida. Um poema tão conhecido – não vou ler o poema inteiro que ele é muito grande –, mas vocês compreenderão. Não é um poema religioso, não é religioso, eh...o poema diz: “(..) ele erguia casas/Onde antes só havia chão/Como um pássaro sem asas/Ele subia com as casas/Que lhe brotavam da mão/Mas tudo desconhecia/Da sua grande missão/Não sabia por exemplo/Que a casa de um homem é um templo/Um templo sem religião/Como tampouco sabia/Que a casa que ele fazia/Sendo a sua liberdade/Era a sua escravidão./De fato, como podia/Um operário em construção/Compreender que um tijolo/Valia mais do que um pão?/Tijolos ele empilhava/Com pá, cimento e esquadria/Quanto ao pão, ele o comia/Mas fosse comer tijolo!/E assim o operário ia/Com suor e com cimento/Erguendo uma casa aqui/Adiante um apartamento/Além uma igreja, à frente/Um quartel e uma prisão:/Prisão de que sofreria/Não fosse eventualmente/Um operário em construção./Mas ele desconhecia/Esse fato extraordinário:/Que o operário faz a coisa/E a coisa faz o operário./De forma que, certo dia/À mesa, ao cortar o pão/O operário foi tomado/De uma súbita emoção/Ao constatar assombrado/Que tudo naquela casa/Garrafa, prato, facão/Era ele quem fazia/Ele, um humilde operário/Um operário em construção./Olhou em torno: gamela/Banco, tigela, caldeirão/Vidro, parede, janela/Casa, cidade, nação!/Tudo, tudo o que existia/Era ele quem fazia/Ele, um humilde operário/que exercia sua profissão./Ah, homens de pensamento/Não sabereis nunca o quanto/Aquele humilde operário/Soube naquele momento/Naquela casa vazia/Que ele mesmo construíra/Um mundo novo nascia/De que nem sequer suspeitava./O operário emocionado/Olhou sua própria mão/Sua rude mão de operário/De operário em construção/E olhando bem para ela/Teve um segundo a impressão/De que não havia no mundo/Coisa que fosse mais bela” [...] desse poema do Vinícius. Vocês devem ter se [...] nos discípulos de Emaus. Foi ao partir do pão, ao partir do pão, que os olhos se abriram aos discípulos de Emaús. Ao partir do pão, o operário percebeu assombrado e repentinamente aquelas coisas comuns: gamela, garrafa, faca, ahn... tigela... ele percebe que um novo mundo nascia, naquela casa que ele mesmo construíra.

 Então é isso o que é a experiência religiosa, a experiência de repentinamente a gente ver coisas que a gente nunca viu. Aliás, Jesus já tinha falado sobre isso. Ele disse: “os olhos são a lâmpada do corpo; se os seus olhos forem bons, o teu corpo será luminoso, se os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso.”

 [...] coisas, eu vim aqui pra falar sobre a Reforma, Lutero [...] repentinamente ele olhou para o pesadelo medieval, porque o Mundo Medieval era um grande pesadelo. Lutero olhou para aquele pesadelo, produzido por olhos teneborosos e ele viu uma coisa que ninguém jamais havia visto: o mundo repentinamente se transformou num jardim. Lutero... e nessa Igreja Presbiteriana eu quero confessar [...] [R.A.] [...], porque Lutero era mais [...] gostava mais da vida. Calvino era muito ascético, ele era muito sério, então, para mim, o grande herói da Reforma, que teve a visão, o que teve a visão, foi Lutero.

 Quero dizer que eu nasci numa igreja protestante. Meus pais não eram protestantes, nem eu freqüentei igreja protestante. Eu era protestante sem saber. O Guimarães Rosa tem uma [...] que diz assim: “o que eu vou saber, sem saber eu já sabia.” Sem saber, eu já sabia que eu era protestante, sem saber. Eu vou explicar isso pra vocês. [...] apaixonado por música e eu devo dizer a vocês que há apenas uma criatura no mundo que eu invejo: são os pianistas e os organistas [R.A.], porque eu tentei, mas não consegui. 

Não basta ter vontade, porque Deus é muito cruel. Tem aquele salmo que diz assim: “não adianta levantar cedo e trabalhar o dia inteiro, porque Deus àqueles que ama, ele dá enquanto dormem.” [R.A.]. Acorda! Acorda! Acorda! [R.A.] Porque vocês já ouviram falar que um ponto central na Reforma é a idéia de graça. E hoje a gente vai falar sobre graça. Graça e obra. Obra é a gente varrer [...] e eu estudei muito piano, estudei muito piano, eu estudei mais piano que Nelson Freire [R.A.]. Nelson Freire nasceu na minha cidade. Minha mãe ensinou a mãe dele tocar piano. E eu estudava oito horas por dia e o Nelson Freire não precisava estudar. Uma vez, eu tinha sete anos de idade, tava trabalhando na [...] já havia uns seis meses, tava perto de um piano, aí chegou aquele pirralho mal educado lá em casa com a mãe dele [R.A.] [...], não cumprimentou ninguém. Viu o piano aberto, [...] eu tava estudando há seis meses. Ele olhou, sentou e tocou. Aí eu compreendi que Deus tinha dado a ele enquanto ele dormia [R.A.] Ó, isso é um princípio fundamental da Reforma. Sabe que as coisas, não é por esforço, não, as coisas são dadas. Mas daqui a pouco a gente pega isso de novo.

Pois, então, deixa eu explicar pra vocês. Eu gosto muito de ouvir música quando eu tô trabalhando, e geralmente pra trabalhar com música, tem que ser uma música... não pode ser Brahm, não pode ser Mahler, não pode ser o quinto concerto de Bethoven, tem que ser uma coisa... ah... um barroco assim, baixinho. Mas nesses dias eu tava com um CD, que eu nunca tinha ouvido. Uma sonata para piano e violino de César Franck [...] Aí cheguei lá, abri meu micro, retirei o CD, comecei a trabalhar. Daí a pouco as lágrimas estavam escorrendo. E eu parei e fiquei me perguntando: “Mas o que é isso? Por que se é que eu nunca ouvi isso... Por que eu tô chorando?” Eu sei, a resposta é: é porque é belo. As coisas belas fazem chorar. Mas o que que é uma coisa bela? Porque que uma coisa é bela? Aí, eu tive que me valer de uma teoria de um grande filosófo. Dizem assim que toda a filosofia ocidental é uma nota de rodapé da sua Filosofia... que é Platão. E Platão tinha a estranha idéia... Ele contava mitos, inventava histórias... e muitas são parábolas. E ele diz que antes de nós nascermos, nós contemplamos todas as coisas belas, boas e verdadeiras. E quando nós nascemos, nós esquecemos estas coisas, mas elas ficam adormecidas dentro de nós. Igual aquela história da Bela Adormecida. Vocês se lembram? Se lembram da Bela Adormecida? A coisa bela foi acordada quando ela recebeu um beijo de amor. Acontece a mesma coisa com a música. Eu acredito que todas as coisas belas estão adormecidas dentro de nós e os artistas são esses seres, são esses anjos privilegiados que têm a capacidade de se lembrar da coisa, e quando ele toca a coisa que eu sinto bela, não é porque seja coisa nova, é porque aquela beleza tá dentro de mim. Então César Franck não é Cesar Franck, sou eu. Mozart não é Mozart, sou eu. Éh... Bach não é Bach, sou eu. E é por isso que eu choro, eu vibro; e a prova de aquela coisa sou eu é que quando eu estremeço, eu choro e vibro, porque está dentro de mim.

Ah...Você sabia, era isso que eu queria dizer que o protestantismo já tava dentro de mim, eu já sabia, eu já sabia, eu tava lá [...] talvez até antes de Lutero. Há um educador português. Os portugueses são maravilhosos, viu?. Oh! Gente inteligente! [R.A.]. [...] e esse educador português tem a seguinte frase... vários educadores... “só se aprende o não essencial, o essencial somo-lo”. Eh... aquele português falaria pro Jânio Quadros: somo-lo; somo-lo; somo-lo [R.A.]. O essencial nós somos, quer dizer, a coisa tá dentro de mim. Não me foi ensinado. O protestantismo não foi ensinado, o protestantismo tava dentro de mim. E é isso que eu acredito: que as experiências religiosas estão adormecidas dentro de nós. Não só as experiências religiosas, mas experiências amorosas, porque, na verdade, experiências religiosas e amorosas são a mesma coisa. Deixa eu dizer, então, pra vocês um verso do Fernando Pessoa, que é a mais linda declaração de amor que eu já ouvi que explica isso. Ele diz o seguinte: [...] “Amei-te já muito antes, tornei a encontrar-te, quando te achei, logo que achei, te conheci? Não, você já estava dentro de mim. Eu já te amava sem saber, mas de repente ao te encontrar, [...] tornei a encontrar-te quando te achei.” E é isso que eu sinto. [...] uma coisa dentro de mim que quando eu soube da Reforma eu descobri que era aquilo. Mmas o que é isso que eu encontrei de novo? O que é isso que eu encontrei de novo? O que que é isso que está dentro de mim de que eu me lembro? É uma coisa chamada sonho. A Reforma é um sonho d´alma humana. É o sonho de que nós somos seres alados. Vou repetir: a Reforma é um sonho de que nós somos seres alados [...] vocês não sabem, eu preciso que vocês fiquem sabendo: sonhos são a nossa substância. Nós somos feitos de sonhos, quem diz isto é Shakespeare. Não só Shakespeare, Freud diz a mesma coisa. Não apenas Freud, todos os poetas sabem disso. Que nós somos sonhos. Onde moram os sonhos? Vocês sabem que Freud falou-o: o consciente, o inconsciente. O que que é o consciente? O consciente é a cabeça da gente. As coisas que a gente sabe, as coisas banais. O que que é o inconsciente? O inconsciente é o lugar onde mora o amor, de onde brotam as coisas belas, a alegria, a tristeza, a esperança. E é também o lugar onde rastejam monstros, é o lugar dos pesadelos, das violências dos horrores. Então esse lugar chamado inconsciente é o lugar de paraísos e infernos; e esses paraísos e infernos estão permanentemente em luta uns com os outros. Então, sonhos são essas profundezas do indivíduo. E as religiões? As religiões são sonhos da coletividade. Sonhos e muitos sonhos.

Lutero nasceu em num mundo de pesadelos. Se vocês quiserem saber como eram os pesadelos medievais, vejam as telas daquele pintor Jerônimo Bosch. Um surrealista, quinhentos anos antes do Surrealimo. Algumas telas do Bosch elas são tão monstruosas. Aliás, uma delas se parece muito com um quadro protestante chamado “os dois caminhos”, não sei se vocês sabem. O que tem acontecido com o protestantismo é que o protestantismo, depois de voar, depois de voar muito e... Eu conto a história no final pra vocês. Do Pato Selvagem. Eu conto a história...

Ah... O Bosch é um autor de monstros. O inferno, o inferno de Bosch é uma coisa pra gente não dormir mais, mas não precisa falar no inferno de Bosch. A gente pode pensar num pintor da Renascença, por exemplo, éh... éh... Michelangelo. A tela da Capela Sistina, o Juízo Final, Cristo maravilhosamente atlético, forte; e é hora do julgamento e não há nem um sorriso de piedade em Jesus Cristo, porque lá está o juiz, que agora vai fazer os acertos finais; e lá estão os condenados como se fossem contorcidos de medo sendo arrastados pelos demônios para o inferno. Esse é o mundo medieval. O juiz que não perdoa.

A doutrina cristã da expiação, vocês sabem da história da expiação, que Jesus Cristo morreu para pagar os nossos pecados. Pagar? Esse ensejo não tem nada a ver com amor! Porque Deus não perdoa! Então ele fez matar o seu filho para pagar a sua dívida. [...] Deus é um sádico que para ficar feliz tem que matar o filho? Quem pensou isso nunca teve filho! Porque vocês sabem... quem é pai sabe que é sempre o pai que se deixa matar para que o filho viva, mas é isso que pelo caminho inconsciente e perturbado o cristianismo medieval elaborou como sendo a fé. Então era aquele mundo do Deus vingador sádico. Ah! Como Deus é sádico! [...] tem um texto que diz assim: “Deus e os salvos, nos céus, contemplarão os condenados no inferno nos explendores do seu sofrimento para que sua alegria seja completa.” [R.A.] [...] absolutamente ortodoxa, essa [...] quer dizer que não é ortodoxa? Deus é Onisciente? É. Então ele sabe o que está acontecendo no inferno? Sabe. Ele pode sofrer com o que está acontencendo no inferno? Não. Por que que não pode sofrer? Porque ele é Onipotente. Se está assim no inferno é porque ele quis, ou seja, não é contra a vontade dele, porque se fosse contra a vontade, então ele não seria Onipotente. E se ele sofresse, ele não seria perfeito, porque Deus não pode sofrer. Então a única resposta é que Deus tem que ficar feliz ao contemplar o sofrimento dos condenados no inferno. Para mim, isso não é Deus, para mim, isso é o retrato do demônio! Mas era precisamente esse Deus que estava no céu no mundo medieval. Um mundo de câmaras de tortura. De degredo. O mundo é um lugar de degredo. Há uma oração, e que os irmãos católicos me perdoem, mas eu vou dizer. É uma oração que tá no rosário do terço que se chama Salve Rainha, Rainha, que diz assim: “nós, os degredados filhos de Eva, neste vale de lágrimas, nos lamentamos” . Degredados filhos de Eva, neste vale de lágrimas. Então isso aqui não é mais o paraíso, não é criação de Deus? E esse era o mundo em que viviam os medievais, e como Deus tem uma transa comercial em que as dívidas são pagas, havia uma agência bancária que tinha transações com outro mundo. Aliás, as agências tinham um negócio que se chamava caixa dos méritos super rogatórios. Vocês já ouviram falar nisso? Isso é termo teológico. Caixa dos méritos super rogatório é o seguinte: os santos, quando eles fazem bondade mais do que é necessário para a salvação, esse excesso de poupança fica numa caixa. Fica uma poupança geral, que é de posse da igreja. [R.A.] [...] É verdade, gente! É verdade! [R.A.]. Péra, eu não tô dizendo que é verdade... eu tô dizendo que essa é uma doutrina! [R.A.]. Bom aí o que que acontecia... Aí vocês vão compreender uma coisa, um incidente que provocou a reforma. Foi quando a igreja éh... éh... precisando de dinheiro, resolveu lançar bônus no mercado [R.A.] Eram as famosas... éh... éh... indulgências de Tetzel. Por quê? Porque a igreja tinha um lastro. Tinha um lastro grande de poupança para vender, então você vendia e trocava os méritos espirituais por dinheiro. Era um negócio que a igreja fazia. Foi um grande escândalo. Mas, sabe, a Reforma não foi para resolver isso não. Lutero não é um reformador, eu não gosto dessa palavra. Ele não era um reformador. Porque Reforma, vocês sabem o que que é Reforma? A casa tá com a parede descascada, você vai lá conserta a parede, você pinta a parede. Lutero não tinha o menor interesse em consertar aquela estrutura, aquela escuridão, aquela coisa absolutamente terrível, um inconsciente perturbado de pesadelos.

Deixa eu fazer um cortezinho aqui e contar pra vocês sobre um compositor austríaco chamado Gustave Mahler. Mahler era um compositor e regente austríaco-judeu e ele se converteu ao catolicismo para manter o seu emprego. E Mahler era especialista em sinfonias. E a sua segunda sinfonia se chama sinfonia da Ressurreição em que ele descreve o drama cósmico da humanidade, da morte do inferno. E no último movimento, o quinto movimento, o clima é o seguinte. É o próprio Mahler que [...] é o próprio Mahler que descreve o que está acontecendo. O clima é: chegou o dia do juízo, as sepulturas se abrem, os mortos saem dos túmulos, reis e mendigos, justos e injustos, homens e mulheres, homens de todas as raças saem e há um grito de terror por todo o Universo porque chegou a hora do acerto final. É o trágico! O cenário está coberto de nuvens negras. Medo! Hora dos livros serem abertos. Aí, repentinamente, no meio desse horror, ouve-se o canto de um rouxinol [...] Depois do rouxinol, segue-se o canto de um coro. Imagino que devem ter cantado o coral de Bach, mansamente passam as ovelhas. Tudo é tranqüilo. Tudo é bucólico. E aí, naquele momento, quando vão se abrir os livros, onde está a... a contabilidade de Deus, percebe-se que não há nada escrito nos livros, Deus não tem contabilidade. E é só felicidade. Não há salvos e condenados. Não há inferno. Só existe a grande bondade de Deus que transborda sobre o mundo [...].

O cântico do rouxinol. No lugar do Deus Juiz ele colocou outra coisa. Ele colocou uma fonte de bondade no centro do universo. Deus é uma fonte de bondade. E é isso que tem o nome de graça. Fonte, água. O Riobaldo diz: “onde tem muita água, tudo é feliz”. E o Pequeno Príncipe comentando no deserto, ele diz o seguinte: o deserto é belo porque em algum lugar existe uma fonte. Eu diria, então, o Universo é belo porque no seu centro existe uma fonte que é a bondade de Deus. Essa bondade de Deus, biblicamente, eu acho que não está expressa de maneira mais bonita que naquela parábola que... a que os pregadores e teólogos deram erradamente o nome de Filho Pródigo. Erradamente, por quê? Porque a parábola não termina com o Filho Pródigo – tinha outro filho, mas, geralmente os pregadores terminam com o Filho Pródigo, porque eles têm interesse em dizer que Deus perdoa, “então nós somos pecadores, podem voltar para a casa, porque Deus perdoa”. Mas o que falar com o filho mais velho? Qual é o papel dele na parábola? Então, eu vou fazer uma paráfrase daquela parábola. Parábola vocês sabem é uma... é a mesma coisa dita com outras palavras. O filho pródigo volta pra casa, defronta-se com o pai, sorridente, o pai, e diz: “pai [...] todo o meu dinheiro e gastei; eu sou devedor, tu és credor. O pai diz pra ele: “meu filho, eu não somo débitos [...]”. Aí ele vai conversar com o filho mais velho que estava furioso [R.A.] [...]. Aí o filho... o filho diz para o pai: “pai, sempre trabalhei fielmente. Tu nunca me pagaste nada. Nem mesmo me deste um carneiro para [...] para alegrar com os meus amigos. Eu sou credor, tu és devedor.” O pai diz: “meu filho [...]” Eles viviam num mundo de débitos e créditos. Então a parábola não podia se chamar Parábola do Filho Pródigo. Teria que chamar a Parábola do Pai Amoroso. Foi precisamente isso que Lutero compreendeu – que Deus é uma fonte transbordante de bondade.

E isso então cria pra gente uma imensa liberdade. Não sei se vocês sabem que um dos tratados mais importantes de Lutero é um tratado da liberdade cristã. Liberdade, por quê? Pelo seguinte: se não há contas a pagar, eu estou livre das cobranças do banco; eu não preciso mais do banco que faz a intermediação. Então, eu estou livre da intermediação, no caso, eu não mais preciso da intermediação da Igreja Católica. E é isso o que quer dizer o sacerdócio universal dos crentes. Nós temos livre acesso. Podemos ir diretamente beber da água. Não precisamos comprar água engarrafada em algum lugar. Nós somos livres. E depois, olha uma coisa sobre a fonte. Essa idéia da fonte é muito bonita, porque a fonte, ela sempre produz água limpa a despeito do que nós possamos fazer com ela. Eu posso ir lá colocar excrementos, sujeira, lixo. A fonte não reage. A fonte não reage – ela continua a ser boa. E é isso o que quer dizer graça. Deus é sempre Deus. Deus não reage àquilo que nós fazemos. Ele não fica bravo com quem não obedece e fica [...] com os que são bonzinhos. Ele é sempre bom. Então, se ele é sempre bom, nós temos a liberdade pra fazer o que quiser, porque a fonte nos libertou e agora nós estamos tomados de amor, e se nós estamos tomados de amor, a liberdade é total. Éh... Santo Agostinho, perguntaram a ele como é que a gente deve agir. Ele respondeu: “ama a Deus e fazes o que quiseres”. Mas não é verdade? Porque se eu amo, eu posso fazer o que eu quiser. Porque se eu amo, eu só farei coisas que signifiquem amor ao meu próximo. Eu não tenho que pensar que eu tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo [...] O que que o padre diz... Porque agora eu tenho liberdade para viver a partir [...] Liberdade de pensar.

Liberdade de pensar é uma das coisas mais deliciosas. Eu sei que muitas pessoas ficaram muito aflitas, éh... na igreja porque eu vinha falar aqui [R.A.] [...] pensamentos esquisitos [R.A.]. Mas isso é parte da tradição da Reforma.

Sabe, olha, eu quero dizer o seguinte: se Deus é sempre amor, se Deus não dá bola pra o que nós estamos fazendo [...] porque ele é sempre amor, como pai, é sempre amor, então nós somos livres pra pensar o que nós quisermos. Posso ser herege à vontade! [R.A.] Deus não tá ligando pra heresia [R.A.] porque os nossos pensamentos são tão tolos que se uma pessoa pensar que ela tem o pensamento certo acerca de Deus, essa pessoa deve ser trancada num éh... sanatório, num manicômio, [R.A.] porque só um doido varrido pensa que sabe coisas sobre Deus, porque Deus é um grande mistério. No Velho Testamento até era proíbido falar o nome de Deus. Agora os teólogos fazem tratado de Anatomia e Fisiologia divina [R.A.]. É isso que é pecado. Então, eu sou livre pra pensar o que eu quiser. E eu que gosto muito de escrever história pra crianças, muitas das histórias que eu escrevo, parece que é pra criança, mas é pra adulto. São pra adulto. Eu, então, escrevi uma história dedicada aos teólogos que acham que tem o jeito certo de fazer as coisas. É a história de um galo que cantava pra fazer o sol nascer. Vocês sabem essa história? Uma história antiga [...] Havia no galinheiro um galo. Todo dia ele ia com as galinhas, e com os perus e com os patos. De manhã, olhava o horizonte lá, e ele dizia: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Subia lá em cima. Batia as asas. Cantava. E ficava esperando o sol nascer e o sol nascia. E a galinhada, os patos e os perus ficavam esticados: “Meu Deus, que poder tem esse galo! Ele canta e o sol nasce!” – mas era interessante o seguinte: que havia pelo vale a fora uma quantidade enorme de galos. Todos eles cantando e todos eles diziam que o sol nascia por causa do seu canto. E cada galo cantava de um jeito diferente. Um cantava com uma partitura. Outro cantava com a outra partitura [R.A.] [...]. Mas afinal de contas qual é a partitura certa para fazer o sol nascer? 

Ninguém sabia qual era a partitura certa, mas vai acontecer uma coisa. É o seguinte: que aquele galo um dia [...] perdeu a hora e ele acordou com as gargalhadas do peru – gargalhando porque ele tinha (...) o sol tava lá, maravilhoso. Começaram a rir do galo, compreenderam que aquilo tudo era lorota do galo, que ele podia cantar à vontade, ou não cantar, que o sol ia nascer do mesmo jeito. E o galo entrou numa grande depressão [R.A.] e aí ele descobriu que não tinha tanto poder. Aí depois de passado muito tempo, a galinhada acordou de manhã com o canto do galo. Aí um peru veio caçoando: “tá cantando pra fazer o sol nascer?” E o galo disse: “Antigamente eu era teólogo e cantava pra fazer o sol nascer. Agora eu sou poeta, e canto porque o sol vai nascer.” [R.A.]

Gente, isso aí é uma das coisas mais centrais do espírito da Reforma que significa que nós somos livres, não é? Não é pecado pensar errado, porque ninguém sabe o que é pensar certo. Então a gente pode pensar do jeito que for, que não tem ortodoxo e herege. E quem quiser dizer que o outro é herege não está entendendo direito o espírito da Reforma.

[...] Surge esse mundo com mares montanhas, praias, vales, rios, aves, bosques, crianças, pássaros, animais, [...]. Este mundo é bom. A vida é boa. Este mundo é uma dádiva. Temos o direito de gozar este mundo. Não é um vale de lágrimas. Não é um lugar de degredo para os desgraçados filhos de Eva. Mas é um lugar que Deus com a sua graça e a sua bondade criou.

Então, vejam uma coisa interessante. Graças a esse Deus, nós somos libertados dos pensamentos tolos acerca da vida futura. Que são tolos os pensamentos... Que a gente nada sabe... Mas a gente sabe só de uma coisa: Deus tomou conta de tudo, então eu não tenho com o que me preocupar, não há nada que possa fazer [...]. E aqui nós realizamos aquilo que Lutero chamava a Vocação. Eu sou chamado para viver nesse mundo, da mesma forma como Deus é chamado a viver neste mundo. Ele achou esse mundo tão bom que, depois de criar o paraíso, largou o céu dele e ficou lá, andando no paraíso. Não é verdade? Vocês vejam que coisa interessante. Deus pode fazer uma coisa pior? [...] cabeça de jovem de vocês. Deus pode fazer uma coisa pior? Não. Deus é perfeito. Ele só pode fazer coisa melhor. Mas Deus criou o paraíso. Quer dizer que o paraíso é melhor do que o céu onde ele estava. Por que se o céu fosse totalmente bom, ele não teria criado o paraíso. Estaria contente com o céu. Não é verdade? Ele criou o paraíso e a cada momento que ele criava ele dizia: É bom, é bom, é bom, é bom, é muito bom. E ele achou tão bom que ficou andando lá pelo jardim. Vocês se lembram? Ele ficava passeando pelo jardim pela viração da tarde e aí ele chegou à conclusão que era muito melhor ser homem do que ser Deus [R.A.]. Heresia? Não! Foi por isso que ele se encarnou! Ele se transformou em homem, porque é bom ser homem e ser mulher, ainda com o risco da morte. Segundo a doutrina ortodoxa o Deus humano, Jesus Cristo, está incluso na Trindade. Na Trindade está [...] que é para isso que nós fomos criados.
Deixe só dizer. Sei que vocês estão cansados. Deixe só dizer mais uma coisinha. Tem uma coisa estranha dentro [...] que é a separação dos dois reinos. Vocês sabem que pra eles existiam dois reinos? O Reino da Lei e o Reino da Graça. Os dois são separados. Vocês vão entender que é muito interessante. Éh... pra isso eu vou usar um exemplo. Éh... perdão, o organista... éh... como é o seu nome? [...] Sabe construir orgãos? Não, não sabe, não sabe construir orgãos... coitado [R.A.] Quem constrói orgãos são pessoas altamente qualificadas que têm conhecimento científico. Esse órgão aí, ele é regido por uma lei. Não pode ter nada de arbritário. As notas tem que ser afinadas exatamente no jeito. Não pode ter arbitrariedade. Mesma coisa com a construção de piano. O Steinway – que são os pianos mais famosos – quem constrói um Steinway são, são artistas que sabem precisamente os décimos de milímetro [...] construírem pianos ou de outros construírem órgãos, não quer dizer que eles saibam tocar piano. Eles não são compositores, os fabricantes de Steinway, os fabricantes de órgão. Os compositores, os executantes não sabem fazer o instrumento, mas sabem tocar. Os outros sabem fazer e não sabem tocar.
Lei e graça é assim: lei é fabricar a coisa, fazer a coisa. Graça é sentar e tocar. As duas coisas são separadas. Completamente diferentes. Então Lutero dizia que as coisas são separadas. O que que o Reino da Graça faz? O Reino da Graça nos torna bons, melhores, mas isso não nos dá competência. 

Quando eu vou procurar um médico, eu não quero saber se ele é cristão. Acho que, espero que vocês também não queiram. Que a gente quer um médico que seja competente. Eu quero é competência. Está no Reino da Lei. É. Se eu quero um mecânico, eu quero um mecânico competente. Sujeito que saiba dominar aquilo. Mas competente, não quer dizer que o competente seja bom de coração. Ele pode não ser bom de coração, mas ele ser muito competente. Então as duas coisas são separadas. E o grande escândalo que existe é que ele dizia que, também, a fé não tem nada a ver com política. O mundo da Graça não tem nada a ver com o mundo, com a ordem secular, com a política. Mas vocês vão entender. É o seguinte: a política não faz ninguém bom. Parece até o contrário. O que torna as pessoas boas é a fonte de água da vida. Essa fonte de água da vida, então me diz [...] “é preciso lutar pra preservar a natureza”. Mas esse amor pela natureza não me dá a competência para estabelecer políticas pra preservação da Natureza. Isso é uma coisa totalmente secular, ele tem que saber sobre floresta, sobre água, sobre rios, sobre mares. São coisas seculares, não estão nas Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras não são livro de Ciência. As Sagradas Escrituras são um livro de poesia. Pela poesia, nós nos tornamos bons, pela Ciência, nós nos tornamos competentes.

Deixe só dizer mais uma coisinha. [...] leram aquele livro do Humberto Eco? O Nome da Rosa? É... no conselho medieval, nesse conselho havia um monge cego que achava que o maior pecado era rir. Ninguém se atrevia a rir na presença do irmão Pedro. No mundo do catolicismo medieval não era possível rir porque o mundo era realmente trágico, mas [...] descobre que não é aquilo que o rouxinol canta, então a gente tem a liberdade pra rir, então existe um elemento de humor ligado à Reforma é e por isso que um dos grandes pensadores reformados do século passado: R. Niebuhr. Ele dizia o seguinte: “o riso é o princípio da oração”, ou seja, pra orar a gente não pode se levar muito a sério não. A gente não deve nem acreditar nas coisas que a gente tá falando, tem horas que a gente fala tantas bobagens, tantas coisas. A gente tem que simplesmente confiar que Deus vai dar risada das bobagens que a gente tá falando. E a gente vai rir também, e a gente vai confiar que Deus sabe melhor do que nós as coisas. Então nós vamos rindo e na medida que nós vamos rindo, a gente vai dizendo a Deus assim : “olha, eu acredito na tua bondade, portanto eu não preciso ficar sério.”
[...] naquele dia ela fez uma história pra minha filha, e um dia eu viajava pro exterior e ela tinha 4 anos de idade. E ela começou a ficar muito angustiada por causa da viagem. Então eu disse a ela “vou te contar uma história”. E as histórias... ó eu não tenho a graça de tocar música assim, mas eu tenho a graça de escrever a história [R.A.].

E é uma coisa interessante [...] na história. É que a história não é um produto da cabeça não, ela aparece, é uma revelação [R.A.]. Então eu contei para ela a seguinte história. “Era uma vez uma menina que tinha por seu melhor amigo um Pássaro Encantado. O Pássaro era Encantado por duas razões: primeiro, porque ele não vivia em gaiolas e vinha quando queria. Segundo, porque ele vinha sempre com as penas coloridas nos lugares aonde ele tinha estado voando. Uma vez ele voltou completamente branco. Contou histórias com montanhas cobertas de neve. Outras vez, voltou completamente vermelho. Contou histórias de desertos cobertos pelo sol. Por que era grande a felicidade quando o pássaro e a menina estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia: “eu vou embora, menina”. E a menina chorava e dizia: “não vai não, pássaro, a gente é tão feliz” Aí o pássaro dizia pra ela: “Você não entende, menina, que eu sou só encantado por causa da saudade? É preciso que você tenha saudade de mim para que eu seja encantado. É preciso que eu tenha saudade de você pra que eu te ame. Então eu vou... pra sentir saudade, pra te amar.” Partia. A menina não se conformava, não acreditava no pássaro [...]. Então, ela teve uma idéia [...] Ela comprou uma gaiola de prata e disse: “vou prender o meu pássaro, e aí nós seremos eternamente felizes”. Foi o que ela fez. Comprou uma gaiola. Próxima vez que o pássaro chegou e contou as histórias, ele tava dormindo, e ela, cuidadosamente, [...] o pássaro e botou dentro da gaiola. De manhã, o pássaro acordou com um grito de pavor: “Ah! Menina, você não sabe o que você fez comigo. Você vai me destruir, eu vou deixar de te amar, você vai deixar de me amar e eu não serei mais encantado, não terei mais histórias pra te contar.” A menina não acreditou, mas foi o que aconteceu. O pássaro foi ficando triste, parou de cantar, não tinha mais histórias, foi perdendo as penas. Foi ficando murcho, estava morrendo. Até que a menina percebeu o que ela tinha feito com o pássaro e resolveu então abrir a janela... a gaiola.... a porta da gaiola. O pássaro voou e disse pra menina: “Menina, obrigado. Vai demorar. Vou embora. Vai demorar, mas eu vou sentir saudade de novo e na medida que eu sentir saudade, vou ficar encantado, minhas penas vão ter cores coloridas e você também vai ter saudades, você vai me amar de novo. Eu voltarei.” E o pássaro partiu. A menina sabia que em algum lugar do mundo, o pássaro estava, ele voltaria. Então todo o dia ela pensava “de onde será que meu pássaro virá”. Todo dia então ela se aprontava, botava uma flor na jarra e vestia um vestido novo, e pensava: “Quem sabe ele voltará hoje”.

Essa história eu escrevi porque a minha filha tava com medo da minha viagem. Depois eu descobri que, depois de publicada, essa história começou a ser usada por terapeutas para lidar com casais engaiolantes [R.A.] [...] mulher querendo botar o marido na gaiola [R.A.] Tá vendo! Ó, ô Alberto, você citou o Fernando Pessoa, né? Comunicar a nossa identidade íntima com eles. Foi só falar, que todo mundo deu risada, quer dizer, todo mundo tem culpa no cartório [R.A.] Todo mundo já [...] engaiolado. [R.A.] Aí um dia eu encontrei com uma pessoa que disse: “mais que linda história teológica você escreveu”. “Que história teológica?”, “Aquela da menina e o pássaro encantado!”. Aí eu fiquei parado. “Mah como?”. “Mas, escuta, o pássaro encantado não é Deus que as religiões põem na gaiola?”

Jesus Cristo estava trancado numa gaiola. Ele não voava mais. Era prisioneiro de uma instituição. Havia perdido o poder de fazer os homens felizes. E, de repente, aparece Lutero e abre e porta da gaiola. Aí o pássaro voa de novo.

A fé na Reforma é a fé num pássaro encantado que a gente não vê. Ele não está nas doutrinas, ele não está preso em qualquer lugar. Ele não é de uma igreja. Ele está ausente. Os sacramentos são a celebração de uma ausência. Mas é isso que é “em memória de mim”. Mas a gente só tem memória quando tá ausente! Mas é justamente na memória que a gente sente saudade. Deus não é prisioneiro de nenhuma igreja. Ele é um pássaro encantado [...] nossa imaginação que nós faz voar [...] encantado; e é aí que uma coisa estranha acontece com a gente. Começa a acontecer uma coisa nas costas e a gente percebe que asas estão crescendo [...]. Que a bondade de Deus não castiga [...] que nos chama ao amor, e com isso nós podemos fazer um mundo [...]

Edir Macedo ensinando seus pastores



Reportagem dos anos 80. Nascia no Brasil a Teologia da Prosperidade, onde Jesus Cristo não é Deus, mas apenas um meio para se obter dinheiro.

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