No dia 11 de Dezembro (2018) o Pastor Pedro Pamplona, do site Dois Dedos de Teologia, publicou um artigo com o título "Ilustrações de Jesus não Quebram o Segundo Mandamento". No texto o Pr. Pedro citou um artigo do meu blog e o fez com muita deferência e respeito. Devo dizer que aprecio muito os pastores que conseguem debater com respeito e amor cristão. Pelo que percebi no fluxo do texto, o Pastor Pedro é um destes. Que Deus abençoe muito o ministério desse meu irmão.
Para fins de instrução, eu escrevi uma resposta aos pontos abordados naquele artigo, com o fim de levar os leitores a compreenderem o que é requerido no 2º mandamento. Posto abaixo a resposta que enviei ao Pr. Pedro e que ele, prontamente, publicou:
Caro irmão, Pr. Pedro Pamplona,
Em primeiro lugar, agradeço a deferência ao meu blog e o
tratamento respeitoso ao pensamento contrário. Já que fui citado, sinto-me
obrigado a fazer um contraponto na esperança de convencê-lo que a interpretação
de Westminster quanto ao 2º mandamento, proibindo qualquer imagem de qualquer
das 3 pessoas da Trindade, está fiel ao ensino bíblico.
Em um ponto do seu escrito você disse:
“Quando falamos em ministério infantil, por exemplo, não
considero adequado o uso de ilustrações de Deus, o Pai. Muitas vezes ele é
retratado como um velhinho de barba branca, quase como um papai noel. Esse tipo
de ilustração constrói uma ideia errada sobre Deus na mente das crianças e pode
dificultar o aprendizado bíblico posterior sobre Deus e sobre a Trindade. Se
Deus se revelou como Espírito invisível, que o mantenhamos assim para sermos
fiéis à sua revelação pedagógica de si mesmo.”
Eu concordo plenamente com você e o mesmo argumento se
aplica a Cristo. Muitas vezes ele é retratado como um jovem de pele macia, olhos
claros e cabelos sedosos, quase como uma mulher. Esse tipo de ilustração
constrói uma ideia errada sobre Jesus na mente das crianças e pode dificultar o
aprendizado bíblico posterior sobre Deus e sobre a Trindade. Se Deus se revelou
como pessoa Teantrópica, que o mantenhamos assim para sermos fiéis à sua
revelação pedagógica de si mesmo.
Na sequência, você afirmou:
“Se o texto de Deuteronômio nos dizia para não fazermos qualquer imagem
de Deus porque ele não se revelara de forma visível, agora esta revelação
chegou até nós e não temos mais esse problema com a invisibilidade. Concluo que
se a imagem era errada por falta de revelação visível, a presença dessa
revelação possibilita algum tipo de ilustração.”
É equivocado dizer que Deus não se revelou de forma visível
antes de Cristo. Moisés viu a manifestação de Deus pelas costas (Ex 33.23) e
ele apareceu em forma visível, de modo teofânico, a Abraão (Gn 12, 18), a Jacó
(Gn 32), a Josué (Js 5.14), a Isaías (Is 6) e a outros. João Calvino defende,
inclusive, que todas as teofanias do AT são Cristofanias, pois, na economia da
Trindade, a segunda pessoa é responsável pela manifestação visível de Deus. Assim,
quando Cristo se encarna, a diferença é quanto à perenidade da manifestação. O
que era passageiro, eventual e provisório, agora se torna encarnado e perene.
Mesmo com todas as manifestações visíveis, teofânicas, de Deus no AT, nenhum
desenho foi gerado. Pelo contrário, quando Moisés viu a Deus, de forma tão
intensa que teve que usar véu porque seu rosto resplandecia (Ex 34.29), a
primeira coisa que fez não foi um desenho, mas lavrar duas novas tábuas de
pedra para que Deus escrevesse Palavras (Ex 34.1).
Você usa bastante os argumentos de John Frame, que é, de
fato, uma mente brilhante, mas, infelizmente, um conhecido dissidente da
subscrição confessional. Um das citações é esta:
“O docetismo diz que Jesus não
veio realmente em carne. Esse é um erro muito sério, que devemos desencorajar
em nossos filhos. Em vez disso, devemos incluir imagens de Jesus em nossos
materiais de ensino, de modo a dar aos nossos alunos algum sentido da
visibilidade profunda da vinda de Deus para o nosso meio.”
Eu digo que Frame está certo no diagnóstico, mas não no
remédio. Tratar Jesus como um espírito, ou um ser invisível é docetismo mesmo.
Mas a solução não é desenhá-lo como se fosse um mero humano (ebionismo), mas não
dar aparência a ele. Hollywood (até os anos 80) e algumas editoras cristãs
sérias conseguiram contar histórias de Jesus sem mostrá-lo. Ele está lá, de
carne e osso, mas não aparece a sua imagem, ninguém sabe qual é o seu rosto, ou
a sua altura, ou a sua cor de pele. Assista o filme o Manto Sagrado (1953) e
Ben Hur (1959), como exemplos.
Em outro ponto do texto, você disse:
“Novamente discordo de Westminster (acho que você já
percebeu que não tenho nenhum problema com isso). E não só discordo, mas creio
que eles foram longe demais nessa posição. Não há qualquer base bíblica para
afirmar isso em relação a Jesus. O que dizer dos discípulos que viram Jesus?
Eles não poderiam ter lembranças imperfeitas sobre ele? E o que dizer das
imagens misteriosas que a própria Bíblia nos oferece sobre o Cristo que
voltará? Você lembra da imagem cristológica-escatológica de Apocalipse 19?”
Eu digo que não há problema em você discordar de
Westminster, visto que você é pastor batista. Para um pastor presbiteriano, isso é um problema grave, pois houve
subscrição confessional. Sobre o mérito, os discípulos não quebraram o segundo
mandamento porque, diferentemente de nós, eles tiveram acesso físico à pessoa de Cristo. Suas memórias
eram reais quanto a Jesus. No nosso caso, como Deus deixou a nós palavras e não
imagens, todas as nossas imagens quanto a Jesus são falsas. Tanto é assim que o
texto que você usou de Apocalipse 19 confirma isso. Não é uma descrição da
aparência de Jesus, mas uma descrição simbólica, com olhos de chama de fogo. No
começo do livro, João o descreve não de modo real, mas por símbolos:
“A sua cabeça e cabelos eram brancos como
alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze
polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da
boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes.” (Ap 1.14-16).
Ora, se como você
disse “Esse texto é um convite claro das Escrituras para criamos uma imagem de
Jesus em nosso imaginário”, o Jesus que teremos em nossa mente é o de um homem
com chamas de fogo nos olhos, voz de muitas águas e com uma espada afiada
saindo da boca. Nada comparado aos rostos efeminados que os artistas atuais têm
produzido sobre Jesus.
Concluo agradecendo o respeito, mas esperançoso de
que o pastor reveja seu pensamento. Não há qualquer base na bíblia para representações de Jesus por imagens. Aqueles que conviveram 3 anos com ele nos
deixaram palavras, não imagens. E a igreja cristã seguiu este rumo. Que Deus
abençoe o irmão.
Leia também:
- Podemos Usar Imagens de Jesus? - Vários autores
- Imagens de Cristo - John Murray
Leia também:
- Podemos Usar Imagens de Jesus? - Vários autores
- Imagens de Cristo - John Murray
6 comments:
Excelente, Ageu!
Meu Irmão Rev. Ageu Magalhães, exelente materia. Principalmente nessa época do ano, as historia contadas nas igrejas sempre vem apresentado com imagem, que se torna um error.
Mas quando usamos imagens para o ensino das crianças, sabemos que isso é uma mera representacao, não adoramos e nem nos prostramos perante elas, é só uma ilustração de fatos q ocorreram! Se formos levar ao pé da letra esse verso de êxodos vamos apagar todas as pinturas que existem no mundo vamos começar jogando no lixo o quadro de Monalisa e depois terminamos no famoso quadro da Santa Ceia!
Muito bom esse texto! Deus o abençoe Rev.!
Concordo com o irmão. Deus o abençoe ricamente.
"Não há qualquer base na bíblia para representações de Jesus por imagens. Aqueles que conviveram 3 anos com ele nos deixaram palavras, não imagens." pr.Ageu Magalhães.
Li todo o texto e creio que essa sentença acima encerra toda a questão e discussão.
Post a Comment