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April 8, 2020

O Leão Ruge - Pensamentos sobre o COVID-19 - Joseph Pipa





Um dos meus alunos no Greenville Presbyterian Theological Seminary me pediu para fazer uma reflexão sobre a situação atual envolvendo a questão do COVID-19 (novo Coronavírus).

Primeiro, afirmamos a partir das Escrituras que tudo o que está ocorrendo em relação a esse vírus, em todo o mundo e em nosso próprio país, faz parte do bom e soberano propósito de Deus. Deus preordenou tudo o que acontece, e ele executa seus decretos mediante a sua providência (Dn 4.34-35; Sl 135.6). Ao asseverar os decretos absolutos de Deus, não excluímos as causas secundárias, mas confessamos que a causa primária é a boa vontade de Deus. O bom propósito de Deus abrange cada doença, cada morte, além de todas as crises sociais e econômicas. Além disso, Cristo, como Rei e Mediador, está dirigindo todas as coisas para o bem e por amor da sua Igreja (Ef 1.22, 23). A realidade do controle soberano de Deus sobre esta novela Coronavírus e sua disseminação, tem influência direta em nosso pensamento, em nosso modo de falar e em nosso comportamento diante disso.

Segundo, visto que essa pandemia está de acordo com a santa vontade de Deus, precisamos nos perguntar: "O que Deus está fazendo?". Por meio de perguntas retóricas sobre causa e efeito, o profeta Amós expõe a relação entre um e outro: “Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo? Rugirá o leão no bosque, sem que tenha presa? Levantará o leãozinho no seu covil a sua voz, se nada tiver apanhado? Cairá a ave no laço em terra, se não houver armadilha para ela? Levantar-se-á da terra o laço, sem que tenha apanhado alguma coisa? Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá?”. Em seguida, o profeta faz uma relação com as obras de Deus: “Sucederá algum mal na cidade sem que o Senhor o tenha feito? Certamente o Senhor não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o Senhor Deus, quem não profetizará?” (Am 3.3-8).
Deus está rugindo e ele já revelou coisas em sua Palavra nas quais devemos pensar e falar.

Primeiro, Deus está agindo através dessa "calamidade natural" com todas as suas repercussões para proclamar seu santo juízo. De fato, o Senhor é longânimo e tardio em irar-se, mas, ao longo da História, ele age periodicamente em seus juízos temporais. É correto dizer que nada dessa magnitude mundial acontecia desde a II Guerra Mundial. Deus está julgando as nações por sua idolatria e corrupção. Mas, vamos considerar a situação atual do nosso próprio país. Não estaria Deus julgando os Estados Unidos? Somente neste ano foram realizados aproximadamente 140.000 abortos (desde 1.o de janeiro de 2020). Pervertemos a santa aliança do casamento com promiscuidade sexual, adultério, pornografia e sodomia. Entre nossos muitos ídolos estão o esporte e o materialismo.

O leão está rugindo? Com certeza. Deus ruge.

Segundo, Deus está corrigindo e instruindo o seu povo. Os cristãos não estão isentos dos sofrimentos causados por esse vírus. O apóstolo Pedro ensina que o juízo começa com a família de Deus (1 Pe 4.17). Para nós, no entanto, não é um julgamento de castigo e punição, mas de disciplina: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enfades da sua repreensão. Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem.” (Pv 3.11, 12). Essa correção é corporativa e individual; pode ser por pecados específicos ou, de modo geral, para corrigir e purificar. Individualmente, devemos examinar nossa própria vida para ver se Deus está nos corrigindo individualmente por pecados específicos. Caso venhamos a discernir atitudes ou ações específicas que têm relação direta com as consequências provocadas pelo vírus, então nos arrependamos e busquemos a graça de Deus. Caso não haja uma relação específica, busquemos a graça santificadora de Deus por meio do sofrimento que pode nos acometer.

Corporativamente, Deus está purificando sua Igreja. Como cristãos, de modo rebelde e reiterado profanamos o Santo Dia do Senhor com trabalho e entretenimento (que Deus relaciona com a idolatria, Ez 20.13-16); por causa do vírus, agora muitos estão proibidos de sair para trabalhar ou se divertir em todos os dias da semana.

Cada vez mais a Igreja substitui a santa adoração pelo entretenimento. Agora Deus fechou as portas de nossas igrejas. O povo de Deus parece estar satisfeito em ter apenas um culto no Dia do Senhor; então, Deus removeu todos os cultos. Temos recebido levianamente os privilégios do culto como congregação; temos sido impedidos de adorar corporativamente.

Qual será, então, a nossa resposta? A seguir ofereço seis exortações:

1) Não olhe para aqueles que sofrem com um olhar de justiça própria. Comece com você mesmo; arrependa-se (Lc 13.1-5). Arrependa-se, individualmente, dos seus pecados; e arrependa-se, corporativamente, dos pecados da Igreja e do nosso país.

2) Busque a graça santificadora de Deus para sua própria vida. Não desperdice sua tribulação. Ore para que Deus trabalhe em sua vida por meio dessa provação. Lembre-se de que o Senhor prometeu que tudo isso coopera para o seu bem (Rm 8.28).

3) Peça a Deus que, na sua ira, lembre-se da misericórdia. Ore para que ele retenha sua mão de juízo e conceda graça. Ore para que muitos venham ao conhecimento salvífico do Senhor Jesus Cristo através dessa pandemia. Ore pedindo oportunidades de falar com seus vizinhos sobre a santidade e a graça de Deus. Ore pelas transmissões ao vivo dos cultos. Muitas pessoas que não iam aos cultos regulares da igreja agora estão ouvindo o evangelho.

4) Ore pelas pessoas que, em todo o mundo, estão agora gravemente doentes. Ore para que Deus poupe essas vidas. Ore por aqueles que não dispõem de provisão de suas necessidades básicas para a vida cotidiana. Ore para que não haja uma recessão econômica mundial.

5) Não fique ansioso. Deus cuidará de você (Mt 6.25-44; Fp 4.4-7). Descanse no cuidado amoroso de seu soberano Salvador. Agradeça a Deus por tudo o que ele está operando. Ao orar, lembre-se da definição de oração do Breve Catecismo de Westminster, Pergunta 98: “O que é Oração? A Oração é um santo oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas misericórdias.”

6) Durante o período de isolamento e quarentena, podemos aumentar a empatia por nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo que não tiveram condições de se reunir no Dia do Senhor para a adoração corporativa por causa de perseguições. O que para nós é algo comum, para eles seria um privilégio. Portanto, lembre-se deles e ore por eles.

Dr. Joseph A. Pipa, Jr., Presidente e Professor de Teologia Sistemática e Homilética do Greenville Presbyterian Theological Seminary, EUA.

Extraído do site @Puritanos


Sem o Sinal, mas não sem o Significado - Rev. André Silvério




Desde a minha conversão, nos anos 90, é a primeira vez que não irei participar da Ceia do Senhor, e por um motivo realmente justificável. Eu imagino que será algo realmente lamentável não ter aquele momento tão especial. Acredito ainda que este será o sentimento de todo crente verdadeiro no próximo domingo. Infelizmente, temos notícias de que algumas igrejas desavisadas “celebrarão virtualmente” a Ceia do Senhor, como se isso realmente fosse possível. É uma grande contradição, uma vez que a Ceia, além de tudo, é símbolo de comunhão, no contexto do povo da aliança reunido em culto público. Diante dessa situação tão difícil, o que devemos ter em mente?

Em primeiro lugar, precisamos considerar que a Ceia do Senhor é um sacramento – uma santa instituição de Cristo – contudo, a Ceia (bem como o batismo) não é absolutamente necessária à salvação. Não é a participação nela que manterá segura a salvação do crente. Quanto a isso, podemos ficar totalmente tranquilos e confiantes na eficácia da obra redentora de Jesus Cristo. 

Em segundo lugar, o sacramento da Ceia é um elemento exterior e visível. Sendo a Ceia um sinal, ela aponta para algo significado. Este algo constitui a substância interior do sacramento, como muito bem afirmou Louis Berkhof. Portanto, participar da Ceia é muito mais do que meramente comer um pedaço de pão e tomar um cálice de vinho. Sabiamente, a nossa Confissão de Fé diz que “os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo crucificado e todos os benefícios da sua morte, e nele se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente, nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos corporais.” (CFW 29, 7). A Ceia transcende o visível e nos leva ao invisível – à comunhão espiritual com Cristo.

Em terceiro lugar, embora estejamos “impedidos” de participar do sinal (o pão e o vinho), não estamos separados do seu significado – a morte de Cristo em nosso lugar. Eu creio que seja uma excelente oportunidade para que relembremos o sacrifício de Cristo em nosso lugar, mesmo sem a mesa posta diante dos nossos olhos. E, para isso, temos a proclamação da Palavra que exalta a obra de Jesus. Mesmo sem Ceia, devemos examinar o nosso coração (1Co 11.28), confessar os nossos pecados, buscar a misericórdia do Senhor, perdoar os nossos irmãos faltosos e, sobretudo, anelar pelo dia no qual estaremos, novamente, diante da mesa do Senhor, lado a lado com nossos irmãos.

Lembre-se de que, embora você esteja separado momentaneamente da Ceia, isto é, do sinal, nunca estará realmente separado de Cristo, da sua obra e do seu amor sacrificial, o real significado da Ceia. Amém!

Ceia virtual On-line? Como a exegese pode ajudar? Rev. João Paulo Thomas de Aquino



Vejam como a teologia é dinâmica! Com o passar do tempo novas perguntas surgem e perguntas antigas são feitas de formas diferentes. Para todas as respostas, a Bíblia deve continuar sendo a nossa única regra de fé e de prática. Uma pergunta que atualmente tem dividido teólogos ao redor do mundo é a seguinte: Considerando o atual estado de distanciamento social por causa do novo Coronavírus e a possibilidade de fazermos reuniões virtuais, é correto ministrar a Ceia do Senhor online? Esse pequeno artigo visa a contribuir para a discussão apresentando alguns aspectos exegéticos do texto de 1 Coríntios 10 e 11.
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1) O verbo grego συνέρχομαι (synércomai).
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O verbo grego συνέρχομαι (synércomai) é muito importante no texto clássico da Ceia do Senhor, 1 Coríntios 11.17-34, pois ele aparece 5 vezes, nos versículos 17, 18, 20, 33 e 34. O verbo significa “reunir-se com outros como um grupo, ajuntar, agregar” (BDAG). A palavra é formada pela preposição syn, que significa “com” e pelo verbo ércomai, que significa “ir, vir”. É por isso, que a palavra também tem outros significados tais como “vir ou ir junto com uma ou mais pessoas, viajar junto com alguém” e “unir-se em relacionamento íntimo, ajuntar-se em um contexto sexual” (BDAG). Vejamos as ocorrências do verbo no texto em português:
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17 Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior.
18 Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja; e eu, em parte, o creio.
20 Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis.
33 Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros.
34 Se alguém tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para juízo. Quanto às demais coisas, eu as ordenarei quando for ter convosco.
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Note que o uso do verbo acontece no começo do texto (v. 17, 18 e 20) e no final (v. 33 e 34), formando assim uma moldura que “abraça” todo o texto e destacando por meio da estrutura a importância do conceito.[1] Note que, além do uso do verbo no versículo 18, Paulo qualifica essa reunião como sendo uma reunião “na igreja” (συνερχομένων ὑμῶν ἐν ἐκκλησίᾳ). Os irmãos coríntios se reuniam em casas, nas casas das pessoas mais abastadas da comunidade, ainda assim, quando eles estavam reunidos, era ali que estava presente a igreja. No versículo 20, Paulo qualifica a reunião como sendo “no mesmo lugar” (Συνερχομένων οὖν ὑμῶν ἐπὶ τὸ αὐτὸ), novamente enfatizando a ideia que o verbo já deixava clara.
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2) O problema enfrentado pelos Coríntios na ceia
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O grande problema do qual Paulo está tratando ao escrever esse trecho é que os Coríntios haviam transformado a Santa Ceia em um momento de divisão em vez de comunhão. Paulo diz que eles estavam se ajuntando “não para melhor, e sim para pior”. A NVI interpreta corretamente essa expressão de Paulo dizendo “as reuniões de vocês mais fazem mal do que bem”. O problema é que havia divisões (σχίσματα, skísmata) entre os coríntios quando comiam a ceia (v. 18). Durante a ceia eles se dividiam em partidos, facções (αἱρέσεις, hairésseis). Paulo torna o problema totalmente explícito no versículo 21: “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague”. Na época do Novo Testamento, a Santa a Ceia era uma refeição mesmo. Aparentemente, as próprias pessoas levavam a comida para compartilharem. O que parece acontecer em Corinto é que as pessoas não compartilhavam o que haviam levado (cada um toma a sua própria ceia, (ἕκαστος γὰρ τὸ ἴδιον δεῖπνον προλαμβάνει ἐν τῷ φαγεῖν). O momento havia deixado de ser a Ceia “do Senhor” (v. 20) para ser a ceia própria “de cada um” (v. 21). Essa divisão fica clara também no fato de que eles faziam isso com uma pressa enorme, cada um tomava a sua própria ceia “antecipadamente” (προλαμβάνει). Ou seja, em vez de esperarem uns pelos outros, aqueles que tinham mais condições financeiras parece que começavam a refeição antes dos mais pobres chegarem.
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O triste resultado é que na festa máxima da comunhão da igreja, as pessoas de melhor condição financeira ficavam empanturradas e bêbadas e aqueles que condição social mais baixa passavam fome! Dessa forma, a igreja era desprezada e aqueles que nada tinham (τοὺς μὴ ἔχοντας), ou seja, os pobres, eram envergonhados. Esse tipo de desprezo da comunhão e da unidade da igreja no momento da ceia estava causando o enfraquecimento e até mesmo a morte de alguns membros da igreja coríntia (v. 30).
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Qual é a solução proposta pelo apóstolo? A solução de Paulo no final do texto (v. 33 e 34) é que os coríntios esperassem uns pelos outros (ἀλλήλους ἐκδέχεσθε) e matassem a fome em suas próprias casas (ἐν οἴκῳ ἐσθιέτω) a fim de não se reunirem para juízo.
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3) O Significado da Santa Ceia em 1 Coríntios 10
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Não é só em 1 Coríntios 11.17-34 que Paulo fala sobre a Santa Ceia, mas em 1 Coríntios 10 o apóstolo também ensina sobre esse maravilhoso sacramento. Em 1 Coríntios 8 a 10, Paulo está ensinando sobre se o cristão pode ou não comer comida sacrificada a ídolos. Nesse contexto, Paulo fala sobre o antigo Israel e diz que eles foram batizados no mar (1Co 10.1-2) e eles também tomaram uma espécie de Santa Ceia (1Co 10.3-4). No entanto, isso não os impediu de serem mortos e espalhados pelo deserto por se envolverem com idolatria e festas pagãs.
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Quando Paulo vai aplicar os exemplos do antigo Israel (1Co 10.1-13) para a igreja (1Co 10.14-22), ele foca totalmente na Santa Ceia e no absurdo de alguém que participa da comunhão do pão e do cálice querer participar também de festas pagãs com comidas dedicadas a ídolos. O versículo central da argumentação de Paulo é 1Co 10.16: “Porventura, o cálice da bênção [τὸ ποτήριον τῆς εὐλογίας] que abençoamos [ὃ εὐλογοῦμεν] não é a comunhão [κοινωνία] do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a comunhão [κοινωνία] do corpo de Cristo?”
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O apóstolo está argumentando que quando participamos da Ceia do Senhor, nós estamos de alguma forma, nos tornando ainda mais participantes do corpo e do sangue de Cristo, ou seja, eles estão se tornando comuns a nós, são-nos comunicados espiritualmente. Na Santa Ceia existe uma transação espiritual acontecendo. O celebrante abençoa os elementos e esses elementos levam a bênção para o povo de Deus e essa bênção diz respeito a uma participação maior no sangue e no corpo de Jesus Cristo e os benefícios que estes nos trazem.
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Em todo esse trecho (1Co 10), Paulo se refere aos elementos da Santa Ceia e suas referentes no singular: “comeram um só manjar espiritual” (1Co 10.3), “bebiam da mesma fonte espiritual” (1Co 10.4), “bebiam de uma pedra espiritual” (1Co 10.4); “o cálice da bênção que abençoamos” (1Co 10.16); “o pão que partimos” (1Co 10.16), “um pão, um só corpo… único pão” (1Co 10.17); “o cálice do Senhor” (1Co 10.21) e “a mesa do Senhor” (1Co 10.21).
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Por meio dos conceitos de bênção (eulogia), comunhão (comunalidade, koinōnia) e insistente singular nos elementos, Paulo está deixando claro que o significado profundo e sobrenatural da Santa Ceia diz respeito a uma comunhão e unidade que os cristãos têm com Cristo e consequentemente entre si.
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4) O Significado da Santa Ceia em 1 Coríntios 11
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O capítulo 11 de 1 Coríntios mostra uma riqueza imensa no que concerne aos significados e aplicações práticas da Santa Ceia. O texto fala da Ceia como um momento de obediência (1Co 11.23-25), unidade cristã (1Co 11.23-25), rememoração do sacrifício vicário de Cristo (1Co 11.23-25), proclamação da morte substitutiva do Senhor (1Co 11.26), esperança da parousia (volta) de Jesus (1Co 11.26) e autoexame (1Co 11.28). Explorar cada um desses significados extrapolaria os nossos objetivos nesse artigo, então focaremos naquele que mais diz respeito ao nosso assunto.
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O que Paulo quer dizer pelas expressões “comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente”; “Examine-se, pois, o homem a si mesmo” e por “quem come e bebe sem discernir o corpo”. É evidente no texto que essas expressões estão inter-relacionadas. Devemos examinar a nós mesmos para não comermos sem discernir o corpo, o que seria sinônimo de comer e beber indignamente. Fazê-lo, atrai juízo. Mas, o que é isso?
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Considerando o que vimos nos pontos 1 e 2 desse artigo, comer indignamente, ou seja, sem discernir o corpo é comer de tal forma a desprezar a unidade do corpo de Cristo. Os coríntios comiam de forma indigna quando desprezavam a unidade e comunhão do corpo de Cristo na hora da ceia, fazendo com que a igreja se dividisse em partidos por questões socioeconômicas. O autoexame recomendado por Paulo, dessa forma, não diz respeito a um exame pessoal a respeito dos mais diversos pecados que porventura o participante tenha cometido, mas é uma ordem para avaliar se em nossa maneira de agir temos desprezado a comunhão e unidade que devem caracterizar o Corpo de Cristo, ou seja, a Igreja.
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Apontamentos Finais
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O principal assunto da Santa Ceia, conforme apresentada por Paulo em 1 Coríntios, diz respeito à união do Corpo de Cristo. Vimos que essa união dizia respeito (1) ao ajuntamento; (2) a lutarem contra divisões humanas, (3) à comunhão de todos com o único pão que é Cristo e (4) ao dever de se examinar se estamos sendo dignos do corpo de Cristo (igreja) ao comermos.
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  • Essa análise, mostra que devemos pensar criticamente a respeito da maneira habitual da ceia em nossas igrejas: cada crente com um pequeno cálice e um pequeno pão, previamente preparados, examinando os seus próprios pecados de maneira individual. À luz do nosso texto, seria esta é a melhor maneira de celebrarmos esse sacramento cheio de significado e realidade sobrenatural? Ou será que a nossa maneira habitual já não é individualista demais?
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  • Em uma possível “Ceia virtual” não estaríamos reunidos (em assembleia e no mesmo lugar), os aspectos da unidade ficariam esfacelados à medida em que não estaríamos comendo de um mesmo pão e bebendo de um mesmo cálice; a noção de corpo de Cristo estaria prejudicada por causa da distância física.
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Assim, à luz de tudo o que vimos, parece-nos, também, que uma celebração da Santa Ceia na qual cada cristão está em sua própria casa, prepara o seu próprio pão e come e bebe enquanto participa do “culto on-line” não faz justiça a toda a riqueza de significado que Paulo atribui à ceia, nem as instruções práticas transmitidas por Jesus para o apóstolo.

Em Tempos de Pandemia, Como Fica a Comunhão? Rev. Heber Junior


A pandemia gerada pela COVID-19 tem mexido com os nossos relacionamentos porque, em um mundo quebrado como o nosso, relacionamentos sempre sofreram com os efeitos da Queda. O Coronavírus é apenas um lembrete de que o pecado trouxe barreiras sociais resultando em desajustes em nossas sociabilizações (inveja, ira, irresponsabilidades), idolatrias de relacionamentos (namoro, trabalho, família) e falta de satisfação nessas relações (descontentamento). Pecado é muito maior do que Coronavírus e ele tem nos afetado socialmente desde a Queda.
Por isso, a nossa redenção tem um elemento social. Cristo quebrou as barreiras sociais objetivamente (Ef 2.14-16), tornou possível que fôssemos feitos um só povo, uma só nação, um só corpo sob o mesmo Cabeça. Ainda que a presença física de Cristo esteja temporariamente suspensa, estamos unidos a Ele pelo Espírito, e é tal Espírito que promove a nossa comunhão com Deus (2 Co 13.13) e com o próximo (Fp 2.1). Por isso a igreja, desde a patrística, tem sido chamada de “comunhão dos santos” (Credo Apostólico) e durante a Reforma celebrou esse termo para a igreja (João Calvino). Mas como fica a nossa comunhão em tempos de quarentena, de isolamento social?
Essa pergunta não é só teórica ou retórica, mas eminentemente prática e requer ponderação. Teólogos do passado articularam a necessidade de contato físico e presencial para o exercício da comunhão. A Confissão de Fé de Westminster diz que os crentes unidos a Cristo “estão obrigados ao cumprimento dos deveres públicos e particulares que contribuem para o seu mútuo proveito, tanto no homem interior como no exterior.” (CFW 26.1). O parágrafo seguinte diz que os cristãos estão “obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios” (CFW 26.2). A Confissão de Fé está nos ensinando acerca de edificação mútua no ajuntamento público (Hb 10.24-25), mas também nos lembrando que comunhão estende além da localidade de culto, abrangendo a comunhão de bens com os necessitados (At 2.42, 44-45). Estamos parcialmente impedidos de prestar serviços espirituais e de socorrer as pessoas materialmente. Portanto, estamos experimentando obstáculos à experiência de comunhão.
Não podemos dizer que os meios virtuais suprem totalmente essa falta. Por sermos seres físicos, há coisas que não podemos fazer à distância. Não podemos experimentar todas as coisas do culto quando estamos sozinhos: não expressamos nossa alegria em louvores a uma só voz, não batizamos virtualmente e não partilhamos do pão da ceia. Sobre esse último assunto, Scott Swain disse muito acertadamente que não podemos partilhar da ceia virtualmente porque o sinal do sacramento não reside somente nos “elementos” (pão e vinho) mas inclusive na refeição compartilhada (1 Co 10.17; 11.33), exatamente o que não acontece quando estamos separados; por isso, ele argumenta que estamos em tempo de lamento, no qual não participamos da ceia, embora ansiamos o dia de tê-la de volta. [1]
Pelas mesmas razões semelhantes às da ceia, também não podemos ser reunidos em culto público. Isto é, podemos prestar vários cultos separadamente (individual ou doméstico), mas não cultuamos virtualmente, exatamente porque culto público é sinônimo de ajuntamento. Isto é, testemunhamos como corpo reunido que somos adoradores do Cristo ressurreto. Pregamos essa realidade contra os desigrejados, defensores da irrelevância de participar de uma igreja local. Além de culto, também somos impedidos de prestar certos serviços materiais aos irmãos. Portanto, é inegável que estejamos experimentando uma privação na experiência dessa comunhão. Não podemos fugir dessa realidade de que não saboreamos a doçura da comunhão dos santos da mesma forma como fazíamos antes da pandemia.
Meu lamento, contudo, não visa expressar uma visão pueril e pessimista de comunhão. Quando chamamos aquele momento após o culto de “café da comunhão”, aí sim estamos dizendo que comunhão é tão banal quanto tomarmos café juntos. Costumamos igualar comunhão a encontros, a reuniões, e assim perdemos o peso do que significa termos comunhão com Deus e com os irmãos, algo que extrapola o encontro físico. No íntimo, sabemos que a comunhão com Deus e com o próximo não acabou porque o Coronavírus nos deixou em casa longe uns dos outros; existe algo muito rico que, mesmo não sendo experimentado plenamente, é real em nossas vidas. Portanto, precisamos encontrar uma forma mais profunda de expressar essa verdade bíblica.
É aqui que podemos aprender com o início da Primeira Epístola de João. O apóstolo João tivera um contato físico com Jesus e estava testificando da realidade de seu ministério àqueles que não haviam visto ou apalpado a Jesus (cf. Jo 20.30-31). Na sua primeira epístola João queria ensiná-los que, mesmo sem o contato físico com Jesus, os leitores também tinham comunhão com o Pai e com o Filho (1 Jo 1.1-3), além de comunhão com os irmãos (1 Jo 1.7). João está preocupado em certificar crentes de sua fé (1 Jo 5.13); ele quer mostrar aos seus leitores como podemos saber que temos comunhão com Deus e com os santos. Já que o contexto de falso ensino estava assolando a fé cristã, João promove os chamados “testes” para que os fiéis fossem confirmados na fé: o teste doutrinário (1 Jo 2.22-23; 4.2-3), o teste social (1 Jo 2.7-11; 3.11-18) e o teste moral (1.5-10; 2.3-6). É significativo que esses testes expressem que nossa comunhão com Deus está calcada na verdade (aspecto doutrinário), no usufruto de atributos divinos (aspecto moral) e na realidade de estarmos unidos a Cristo (aspecto social). Sendo assim, 1 João é uma carta para nos ajudar a compreender a riqueza da nossa comunhão com Deus e com os santos.
Há muito que o Novo Testamento nos ensina sobre “comunhão” ( koinonia em grego) que não podemos compartilhar nesta postagem. Em geral, o conceito de comunhão está ligado a ter algo em comum com alguém. Como o koinonos é o ‘companheiro’ (Lc 5.10; 2 Co 8.23; Fl 17), exercer ‘comunhão’ está relacionado a partilhar bens (At 2.42, 44; Rm 15.26; 2 Co 8.4; 9.13), cooperar em serviço (Fp 1.5; Hb 13.16), e participar no mesmo ofício (Gl 2.9). No entanto, Peter Toon afirma que 1 João traz o uso teológico mais claro de toda a Escritura, no qual o sentido básico de ‘comunhão’ é de um partilhar real e prático da vida eterna com o Pai e com o Filho.[2] Somos inseridos na vida de Deus e isso nos permite compartilhar de suas bençãos. É Deus quem produz essa comunhão com Cristo pelo Espírito, assim como a unidade da igreja é produzida pelo Espírito (Ef 4.3). Isto é, esforçamo-nos por preservar essa unidade intacta, livre de empecilhos pecaminosos, assim como esforçamo-nos por manter a comunhão sem barreiras. Isso nós devemos fazer! Mas não conseguimos criar ou aniquilar a comunhão com Deus e com a igreja.
Perceba que essa comunhão com Deus não pode ser rompida nem mesmo pelo nosso pecado (1 Jo 1.7-2.2). O pecado pode tirar nossa alegria da salvação (Sl 51.12), mas não nos tira a salvação. Pecados maculam a doce experiência de deleite na presença de Deus, mas graças a Deus eles não podem nos desconectar do Senhor. Nos Salmos, o salmista tinha a experiência de que o Senhor lhe havia abandonado; mas era apenas a sua experiência que estava prejudicada, seu saborear das graças divinas, não seu status com Deus. O sangue de Jesus é a base enquanto a confissão de pecados é o meio para restaurar essa experiência de deleite com Deus e com o próximo (1 Jo 1.7, 9).
A lógica de João procede dizendo que se nossa conduta está pautada pela luz, então não só temos comunhão com Deus (1 Jo 1.6), mas temos comunhão com os irmãos também (1 Jo 1.7). Essa comunhão é muito mais significativa do que mera sociabilização. Assim como comunhão com Deus expressa uma intimidade singular, a ponto de sermos chamados corpo de Cristo, essa ligação íntima se estende à relação horizontal com os irmãos. Os sacramentos do batismo e da ceia apontam para essa comunhão uns com os outros. Essa união sinalizada por ambos os sacramentos é mais forte do que relacionamentos terrenos. O casamento, por exemplo, é belo e sublime, mas a morte nos desliga dessa união. A comunhão com o corpo de Cristo, todavia, não é rompida nem na morte. Até com os cristãos que já estão mortos nós temos uma ligação imperdível!
No entanto, precisamos aprender a diferenciar a comunhão com Deus da experiência deleitosa de comungar de suas bençãos. Se a morte nos impede de experimentar comunhão com os nossos irmãos em Cristo que já partiram, também é verdadeiro que há outras barreiras que prejudicam nossa experiência de comunhão (pecados pessoais, males sociais, guerras, pandemias, etc.). Isto é, a comunhão tanto vertical quanto horizontal não deixa de existir, mas a experiência da mesma é afetada. Por isso, precisamos encontrar nas Escrituras paralelos que nos permitam enxergar o que significa ter essa experiência da comunhão prejudicada.
Vejo ao menos três realidades bíblicas que nos ajudam a entender a experiência ofuscada de comunhão. Primeiramente, o exílio no Antigo Testamento suscitou a experiência do culto individual acontecendo (Dn 6.10), enquanto a realidade do culto público era anelada (Sl 137.1-6); afinal, ainda que as sinagogas tivessem surgido para instrução, não havia condições de realizar práticas próprias do templo (sacrifícios). Em segundo lugar, as cartas de Paulo exemplificam a possibilidade de realizar instrução à distância sem, contudo, experimentar todas as realidades próprias da vida eclesiástica. Há certos dons e serviços que são compartilhados presencialmente (Rm 1.9-15; 1 Ts 2.1-2) e, por isso, Paulo orientou um ato de disciplina que só a comunidade local poderia realizar (1 Co 5.3-5), além de recomendar liderança local aos coríntios (1 Co 16.15-18), um papel que ele não conseguia exercer plenamente à distância. Em terceiro lugar, até a história da redenção nos ensina que durante o tempo do pecado nós estamos usufruindo de parte da benção do Emanuel (Deus conosco), mas ainda aguardamos a plenitude que é estar na presença dEle! Isto significa que experimentamos o deleite de ter Cristo conosco de forma real, mas ainda haveremos de experimentar essa presença plenamente. Caminhamos como forasteiros e peregrinos aguardando a chegada na terra prometida.
Tendo em vista a realidade inquebrável da comunhão e a experiência ofuscada da mesma, julgo necessário que pensemos em algumas lições práticas à luz do que estamos vivendo em meio a essa pandemia:
1. Um fundamento encorajadorEstamos inseparavelmente unidos a Deus e aos seus filhos. Alegremo-nos nisso! Não há nada que pode nos tirar dessa participação. Estamos inseparavelmente unidos a Cristo e ao seu corpo e não há efeitos do pecado que consigam quebrar essa comunhão. Temos comunhão garantida com Deus e com os objetos do seu amor, para sempre e sempre!
2. Um lamento realista: Estamos momentaneamente impedidos de experimentar todos os deleites dessa comunhão. Essa é a experiência do cristão, em maior ou menor medida, durante toda a sua vida aquém da volta de Cristo. Não só é normal ficarmos entristecidos com a situação de não podermos reunir a igreja; é esperado que lamentemos esse empecilho. Se nossa alegria é estar com os nossos irmãos, podemos e devemos expressar lamento nessa hora.
3. Uma sabedoria necessária: Deus nos deu meios de experimentarmos essa comunhão. Não vamos aceitar substitutos. Não podemos achar que “culto virtual” é igual a culto presencial, assim como ver a Cristo com os olhos da fé agora não é semelhante a vê-lo em glória no porvir. Antes da pandemia, quem assistia o culto pela internet não estava cultuando juntamente com os irmãos da igreja; cultuava sozinho, mas não experimentava culto público. Por isso, não há substituto de culto público. Também não devemos celebrar ceia virtualmente – como se fôssemos neopentecostais ungindo os elementos pela televisão –, porque inclusive Cristo entendeu que ele ficaria privado de celebrar o seu sacrifício até a reunião com o seu povo naquele dia (Mc 14.25). Usemos todos os meios virtuais que nos são cabíveis agora para ensinar as Escrituras e encorajar uns aos outros à perseverança. Todavia, tais meios não devem servir como substitutos do culto público, mas apenas para despertar a ardente expectativa de que em breve nós seremos reunidos novamente.

Ainda sobre a Suspensão dos Cultos... o que fazer? Rev. Filipe Fontes



Na semana passada, escrevi um primeiro texto sobre este assunto. Meu objetivo era chamar a atenção para o quão complexo é o desafio dos líderes eclesiásticos que precisam decidir quanto à manutenção ou suspensão das atividades da igreja nestes tempos de pandemia. Meu apelo foi para que evitássemos análises e comentários simplistas, e fossemos mais misericordiosos ao tratar dessa questão.

Se você está acompanhando as discussões, deve ter percebido que elas giram, majoritariamente, em torno de uma reunião específica: o culto! Eu não vi ninguém “brigando” pela suspensão do artesanato das mulheres, do churrasco dos homens ou da pizza dos jovens no sábado à noite. Não me lembro sequer de ter visto alguém esbravejar pela suspensão da Escola Dominical. A questão tem a ver com o culto!

Há uma forte razão para isso: o culto é uma reunião singular! É quando o povo de Deus é reunido para celebrar a redenção, confessar e receber perdão, expressar unidade, ter o coração reorientado pela Palavra e responder com dedicação e disposição para o serviço. Para muito além do que minhas palavras podem expressar, se você é um cristão, você sabe o que é o culto. E sabe que a impossibilidade de cultuar costuma deixar uma sensação de vazio e de incompletude em todo cristão verdadeiro. Quando deixamos de ir ao culto, num domingo qualquer, experimentamos aquela sensação que costuma ser expressa pela seguinte exclamação: "parece que está faltando alguma coisa!"

No último domingo, os efeitos da pandemia ainda estavam começando a ser sentidos por aqui. E muitos líderes conseguiram manter o culto na igreja que dirigem. Alguns, na mesma frequência regular em que eles acontecem, e outros com uma frequência menor [foi o que aconteceu na igreja em que sirvo, por exemplo].

Mas as coisas estão piorando. À medida que o final de semana se aproxima, novas decisões precisarão ser tomadas. E eu suspeito que o número de decisões pela suspensão irá aumentar consideravelmente. Foi por isso que resolvi escrever este texto: para expressar uma preocupação e estabelecer um diálogo com meus colegas que caminharão nesta direção. Se não é o seu caso, obrigado pela leitura até aqui. Se quiser continuar, fique à vontade. Mas pode ser que não seja tão útil para você.

O grande desafio que a suspensão do culto presencial coloca sobre nossos ombros é: como conduzir o povo de Deus no culto ao Senhor, se as pessoas não podem estar presentes no mesmo ambiente? A resposta mais imediata tem sido: tecnologia, mais especificamente, internet. Foi o que boa parte das igrejas fez no domingo passado: elas reuniram um pequeno grupo e transmitiram a reunião para que aqueles que permaneceram em casa pudessem assistir [palavra usada de propósito; assistir, não participar]. Mas, se as coisas se desenvolverem como se anuncia, possivelmente isso já não será possível em alguns lugares nos próximos domingos, e o que eu creio que veremos é uma multidão de pastores falando nas redes sociais, a partir de sua própria casa, através do seu telefone celular.

A pergunta que não quer calar é: deveríamos tratar isso, naturalmente, como uma versão contemporânea do culto público? Eu acredito que não! E também acredito que se fizermos isso correremos o risco de desconsiderar a especialidade do momento que estamos vivendo, que não deve ser interpretado, por nós cristãos, apenas em termos políticos, sociais ou econômicos, mas, principalmente, em termos espirituais. Talvez, Deus esteja disciplinando a humanidade por meio desta pandemia; a Bíblia diz que Ele já fez coisas semelhantes no passado. E, talvez, a impossibilidade de nos reunirmos seja parte da disciplina do Senhor sobre nós, a sua igreja; quem sabe, pelo nosso estilo de vida individualista e nosso pouco caso para com a vida em comunidade.

Se for isso, tentar emular a experiência litúrgica comunitária através da internet, não me parece a melhor resposta. Entenda! Eu não estou dizendo que não devemos usar a internet para encurtar os espaços neste momento. Eu acredito que a internet é benção de Deus, e que ela pode ser de grande utilidade agora. O que estou dizendo é que não devemos naturalizar o extraordinário, nem alimentar a expectativa de experimentarmos, tão naturalmente, no isolamento de nossas residências, o que Deus projetou para ser experimentado no contexto da vida comunitária. A linha é tênue. Mas, por mais difícil que seja, nós precisamos considerá-la.

O que fazer então? Os princípios de liturgia de minha denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, distinguem três tipos de culto: a) o individual; b) o doméstico; e c) o culto público. Baseado nessa distinção, eu suspeito que a melhor coisa a fazer na impossibilidade da realização do terceiro é estimular e prover meios para que os dois primeiros sejam intensificados. Ou seja: antes de pensar no kit youtuber para a transmissão de domingo, talvez devamos nos dedicar ao preparo e seleção de bons roteiros devocionais para que a igreja intensifique o culto individual. E também, ao preparo de um roteiro detalhado de culto doméstico que pudesse ser colocado nas mãos dos chefes de família para que eles, como sacerdotes do lar, conduzissem sua esposa e filhos na adoração. No final, pode ser que a redescoberta dessas coisas tão importantes, e ao mesmo tempo tão esquecidas, seja um efeito colateral positivo destes tempos sombrios.

Isso impede um encontro virtual para a celebração da redenção, instrução na Palavra e intercessão? De modo nenhum! Eu apenas não me sinto confortável para equivaler, naturalmente, esse encontro virtual ao encontro presencial. E, por essa razão, eu evitaria chama-lo de "culto público" ou de "culto online". Mas eu estaria lá, e além de interceder pela nação, eu intercederia por nós. Pediria que Deus fosse gracioso para conosco e estendesse ao nosso isolamento as bênçãos que Ele costuma nos dispensar no contexto da vida comunitária. Porque ao mesmo tempo em que devemos evitar naturalizar o extraordinário, precisamos nos lembrar que essas categorias são para nós, não para Ele!

O Culto Público com Transmissão na Internet? Rev. Mauro Aiello


Reluto em fazer isso na Igreja que pastoreio. Já fiz orçamentos, e me mobilizei conversando com irmãos que trabalham com esse tipo de tecnologia.

Na essência eu não considero um erro que cristãos assistam o Culto de sua Igreja na Internet. Mas é óbvio - estou me referindo a pessoas que estão impedidas de frequentar a Igreja da qual são membros. Refiro-me a irmãos acamados, pessoas idosas sem condições de locomoção, nos asilos, nos presídios, em viagens de negócios. Pode ser que haja outras razões para que alguém se veja impedido de participar dos cultos de sua Igreja e da comunhão com seus irmãos de sua comunidade. Entendo que para esses o Culto transmitido via Internet, ou qualquer outro meio similar, tem valor relativo.

Entretanto, é indesculpável, e reputo ser pecado, quem tem todas as condições para ir à Igreja e prefere ficar em casa, quem sabe, com um balde de pipoca no colo, debaixo das cobertas, vendo e ouvindo o culto da Igreja. Ou, ainda mais terrível, sintonizar o Youtube, escolher o pregador e o sermão. Eu não tenho nenhuma sombra de dúvida que isso é pecado e que agindo assim você não está adorando, essencialmente, a Deus. Se isso é preguiça, lembre-se do que disse o Proverbista: "Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Pv. 6-6-9

Não sou adepto do Culto via Internet pelas seguintes razões.

1) Porque Igreja é Comunidade. Nem toda comunidade é Igreja, mas toda Igreja é Com + Unidade, todos juntos (no mesmo lugar) tendo tudo em comum. Foi assim com Israel a Igreja do Antigo Testamento, e deve ser assim com a Igreja Cristã, o Israel da Dispensação do Evangelho de Cristo, hoje. 

Assembléia de uma pessoa não existe. E não adianta se reunir na sala com a família para ouvir o Sermão ou "Participar" do Culto pela Internet se você tem todas as condições de exercitar a comunhão, o corpo a corpo, olho no olho, lágrimas e alegrias compartilhadas. Isso é clubinho, não Igreja! Como é possível participar da Ceia do Senhor agindo assim? Como é possível ser benção ao irmão se você não convive com ele? Essa conversa de que para ser crente não é preciso ir à Igreja é maligna. Não acredite nela, porque um crente de verdade gosta de estar ao lado de seus irmãos, mormente na adoração.

2) Hoje cresce o número de "crentes" que amam a impessoalidade. Gente que tem dificuldades para se relacionar com outras pessoas. Então, ou ela se torna membro de uma mega igreja, onde ela entra sem ser vista e sai sem ser notada, ou liga o computador, ou o celular, e, usando a tecnologia, ASSISTE o Culto, sim, porque PARTICIPAR do Culto é estar com seus irmãos (de corpo presente) e juntos orarem, cantarem, ofertarem, meditarem, participar das Ordenanças (Batismo e Ceia). Leia Atos 2.42-47 e também Hebreus 12.24,25. Arrependa-se, genuinamente (mude de atitude), desse seu jeito egoísta de ser. Isso jamais poderá redundar em benção.

3) Muitos dos que optam por esse tipo de recurso são aqueles que não querem se envolver mais diretamente com a obra de Deus. Eles querem ser meros ouvintes de lindos e bem engendrados sermões pregados por PASTORES QUE NÃO OS CONHECEM. Nada contra tais pregadores. Eles são bençãos em outros contextos. Então é fácil. É só digitar, ver e ouvir o que se quer. Um sermão a la carte apresentado por um bom "garçom". O Pastor da tua Igreja, que te conhece e que de repente vai te visitar no Hospital, ou aquele que te batizou, que te ouviu pacientemente quando você atravessou por problemas no casamento, ou no trabalho, ou gasta horas a fio preparando bons sermões pertinentes à comunidade local; a esse? Bem...deixa para lá!!!! Isso não pode ser a atitude de alguém que se preocupa com a Noiva do Cordeiro.

4) Paulo não teria deixado escrito sobre os dons na Igreja, (I Cor. 12 e 13), nem sobre o zelo pela Unidade (Efésios 4.1-6), só para citar essas porções bíblicas, se ele não estivesse pensando no contato pessoal e constante entre irmãos que professam a mesma fé.

Então é bom que exista a internet, mas a Igreja In Loco é insubstituível. Peca quem abandona a comunhão ainda que assista na Internet podendo estar em contato com a fraternidade.

Pode até aparecer na telinha que esse Culto é ao Vivo, mas não acredite. Ele só é vivo para quem está lá presente, para quem o vive.

É minha convicção. É assim que eu penso e vivo.

10 Razões Contrárias à "ceia online" - Ageu Magalhães



Eu soube de uma igreja que fez a “ceia online”. Alisto abaixo 10 razões contrárias a realizar a Ceia do Senhor deste modo.

1. Falta de respaldo bíblico. Em Mateus 26, instituição da Ceia, Jesus reuniu os apóstolos e distribuiu o pão e o vinho a eles, ao redor da mesa (Mt 26.26,27). Paulo, instruindo a igreja de Corinto, condenou aqueles que tomavam a ceia antecipadamente (1Co 11.2). A ceia, refeição única em torno da mesa, é o símbolo máximo de união entre os crentes. Em Corinto os crentes não estavam fazendo isso juntos e Paulo os repreendeu: “Assim, pois, irmãos meus, quando vos reunis para comer, esperai uns pelos outros” (1Co 11.13);

2. O próprio Jesus não viu a possibilidade de uma ceia à distância. No final da instituição da ceia, sabendo que não estaria mais reunido com eles, ele disse que não beberia mais daquele vinho até o dia em que eles se reencontrassem na glória (Mt 26.29);

3. A administração da Ceia do Senhor é algo sério, tão sério que Paulo não ousou adicionar ou subtrair nada ao que Cristo havia instituído. Ele apenas repassou, com fidelidade, o que recebeu: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” (1Co 11.23);

4. O Catecismo Maior, um dos símbolos de Fé da IPB, não autoriza. Na resposta à pergunta 174 do Catecismo Maior temos a prescrição de que os comungantes estejam juntos observando todos os atos sacramentais: “Exige-se dos que recebem o sacramento da Ceia que durante a sua celebração, esperem em Deus, nessa ordenança, com toda a santa reverência e atenção; que diligentemente observem os elementos e os atos sacramentais...”

5. A Confissão de Fé de Westminster também não autoriza: “Nesta ordenança, o Senhor Jesus constituiu os seus ministros para declarar ao povo a sua palavra de instituição, orar, abençoar os elementos, pão e vinho, e assim separá-los do uso comum para um uso sagrado; para tomar e partir o pão, tomar o cálice, dele participando também, e dar ambos os elementos aos comungantes, e tão-somente aos que se acharem presentes na congregação.” (Cap. 29, III) Destaco: "tão somente aos que se acharem presentes na congregação".

6. Porque a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil prescreve que a administração dos sacramentos é função privativa dos ministros do Evangelho (Art. 31);

7. Porque, de acordo com os Princípios de Liturgia da IPB, o Conselho da Igreja “deve cuidar de que os membros professos da Igreja não se ausentem da Mesa do Senhor e velar para que não participem dela os que se encontrarem sob disciplina.” (Art. 14) Em uma ceia online este cuidado é impossível.

8. Porque, assim como não é possível um batismo à distância, igualmente impossível é uma ceia à distância;

9. Porque a oração de consagração dos elementos é feita sobre aqueles elementos que estão na mesa, diante da congregação, e que serão consumidos ali. Orar, via internet, consagrando os elementos que estão nas casas das pessoas se assemelha à oração de alguns pastores neopentecostais sobre o copo de água que está em cima da televisão...

10. Porque não há obrigatoriedade de a ceia ser mensal. No passado, muitas igrejas aguardavam 3, 4 meses até que o pastor pudesse chegar e ministrar a ceia. Ao invés de correr o risco de pecar gravemente contra o Senhor da Igreja, usurpando um dos seus sagrados sacramentos, o prudente é esperar o final da quarentena, que não deve durar mais 2 meses.

Aguardemos o dia feliz em que nós voltaremos a ter cultos públicos e, então, realizemos uma grande Ceia do Senhor, com alegria e pleno significado em nossos corações do que é ser igreja e do valor de estarmos juntos ao redor da Mesa do Senhor, participando do mesmo pão e do mesmo cálice!

Devemos celebrar a "ceia online"? Ageu Magalhães




Acabo de ler um artigo (aqui) de Kathy Smith , professora adjunta de política da igreja no Calvin Theological Seminary, com o título “Política da Igreja e Sacramentos Online na Igreja Reformada Cristã”. A autora defende a prática da ceia online, basicamente, com 3 argumentos: 1º Os cultos online são uma realidade entre nós agora, 2º Ceias são servidas nas casas de irmãos impossibilitados de ir à igreja e, 3º Na Segunda Guerra Mundial batismos era realizados pelos pastores nas casas das pessoas.

O texto de Kathy Smith carece de base bíblica e teológica. Nenhum texto bíblico foi citado. Sobre os 3 argumentos, vamos analisá-los:

1º Ceia online em um culto online. Culto é a reunião do povo de Deus para adorá-lo ativamente (Lv 23.3, At 20.7). As palavras bíblicas para adoração implicam serviço, atividade. Diferente da missa católica, em que o fiel assiste o padre fazer um rito, no culto bíblico o fiel participa do culto com atos de adoração. Cultuar é participar, não apenas assistir. Parar na frente de uma tela e assistir um pastor pregando não é culto. As igrejas devem criar meios de os crentes participarem do culto, seja por meio de vídeo conferências, roteiros de cultos familiares ou outra forma em que o crente não apenas assista, mas participe.

2º Ceias para impossibilitados de ir à igreja. De fato, isso tem sido feito há séculos. O entendimento bíblico é que, quando o povo de Deus está reunido, ali está a igreja. Assim, pastores costumam levar alguns crentes à casa de irmãos que não podem ir à igreja e, dentro de um culto, ministrar a Ceia. Todavia, perceba que a igreja está reunida em culto para ministração do sacramento.

3º Batismos nas casas. Totalmente possível. Desde que um pastor vá até a casa da pessoa, o batismo pode ser realizado. Na Igreja Primitiva os cultos aconteciam nas casas (Rm 16.23; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2). Se a autora tivesse defendido que as ceias ocorram nas casas, em culto, não haveria falha na sua lógica. Para o argumento dela ter validade, ela deveria ter apresentado um exemplo bíblico de batismo à distância, o que não existe.

Decisões nesta época de pandemia são complicadas. Há forte pressão sobre os pastores e presbíteros e as decisões são muito difíceis. No tocante à Ceia do Senhor, o melhor a fazer é aguardarmos o retorno ao Culto Público. Naquele dia, em alegre celebração por estarmos todos juntos, perceberemos com mais força o privilégio de reunidos, em comunhão presencial, em torno da mesa do Senhor novamente. Ansiemos por este dia.

- Kathy Smith é pastora da Christian Reformed Church in North America.

February 28, 2020

As 3 Fases da Salvação - Thiago Machado Silva


A salvação do pecado pode ser dividida em três categorias: justificação (passado), santificação (presente) e glorificação (glorificação). Nós fomos salvos, estamos sendo salvos, seremos salvos. Talvez, a maneira mais fácil de entender essas três categorias é lembrar dos três P's: penalidade, poder e presença.

1 - Justificação: Fomos salvos da penalidade do pecado
Cristo sofreu a penalidade por nossos pecados na cruz do Calvário. Quando colocamos nossa fé em Cristo, recebemos liberdade da culpa do pecado. Somos justificados diante de Deus, nosso juiz, porque nossa penalidade foi paga na cruz. A justificação ocorre uma única vez na vida do crente (Rm 8.1–2).

2 - Santificação: Estamos sendo salvos do poder do pecado
Agora que recebemos a graça de Deus como um selo permanente (2Co 1.20–22), iniciamos um processo de santificação. Estamos sendo salvos do poder do pecado pelo poder do Espírito. Antes de sermos justificados, nossas vontades estavam totalmente sujeitas ao poder do pecado. Agora, o poder do pecado está sendo quebrado. Nós, que antes éramos escravos do poder do pecado, estamos agora livres para servir a Deus. De fato, ainda pecamos, mas com o tempo aprendemos cada vez mais a escolher a santidade. Nossa santificação está em andamento.

3 - Glorificação: Seremos salvos da presença do pecado
Quando concluirmos a jornada aqui na terra, entraremos na presença do Senhor para sempre. Seremos glorificados. Em sua presença, o descanso de nossa alma será finalmente completo, pois o pecado e sua devastação deixarão de nos atacar. Embora agora estejamos cercados pela pecaminosidade, e o pecado continue se apegando aos nossos corações, um dia iremos para um lugar onde o pecado não existirá mais. Em nossa glorificação (quando Cristo retornar), finalmente teremos liberdade da própria presença do pecado. O dia da nossa glorificação está chegando, quando trocaremos a presença persistente do pecado pela presença perfeita de Deus.
Tenha certeza de sua justificação. Em Cristo, você foi totalmente liberto da penalidade do pecado. Seja paciente em sua santificação. A cada dia, você está sendo liberto cada vez mais do poder do pecado. Aguarde esperançosamente por sua glorificação. Ela está por vir. Um dia, você será finalmente liberto da presença do pecado.

February 17, 2020

8 Provas de que o Dom de Línguas de Atos 2 é o mesmo de 1 Coríntios



Antes de mais nada, esclareço que considero os pentecostais meus irmãos. Tenho comunhão com alguns deles e creio que são irmãos verdadeiros. Escrevo este texto na esperança de trazê-los a uma compreensão mais bíblica deste dom. Meu objetivo não é agredir a fé de ninguém. Eis os 8 motivos pelos quais creio firmemente que o dom de Atos 2 é o mesmo de 1 Coríntios.

1. A Sequência do dom - Não há registro bíblico que indique a mudança no dom entre Pentecostes e a Igreja de Corinto. Logo, é natural esperar que o dom exercido em Jerusalém, igreja mãe, núcleo dos apóstolos, seja o mesmo encontrado nas igrejas filhas, como é o caso de Corinto.

2. A Simplicidade da revelação - A revelação de Deus é simples. Ela alcança todos os tipos de pessoas, desde intelectuais até aqueles que não tiveram oportunidade de estudo. Por isso, alguém que começa a ler o Novo Testamento e, chegando em Atos 2, depara-se com o dom de línguas, entendendo-o como dom de idiomas, irá continuar lendo o texto sagrado com está definição em mente, a menos que o texto indique uma mudança no dom.

3. O Objetivo do dom - Qual foi o objetivo primeiro do dom de línguas? Veja Atos 2.9-11. Da boca dos estrangeiros ouvimos o cumprimento deste objetivo: ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus. O objetivo era falar do Evangelho àqueles que não entediam a língua dos judeus. A grande barreira que separava aqueles homens era a língua e Deus resolveu isso através do dom. O mesmo se deu em Corinto. A barreira “idioma” caiu quando os crentes passaram a anunciar o Evangelho na língua daqueles que passavam por aquela cidade.

4. O Ambiente demográfico - Jerusalém e Corinto se assemelham em pelo menos uma coisa: a grande quantidade de estrangeiros. Na festa do Pentecostes, milhares de peregrinos de várias nações chegavam em Jerusalém para a festa. Em Corinto não havia festa, porém, por ser cidade portuária, capital da imoralidade da época e famosa pelo saber, também recebia milhares de estrangeiros em seu solo. Isto reforça ainda mais a necessidade de um dom para comunicação da Graça de Deus a estes estrangeiros.

5. A Origem gramatical da palavra - As palavras usadas para línguas tanto em Atos, quanto em Corinto, indicam linguagem humana normal. As palavras são dialektos e glossa. Ambas significam línguas, idiomas. Se Paulo quisesse se referir aos dons como linguagem ininteligível, extática, ele usaria a palavra própria para isso algaravia, nunca palavras que indicassem idiomas.

6. As línguas precisavam ser interpretadas - Em Corinto, para que todos compreendessem o que estava sendo dito aos estrangeiros, havia intérpretes capacitados pelo Espírito para a tradução. Veja 1 Coríntios 12.10; 14.5,23,26-28. Havia tradução porque eram idiomas. Idiomas podem ser traduzidos. O mesmo não acontece com linguagem sem sentido. Alguém consegue traduzir os sons de uma criança que ainda não fala?

7. A Variedade de línguas - Paulo fala em 1 Coríntios 12.10 em variedade de línguas e em 14.18 na sua capacidade de falar outras línguas. O ponto aqui é que você pode ter uma variedade de idiomas, mas não uma variedade de linguagem sem sentido.

8. As línguas eram um sinal para o Israel descrente - Em 1 Coríntios 14.21, Paulo cita Isaías 28.11,12 mostrando que as línguas são um sinal não para os justos, mas para os injustos, aqueles que não ouviram a mensagem de Deus ― o Israel incrédulo. Note que Paulo está comparando as línguas de Corinto com um idioma real e estrangeiro. Há tempos que Deus profetizava a abertura do reino aos gentios, e este texto de Isaías é justamente parte destas profecias. Visto que o povo de Deus rejeitou a sua mensagem, esta seria anunciada a povos gentios por meio de línguas estranhas à nação judaica, fato que aconteceu no Pentecostes, em Atos 2, com manifestação de idiomas.

A conclusão é que o dom de línguas bíblico é o dom de idiomas. Deus concedeu este dom à sua igreja em um momento decisivo de sua história, para pregação do Evangelho. Que Deus abençoe o povo que se chama pelo seu nome para que seja cada vez mais fiel à sua Palavra.

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